Cidades

ESTRADA ASSASSINA

Investimento irrisório põe fim à "curva da morte" na BR-060

Cerca de R$ 4 milhões foram suficientes para corrigir problema que provocou entre 25 e 30 mortes, segundo a Defesa Civil de Nioaque

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No dia 10 de março, quatro mulheres jovens morreram vítima de acidente na saída de Campo Grande para Cuiabá. Nesta semana, na quarta-feira, dia 22, três pessoas morreram vítima de colisão entre dois caminhões no extremo sul do Estado. Os dois casos aconteceram na BR-163 e em ambos as autoridades policiais atribuíram imediatamente a responsabilidade a um dos condutores. Porém, quase não se tem notícias de casos em que a polícia atribui a culpa à estrada. Mas, ao longo de mais de duas décadas, dezenas de pessoas morreram na chamada “curva da morte”, na BR-060, entre as cidades de Sidrolândia e Nioaque, e ninguém nunca reconheceu que estas pessoas foram vítimas de um projeto de engenharia mal executado. 

Há quase um ano o traçado desta curva, na descida da Serra de Maracaju, foi refeito e desde então acabaram as notícias de tragédias no local. Mas, embora não haja confissão formal de que ali existia uma “curva era assassina”, o simples fato de o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) ter mudado o traçado já é uma confissão de culpa, conforme o advogado constitucionalista André Borges.

Não existem números exatos sobre a quantidade de acidentes, de pessoas feridas e de mortes naquele local ao longo dos últimos 25 anos. Porém, o coordenador da Defesa Civil de Nioaque, Robson Humberto Maciel, que perdeu a conta sobre a quantidade de vezes que ajudou a socorrer vítimas, acredita que pelo menos 25 a 30 pessoas tenham morrido naquele trecho. E, a quantidade de feridos graves (muitos deles podem ter morrido dias ou meses depois em decorrência da queda no precipício) é três vezes maior, acredita ele. 

A ordem de serviço para intervenção na rodovia foi assinada há exatos dois anos, em 14 de março de 2021. As obras começaram em seguida e já faz quase um ano que a nova pista está liberada para o tráfego. Desde então, “nunca mais tive de correr para ajudar a socorrer gente que caiu naquela ribanceira”, comemora Robson. “E era sempre exatamente no mesmo lugar. Tinha até um cemitério de sucatas ali. Agora retiraram tudo”, explica o coordenador da Defesa Civil. 

E o mais assustador, comenta Robson, é que o custo para “matar” a “curva da morte” foi insignificante. Conforme informações divulgadas no começo das obras, o valor ficou na casa dos R$ 4 milhões de reais. “Para os cofres da União, isso é irrisório”, comenta o advogado André Borges. E as mudanças aconteceram num treço de apenas 700 metros. 

Mudança foi feita em apenas 700 metros, com redução do declive e da sinuosidade na chamada "curva da morte", entre Sidrolândia e Nioaque

E o mais curioso é que a última morte de que se tem registro no local foi exatamente de um servidor da União. No dia 15 de fevereiro de 2022, um caminhão do Exército despencou da ribanceira e o subtenente Antônio Quelis Pires, de 45 anos, acabou morrendo. Ele e um outro militar chegaram a ser socorridos com vida. Até helicóptero do Exército foi usado para transferir o subtenente do hospital de Nioaque a Campo Grande, mas mesmo assim não resistiu. O cabo que estava com ele também sofreu graves ferimentos, mas sobreviveu. 

Com o caminhão do Exército aconteceu exatamente o mesmo que ao longo de décadas aconteceu com outros caminhoneiros. Os relatos, segundo Robson Maciel, eram sempre parecidos. “O caminhão perdeu o freio e não consegui fazer a curva”, diziam os caminhoneiros que sobreviviam. E ao perderem o controle dos caminhões, despencavam de uma ribanceira com cerca de cem metros. 

No último caso grave, um caminhão do Exército despencou na ribanceira, em fevereiro de 2022, e um militar morreuNo último caso grave, em feveriro do ano passado, um caminhão do Exército despencou e um militar acabou morrendo. A obra já estava em andamento

Atualmente, um dos temas centrais dos debates econômicos em Mato Grosso do Sul é a rota bioceânica. Quando ela virar realidade, caminhoneiros daqui terão de percorrer centenas e centenas de quilômetros pela cordilheira dos andes para chegar ao Oceano Pacífico. E o trecho de serra e de curvas na BR-060 não chega a ser um milésimo daquilo que espera os caminhoneiros na Argentina e no Chile.

Mas, se os caminhoneiros daqui não conseguiam descer uma serra de pouco mais de dois  quilômetros, o que é de se esperar quando entrarem nos andes? A resposta é simples, conforme Robson, o socorrista que falou com inúmeros motoristas que sobreviveram à queda no precipício. “O declive naquele trecho era muito acentuado e forçava o sistema de freios, que acabava falhando. Além disso, a curva era acentuada demais e o asfalto tinha inclinação para o lado errado. Era uma questão de força centrífuga”, segundo ele.

