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Ilza Feitosa encontrou na sanfona
a cura para a depressão

Ilza Feitosa encontrou na sanfona
a cura para a depressão

VALQUÍRIA ORIQUI

26/08/2016 - 18h45
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Recém-casada, aos 18 anos, Ilza Feitosa deixou a vida pacata de Jaraguari e mudou-se para Campo Grande, na intenção de viver um grande amor. A mesma cidade onde foi acolhida e teve os quatro filhos foi também palco de grandes tristezas e decepções para a sanfoneira, que, aos 64 anos, não se esquece de nenhum detalhe das peças que a vida lhe pregou, mas que foram superadas. Depois de permanecer “enclausurada” por três anos, Ilza se apegou à fé e saiu da depressão. Hoje, além de fazer o que gosta, ajuda centenas de moradores do Bairro Estrela do Sul, onde vive há 40 anos e trabalha com o projeto “Sarau Raízes”. 

O casamento durou 15 anos e, desde então, ela preferiu seguir sozinha. Filha de músico, o dom da arte “corre nas veias”. Acostumada a acompanhar o pai em eventos, começou a vida artística aos 13 anos.  

“Como eu morava no sítio, minha diversão era ver ele tocar. Meu pai era muito bravo, então, desde cedo, acostumei a me esconder atrás do instrumento para que ninguém se aproximasse. Não podia olhar para o lado. Então, dessa maneira, aprendi a levar a vida. Se eu chegasse numa festa e um homem viesse falar comigo, eu ficava de castigo. Morria de medo disso”, contou Ilza.

Com voz calma e aparência tranquila, a musicista contou que se descobriu solitária mesmo após ter trabalhado 42 anos em meio à multidão. “Tenho dificuldade de me relacionar. Aprendi a viver num mundo só meu, que sempre foi de grandes sonhos, de ajudar as pessoas, tenho um amor incondicional pelo ser humano”.  

Aos 58 anos, Ilza passou por experiência considerada um divisor de água da vida dela. Funcionária pública do Estado, atuava no setor administrativo da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Coronel Antonino, quando, durante uma crise de estresse, surtou. “Eu estava decepcionada com o egoísmo das pessoas, de não se preocuparem com o próximo e da inversão de valores. E isso acabou me afetando ao longo do tempo, então saí de lá e fui direto para um sanatório”. 

Na Clínica Médica Carandá Bosque, Ilza permaneceu com amnésia por 20 dias. Após alta médica, se trancou em casa, de onde praticamente não saiu pelo menos durante três anos. “Saí da clínica tomando 12 psicotrópicos [tipos de antidepressivos]. Não queria ver ninguém, não abria a porta pra ninguém, estava muito decepcionada com tudo, com a vida em si. Naquela época, cheguei a pesar 103 quilos”. 

Durante esse tempo que permaneceu fechada em casa, a sanfoneira conta que passou meditando. “Eu levantava cedo e cuidava só de planta. Não fazia mais nada”. Nessa mesma época, quando o casal de filhos mais novos saiu de casa, ela descobriu que sofria da síndrome do ninho vazio. “Perdi o sentido de viver de vez, pois criei eles pra mim”. Perto de completar três anos trancada em casa, começou a reduzir a medicação por conta própria e o efeito foi surpreendente. “Percebi que estava cansada e, além disso, cansando toda a minha família. Percebi que todos os dias um morria um pouco. As pessoas tinham que se revezar para cuidar de mim. Então, percebi que eu estava uma pessoa muito cansativa e me dei conta que precisava fazer alguma coisa. Então, parti para as orações. Foi aí que me reergui. A esperança foi tomando conta de mim”.

Depois que deixou de tomar as medicações, descobriu que tinha efeito rebote às drogas (retorno dos sintomas da doença, em alguns casos, mais graves do que no início) e foi ficando cada vez mais lúcida. “Descobri que os remédios estavam acabando comigo e que eu precisava de um gancho na minha vida”. 

