Cidades

RIBAS DO RIO PARDO

Número de habitantes e empregos cresce em Ribas, mas criminalidade também

Chegada da Suzano Celulose proporcionou o aumento do número de habitantes e empregos, mas, furtos, estupros, feminicídios, homicídios, tráfico de drogas e ações da polícia também cresceram

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Ribas do Rio Pardo, município localizado a 102 quilômetros de Campo Grande, vive o auge do crescimento econômico e populacional, mas, consequentemente, a criminalidade também acompanha os números crescentes.

A chegada da Suzano Celulose proporcionou o aumento do número de habitantes e empregos, mas, furtos, estupros, feminicídios, homicídios, tráfico de drogas e ações da polícia também cresceram.

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o número de habitantes no município saltou de 20.946 em 2010 para 23.150 em 2022. O crescimento é de 2.204 ou 10,52% em dez anos.

O aumento da população se deve principalmente a chegada da Suzano Papel e Celulose, uma das maiores fábricas de celulose do mundo, que ainda está em construção e será entregue no segundo semestre de 2024. As obras começaram em 2021.

A geração de empregos também disparou no município. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam que em 2020, o número de pessoas com carteira assinada na cidade era de 4.968 e, em 2022, saltou para 11.153 empregados. O crescimento é de 124,49% em dois anos.

O número de trabalhadores na construção da fábrica atingiu o ápice em abril deste ano, chegando a 10 mil empregados.

Em entrevista ao Correio do Estado em maio de 2023o prefeito de Ribas do Rio Pardo, João Alberto Danieze, afirmou que, atualmente, o município gera mais empregos do que Dourados, Três Lagoas e Corumbá juntas, no primeiro trimestre deste ano.

“Nós estamos no auge da construção, fora os empregos indiretos que isso gera na cidade. Então, você tem uma série de outras atividades econômicas chegando que nós não tínhamos. Então isso mostra que a cidade também vive um novo momento em decorrência deste investimento da Suzano”, disse o prefeito.

Porém, a criminalidade também acompanhou o crescimento da população e de empregos. Muitos moradores de fora chegaram no município e, com eles, a marginalidade.

Dados divulgados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) apontam que furtos, estupros e feminicídios cresceram, comparando períodos antes (2017, 2018, 2019, 2020) e depois (2021, 2022, 2023) da chegada da fábrica.

De 1º de janeiro a 4 de setembro de 2023, 265 ocorrências por furto foram registradas em Ribas. De 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2018, foram 225 ocorrências. O crescimento é de 17,7%.

De 1º de janeiro a 4 de setembro de 2023, 23 ocorrências por estupro foram contabilizadas. De 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2018, foram 14 ocorrências. O aumento é de 64,2%.

De 1º de janeiro a 4 de setembro de 2023, uma mulher faleceu vítima de feminicídio. Em 2022, duas mulheres foram mortas. Entre 2017 e 2021, não houve nenhuma vítima.

De 1º de janeiro a 4 de setembro de 2023, duas pessoas foram vítimas de homicídio doloso em Ribas do Rio Pardo. Em 2022, cinco pessoas foram mortas. De 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2020, nenhuma pessoa foi morta.

De 1º de janeiro a 4 de setembro de 2023, 34 ocorrências por tráfico de drogas foram registradas. De 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2017, foram 15 ocorrências. O aumento é de 126%.

Além disso, mortes por intervenção de agentes de Estado também aumentaram após a chegada da fábrica. Entre 1º de janeiro a 4 de setembro de 2023, a polícia matou cinco bandidos no município e, em 2022, foram dois criminosos mortos. Não houve nenhuma morte por intervenção da polícia entre 2013 e 2021.

Viatura da Polícia Militar sai de Campo Grande com destino a Ribas do Rio Pardo todos os finais de semana para aumentar o patrulhamento no município. A ação faz parte da Operação Hórus. 

O Correio do Estado procurou a Prefeitura Municipal de Ribas do Rio Pardo para comentar os números e avaliar o cenário, mas, até o fechamento desta reportagem, não fomos respondidos. O espaço segue aberto para resposta.

SUZANO

Suzano Papel e Celulose, localizada em Ribas

A Suzano Papel e Celulose está localizada na zona rural de Ribas do Rio Pardo e é uma das maiores fábricas de celulose do mundo.

Começou a ser construída em 2021 e ficará pronta no segundo semestre de 2024. Atualmente, existem 10 mil pessoas trabalhando na construção do local.