Tudo isso foi corrigido, de acordo com Robson. Mas além disso, o DNIT melhorou a sinalização, instalou defensas metálicas e criou uma espécie de pista de escape para caminhoneiros que perderem o freio ou o controle da direção, já que a serra continua existindo e o trecho segue sendo perigoso. Desde as mudanças, há registro de um único acidente no local, mas sem gravidade e nem queda na ribanceira, deixando claro que as alterações no traçado surtiram efeito. 

PROTESTOS

A lista de acidentes na chamada “curva da morte” é extensa e as cobranças pela intervenção no traçado são antigas. Em 2014, por exemplo, sete pessoas morreram no local somente no primeiro quadrimestre. E, depois de uma tragédia que provocou a morte dois indígenas em abril daquele ano, a pista chegou a ser bloqueada por familiares das vítimas e a necessidade de intervenção ganhou destaque até na Assembleia Legislativa. 

A quase totalidade das vítimas era ocupantes de veículos pesados. Mas, condutores de carros de passeio também corriam risco naquele trecho. Prova disso é um acidente registrado no dia 9 de novembro de 2021. Uma carreta perdeu o freio na descida, atingiu uma caminhonete S10 que subia a serra e os dois veículos despencaram no precipício. Uma idosa que estava na caminhonete morreu no local e os outros três ocupantes sobreviveram. O condutor da carreta, que transportava bagaço de cana, também sobreviveu. 

INDENIZAÇÃO

Embora o problema tenha sido corrigido, isso pouco significa para os sobreviventes ou para os familiares das pessoas que morreram. Mas para parte destas vítimas ainda resta uma alternativa. “Se a rodovia é federal e se restar provado que a obra tinha irregularidade, tanto que foi corrigida, causando morte ou dano, a indenização é certa”. A declaração é do advogado André Borges.

“Tudo se resolve com o parágrafo sexto do artigo 37 da Constituição (hoje, dia 25 de março, é Dia da Constituição). Vítimas ou familiares podem ajuizar pedido de indenização na Justiça Federal, contra a União. Mas tem prezo de prescrição. Cinco anos a contar do ato ilícito”, explica o advogado. 

Grande parte das vítimas certamente já perdeu o prazo para pedir indenização, mas um levantamento rápido revela que pelo menos sete pessoas morreram nos últimos cinco anos e seus familiares ainda tem prazo para cobrar reparação. 

Em 29 de novembro de 2018, um casal, de 24 e 36 anos, morreu ao cair com a carreta que transportava adubo. No dia 28 de dezembro do mesmo ano, um caminhoneiro que transportava sal mineral caiu no mesmo local e também morreu. E a lista segue pelos anos seguintes: 25 de setembro de 2020; 09 de novembro de 2021; 24 de dezembro de 2021. E, finalmente, em fevereiro de 2022, quando o militar do Exército parece ter sido a última vítima desta “estrada assassina”. 

Uma espécie de cemitério de carcaças de caminhões chegou a se formar no pé da ribanceira. Depois da correção do traçado, tudo foi removido

 

Cidades

Projeto de lei quer converter multas de trânsito em doação de sangue e medula

Infrator que optar pela doação não pagará multa, mas outras sanções podem ser mantidas, como pontos na CNH

19/12/2025 18h00

Multas leves de trânsito poderão ser convertidas em doação voluntária de sangue ou medula

Multas leves de trânsito poderão ser convertidas em doação voluntária de sangue ou medula Foto: Arquivo

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Um projeto de lei protocolado na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems) propõe converter multas aplicadas no trânsito, relativas a infrações de natureza leve, em doação voluntária de sangue ou medula óssea. Como a Casa está em recesso, a matéria tramitará no ano que vem.

Conforme a proposta, de autoria do deputado estadual Junior Mochi, a conversão do pagamento das multas em doação de sangue ou medula teria caráter alternativo e facultativo, não constituindo direito subjetivo do infrator, e deverá ser expressamente requerida pelo interessado, nos termos de posterior regulamentação.

Ainda conforme o projeto, a conversão da multa em doação somente será admitida quando:

  • a infração for de natureza leve, nos termos do Código de Trânsito Brasileiro;
  • não houver reincidência da mesma infração no período de 12 meses;
  • a multa não decorrer de infração que tenha colocado em risco a segurança viária, a vida ou a integridade física de terceiros;
  • a doação seja realizada em hemocentros públicos ou privados conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS), ou em instituições oficialmente reconhecidas;
  • haja aptidão médica do doador, conforme critérios técnicos estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

Cada doação de sangue corresponderá a conversão de uma multa de trânsito, assim como a inscrição no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).

Caso o doador seja compatível com alguma pessoa precisando de transplante e faça a doação efetiva da medula óssea, poderá ser convertida até duas multas de trânsito.