VOLTA POR CIMA

E foi a oportunidade que Ilza teve ao compor a chapa da associação dos moradores que fez nascer dentro dela uma nova pessoa, uma nova mulher. “Um belo dia percebi que eu precisava levantar voo e voltar à vida. Comecei a procurar um espaço, um gancho para recomeçar. Foi quando João Marcelo, presidente do bairro hoje, apareceu com a ideia de montar a chapa. Participei de uma assembleia extraordinária com ele e resolvi entrar na chapa. Ganhamos, e no dia da apresentação da nova diretoria, em dezembro de 2012, fiquei impactada com a história de um deficiente visual, Charles”.

Para a sanfoneira, ao se deparar com o cego de um olho cheio de “vida”, a consciência lhe veio à tona. “Quando vi que ele estava cuidando de um grupo de melhor de idade, fazendo a confraternização de fim de ano, fiquei impactada com a atitude daquele homem e pensei: eu estou doente?”.

“Na festa, tinha uma mulher tocando sanfona com um grupo. Pedi a ela que me deixasse fazer uma palinha com a sanfona dela. Foram cinco minutos que toquei e, ali, eu renasci e resgatei 10 anos da minha vida. Terminei aquela apresentação me sentindo uma menina. E dali, o projeto surgiu. Eu já tinha a vontade no meu coração”.

Sarau e projetos sociais, mais motivos para viver 

Depois de 30 dias do momento em que Ilza conta ter  “retornado à vida”, o “Sarau Raízes” já estava formado. Ela era a única mulher sanfoneira de um grupo com mais seis homens, que cantavam e tocavam outros instrumentos. Aos poucos, mais músicos foram chegando e o grupo aumentou. 

Hoje, com quatro anos de formação, o projeto é realizado no Centro Comunitário do Bairro Estrela do Sul, às quintas-feiras, a partir das 19h30min, e tem como principal objetivo oferecer oportunidade para os músicos da terceira idade terem seu espaço e resgatar a música regional.  

“Quando montei o projeto, já sabia que não íamos a lugar nenhum como músicos, já que somos da melhor idade. Além disso, tem músico com 300 quilos, músico safenado, manco, com marca-passo e cego”. Com o gosto pela vida de volta, Ilza começou a perder os quilos que ganhou durante os três anos em que passou trancada dentro de casa. 

Atualmente, o projeto abrange mais de 250 pessoas, sendo 80% músicos. “Por ser eu uma mulher, e sozinha, exijo deles que tragam as esposas. Costumo dizer que o dia do sarau é o dia de gala delas”. Ilza considera que  pode existir um entrave entre a música e um grande amor da vida.  Por isso, tenta fazer esse “casamento”. 

Ela conta que viveu na pele intensamente as consequências dessa inimizade. “Chegaram a fazer motim para me tirar de cima do palco. Passei por isso várias vezes. Por isso, quero zelar pelos relacionamentos”.

Um dos objetivos de Ilza é inserir a musicalização no calendário sul-mato-grossense. “Meu desejo é divulgar esses músicos, gerar renda para eles e propiciar que possam competir no mercado da música. A classe é de poder aquisitivo baixo. Eles não têm acesso a palco nem a equipamentos adequados”.

O Sarau também proporciona aula de violão, curso de reciclagem, de pintura, crochê, bordado e produtos de fabricação caseira para complementar a renda na casa do artista. “Atualmente, são 30 mulheres no curso. A ideia é que as esposas dos músicos aprendam essas artes para terem a própria renda”. 

O sonho de Ilza, talvez o mais distante deles no momento, é construir um lugar para que, na velhice, o artista tenha onde se amparar: a Casa de Sobrevivência do Músico. Pelo Sarau, já passaram artistas regionalmente consagrados, como Gregório, Luciana Chamamezeira, Patricia e Adriana, Ivo de Souza, Danilo da Gaita, Lucas Monzon, entre outros. 

Para o próximo ano, nos dias 5, 6 e 7 de maio, Ilza prepara a primeira edição do evento de rua chamado Chamanejo, alusivo ao dia do sertanejo, que é comemorado no dia 3 do mesmo mês. “Será tipo um carnaval de rua, mas voltado para o nosso gênero musical. Será uma maneira de chamar a atenção da sociedade para nossa cultura”. O nome é alusivo aos dois estilos musicais da região, o chamamé e o sertanejo. 

