Cidades

Caso Sophia

Mãe fala pela primeira vez em audiência e diz que companheiro matou e estuprou pequena Sophia

Os réus, Christian e Stephanie desistiram do 'silêncio seletivo' e negaram as acusações de assassinato e estupro da criança que tinha apenas dois anos

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Durante a audiência no Fórum de Campo Grande, que durou mais de quatro horas, na tarde de hoje (5), os réus do 'Caso Sophia' falaram pela primeira vez. Stephanie de Jesus da Silva e Christian Campoçano Leitheim, respectivamente mãe e padrasto de Sophia Ocampos de Jesus, violentada e assassinada aos dois anos, negaram as acusações.

Stepanhie chorando e com terço na mão. Foto: Gerson Oliveira

Em seu depoimento, a ré e mãe da criança atribuiu toda culpa ao companheiro. “Foi o Christian. Eu não teria coragem. Não tinha coragem nem de bater nela, quem dirá de matar a minha própria filha”, afirmou Stephanie.

Stephanie também negou que agredia a filha e confessou que dava apenas 'palmadas' e a colocava de 'castigo'. 

“Eu corrigia da forma que eu sempre fui corrigida quando era criança, nunca agredi a minha filha. Corrigi só com palmadas. Ele era muito explosivo quando ficava com raiva. Eu me intrometia quando ele ia bater na Sofia ou no filho dele. E eu acabava sendo agredida", disse a ré.

Em relação ao crime de abuso sexual, Stephanie disse que nunca notou sinais de que o companheiro cometia esse crime contra sua filha. Somente no dia da morte da criança, que ela percebeu uma atitude estranha. 

“Trabalhava das 8 da manhã até às 18h da tarde. Passava o dia inteiro fora nesse serviço. Eu que tinha que sustentar a casa, porque o Christian, aparentemente, não gostava de trabalhar. Eu nunca vi nada de errado, mas não quero defendê-lo. Desconfiei só no dia em que ela faleceu, porque depois que ela tomou banho, ele quis colocar roupa e fralda nela”, acrescentou a ré. 

Contestada sobre o crime de omissão e por que não denunciou antes as agressões e se manteve em silêncio até agora. Stephanie assume que tinha medo.

"Ele me espancava. Eu não tive coragem de denunciar porque ele me ameaçava, falava que inventar coisas para pro Jean, para eu nunca mais ver a Sofia e que ia pegar a minha filha Stela e sumir.  Me sinto muito culpada de não ter feito e dito tudo isso antes. Eu sempre cuidei dela e infelizmente depois que eu conheci ele que aconteceu essa tragédia. O meu pior erro foi ter tido um relacionamento", explicou Stephanie.

Uso de drogas

Questionada se outras pessoas frequentavam a casa do casal, a fim de usar drogas ou para sexo, Stephanie também negou. Mas confirmou que usava entorpecentes a mando do companheiro.

“As pessoas não frequentavam para fazer sexo. Eu mesma tinha duas amigas e elas não frequentavam a minha casa por conta do Christian, que não gostava de nenhuma. Eu estava fumando e cheguei a cheirar um pouco também. Christian falava toma, vai fazer bem para você ou até alguns outros amigos dele também”, confessou a ré.

Diante dessa acusação, Christian negou que ficava agressivo e confessou que fazia uso de entorpecentes.

"Quando utilizava cocaína, sentava num canto, ficava bebendo e fazendo uso de cigarro", e acrescentou ainda que na véspera da morte da criança, se reuniu com amigos em casa, onde “bebeu fumou narguilé”.

Guerra narrativas

Durante o depoimento de Christian Campoçano Leitheim, a estratégia foi culpar Stephanie, o que levou o juiz Aluízio Pereira dos Santos, a questionar se os dois haviam combinado de um acusar o outro. 

Ao ser questionado pelo magistrado como se definia, resumiu em poucas palavras como "um tanto amigável". Diferente da mãe de Sophia que chorou durante o depoimento, Christian não demonstrou emoções.

"Sempre fui uma pessoa um tanto amigável. Sempre procurei diversas amizades, como posso dizer? Chegar em um local assim e ser bem recebido", disse Christian. 

Afirmou que teve dois empregos em uma loja de cultura nerd e outro em um posto de gasolina. Sobre não trabalhar, justificou que tinha que ficar cuidando das crianças por, em sua opinião,  Stephanie não ter paciência para ficar com os filhos. 

