Cidades

AGOSTO LILÁS

"O feminicídio é negro e a justiça é branca", diz delegada do Piauí sobre violência doméstica

Criadora da 1ª delegacia de combate a esse tipo de crime no país, Eugênia Villa não apoia punitivismo e defende antiracissmo como política pública de enfrentamento

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Durante evento que integra o calendário da Campanha "Agosto Lilás" nesta quinta-feira (8), a delegada piauiense Eugênia Villa, responsável pela 1ª Delegacia de enfrentamento ao feminicídio no Brasil, afirmou que é necessário um olhar mais acolhedor para as vítimas, sendo a maioria mulheres negras, além da adoção de medidas menos punitivas para redução de casos.

"Já que as mulheres negras se silenciam justamente porque o tratamento dado ao parceiro é punitivista, podemos dar alternativas para elas acessarem a polícia e a justiça. A gente precisa tratar a polícia no pensamento antirracista. O feminismo é negro e a justiça é branca. A mulher preta não quer que o companheiro seja preso, então vamos dar um tratamento administrativo, pois elas sabem como ele vai ser tratado pela justiça e pelo sistema criminal. Muitas dizem: 'Eu só quero que ele não durma na minha casa porque ele vai me matar'. O ideal seria uma medida administrativa e não criminal", analisa.

Com uma medida protetiva expedida a cada um minuto no Brasil, as ações de enfrentamento se tornam mais necessárias.  De janeiro a julho deste ano, já foram contabilizadas 19 vítimas de feminicídio, número 16% maior que no mesmo período de 2023 e 30% menor que no ano de 2022.l

Dados da Secretária de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp-MS), também mostram que nos últimos dois anos, 93 vítimas foram mortas no Estado, ou seja, crimes tipificados como feminicídio. Locais onde os crimes ocorreram: 

  • em residência - 57,0%;
  • vias urbanas - 10,8% ;
  • aldeias indígenas - 7,5%
  • propriedades rurais - 5,4%;
  • vias rurais - 5,4%; 
  • outros 13,9% dos feminicídio aconteceram em locais diversos.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de  2023, mostram que 1.467 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, sendo 63,6% negras, 71,1% na faixa etária de 18 a 44 anos e 64,3% foram mortas em suas residências, resultando assim no maior número registrado desde a criação da Lei do Feminicídio (nº 13.104/2015). 

Eugênia elaborou uma tese de doutorado que destrincha detalhadamente o perfil das vítimas do Piauí.Cerca de 80% das que sofreram violência doméstica no Estado nordestino são negras. Villa deixa alguns questionamentos:

"Porque os agressores são negros e as vítimas também? Como é que a polícia trata as pessoas negras? Quem é que é mais preso pela polícia, negros ou brancos? Como nós tratamos os negros? O que diz o Fórum Brasileiro sobre as intervenções policiais? Quem mais nós matamos? Precisamos mudar o atuar da polícia, nós precisamos ter um letramento racial", destaca. 

 

Campanha "Feminicídio Zero" mostra a situação de violência contra a mulher - Foto: Divulgação Governo Federal 

Agosto Lilás “Mulheres Vivas, Feminicídio Zero”

Segundo a subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres de MS, Manuela Nicodemos, o Estado vem utilizando ferramentas para tentar frear os casos de feminicídio. 

"A gente acredita que às vezes não precisa inventar a roda e sim, valorizar o dinheiro público, o investimento de pesquisa, de elaboração teórica que já foi feito, mas a gente precisa revisar esses instrumentos para poder atualizar a política pública de prevenção à violência e de combate ao feminicídio, para a gente poder revisar as experiências que já foram feitas, mas principalmente elaborar de forma transversal. Estamos convidando as demais secretarias de Estado, o sistema de justiça, poder judiciário e envolver a sociedade civil também, para poder coletivamente traçar novas estratégias de prevenção", pontua. 

Denúncias 

De acordo com o Ministério das Mulheres, de janeiro a outubro de 2023, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 – atendeu uma média de 1.525 ligações telefônicas por dia, totalizando 461.994 atendimentos, dos quais, 74.584 foram referentes a denúncias de violência contra mulheres, considerando todas as formas de violências.

