Cidades

Dourados

Fazenda que já foi escola para indígenas hoje está arrendada e ameaça os guarani-kaiowá

Enquanto indígenas lutam por terra, ONG criada para evangelizá-los fatura com soja e expõe aldeia ao risco de contaminação por agrotóxicos

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Confinados em uma porção de terra entre condomínios de luxo e plantações de soja e de milho, 13 mil indígenas de duas aldeias guarani-kaiowá estão submetidos à segregação e expostos à contaminação por agrotóxicos em Mato Grosso do Sul.

O vetor do problema é a Fazenda Caiuaná, de 384 hectares, que pertence à Missão Evangélica Caiuá e está arrendada a terceiros para o plantio. Por ironia, essa é a ONG que tem convênios ativos com a União no valor de R$ 2 bilhões para prestar assistência de saúde a 291,6 mil indígenas em todo o Brasil, 73 mil deles em Mato Grosso do Sul.

Há relatos de mortes de animais de indígenas que vivem em casas imediatamente vizinhas à aldeia. Também há queixa dos guarani-kaiowá de que os defensivos agrícolas teriam causado cegueira na moradora da aldeia Jaguapiru Elza Gonçalves Benites, de 72 anos.

Vizinha à aldeia Jaguapiru, a Fazenda Caiuaná está localizada em frente à aldeia Bororo, na rodovia MS-156, que liga as cidades de Dourados e Itaporã. Com um contrato de arrendamento ativo desde 2018, gerou uma renda de R$ 1,34 milhão no ano passado, resultado da colheita de 7.864 sacas de soja repassadas pelos arrendatários. 

A fazenda já havia sido alvo de investigação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por usar agrotóxico proibido no Brasil, contrabandeado do Paraguai. Em 2015, o funcionário de um ex-arrendatário foi condenado a dois anos de prisão. 

Agora, denúncias de contaminação por agrotóxicos oriundos dessas lavouras partem não só dos indígenas, mas também de organismos ligados à Organização das Nações Unidas (ONU). A subsecretária-geral e assessora especial para a Prevenção do Genocídio da ONU, Alice Wairimu Nderitu, esteve em maio nas aldeias Jaguapiru e Bororo, vizinhas à fazenda da Missão Evangélica Caiuá. Além da pobreza extrema e dos casos de prisões ilegais a que os indígenas são submetidos, ela também relatou contaminação de guarani-kaiowás por agrotóxicos.

“Agricultores pulverizam agrotóxicos nocivos em suas lavouras, que são inalados pelos guarani-kaiowá, o que causa sérios problemas de saúde na população, incluindo mortes de crianças”, acusou a subsecretária da ONU. Ela não chegou a citar a Missão Evangélica Caiuá nominalmente, mas, em seu relatório, revelou que há falta de prestação de contas pelos líderes comunitários. 

“São alegações graves e que deveriam ser seriamente investigadas”, disse a comissária da ONU. No mesmo documento, ela ainda pediu a “demarcação urgente” de terras e mencionou o conflito agrário no Estado.

Trecho de documento da ONU, em que são relatadas contaminações de indígenas por agrotóxicos em fazendas de Mato Grosso do Sul

A mulher indígena Francisca Gonçalves Vogarim, filha de Elza, que ficou cega por causa da exposição excessiva aos agrotóxicos, conta o drama de conviver com a prática dos arrendatários da fazenda da Missão Caiuá. “O veneno é o que mais prejudica nós. Antigamente tinha horário para passar o veneno, mas há um tempo a quantidade aumentou muito. No ano passado morreram dois cavalos”, relata. 

“Eles passam veneno de dia, à noite. Minha mãe tem 72 anos e, como é idosa, tem imunidade baixa, e nos últimos anos foi perdendo a visão e sofrendo com a quantidade de veneno. Ela fica mal mesmo: os braços coçam, os olhos coçam e ela tem um mal-estar permanente no corpo”, completa Francisca.

Francisca Gonçalves Vogarin e Simone Bogarin, moradoras da aldeia Jaguapiru, mostram a fazenda da Missão Caiuá - Mariana Rocha

O ativista guarani-kaiowá Magno Souza, que em 2022 chegou a candidatar-se ao governo de Mato Grosso do Sul pelo PCO, é um dos que denunciam os danos causados pelos agrotóxicos. 

“Já vi muitos animais morrerem. Um colega meu precisou de atendimento médico no ano passado, na época do plantio, e tem mais: um riacho que passa nos fundos da aldeia e também na fazenda ao lado tinha peixes no passado. Quando eu era criança, pescávamos lá. Hoje, isso não é mais possível”, denuncia. 