"Trabalhei em diversas áreas, minhas últimas experiências foram em uma loja de cultura nerd e um posto de gasolina", disse e o juiz informou que ele foi acusado pela esposa de ter cometido o crime contra Sophia.

Convivência "mais ou menos"

Neste ponto, Christian afirmou que a convivência com a esposa nunca foi fácil e jogou "nas costas dela" a responsabilidade por um casamento de 1 ano e quatro meses instável.

"A Stephanie nunca foi uma pessoa fácil de lidar. Assim, sempre muito ciumenta, bem explosiva, gostava de gritar o tempo inteiro. Algumas vezes ela partiu, sim, para cima de mim. Então não era um relacionamento fácil de lidar", explicou Christian.

Apesar de afirmar não possuir vício com drogas. Confirmou que fez uso de cocaína e maconha em outras ocasiões, o que ele classificou como "nada muito frequente".

No entanto, após Sophia ter passado mal durante o dia todo durante a madrugada, ele disse que o casal fez uso de entorpecentes até 4h da manhã na companhia de três amigos dele.

"A gente fez a utilização das drogas, bebeu um pouco e fumamos narguilé", afirmou Christian. 

Casa bagunçada, com fezes, bichos, segundo Christian, por culpa da esposa, que foi apontada como alguém que não gostava de cuidar das crianças e nem limpar a residência.

O que é contrário ao que ela afirmou em depoimento, dizendo que trabalhava das 8h às 18h, para manter a  família financeiramente. Enquanto o combinado era que ele cuidaria dos pequenos já que Christian nas palavras dela "não gostava de trabalhar".

"Ela não gostava de arrumar a casa e ficar com as crianças. Então ela falou: prefiro trabalhar. Eu falei tá bom, então você trabalha e eu fico em casa com as crianças. Mas quando aparecia meus freelas de final de semana eu vou. Porém, ela era muito bagunceira. Ela chegava e jogava as roupas em cima do sofá, não queria saber e quando eu ia falar ela dizia que trabalhou o dia inteiro. Ela dizia as coisas e não queria nem saber. Isso foi me enjoando de ficar arrumando a casa porque nunca gostei de ficar arrumando casa, por isso nunca baguncei. Já ela era ao contrário, mas ela bagunçava porque eu ia arrumar", disse.

O juiz questionou sobre as fraldas sujas de fezes e Christian alegou ter sido um discuido colocou a culpa no cachorro que rasgou o saco que lixo e a casa acabou terminando nesse estado.

Por ele Sophia foi descrita como uma criança tranquila diferente do filho dele que tinha muita energia. "Ela gostava de dançar e escutar música". Christian negou que abusou nas "correções" aplicadas na pequena  Sophia.

"No dia do fato, senhor eu estava de repouso. Fiz utilização, sim, de drogas e bebida. As quatro horas da manhã fui dormir. Então era bem provável que eu não acordaria em certo horário, entendeu? E no dia do fato quem me acordou foi a Stephanie falando 'amor, a Sophia não está bem' e quando eu observei ela já estava com a boquinha roxa e convulsionando", afirmou.

Sobre quem poderia ter maltratado a criança, atribuiu a esposa afirmando que era a única pessoa que estava na casa no momento. "A única pessoa que estava acordada era a Stephanie, né? Não tinha mais ninguém", disse Christian.

O padrasto negou ter estuprado a pequena Sophia, afirmando que a primeira coisa que fez assim que o advogado se apresentou foi solicitar um exame médico para esclarecer os fatos.

“Sophia não teve voz. Não foi ouvida pela justiça”, afirma o pai indignado 

Para Jean Ocampos, pai biológico de Sophia, a criança também foi vítima da negligência dos órgãos de proteção à criança.  “Essa é a segunda audiência, eles [réus] estão tendo direito de voz. A Sophia não teve. Não ouviram a voz dela”, ponderou o pai, indignado.

Ainda sem desfecho para o crime que está prestes a completar um ano, Jean desabafa que é difícil reviver tudo isso e que os acusados não vão falar a verdade.

“É muito difícil pra gente estar aqui. Se eles falarem, não será verdade. Porque são duas pessoas que tiveram coragem de matar uma criança. Esperar o que deles?”, apontou.

Para Jean, o relatório do Gaeco que quebrou o sigilo telefônico de Christian e Stephanie, foi como ‘um soco no estômago’, pois ficou nítido a violência e sangue frio dos acusados, nas trocas de mensagens pelo WhatsApp. 