Algumas formas mais comuns desse tipo de violência são:

  • dano ao patrimônio; 
  • destruição móveis da casa da companheira ou ex-companheira;
  • quebra de objetos como celular;
  • não devolução de pertences de ex-cônjuge após separação;
  • retenção de documento (identidade, passaporte);
  • uso de dados pessoais para obtenção de benefícios; 
  • celebração de contratos de empréstimo em nome de ex-companheira, sem autorização, mediante artifício e meio fraudulento; 
  • subtração de instrumentos de trabalho para impedi-la de trabalhar;
  • não pagamento de pensão alimentícia e outros.

Como denunciar violência contra mulher

O Ligue 180 é um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações contra as mulheres, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos.

O serviço também fornece orientação a mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento.

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SES

Na contramão do Brasil, MS registra menor na taxa de gravidez na adolescência em 10 anos

Na última década, a tendência de queda nos registros de gestação em adolescentes até 19 anos caiu 1,54%, enquanto a taxa nacional aumentou no mesmo período

23/12/2025 15h30

Entre 2022 e 2025, o índice de gravidez na adolescência caiu de 14,92% para 12,65%

Entre 2022 e 2025, o índice de gravidez na adolescência caiu de 14,92% para 12,65% Foto: Pixabay

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Mato Grosso do Sul registrou, em 2025, o menor registro de gravidez na adolescência em dez anos. A tendência de redução dos registros vem sendo notado na última década, indo na contramão do índice nacional, que registra aumento nos números. 

Entre 2022 e 2025, o índice caiu de 14,92% para 12,65%, segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). No mesmo período, o Brasil registrou um aumento de 3,87% de mães adolescentes, enquanto Mato Grosso do Sul reduziu 1,54%. 

O resultado está diretamente ligado à ampliação das ofertas de contraceptivos de longa duração (LARC), especialmente na rede pública. É o que explica a Coordenadora de Saúde da Mulher, Criança e Maternidade da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Andriely Gomes. 

“A expansão dos LARCs tem impacto direto no indicador. Quando a adolescente tem acesso a um método de longa duração, seguro e gratuito, ela evita uma gravidez não planejada e conquista mais autonomia sobre suas escolhas. Esse acesso ampliado explica parte importante da redução que observamos no Estado”. 

A iniciativa da oferta ocorre desde 2009 através de financiamentos pelo Governo do Estado, juntamente de ações educativas e qualificação das equipes da Atenção Primária. 

Ações e expansão

A implantação dos LARCs teve aceleração em 2025 através da expansão de capacitações nos municípios de Nova Andradina, Campo Grande e Costa Rica para inserção de DIU e implantes com protocolo atualizado. 

Além disso, a SES intensificou ações educativas com nove oficinas territoriais do projeto “Educar para Transformar”, além de uma webaula estadual sobre Prevenção do HPV e a Gravidez na Adolescência, que reuniu representantes dos 79 municípios. 

Também foram disponibilizados três mil unidades do dispositivo Implanon no Sistema Único de Saúde de Campo Grande, para mulheres entre 18 e 49 anos de idade na Capital. 

Médicos e enfermeiros receberam capacitação para ampliar a quantidade de profissionais capacitados para a realização do procedimento, garantindo que o método chegue a todas as regiões da cidade. 

As ações e oferta qualificada dos métodos fortalece a prevenção da gravidez não planejada, especialmente entre as adolescentes em situação de vulnerabilidade, além de reforçar abordagens acolhedoras e livre de tabus sobre saúde sexual. 

“A informação correta e o acolhimento fazem diferença. Quando a adolescente encontra uma equipe preparada para conversar sem julgamento, ela entende que tem direitos, tem opções e pode planejar seu futuro”, explica Andriely.

Tendência de queda

Entre 2015 e 2025, o número de nascidos vivos de mães entre 15 e 19 anos de idade caiu de 8.315 para 2.861 em Mato Grosso do Sul. 

Entre as mães menores de 15 anos, a taxa caiu de 514 para 171 no mesmo período. Mesmo com os avanços, Andriely destaca que ainda há desafios. 

“Seguimos trabalhando para que nenhuma adolescente engravide por falta de informação, apoio ou acesso a métodos seguros”.

A secretaria de saúde de Mato Grosso do Sul reforça que segue ampliando a qualificação das equipes, fortalecendo o trabalho juntamente com educação e assistência social, expandindo a oferta de métodos contraceptivos para todos os municípios. 

“Cada ponto reduzido representa uma menina que tem mais tempo para estudar, sonhar e construir seu próprio caminho. Essa é a política pública que transforma vidas”, conclui Andriely.