O evento está previsto para ser realizado na Esplanada Ferroviária e ela pretende arrecadar dinheiro para os cachês do músico, que terão oportunidade de mostrar o trabalho.“Assim como o Carnaval, quero que a data seja inserida no calendário sul-mato-grossense”, finaliza a sanfoneira, nascida na roça, que, apesar das peças que a vida lhe pregou, não desistiu de sonhar e agora tem como meta tornar a cultura campo-grandense valorizada. 

 

Cidades

Caderneta de Saúde da Criança ganha versão digital; saiba como acessar

Plataforma permite acompanhar dados e orientações em saúde

10/04/2025 21h00

Foto: Divulgação

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O Ministério da Saúde lançou, nesta quinta-feira (10), a Caderneta Digital de Saúde da Criança, integrada ao aplicativo Meu SUS Digital. A plataforma permite o acompanhamento do bem-estar e do desenvolvimento por meio de duas áreas de atenção: registros de saúde e cuidados da família.

As mães, pais e responsáveis por essas crianças continuarão a ter acesso à caderneta na versão física, de papel, entregue nas unidades básicas de saúde. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, defendeu que a documentação na versão digital traz praticidade.

"Aquela situação em que o pai ou a mãe chega à unidade de saúde ou à escola e esquece a caderneta física agora está resolvida — ela [caderneta da criança] estará disponível no aplicativo.  A outra [vantagem] é que a caderneta digital terá mensagens ativas, ou seja, vai enviar alertas para o responsável informando que chegou a hora de vacinar ou de tomar uma dose de reforço”,

Para acessar a Caderneta Digital de Saúde da Criança já disponível no Meu SUS Digital, é necessário que tanto o responsável quanto a criança possuam contas ativas no site de serviços do governo federal, o Gov.br.

Aliada das famílias

A Caderneta Digital de Saúde da Criança traz os registros de crescimento, vacinação, saúde bucal e nutrição das crianças. A secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Ana Estela Haddad, explicou a modernização do documento.

“A caderneta da criança sempre foi uma aliada das famílias brasileiras. Agora, com a transformação digital do SUS, se torna mais moderna, interativa, acessível e vem apoiar as mães, as famílias, os cuidadores, os professores, os profissionais de saúde de todo o país no cuidado com as nossas crianças.”

Os dados do desenvolvimento infantil e de atendimentos em estabelecimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) serão lançados em tempo real na nova versão digital, por meio da Rede Nacional de Dados em Saúde.

A plataforma da rede permite que médicos e enfermeiros acessem de forma segura e padronizada as informações de saúde de pacientes. O compartilhamento dos dados tem a missão de agilizar e tornar o atendimento contínuo.

“Como diz o pensamento africano, é preciso toda uma aldeia para cuidar de uma criança. E essa aldeia pode ser também digital. A tecnologia ganha muito quando ela é construída em rede, com participação e com compromisso coletivo”, citou Ana Estela Haddad.

Pelo documento, as famílias poderão acompanhar o histórico de vacinas, com previsão para as próximas doses e envio de notificações com lembretes para a hora de vacinar a criança.

Além disso, as mesmas informações da caderneta de papel sobre os cuidados e o desenvolvimento das crianças, desde os primeiros dias de vida, estarão disponíveis na nova versão eletrônica. Entre os conteúdos, por exemplo, o cuidado com bebês prematuros e a proteção das crianças frente às telas.

Cidades

STJ tranca ação contra empresários alvos da operação Ouro de Ofir

Ministro considerou que não houve representação das vítimas na denúncia por estelionato e que não há individualização de condutas na denúncia por organização criminosa

10/04/2025 18h30

Operação Ouro de Ofir foi desencadeada em 2017

Operação Ouro de Ofir foi desencadeada em 2017 Foto: Arquivo / Correio do Estado

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O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Messod Azulay Neto, determinou o trancamento de uma ação penal contra Celso Éder Gonzaga Araújo e Anderson Flores de Araújo, alvos da Operação Ouro de Ofir, desencadeada em 2017 contra grupo especiliazado em golpes financeiros, que agia a partir de Mato Grosso do Sul.

Advogados dos empresários entraram com um habeas corpus no STJ pedindo o trancamento da ação de estelionato e organização criminosa e o ministro deu provimento ao recurso.

