O artista plástico Adilson Schieffer morreu após sofrer uma parada cardíaca nesta terça-feira (28), em Dracena, no interior de São Paulo. Ele ficou conhecido em Mato Grosso do Sul por suas pinturas e esculturas que retratam a cultura indígena.
Adilson sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 2021, momento em que amigos se uniram para leiloar uma tela do artista a fim de custear a cirurgia.
Por meio das redes sociais, a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul emitiu uma nota de pesar. Leia na íntegra:
“Com profundo pesar, comunicamos o falecimento de Adilson Schieffer Martinez, renomado artista visual. Ao longo de sua trajetória, Adilson contribuiu significativamente para a preservação e promoção da iconografia indígena e dos símbolos arqueológicos, trazendo à luz essas riquezas através de seu olhar artístico único, enriquecido por sua sólida formação na área.
Natural de São Manuel, SP, Adilson era formado em Arte-Educação e cursou Arqueologia. Atuou como cenógrafo da TV Educativa por sete anos e foi curador da galeria de arte da mesma instituição. Ele também fundou a Unidade Guaicuru de Cultura e era sócio-membro da Associação dos Artistas Plásticos de Mato Grosso do Sul.
Apaixonado pela natureza do Pantanal e pela iconografia dos índios kadiwéu, Adilson dedicou sua vida a representar a riqueza contemporânea dessa cultura.
Em sua trajetória artística de mais de 40 anos, destacou-se pelo domínio da técnica de baixo-relevo, pelo uso de tintas de pigmentação natural e pela pesquisa das tradições dos povos guaicuru e kadiwéu. Inspirado pelas vivências em aldeias nos anos 1980, seus trabalhos são um tributo à cultura indígena e às histórias que moldam a identidade sul-mato-grossense.
Adilson deixa um legado de criatividade, respeito à ancestralidade e contribuições inestimáveis para a arte e a cultura do Estado.
Neste momento de dor, prestamos nossa solidariedade aos familiares, amigos e à comunidade artística. Que sua memória permaneça viva em suas obras e em nossos corações.”
Artista
O nome de Adilson Schieffer, que nasceu em São Manuel, no interior de São Paulo, em 1957, marca presença no circuito artístico de Mato Grosso do Sul desde 1982, tornando-se identificado com a temática regional ao desenvolver uma ampla representação da paisagem – fauna e flora – e, sobretudo, dos povos ancestrais.
O artista também se dedicou a retratar, com seu trabalho, episódios históricos, como a Retirada da Laguna (1897).
Retorno
Após o tratamento de saúde decorrente do AVC, para o qual um grupo de amigos chegou a organizar uma rifa com o sorteio de uma obra do artista, o público terá a chance de conferir o que pode ser visto como um retorno ao seu quintal da infância, com trabalhos que, entre as apostas, “revelam o grande amor pela vida, pela natureza e pela arte, suas motivações primeiras”.
Ao longo de 40 anos de carreira, o artista consolidou a técnica que envolve riscos em baixo-relevo, além da produção de tintas de pigmentação natural e de diversas técnicas gráficas. Suas pesquisas envolvem o povo guaicuru e a convivência com povos originários, como os kadiwéus.
Trajetória
Em 1975, Adilson Schieffer descobriu a serigrafia, que passou a aplicar na criação de camisetas até ingressar na primeira faculdade, a de Arte-Educação, em Avaré, cidade mais próxima de São Manuel a dispor, na época, de uma formação superior na área.
Foi por amor que, em 1982, chegou a Campo Grande, onde logo ingressou na turma pioneira do então recém-criado curso de Educação Artística da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Prestou concurso para desenhista técnico da instituição no ano seguinte, foi aprovado e exerceu a função até 1995. Após conhecer uma reserva indígena na Serra da Bodoquena, a oeste do Rio Miranda, na fronteira com o Paraguai, o artista aproximou-se, de maneira cada vez mais intensa, da iconografia kadiwéu, que acabou servindo de inspiração para dezenas de trabalhos.
Ainda na década de 1980, junto a Henrique Spengler, ocupou um imóvel que pertencia à família do amigo e parceiro artístico, localizado na esquina da Avenida Calógeras com a Rua Dom Aquino. Além de servir como residência da dupla, o local tornou-se um ponto de encontro que ficaria conhecido como Unidade Guaicurus.
Misto de república artística e QG para troca de ideias, a UG tornou-se o endereço de discussões sobre temas que estavam em evidência, como a necessidade de uma arte que tivesse elementos capazes de representar e fortalecer o sentimento de identidade específica de Mato Grosso do Sul.
Alzira e Humberto Espíndola, Miska e Johnny, Ilka Galvão e os músicos do Grupo Acaba e do Takaretê estavam entre as visitas mais assíduas.
Da geografia das terras indígenas e pantaneiras, que lhe proporcionou o aprendizado para a decantação de tintas e a extração de pigmentos do angico e de outras espécies vegetais, migrou para outras temáticas, como a presença da natureza e de tipos humanos do ambiente urbano, aperfeiçoando sua técnica sobre lonita e baixo-relevo, sem nunca abandonar completamente o olhar sobre os povos ancestrais, como se vê na série “Kamasutra Kadiwéu”.
** Colaborou Marcos Pierry