Quatro anos depois que Jamil Name e Jamil Name Filho, mais conhecido como Jamilzinho, foram presos, apontados pelas autoridades como os donos do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul, a Polícia Civil fez uma apreensão de 700 máquinas da contravenção, o que mostra que, após a saída da família dos negócios, o crime foi "passado para frente" e agora opera de forma mais moderna.
As máquinas apreendidas são semelhantes a máquinas de cartão utilizadas diariamente em qualquer comércio, sendo facilmente confundidas. Inclusive, não é difícil encontrar máquinas de jogo do bicho à venda em sites populares de varejo e marketplaces.
Além das máquinas para fazer o jogo, a contravenção agora está on-line. Tanto o jogo quanto o resultado saem em site, em tempo real, e há jogos em vários horários diferentes.
Modernidade que há quatro anos, quando a Operação Omertà foi deflagrada, quando os Name foram presos, ainda não estava em prática.
A coordenação da operação do jogo de azar teve mudança a partir do dia 27 de setembro de 2019, quando a força-tarefa chefiada pela Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros (Garras), com participação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), prendeu Jamil Name, Jamilzinho e vários outros envolvidos na organização criminosa chefiada por eles e que também atuava como milícia armada e em crimes de pistolagem, conforme apontaram as investigações.
Depois que os chefões foram presos e mandados para o presídio federal de Mossoró (RN), o "negócio" foi entregue a outro grupo. A apreensão de ontem prova que a prática segue sendo praticada.
De acordo com o Garras, a apreensão das máquinas foi feita em residência localizada no Bairro Monte Castelo por coincidência.
O delegado Fábio Peró, titular do Garras já na época da Omertà, afirmou que uma equipe que estava investigando o sequestro de servidor da Caixa Econômica Federal se deparou com um veículo que havia sido roubado naquela noite, em frente a uma casa no bairro.
Como a informação passada era a de que eram quatro homens armados, foi solicitado reforço para a abordagem. Porém, a equipe saiu para tentar abordar uma outra pessoa e, ao retornar, o carro roubado não estava mais em frente à residência momento que os policiais decidiram tocar a campainha da casa, como contou o delegado.
Ao entrarem na residência, os policiais se depararam com as máquinas de jogo do bicho, as quais a maioria parecia ser nova. No local, encontravam-se 10 pessoas, entre elas dois militares (um sargento e um major da reserva), e nenhuma delas assumiu a responsabilidade pelo imóvel.
Quando a contravenção era comandada pelos Name, vários agentes da lei, entre policiais civis, federais e da Guarda Civil Metropolitana de Campo Grande, foram acusados de participar do esquema.
"As pessoas estavam ali somente para jogar um baralhinho, falaram os homens ao serem abordados", disse Peró.
Segundo o delegado, os 10 indivíduos que estavam na residência foram conduzidas ao Garras.
Ainda, alguns optaram por ficar em silêncio durante o interrogatório, enquanto outros declararam que só estavam no local para jogar baralho. Logo após serem ouvidas, as pessoas foram liberadas.
A partir de agora, o caso deve ser apurado pelo Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), atual responsável por investigar o jogo do bicho no Estado.
OMERTÀ
Da operação Omertà, as investigações resultaram em 19 ações penais contra variadas pessoas por parte do Gaeco, que é um braço do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS).
Entre essas está a denúncia de homicídio contra Jamil Name Filho pela morte de Matheus Coutinho Xavier, em 2019.
Em júri popular, Jamilzinho foi condenado a 23 anos por ser considerado mandante do crime. (Colaborou Ketlen Gomes)