CONFLITO

As acusações de contaminação e de desvios de função da fazenda da Missão Evangélica Caiuá se dão em meio ao agravamento do conflito entre fazendeiros e indígenas guarani-kaiowá, que reivindicam a demarcação de pelo menos 16 reservas em Mato Grosso do Sul, que totalizam em torno de 224 mil hectares. 

A ocupação de fazenda mais recente, em Rio Brilhante, cidade localizada na metade do caminho entre Dourados e Campo Grande, é de uma propriedade de tamanho similar à da Fazenda Caiuaná, que está arrendada.

Em março, em torno de 80 indígenas guarani-kaiowá ocuparam a Fazenda do Inho, de 380 hectares, que pertence ao engenheiro agrônomo José Raul das Neves. A ocupação permanece, e Neves colheu apenas parte da soja plantada. 

No mês passado, o proprietário das terras queixou-se ao Correio do Estado de que a sua fazenda não está incluída nos estudos de 2008 da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que verificaram 16 terras indígenas para demarcação em Mato Grosso do Sul. “Se eu não puder plantar, não tenho outro meio de vida. Não tenho outra propriedade”, lamentou.

No caso da fazenda da Missão Evangélica Caiuá, ela contribui para confinar os indígenas em espaços que descaracterizam o seu modo de vida. Por causa da expansão da zona urbana de Dourados, as aldeias Jaguapiru e Bororo – que estavam na zona rural na época da fundação da Missão Evangélica Caiuá, em 1928 – foram alcançadas por bairros da cidade. Ao sul da Jaguapiru estão condomínios de luxo de Dourados e, ao norte, a Fazenda Caiana (já no município de Itaporã).

O sociólogo Paulo Cabral ressalta que os 13 mil indígenas das duas aldeias têm um histórico de segregação em Dourados. “Os indígenas nunca fizeram parte da sociedade douradense. Sempre estiveram à margem, integrando o contingente das bases da pirâmide”. 

Na mesma região das aldeias, em um dos anéis viários de Dourados, está o Hospital Porta da Esperança. O local é considerado a vitrine da Missão Evangélica Caiuá, sendo o principal propósito do consórcio de missionários presbiterianos, que teve início em 1928, quando o reverendo Albert Maxwell visitou a região durante sua jornada de evangelização de indígenas brasileiros.

FAZENDA PERDEU FUNÇÃO

Apesar da demanda dos indígenas por terra e por alimento, com o tempo, a Missão Evangélica Caiuá acabou desvirtuando o propósito da Fazenda Caiuaná. Conforme documento da Câmara dos Deputados de 1957, ao qual o Correio do Estado teve acesso, a Fazenda Caiuaná tinha uma escola em sua sede. Nela, o propósito era o de alfabetizar os indígenas e, entre outras missões, de ensinar-lhes técnicas de agricultura.

O objetivo da Fazenda Caiuaná consta de um Projeto de Lei do então deputado federal Castro Pinto (UDN-MT), que, à época, tinha como finalidade liberar um crédito de 2 milhões de cruzeiros para a Missão Caiuá, em Dourados. O projeto foi aprovado pela Câmara e sancionado pelo então presidente Juscelino Kubitschek (PSD).

“Esta escola está a cargo da profª Zéria Iapechino e fica situada na Fazenda Caiuaná, onde a Missão está procurando desenvolver o trabalho, especialmente de agricultura. Estão matriculadas 42 crianças”, aponta o documento redigido há 66 anos. Desde 2018, no entanto, a propriedade está arrendada a produtores de soja e de milho.

PALAVRA DE MISSIONÁRIO

O diretor-presidente da Missão Evangélica Caiuá, reverendo Geraldo Silveira Filho, afirmou que nunca houve relatos de contaminação por agrotóxicos por parte da Fazenda Caiuaná e seus arrendatários. “Este arrendamento é antigo e nunca houve uma reclamação dessas”, disse o pastor presbiteriano, que informou que apuraria as denúncias.

Segundo Silveira Filho, o vínculo com os arrendatários da fazenda teve início em meados do século passado, antes mesmo de ele chegar à missão. 

A MISSÃO

A Missão Evangélica Caiuá é administrada por um conselho formado por pastores de três igrejas: Presbiteriana do Brasil (IPB), Presbiteriana Independente do Brasil (Ipib) e Presbiteriana Indígena. A organização está se preparando para seu centenário. “A serviço do índio, para a glória de Deus”, diz o lema que a ONG carrega desde a sua fundação. 

