O secretário do Índio de Roraima, Dilson Ingarikó, 42, foi demitido na manhã desta segunda-feira (17) pelo governador interino Paulo Quartiero (DEM) sob a alegação de defender a demarcação de terras indígenas.
Quartiero assumiu o cargo após pedido de afastamento de uma semana da governadora Suely Campos (PP), que deve retornar à função na próxima semana.
Segundo Ingarikó, a demissão foi informada após ser chamado para uma reunião no gabinete do governador. Roraima é o único Estado do país a ter uma pasta exclusiva para a causa indígena.
"Ele me chamou hoje cedo só para informar. Já tinha feito a exoneração e só comunicou", disse o agora ex-secretário.
Ingarikó afirmou que, no encontro, ouviu críticas do governador à demarcação de terras indígenas e que a pasta estava defendendo as definições desses territórios.
Roraima tem cerca de 50 mil indígenas distribuídos em mais de 30 comunidades, para uma população total de 514 mil habitantes. Entre as terras indígenas mais conhecidas estão Raposa/Serra do Sol, São Marcos, Vaimiri-atroari e Ianomâmi.
"Disse que nós, na secretaria, estávamos dando aval para outras demarcações. Sou liderança indígena, não nego meu apoio à causa. O que tentamos fazer é organizar, fortalecer os indígenas. Aí vem uma pessoa que não gosta do índio mesmo [e faz isso]", disse.
DIA DO ÍNDIO
A demissão ocorre a dois dias do Dia do Índio, celebrado na quarta-feira (19), e no mesmo mês em que a governadora Suely Campos (PP) foi batizada numa comunidade indígena do Estado.
Na comunidade Nova Esperança, o tuxaua (líder) João Wapixana pintou o rosto da governadora com traços vermelhos e ela foi batizada como Kaikusi Sokoropan (que significa "onça valente").
A expectativa de lideranças indígenas ouvidas pela Folha é que a governadora reverta a decisão de Quartiero ao reassumir o posto.
Mas setores da administração criticam Ingarikó por posicionamentos recentes, como no imbróglio entre o próprio governo do Estado e os vaimiri-atroari, que fecham diariamente, por 11 horas, a BR-174.
LIBERAÇÃO DE VEÍCULOS
Enquanto a Procuradoria-Geral do Estado tenta judicialmente obter a liberação do tráfego de veículos 24 horas por dia no trecho da terra indígena, Ingarikó disse pregar negociação entre as partes, critica os que defendem o desenvolvimento "a qualquer custo" e diz que os vaimiri-atroari querem uma indenização que possa envolver a proteção da fauna e beneficiar a comunidade para liberar a rodovia.
"Alegaram até que fiz postagens em redes sociais comemorando agora. Não publiquei nada, mas não negaria nunca meu apoio para demarcações indígenas. Há muitos anos, publiquei a frase 'vamos à luta, a luta continua', que foi usada para nossa exoneração."
Além dele, o secretário-adjunto, Hugo Cabral, também foi demitido nesta segunda por Quartiero, que é produtor rural -categoria que vive em conflitos com indígenas devido ao uso da terra.
A Folha procurou a Secretaria de Comunicação do governador, mas ainda não obteve resposta. A assessoria de Quartiero informou que ele falará sobre o assunto na tarde desta segunda.