A comprovação da doação ou da inscrição no Redome será realizada mediante apresentação de documento oficial emitido pela instituição responsável, observado o prazo e os procedimentos definidos em regulamento

O projeto veda a compensação parcial da multa, bem como a conversão de penalidades acessórias, como suspensão ou cassação do direito de dirigir.

A conversão será apenas relacionada ao pagamento da multa, mas não exime o infrator das demais obrigações legais decorrentes da infração de trânsito, inclusive quanto ao registro de pontos na Carteira
Nacional de Habilitação (CNH), quando aplicável.

O Poder Executivo poderá celebrar convênios e parcerias com municípios, hemocentros e instituições de saúde, com vistas à operacionalização da lei, caso seja aprovada e sancionada.

Objetivos

Na justificativa do projeto, o deputado afirma que o objetivo é conciliar o caráter educativo das sanções
administrativas de trânsito com políticas públicas de incentivo à doação voluntária de sangue e de medula óssea, "práticas essenciais à manutenção da vida e à efetividade do Sistema Único de Saúde".

"A proposta não elimina a penalidade, mas a ressignifica, convertendo-a em uma ação de relevante interesse social, capaz de estimular a solidariedade, a cidadania e a responsabilidade coletiva. Trata-se de medida alinhada aos princípios da dignidade da pessoa humana, da função social das sanções administrativas e da eficiência das políticas públicas, diz a justificativa.

Em caso de aprovação e sanção, a adesão pelos municípios será facultativa, preservando o pacto federativo.

"Ressalte-se que a iniciativa respeita a autonomia municipal e o Código de Trânsito Brasileiro, limitando-se às infrações leves e excluindo aquelas que representem risco à segurança viária. A adesão pelos Municípios é facultativa, preservando-se o pacto federativo", conclui o texto.

Campo Grande

Investigada por desvio recebeu R$ 1,7 milhão para iluminar "Cidade do Natal"

Construtora JCL venceu licitação há dois meses e será responsável pela decoração natalina da Capital

19/12/2025 17h50

Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado

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Investigada em operação que apura suspeitas de fraudes em licitações e contratos de iluminação pública em Campo Grande, a Construtora JCL Ltda. venceu há dois meses a disputa para iluminar a decoração natalina da Capital neste ano, orçamento de R$ 1,7 milhão.

Conforme o Portal da Transparência, a empresa será responsável por fornecer, instalar e desinstalar a decoração natalina na Capital, contrato firmado no dia 17 de novembro e que expira no dia 15 de fevereiro. 

Conforme o edital, a iluminação abarca trechos da Rua 14 de Julho, Avenida Afonso Pena local de apresentações culturais, gastronomia e lazer. Para a decoração natalina está prevista a instalação de mangueiras luminosas de led branco quente (âmbar), verde e azuis pelas avenidas Afonso Pena, Duque de Caxias e Mato Grosso.

Na 14 de Julho, a decoração possui flâmulas natalinas, bolas metálicas iluminadas, árvores naturais de porte médio, árvores em formato de cone, anjo iluminado e pórticos metálicos.

As luzes foram acesas no dia 1º de dezembro deste ano, com desligamento previsto para o dia 15 de janeiro de 2026, datas que, conforme contrato, podem ser adiadas ou antecipadas.

De acordo com a prefeitura, a iluminação decorativa natalina tem como objetivo "trazer o espírito natalino para as ruas, praças e avenidas da Capital, aliando beleza, lazer e sentimento de pertencimento urbano".

Iluminação natalina

A Praça Ary Coelho também foi decorada com os portais de entrada até o coreto, além de iluminação nas árvores naturais.

Complementam a decoração em outras vias estrelas dos mais variados tamanhos, árvores de arabesco, cometas, botas, bicicletas, pirâmides e pórticos, entre outros.

Além dessas, receberão decoração as rotatórias da Ceará com Joaquim Murtinho; Duque de Caxias com a Entrada da Nova Campo Grande; da João Arinos com Pedrossian; Três Barras com Marques de Lavradio; Consul Assaf Trad com Zulmira Borba; Gury Marques na rotatória da Coca-Cola; Filinto Muller no Lago do Amor; dentre outras. A iluminação compreende ainda o Paço Municipal.

 

Contradição

A assinatura do contrato entre a prefeitura e a construtora contraria uma lei sancionada pelo próprio Executivo em agosto deste ano, que detinha o objetivo reduzir gastos e otimizar recursos públicos.

A Lei 7.464/25, sancionada em 4 de agosto, previa que a iluminação e ornamentação natalina em espaços públicos fosse patrocionada por empresas privadas, sem custos para a Prefeitura.

Conforme a lei, as empresas interessadas em iluminar a "Cidade do Natal" em troca, poderiam divulgar suas marcas nos locais iluminados. O programa "Natal de Luz", inserido na lei, tem vigência anual, entre 1º de novembro e 10 de janeiro. 

*Colaborou João Pedro Flores

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