Os missionários, além da assistência à saúde indígena (a maior atuação da organização), também atuam em outras frentes: espiritual (há igrejas em 32 aldeias de Mato Grosso do Sul) e educacional (a missão mantém quatro escolas em parceria com o poder público). 

Placa na MS-156 mostra que o território onde está localizada a Missão Caiuá, a Fazenda Caiuaná e Aldeia Jaguapiru está próximo - Mariana Rocha

Desde 1928, quando foi fundada pelo revendo norte-americano Albert Maxwell, a organização cresceu muito e mantém convênios com Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) dos três estados brasileiros que estão no foco das denúncias de maus-tratos e de desrespeito à dignidade dos povos originários: Mato Grosso do Sul (onde surgiu), Roraima e Amazonas.

Na década passada, antes de ter sido investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Polícia Federal, chegou a atuar em 18 DSEIs de todas as regiões do Brasil. Depois de suspeitas de mau uso do dinheiro público, contratação de funcionários fantasmas, de ser usada como cabide de emprego, entre outras irregularidades constatadas pelo TCU, reduziu sua atuação, mas continuou com o serviço em oito distritos.

Além da população guarani-kaiowá, a Missão Evangélica Caiuá é responsável pelo atendimento aos yanomami, cujas terras estão localizadas em Roraima e no Amazonas e estão sendo invadidas por garimpeiros ilegais. 

No início deste ano, o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério da Saúde flagraram indígenas dessa etnia em situação degradante. Dados do próprio Ministério da Saúde indicam que, entre 2019 e 2022, houve, no território yanomami, 177 mortes por desnutrição, contra 41 nos quatro anos anteriores.

A Missão Caiuá também é responsável pela atenção à saúde indígena no Vale do Javari, no Amazonas, na tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru, região conhecida por manter algumas das últimas populações indígenas isoladas das Américas. Foi lá que, em 5 de junho do ano passado, o jornalista inglês Dom Philips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira foram assassinados. 

Todos os convênios ativos da missão ultrapassam a cifra de R$ 2 bilhões. A maioria tem validade de cinco anos, e quase todos vencem em dezembro de 2023. Só neste ano, eles garantirão R$ 247,9 milhões em repasses federais à ONG. No ano passado, foram R$ 243 milhões. Desde 2011, entre contratos ativos e já encerrados, a Missão Evangélica firmou convênios no valor de R$ 3,9 bilhões com a União. 

Apesar de todo esse volume de recursos, a Missão Evangélica Caiuá diz passar por dificuldades financeiras. Em seu último relatório para o conselho que administra a organização não governamental, seu presidente, reverendo Geraldo Silveira Filho, relata que precisa levantar neste ano R$ 2 milhões para custear despesas trabalhistas e para a manutenção do hospital em Dourados, que atende 14 mil indígenas.

Apesar do trabalho missionário da Caiuá feito com os indígenas de Mato Grosso do Sul há quase um século, em 2007, houve 19 mortes de bebês e de crianças por desnutrição nas aldeias Jaguapiru e Bororo, conforme registros do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz. 

OUTRO LADO

O diretor-presidente da Missão Evangélica Caiuá, Geraldo Silveira Filho, argumenta que a Missão Evangélica Caiuá, apesar dos valores vultosos dos convênios, enfrenta dificuldades porque faz apenas a gestão de recursos humanos das contratações dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) nos estados onde tem convênio. “Não temos um tostão de porcentagem sobre estes valores. Nada! Todo o valor recebido vai para a gestão de RH”, garante. 

Perguntado sobre os motivos que levam a missão evangélica a assumir convênios de altos valores e ainda queixar-se de dificuldades para se manter, ele justifica. “Por que a missão faz isso? Por idealismo. Temos um hospital que nos qualifica para participar do chamamento. Se não fizermos isso, nossos indígenas vão ficar desassistidos”.

Sobre as dificuldades que os indígenas enfrentam na área da saúde nos estados de Mato Grosso do Sul, Amazonas e Roraima, mesmo com os altos valores repassados aos convênios que a missão é titular, Silveira Filho repassa a responsabilidade para os DSEIs. 

“A falha não está na contratação do profissional, está na contratação do transporte, na compra do insumo, que é feita pela Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena]. Temos feito reiteradas denúncias de que estamos sem transporte, sem medicamentos”, acrescenta. (Colaborou Mariana Rocha, de Dourados)

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Cidades

Padronização para horário de entrada e saída de hotéis começa a valer

Portaria do Ministério do Turismo deu 90 dias para estabelecimentos se ajustarem a novas regras para check-in e check-out

16/12/2025 14h00

Foto: Álvaro Rezende / Arquivo

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Começaram a valer nesta terça-feira (16) as novas regras para entrada e saída (check-in e check-out) de hóspedes em hotéis brasileiros. A mudança, promovida pelo Ministério do Turismo (MTur), define que a diária cobre 24 horas, dentro das quais os hotéis têm três horas para a arrumação dos quartos.