“Por um lado me dói muito e por outro é a justiça sendo feita. É a verdade vindo à tona pelo que fizeram com a Sophia. Contra fatos, não há argumento. Está nítido que os dois judiaram da minha filha. Não tem como falar que eles foram inocentes. Eles não querem se prejudicar, então vão tentar omitir a verdade. Mas, não há dúvida que foi os dois são os culpados”, afirmou Jean.

Acusações 

A ação penal, movida pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), incrimina tanto o padrasto, Christian Campoçano Leitheim, quanto a mãe da vítima, Stephanie de Jesus da Silva.

Christian Campoçano Leitheim enfrenta acusações com base nos artigos 121, § 2º, incisos II (motivo fútil), III (meio cruel), IX (contra menor de 14 anos) do Código Penal, com as implicações da Lei 8.072/90. Além disso, é acusado de estupro de vulnerável, conforme o artigo 217-A c/c artigo 226, II do mesmo diploma, em concurso de crimes (c/c artigo 69 do Código Penal).

A denúncia contra Stephanie de Jesus da Silva é fundamentada nos artigos 121, § 2º, incisos II (motivo fútil), III (meio cruel), IX (contra menor de 14 anos) do Código Penal, com as implicações da Lei 8.072/90. Também está incluída a acusação de homicídio doloso por omissão, segundo o artigo 13, § 2º-A, alínea a, do mesmo diploma legal. Todas as acusações estão relacionadas à trágica morte de Sophia de Jesus Ocampo.

Por fim, cabe destacar que a audiência foi conduzida pelo juiz Aluizio Pereira dos Santos, titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, no auditório Francisco Giordano Neto, no Fórum de Campo Grande.

Com essa audiência termina a fase de instrução. O andamento do processo continuará no próximo ano, de 2024. O juiz definirá então, se os réus vão a júri popular ou não. 

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Greve

Sem ônibus, idosos enfrentam dificuldade com carros de aplicativo

Ao procurar atendimento médico no Centro Especializado Municipal, em Campo Grande, idosos enfrentam alto custo e confusão na hora de solicitar o serviço por aplicativo

16/12/2025 17h15

Crédito: Pagu / Correio do Estado

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Com a greve dos motoristas de ônibus, idosos que tinham consultas marcadas enfrentaram dificuldades para chamar veículos por aplicativo na tarde desta terça-feira (16), na saída do Centro Especializado Municipal, em Campo Grande.

Na ausência de pessoas para ajudar, a reportagem foi abordada pelo auxiliar de pedreiro Davi Soares, de 60 anos, que tentava voltar para casa, mas não conseguia auxílio.

O idoso relatou que iria de ônibus, mas, devido à greve do transporte público, teve de recorrer ao serviço por aplicativo. Ele compareceu ao Cem para uma consulta com o dentista, pois está em processo de confecção de uma prótese dentária.

Morador do Jardim Noroeste, Davi passou pela consulta, e o retorno está previsto para fevereiro de 2026. No entanto, ele enfrentava dificuldades para entender o funcionamento do aplicativo.

“Eu tô com dificuldade para chamar um carro e voltar para casa, né?”, disse.

Davi Soares, tentando entender o aplicativo / Crédito: Pagu / Correio do Estado

Além da mudança na forma de transporte, como noticiou o Correio do Estado, a greve dos ônibus aumentou em 140% as viagens por veículos de aplicativo.

Com isso, idosos que não podem perder consultas estão desembolsando valores mais altos. É o caso da artesã Shirley Aparecida Dias, de 64 anos, que levou a mãe para uma consulta.

“A corrida [quando o ônibus não está em greve] fica, em média, uns R$ 17 ou R$ 18, e hoje deu R$ 24”, informou Shirley, em uma situação em que a mãe dela aguardou um ano e meio para passar pela consulta com um médico entomologista.

Greve

Com o transporte parado pelo segundo dia consecutivo e a paralisação sem previsão de término, esta é a maior greve que a Capital enfrenta nos últimos 31 anos.

Hoje, mais uma vez, os terminais Morenão, Julio de Castilho, Bandeirantes, Nova Bahia, Moreninhas, Aero Rancho, Guaicurus, General Osório e Hércules Maymone amanheceram fechados sem nenhuma "alma viva".

Em contrapartida, as garagens amanheceram lotadas de ônibus estacionados. A greve foi alertada antecipadamente, estava prevista e não pegou passageiros de surpresa.