Mas, quando a fábrica estiver concluída, empregará cerca de 3 mil pessoas, entre colaboradores e terceirizados.

O investimento total da obra é de R$ 19,3 bilhões. Desse valor, R$ 14,7 bilhões serão destinados à construção de uma fábrica de celulose e outros R$ 4,6 bilhões em atividades de silvicultura, com o aumento da área plantada de eucalipto.

 

SAÚDE

Ultraprocessados e álcool custam R$ 28 bilhões por ano ao SUS

Estudos indicam necessidade de combinação de estratégias para diminuir o impacto, com uso de impostos seletivos, aumentando o custo de produtos com esse potencial contra a saúde pública

24/11/2024 09h30

Consumo pouco controlado desses produtos esconde o impacto no aumento de doenças comuns e debilitantes, como a hipertensão, o diabetes e a obesidade

Consumo pouco controlado desses produtos esconde o impacto no aumento de doenças comuns e debilitantes, como a hipertensão, o diabetes e a obesidade Gerson Oliveira/Correio do Estado

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Com base em dados de atendimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), levantamentos mostram que a má alimentação com ultraprocessados leva a R$ 933,5 milhões por ano em gastos diretos com saúde, um total de R$ 10,4 bilhões se considerados custos indiretos e de mortes prematuras, e R$ 18,8 bilhões em relação ao consumo de bebidas alcoólicas.

Essas pesquisas feitas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com as organizações não governamentais  ACT Promoção da Saúde e Vital Strategies, estimam o custo que o consumo de alimentos ultraprocessados e bebidas alcoólicas tem sobre o sistema público de saúde no país. 

As estimativas não incluem dados de atendimentos na rede suplementar de saúde (planos de saúde e clínicas particulares fora do SUS), nem atendimentos que não tenham esses agentes como principal causa relacionada.

Os estudos indicam a necessidade de combinação de estratégias para diminuir o impacto, com uso de impostos seletivos, aumentando o custo de produtos que tenham esse potencial contra a saúde pública, de forma transparente e relacionada a campanhas de conscientização como as de combate ao tabagismo.

"Esses impostos seletivos têm, além do potencial de financiar o tratamento do que os produtos causam, o efeito de reduzir o consumo de substâncias nocivas e estimular escolhas mais saudáveis.

Em longo prazo, há também um caráter progressivo associado, com a redução de custos no sistema de saúde e a diminuição da perda de produtividade e de doenças que reduzem a expectativa de vida", explicou Marília Albiero, coordenadora de Inovação e Estratégia da ACT Promoção da Saúde.

As ONGs promovem campanha pela inclusão desse tipo de imposto na reforma tributária, como estratégia casada de promoção à saúde e financiamento de políticas de justiça tributária.

"Em um país que tem enfrentado dificuldades de equacionar receita e despesa nos últimos 10 anos, num momento em que se tem uma pressão muito grande de financiamento do SUS e uma reforma tributária que precisa ser equacionada do ponto de vista de alíquota adequada e de quem paga a conta da limitação dessa alíquota, é preciso entender que alguns setores que causam mais custo para a sociedade podem pagar essa conta, e que ela funciona em uma lógica de ganha-ganha:

não só arrecada mais, como pensa uma lógica de tributação específica para garantir políticas necessárias a partir do ganho desse setor", defendeu Pedro de Paula, diretor da Vital Strategies no Brasil.

A lógica do lobby é a de que o consumo pouco controlado desses produtos esconde o impacto no aumento de doenças comuns e debilitantes, como a hipertensão, o diabetes e a obesidade, que estão entre os principais causadores de perda de produtividade por questões associadas à saúde e entre os fatores determinantes para o surgimento de doenças mais complexas, como demências e cânceres.

Além disso, podem ser o caminho para construir sistemas de apoio à agricultura familiar e à distribuição de alimentos in natura, estabelecendo, a partir de combinação de medidas, "uma mudança estrutural do sistema tributário, atuando como instrumento para promover saúde, equidade e sustentabilidade", completou Albiero.

Riscos associados

Os estudos indicam ainda que as doenças relacionadas ao consumo de ultraprocessados e álcool causam, respectivamente, impacto de 57 mil e de 105 mil mortes por ano.

Ainda que o aumento da taxação não vá impedir o consumo excessivo em sua totalidade, há grande potencial de diminuição dessas mortes, estimadas inicialmente em cerca de 25%, ou seja, quase 40 mil vidas por ano, além de ganho na qualidade de vida.