A regra permite que os hotéis definam seus próprios horários de check-in e check-out dentro desses critérios, e essas informações devem ser comunicadas ao hóspede de forma clara e prévia, tanto pelos hotéis como pelas agências de turismo e as plataformas digitais intermediárias de reservas.

A medida foi modificada por meio de uma portaria do MTur publicada em setembro, com prazo de 90 dias para vigorar.

Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Manoel Linhares, a prática já era adotada pelas redes de hotéis usualmente, mas havia um pedido do setor para que o assunto fosse regulamentado e incluído nas últimas mudanças promovidas na Lei Geral do Turismo.

“São três horas de intervalo entre as saídas e entradas dos hóspedes, para que nossos colaboradores tenham tempo de preparar a hospedagem e para que a gente possa receber melhor. Isso no Brasil já era de praxe, mas, com a regulamentação exata, serve para tirar qualquer dúvida”, explica.

Além das três horas de intervalo para limpeza da hospedagem, a regulamentação também flexibiliza a cobrança de tarifas diferenciadas para entrada antecipada ou saída postergada e detalha a comunicação sobre horários e frequência dos serviços de arrumação, higiene e limpeza da unidade habitacional.

Por meio de nota, a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), que reúne agências de viagens e operadoras, avaliou de forma positiva a regulamentação do tema.

“A definição objetiva do período de hospedagem ajuda a alinhar expectativas do viajante no momento da compra e reduz ruídos na comercialização de pacotes turísticos, trazendo mais segurança para toda a cadeia”, destaca.

Além de maior transparência, a flexibilização quanto às tarifas diferenciadas permite ajustes conforme a disponibilidade de cada meio de hospedagem informa a nota da Abav.

“Embora a adaptação possa exigir ajustes, especialmente para pequenos empreendimentos, a entidade entende que a medida acompanha práticas já adotadas internacionalmente e contribui para a modernização e competitividade do turismo brasileiro”, conclui.

Registro de Hóspedes

As mudanças promovidas pelo MTur incluem ainda a adoção do novo modelo digital da Ficha Nacional de Registro de Hóspedes (FNRH), em substituição ao modelo de papel. A portaria que trata do assunto foi publicada em novembro, com prazo de 90 dias para começar a valer em 13 de fevereiro.

Com a adoção da nova ferramenta, os estabelecimentos terão um QR Code, com link para a página de pré-check-in, que poderão ser preenchidas pelos hóspedes. No momento de entrada, o estabelecimento só precisará conferir os dados com os documentos apresentados.

“Fica o check-in mais tranquilo, tanto para a hotelaria como para o hóspede que, na sua chegada, já vem de um voo cansativo e, às vezes, pega um grupo e fica em uma fila esperando para preencher uma ficha, aquela coisa toda”, afirma Manoel Linhares.

A versão digital da ficha ficará também disponível na Plataforma FNRH Digital, com outras funcionalidades, como elaboração de relatórios analíticos, módulo de reservas e módulo de consulta para os hóspedes.

Demandas

De acordo com Manoel Linhares, as mudanças são regulamentações importantes para o setor, mas ainda há demandas a serem incluídas nas leis que tratam do turismo no país, como a regulamentação de aplicativos de hospedagem, como os que alugam imóveis por temporada.

“Nós, hoteleiros, geramos emprego e temos uma carga tributária muito alta, como é do conhecimento de todos. Nós temos a responsabilidade de dar o melhor aos nossos hóspedes, desde o check-in ao check-out. E o que acontece? Esses aplicativos não ficam nem no Brasil, então a operação é desigual”, avalia.

A demanda é antiga, mas com o surgimento de diferentes plataformas e o impacto sentido pelo setor, a avaliação da ABIH é de urgência.

“Só em Fortaleza, do ano passado para cá, fecharam seis hotéis. Se nós não tivermos essa demanda, vão fechar muitos hotéis, como já estão fechando no Brasil todo”, conclui Linhares.

A reportagem da Agência Brasil entrou em contato com a assessoria do MTur sobre a regulamentação das plataformas para locação de imóveis por temporada. Até a publicação, não houve resposta. O espaço permanece aberto.