Segundo Azulay Neto, com relação a denúncia de estelionato, a condição para que haja a procedibilidade é a manifestação inequívoca do interesse da vítima em dar prosseguimento à persecução penal, sendo desnecessárias maiores formalidades.

No caso dos autos, segundo o ministro, o juízo de primeiro grau verificou a inexistência de manifestação inequívoca das vítimas no sentido de representarem contra os acusados, mesmo sendo intimados por vários anos e sem oferecer a representação.

"Com efeito, há no presente caso violação do princípio da duração razoável do processo e comprometimento da segurança jurídica dos acusados, os quais estão por anos aguardando uma eventual representação, enquanto figuram como réus na ação penal", disse o ministro do STJ.

Já com relação a imoutação do crime de organização criminosa, Azulay Neto explica que a denúncia deve narrar os crimes imputados detalhadamente, com todas as suas circunstâncias, e não pode ser recebida se consistir em reprodução do texto legal sem a devida e completa individualização das condutas, com demonstração de que os fatos narrados possuem adequação típica no delito imputado.

No caso, ele analisou que há repetição dos termos previstos genericamente em lei.

"Ao discorrer sobre a prática delitiva de organização criminosa, contém narrativa demasiadamente genérica e não descreve qual a estruturação ordenada da suposta organização criminosa, nem a divisão de tarefas, de maneira suficiente a permitir o pleno exercício da defesa dos acusados", diz.

"Não há sequer a descrição efetiva do elemento subjetivo do tipo, nem do local onde os crimes seriam praticados e também não há menção ao real vínculo estável entre os sujeitos. Não se pode admitir que a imputação do crime de organização criminosa seja efetuada com tamanha generalidade, o que dificulta o seu rebatimento pela defesa, haja vista a indeterminação dos fatos atribuídos. Nessa situação, excepcionalmente, deve ser reconhecida a inépcia da denúncia", acrescentou, na decisão.

Assim, ele deu provimento ao recurso em habeas corpus e determinou o trancamento da ação penal, sendo por decadência e inexistência de condição de procedibilidade quanto ao crime de estelionato, e por inépcia da denúncia quanto ao crime de organização criminosa.

O ministro afirma ainda que nova denúncia pode ser oferecida com a devida narrativa dos fatos imputados e todas as suas circunstâncias.

OURO DE OFIR

Celso Éder Gonzaga Araújo e Anderson Flores de Araújo foram presos pela Polícia Federal no dia 16 de novembro de 2017 por formação de quadrilha especializada em golpes financeiros que agia a partir de Campo Grande.

A prisão foi convertida em preventiva no dia 24 de novembro, após representação do delegado da Polícia Federal, que afirmou que mesmo após a operação, o grupo criminoso continuou realizando atividades voltadas a manter os negócio fraudulentos como se fossem lícitos. Posteriormente, eles foram soltos com uso de tornozeleira eletrônica.

Segundo reportagem do Correio do Estado na época, a organização buscava lucro a partir da falsa existência de uma suposta mina de ouro cujos valores estariam sendo repatriados para o Brasil e cedidos, vendidos ou até mesmo doados a terceiros mediante pagamento. Foram inclusive detectados contratos de doação, mediante pagamento. 

A operação culminou na prisão de Celso, gerente da empresa Company Consultoria Empresarial Eireli,  usada para legitimar os golpes, juntamente com os demais envolvidos.

A ação consistia em “típica fraude para burlar tanto o fisco federal como as supostas vítimas que acreditam estarem investindo num negócio lícito e devidamente declarado, com respaldo das autoridades federais de fiscalização”, lê-se no relatório policial. 

Os investidores aplicavam cotas a partir de R$ 1 mil e chegavam a assinar contratos falsificados, acreditando que futuramente receberiam milhões dos recursos da mina. O valor pago por eles, afirmavam os golpistas, seria apenas para cobrir despesas com o processo. Porém, quanto mais fosse investido, maior seria o benefício.

Durante a operação, a PF descobriu que aproximadamente 25 mil pessoas foram lesadas em todos os estados da federação. Algumas chegaram a aplicar de R$ 500 mil a R$ 1 milhão.

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