Uma comparação feita pelos pesquisadores é com os investimentos recorrentes, e necessários, contra doenças transmissíveis, como a dengue. As campanhas anuais tendem a salvar vidas em patamar de milhares, cerca de duas mil por ano. Uma diferença gritante, quando posta em perspectiva tal disparidade.

"Vale lembrar que essas estimativas são conservadoras, visto que se limitam ao impacto na população empregada adulta, maior de 20 anos, e não incluem outros custos de prevenção, atenção primária, saúde suplementar ou gastos particulares no tratamento das doenças causadas pelo consumo de ultraprocessados", afirmou Eduardo Nilson, pesquisador da Fiocruz, responsável pelos estudos.

São, portanto, uma leitura do cenário a partir dos dados públicos disponíveis. Propositalmente, foram bastante criteriosos, excluindo danos colaterais e cenários relacionados a outros fatores de risco.

Sobre o álcool, que é base para a campanha publicitária "Quer uma dose de realidade?" o estudo buscou entender a percepção pública a respeito da taxação.

Os resultados de uma pesquisa por meio de questionários, com cerca de mil participantes, estimou que 62% dos brasileiros apoiam o aumento de preços e 61% são a favor de impostos para reduzir o consumo de álcool. Para 77% das pessoas ouvidas, o governo é responsável por combater os danos relacionados ao álcool.

"A gente está falando de 105 mil mortes. Qual é o custo social disso, do ponto de vista de saúde mental, de desesperança, quando você está falando de violência e insegurança pública decorrente dessa violência? Dá até, em longo prazo, para a gente começar a pensar em qualificar essas estimativas. Mas é exatamente isso, tem setores que causam danos para a sociedade e eles devem arcar com esses custos de forma adequada", completou Pedro de Paula.

O estudo apontou ainda a diminuição potencial de riscos associados com grande difusão na sociedade, como o impacto do álcool na violência doméstica e na gravidade de acidentes de trânsito. 

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Rodovia da morte

BR-163 tem média de 71 acidentes por mês em 2024, pior índice desde 2017

Nos primeiros 10 meses do ano, foram registrados 709 acidentes e 57 óbitos

24/11/2024 08h00

Gerson Oliveira/Correio do Estado

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De janeiro a outubro de 2024, a BR-163, rodovia que corta Mato Grosso do Sul da divisa com o Paraná à divisa com Mato Grosso, foi cenário de 709 acidentes, que resultaram em 57 óbitos.

Os números equivalem a uma média de 71 acidentes por mês, pior índice visto desde 2017. De janeiro a dezembro daquele ano, foram registrados 877 acidentes, uma média de 73 acidentes por mês.

Se comparados os óbitos registrados em acidentes, os números mostram que 2024 é mais mortal na rodovia. Os índices apontam para uma média de 5,7 mortes por mês, mais do que a média de 5,1 mortes mensais registradas em 2017. Nos 12 meses daquele ano, 62 pessoas morreram na BR-163.

O ano de 2017 marcou ainda o início de uma queda no número de acidentes. No entanto, em 2020 esses índices voltaram a subir. Confira o levantamento:

Rodovia da morte

A BR-163 teve, por muitos anos, o título de "rodovia que mais mata", sendo que a privatização de 2013 buscava tirar o título macabro do trecho. 

Os números de 2015 apontam para uma queda significativa no número de mortos, que foi de 88 para 58 entre 2014 e 2015. No entanto, os índices voltaram a subir, principalmente porque a CCR MSVia, não cumpriu com o contrato, que previa a duplicação de todos os 845 km da BR-163, de Mundo Novo, na divisa com o Paraná, a Sonora, na divisa com o Mato Grosso.

O prazo para a duplicação completa terminaria em 2024, mas a concessionária fez apenas a duplicação necessária para iniciar a cobrança de pedágio, de cerca de 155 km.

A rodovia não recebe investimentos desde 2017, quando a empresa solicitou o reequilíbrio do contrato. A CCR chegou a dizer em 2019 que não tinha interesse em permanecer com a rodovia e até cobrou a devolução de ativos da União, no valor de R$ 1,4 bilhão.

O acordo final para a manutenção da empresa na gestão só foi alcançado em 2023, e aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em novembro deste ano.

Com essa decisão, espera-se um investimento de R$ 12 bilhões, que incluirá a duplicação de 170 km da via, a construção de uma terceira faixa em outros 190 km e diversas obras adicionais.

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