CAMPO GRANDE

Em crise, prefeitura concede reajuste de 10,19% para construtora

Apesar do acréscimo de R$1,5 milhão ao contrato, a Capital está longe de um aparente equilíbrio financeiro, com greve do transporte coletivo, de dentistas e cenário de corte de gastos

16/12/2025 13h01

Prazo de execução previsto seria de 540 dias, levando asfalto e drenagem para bairros como Parque do Sol e Dom Antônio. 

Prazo de execução previsto seria de 540 dias, levando asfalto e drenagem para bairros como Parque do Sol e Dom Antônio.  Reprodução/Segov/alvaro-rezende

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Enquanto a Cidade Morena vive dias de crise que, entre outros pontos, estende-se desde a suspensão de atendimentos odontológicos em postos de saúde até uma greve dos trabalhadores do transporte coletivo, o Executivo de Campo Grande concedeu um reajuste de  10,19% para a construtora responsável por obras no Complexo Lageado na Capital. 

Conforme o extrato do contrato firmado entre a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep) e a Empresa Sagres Engenharia Ltda., o valor inicial dessa contratação era de exatos R$15,3 milhões. 

Agora, com acréscimo de R$1.560.277,28, o valor da contratação sobe para R$16.860.277,28, que corresponde a um aumento de 10,19% e, em tese, seriam empenhados para execução de obras de infraestrutura urbana para serviços de pavimentação asfáltica e a chamada drenagem de águas pluviais. 

Para além disso, o prazo de execução previsto seria de 540 dias, ou seja, aproximadamente um ano e meio a contar a partir do recebimento da ordem de serviços, levando asfalto e drenagem para bairros como Parque do Sol e Dom Antônio. 

Caos na Capital

Entretanto, apesar do reajuste concedido a essa construtora, o cenário em Campo Grande está longe de ser de aparente equilíbrio financeiro, com a greve do transporte coletivo na Cidade Morena, por exemplo, entrando em seu segundo dia nesta terça-feira (16) e já sendo é a maior das últimas três décadas, desde que os ônibus ficaram parados por três dias em 1994.

No caso da paralisação dos ônibus, por exemplo, a classe trabalhadora do transporte coletivo de Campo Grande reivindica: 

  • Pagamento do 5º dia útil, que deveria ter sido depositado em 5 de dezembro – foi depositado apenas 50% - está atrasado
  • Pagamento da segunda parcela do 13º salário – vai vencer em 20 de dezembro
  • Pagamento do vale (adiantamento) – vai vencer em 20 de dezembro

Por outro lado, o caos em Campo Grande e reflexo de um suposto desequilíbrio financeiro não se restringem ao transporte coletivo, com os dentistas suspendendo atendimentos em 44 postos de saúde da Capital, após decisão de forma unânime por uma greve de pelo menos 30 dias.

A novela fiscal de Campo Grande em 2025, porém, começou com cortes radicais nos gastos e nomeações ainda no início de março, por decreto da chefe do Executivo após ser pressionada por servidores que há três anos não eram contemplados por reajustes.

Inicialmente a medida previa uma espécie de moratória válida até o fim de junho, uma dilatação de prazo que afasta a possibilidade de conceder reposição salarial ao funcionalismo, cuja data-base é maio. 

Junto disso foi decretado corte de pelo menos 25% em gastos com água, luz, combustíveis, impressões e demais serviços de terceiros prestados por pessoa física e/ou jurídica, em uma ação que a prefeita classificou à época como "coisas caminhando como devem acontecer". 

em junho - e longe da meta - Adriane renovou esse decreto para corte de gastos, prorrogando a medida de arrocho por mais três meses. 

Toda essa movimentação impediu reajuste salarial linear aos servidores municipais, sendo que nesse primeiro prazo de três meses a prefeitura conseguiu economizar R$19 milhões na folha de pagamentos, apesar do aumento da ordem 27% no próprio salário, que beneficiou em torno de 500 integrantes da elite do funcionalismo municipal. 

Desde abril, o salário da prefeita, que serve como teto para o serviço público municipal, passou de R$21,2 mil para R$26,9 mil. Em fevereiro de 2026 sobe para R$31,9 e um ano depois, para R$35,4 mil.

Enquanto isso, porém, a base do funcionalismo está há três anos sem reajuste e, com a renovação de decreto, a possibilidade de pôr fim ao congelamento acaba de vez. 

Além da redução dos R$19 milhões na folha de pagamento, a administração municipal também reduziu em quase um milhão de reais os gastos com locação de imóveis, conforme afirmou a Prefeita em 18 de junho.

De acordo com ela, “mais de cinco imóveis” teriam sido devolvidos nestes três meses de vigência do decreto de arrocho de gastos. 

 

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