Certamente, há alguns anos, se alguém comentasse ao fotógrafo e cinegrafista Edgar das Neves Pereira, de 55 anos, que ele seria o Bom Velhinho, isso geraria boas risadas.
Embora possua várias referências como “Neves” no sobrenome e o fato de ter nascido no dia 25 de dezembro, curiosamente, o destino deu a pista de que ele veio ao mundo para representar o Bom Velhinho.
"Nunca tive intenção de ser o Papai Noel, sabe? Nem gostava muito. Acho que isso talvez tenha vindo da época em que era criança e tinha aquela imagem de ganhar apenas um presente. Na verdade, isso aconteceu a convite de um amigo, que me emprestou a roupa", contou Edgar.
O campo-grandense lembra, de quando era criança, como muitas pessoas nascidas no final do ano, não gostava, justo por conta das comemorações terminarem sendo focadas nos festejos natalinos.
"Olha, para uma criança não é bom fazer aniversário no dia 25 de dezembro, primeiro porque ela só ganha um presente, né? Em casa somos seis irmãos e só eu ganhava um presente. Meus irmãos ganhavam no dia do aniversário deles e depois do Natal. E eu não tinha festa de aniversário nem que fosse um bolo, porque 25 de dezembro é Natal, é aquela comemoração, então assim era chato", contou Edgar.
A surpresa veio por volta dos 30 anos de idade, quando a professora Deanie Ortiz Pereira, esposa de Edgar, que compensou a falta de comemorações adequadas ao organizar com os amigos da igreja a tão esperada festa de aniversário.
“Me vendaram, cheguei lá, todo mundo com balão e chapéuzinho, colocaram na minha cabeça chapéuzinho de aniversário. Então, assim foi legal, mas realmente para uma criança não é legal comemorar aniversário nessa data.”
Imagem DivulgaçãoConvite inesperado
O fotógrafo comenta que, em certa ocasião, deixou a barba crescer e, por volta dos 40 anos, apesar de ser jovem, branqueou muito cedo. O que veio a calhar, já que um amigo, proprietário de uma produtora, estava à procura do Papai Noel.
“Ele precisava de um Papai Noel para uma propaganda de uma loja e ele me convidou. Falou que estava difícil de achar, eu já estava de barba, se ofereceu para comprar a roupa e perguntou se eu topava. Disse que sim”, comentou Edgar.
As primeiras filmagens foram de madrugada na loja, e outros takes foram feitos durante o dia para a alegria da criançada, inclusive adultos parando para tirar fotos.
Não é que a barba rendeu? Certa vez, recebeu o convite para fotografar a festa de Natal com familiares de um cliente, com a condição de que fosse trajado de Papai Noel.
O cliente na ocasião disse: "eu te contrato com a condição de você ir vestido de Papai Noel', porque a minha tia, ela tem 74 anos, tem um sonho de receber o presente do Papai Noel, um desejo que tem desde criança e nunca teve essa oportunidade por morar em uma chácara".
Das Neves entrou no clima, e após fazer o registro, começou a distribuir os presentes para a criançada da família. Por fim, ficou a senhora, que foi presenteada com uma boneca.
“A irmã dela comprou uma boneca que entreguei e até a peguei no colo, como se fosse uma criança. Levantei e ela, com o presente na mão, ria muito, festejou muito, foi um sonho realizado”, destacou Edgar.
Nasceu de novo
Edgar das Neves Pereira ficou conhecido em todo o Estado por, em 2020, ter sido infectado com a cepa mais agressiva da Covid-19, sendo o primeiro paciente a ser intubado.
A ferocidade do vírus fez com que ficasse em coma por cerca de 21 dias.
“Eu fiquei 40 dias no Regional, fui o primeiro caso grave a sair vivo. Até dei muitas entrevistas na época. O primeiro Natal que passei após receber alta, passei em casa com a minha família. Fiquei fechado por conta da contaminação, mas sou muito grato a Deus por ter me permitido passar por essa experiência. Fiquei muito mal, na verdade foi um milagre. Eu caí e levantei da morte.”
A recuperação durou quatro meses e, posteriormente, a pessoa que nunca imaginou se caracterizar como Papai Noel, com o convite do amigo, passou a fazer trabalhos em escolas.
Mesmo com roupas do dia a dia, em uma situação em que estava na escola, uma criança se aproximou perguntando se ele era o Papai Noel por conta da barba. A resposta não podia ter sido diferente:
“Sou o Papai Noel, mas é segredo, não conta para ninguém, tá? Estou disfarçado.”
Na ocasião, a criança, em sua inocência, queria pedir a troca de presente, dizendo que escreveu algo na cartinha, mas havia mudado de ideia.
Agora, Edgar é avô. Dezembro entrou no calendário e, na próxima Feira do Panamá, estará na praça recebendo doações, tirando fotos e acolhendo crianças.