Por conta da chuva, ficou mais difícil recorrer a alternativas nesta terça-feira (16), sendo impossível chegar de bicicleta ao trabalho e complicado pagar o preço sugerido pelos transportes por aplicativo.

A greve ocorre por falta de pagamento. Com isso, os motoristas reivindicam por:

  • Pagamento do 5º dia útil, que deveria ter sido depositado em 5 de dezembro – foi depositado apenas 50% - está atrasado
  • Pagamento da segunda parcela do 13º salário – vai vencer em 20 de dezembro
  • Pagamento do vale (adiantamento) – vai vencer em 20 de dezembro

** Colaborou: Naiara Camargo

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Cidades

Em meio à crise do transporte, comércio antecipa folga de funcionários

Na falta de clientes nas lojas da região central, empresas liberam colaboradores enquanto aguardam a resolução da greve de ônibus

16/12/2025 16h45

Crédito: Pagu / Correio do Estado

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O comércio da região central, que esperava aumentar o volume de vendas a oito dias do Natal, está tendo de antecipar a folga dos funcionários devido ao esvaziamento da região em decorrência da greve dos motoristas de ônibus em Campo Grande.

A reportagem percorreu o entorno da Praça Ary Coelho, onde os pontos de ônibus estão servindo de local de espera para trabalhadores ou consumidores que se aventuraram e aguardavam um veículo por aplicativo.

Na Rua 14 de Julho, vendedores de lojas se ocupam organizando o estoque, formando filas à espera de um ou outro cliente, mas o cenário de incerteza marca a época do ano em que os lojistas esperam faturar mais.

Alguns estabelecimentos estão optando por antecipar a folga dos funcionários, já que, com a ausência da população que acessa o centro por meio do transporte coletivo, o movimento praticamente desapareceu.

É o caso de uma loja de calçados Anita, cuja gerente da unidade, Rayssa Dias dos Santos, relatou à reportagem que, na segunda-feira (15), quando a greve teve início, a loja ainda manteve um movimento tímido.

“Hoje a gente antecipou algumas folgas, primeiro porque o movimento fica mais calmo e, segundo, por ser menos um gasto para ter que trazer o funcionário de Uber.”

Nem a caravana de Natal da Coca-Cola deixa o setor confiante, uma vez que grande parte da população que costuma ir ao local, inclusive para aproveitar as atrações da Praça Ary Coelho, depende do transporte coletivo.

“Hoje vai ter a passeata da Coca-Cola, e eu acredito que muita gente precisa do ônibus para vir até o centro. Então, acredito que a paralisação do transporte público dá uma desequilibrada”, explicou Rayssa, e completou:

“A gente fica preocupada porque, querendo ou não, muita gente depende desse meio de transporte.”

Do outro lado da rua, na loja do Boticário, a gerente Suelen Benites Vieira, de 31 anos, explicou que a alternativa para enfrentar a falta de clientes tem sido a entrega em domicílio, serviço oferecido pela rede.

Entretanto, a greve dos motoristas de ônibus diminuiu de forma significativa o número de clientes no estabelecimento.

14 de Julho vazia, em horário que costuma ter fluxo de pessoas / Crédito: Pagu / Correio do Estado

“Realmente, seria o dobro, porque esta semana e a próxima são decisivas. Estamos vendendo muito para quem possui veículo, porque os que dependem de ônibus não estão vindo”, disse Suelen.

Na loja de vestuário, o gerente da Damyller, Cesar de Araújo, de 23 anos, recebeu a reportagem em um espaço que normalmente teria fluxo intenso de clientes, mas que, devido à chuva e ao custo do transporte por aplicativo, acabou tendo o cenário alterado.

“A greve de ônibus está impactando bastante não só a gente, mas também os outros comerciantes. Por exemplo, fui pegar uma marmita e ouvi reclamações. Isso está afetando tanto a rotina dos funcionários quanto o movimento do centro, e a gente percebe claramente essa diferença no fluxo”, pontuou Cesar.

Além disso, os funcionários só não estão sendo mais afetados e conseguem ir trabalhar porque as empresas se comprometeram a custear o transporte por aplicativo.

“A empresa está dando todo o suporte. Os funcionários pedem Uber e a gente ressarce o valor”, explicou Cleber, iniciativa que outros estabelecimentos também tiveram de adotar para não perder o efetivo.

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