Enier Guerreiro da Fonseca, diretor-presidente do Hospital Nosso Lar, usou a palavra livre na Câmara Municipal de Campo Grande para chamar atenção da sociedade quanto ao trabalho que executa e como a instituição pode ajudar a sanar o aumento da demanda por atendimento de dependentes químicos e de álcool e drogas.
"Esses indigentes que perambulam pelas ruas, muitos em condições lamentáveis, usando drogas e mendigando pelas esquinas, essas pessoas são pacientes do Nosso Lar também. Fazemos um trabalho social para Campo Grande, temos acolhido e tratado essas pessoas com todo o respeito que precisam, temos o tratamento para questão da droga e álcool, que infelizmente não temos pelo SUS", comenta Enier.
Ele frisa que, através do sistema de regulação local, a instituição atende 66 pacientes vindo pelo Sistema Único de Saúde, pelos quais o Hospital recebe R$ 72,50 para custeio de cada um desses indivíduos, o que soma R$ 4.785 por dia, em tratamentos que duram entre 20 a 30 dias.
"Só de refeição damos cinco por dia. Daí tem medicação, equipe multidisciplinar, médicos, por esse preço. Enquanto o custo nosso por paciente é de 300 a R$ 350 por dia", sinaliza o diretor-presidente.
Desde 2015 no cargo, ele revela que, quando assumiu a cadeira como quarto presidente na história do Nosso Lar, o hospital estava prestes a fechar as portas, o que não aconteceu. Apesar disso, o local se mantém hoje a duras penas, cita Enier.
"Em contrapartida, recebemos recursos, tanto do Estado quanto do município, que conseguem [de certa forma] minimizar um pouco essa diferença... não chega a ser o suficiente, mas sem isso nosso rombo seria muito maior", ressalta ele, sem esquecer das emendas parlamentares anuais, que também diminuem o déficit no custeio da instituição.
Como bem complementa o diretor-presidente, com esse dinheiro, o hospital investe em camas e aparelhagens estruturais, para que o Nosso Lar tenha a mínima infraestrutura necessária para acolhimento e tratamento dos sul-mato-grossenses.
Números preocupantes
Além de não ter uma ala específica para tratamento de dependentes químicos, o Nosso Lar cita que a patologia com maior incidência no hospital, de pacientes tratados por planos de saúde, é a depressão.
"E na condição SUS, 70% dos pacientes internados é a esquizofrenia que prevalece. Estamos tendo uma demanda altíssima de internações", comenta Enier, citando que a pandemia ajudou a agravar os quadros de saúde mental no Brasil.
Dados da OMS apontam, por exemplo, um aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão no primeiro ano da pandemia.
Outros números, como o da pesquisa de saúde mental dos educadores, indicam esses fatores presentes em 22% dos alunos no primeiro ano da pandemia, sendo as crises de ansiedade citada por mais de 60% e a falta de concentração presente em 80% dos estudantes.
Dependentes químicos
Com a intenção de ampliar o tratamento para dependentes químicos, Enier faz questão de comentar com os parlamentares na manhã de hoje que há o espaço no Hospital para um novo setor que, devido ao alto valor necessário, ainda não saiu do papel.
"Busquei com o Tribunal de Justiça, mas por ser alto não conseguimos. Temos área, terreno, mas não temos recurso para construir essa ala específica para tratamento do dependente químico", afirma o diretor-presidente do Hospital Nosso Lar
Diante disso, o vereador André Luis (REDE) classificou o que chama de "novo surto de saúde mental no mundo", citando o atual problema vivido por São Paulo, com população de rua estimada em 55 mil pessoas.
"Em esmagadora maioria são pacientes psiquiátricos. Esse mal está chegando em Campo grande, até estamos fazendo uma nova audiência pública para tratar do aumento da população moradora de rua".
Ele ainda cita a visita de Soraya Thronicke (Podemos) à Câmara Municipal de Campo Grande que, em reunião com o presidente da Casa, teria sinalizado emendas que podem resolver um auxílio ao Hospital e ainda lidar com a crescente demanda por esse atendimento na Capital.
"Será que é possível um projeto de ampliação do Nosso Lar? O cliente psiquiátrico não é um paciente de qualquer hospital, a Santa Casa já fechou a ala de pacientes da psiquiatria e a gente precisa acolher esse pessoal", questiona o vereador André Luis.
Nosso Lar
Fundado em 1966, o Nosso Lar tornou-se realidade graças aos esforços de Maria Edwiges Borges, que dirigiu o Hospital desde sua fundação até 1997, tornando-se presidente de honra até o último dia de sua vida.
Ainda em 2012 a mídia tratava do risco de fechamento de 40 leitos do Hospital, mantido pelo Centro Espírita Discípulos de Jesus.
Cabe ressaltar que o número de pacientes vindos pelo SUS, para atendimento nos 120 leitos existentes, declina com o tempo. Em 2017 eram 70 internações vindas do Sistema Único, hoje são 66.
Desde então a unidade, referência em atendimento psiquiátrico, enfrentou problemas de repasse de verbas e, em 2015, o déficit financeiro mensal superava a casa de R$ 150 mil, gerando problemas com pagamentos de fornecedores e funcionários.
Há cerca de seis anos, quando interrompido o repasse estadual (de R$ 150 mil mensal), a unidade inclusive deixou de receber pacientes do interior de Mato Grosso do Sul.
Ainda em setembro deste ano houve aditivo no contrato entre o município e Centro Espírita Discípulos de Jesus, mantenedora do Hospital Nosso Lar, que fez o valor mensal do convênio saltar de R$ 373.4 mil para R$ 517.457,85, extrato publicado na edição de ontem do Diário Oficial de Campo Grande.
Esse acréscimo mensal de valor ao convênio, com recursos municipais e estaduais, vieram com objetivo de ampliar 16 leitos de psiquiatria na unidade.