 

Decreto

Presos por quebra-quebra em Brasília ficam de fora de "saidinha" natalina

Também não terão direito ao indulto pessoas condenadas por crimes hediondos e equiparados

23/12/2025 14h30

Foto: Presidência da República

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O Decreto nº 12.790, publicado no Diário Oficial da União desta terça-feira (23) e assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, concede indulto natalino e comutação de pena a pessoas condenadas ou submetidas a medidas de segurança, mas exclui explicitamente os condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília.

Enquadrados em crimes contra o Estado Democrático de Direito, não poderão acessar o benefício da "saidinha" de fim ano em 2025.

Também não terão direito ao indulto pessoas condenadas por crimes hediondos e equiparados; tortura, terrorismo e tráfico de drogas; crimes contra a administração pública, em determinadas hipóteses; crimes contra o Estado Democrático de Direito; violência contra a mulher e crimes sexuais e ambientais.

Tradicionalmente editado todos os anos, o decreto mantém as linhas gerais do ato anterior, mas traz inovações e critérios objetivos para aplicação no sistema de justiça penal, ao mesmo tempo em que preserva restrições rigorosas para crimes considerados graves.

Casal de MS

Em decisão recente, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou, por unanimidade, o casal de servidores públicos Cláudio José Jacomeli e Clarice Custódio Jacomeli, de Naviraí, interior do Estado a 14 anos de pena e ao pagamento de R$ 30 milhões em indenização por danos morais coletivos, por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

A decisão foi tomada em sessão virtual realizada entre 14 e 25 de novembro deste ano, onde ambos receberam pena de 14 anos, sendo 12 anos e 6 meses de reclusão e 1 ano e 6 meses de detenção.

Os dois gastaram R$ 640 para ir a Brasília e foram identificados em vídeos gravados durante a depredação, nos quais aparecem incentivando os atos contra o patrimônio público.

Na ocasião, Clarice afirma: “Estamos fazendo inveja pra esse pessoal que não tem coragem”. Ao lado dela, Cláudio diz “temos que buscar o que é nosso, a liberdade”. Cláudio é aposentado e ex-analista judiciário do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), enquanto sua esposa, à época dos fatos, era professora da rede municipal naviraiense. 

Condenados 8 de janeiro

Em agosto deste ano, a Procuradoria-Geral da República (PGR) divulgou balanço das condenações impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) aos executores dos atos.

À época, mais de 600 pessoas já haviam sido condenadas por crimes como associação criminosa armada, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado, abolição violenta do Estado Democrático tá de Direito e tentativa de golpe de Estado. 

Pelo mecanismo jurídico do pagamento solidário, todos os condenados são responsáveis pelo valor total da indenização, independentemente da divisão individual.

Quem pode ser beneficiado?

O indulto natalino será concedido, entre outros grupos, a:

  • Gestantes com gravidez de alto risco;
  • Mães e avós condenadas por crimes sem grave ameaça ou violência, desde que comprovem ser essenciais aos cuidados de adolescentes de até *16 anos* (ampliação em relação ao limite anterior de 14 anos);
  • Pessoas infectadas por HIV em estágio terminal ou com doenças graves, crônicas ou altamente contagiosas, sem possibilidade de atendimento adequado no sistema prisional;
  • Detentos com transtorno do espectro autista severo;
  • Presos que se tornaram paraplégicos, tetraplégicos, cegos ou que apresentem outras deficiências graves;
  • Pessoas com mais de 60 anos, responsáveis por crianças de até 12 anos ou acometidas por doenças graves, com facilitação das condições para acesso ao benefício.

Outra novidade para este ano é a redução do tempo mínimo de cumprimento de pena para presos que frequentem ou tenham frequentado cursos de ensino fundamental, médio, superior, profissionalizante ou de requalificação profissional, como forma de incentivo à educação e à reintegração social.

Também permanecem fora do benefício líderes de facções criminosas, integrantes relevantes de organizações criminosas, presos submetidos ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) e custodiados em presídios de segurança máxima.

Saiba*

O indulto natalino está previsto na Constituição Federal e representa uma prerrogativa exclusiva do presidente da República. Em 2019, o STF confirmou a constitucionalidade desse poder.

Para ter acesso ao benefício, é necessário que o advogado ou a Defensoria Pública apresente pedido formal ao juízo da execução penal, que analisará o enquadramento do condenado nos critérios estabelecidos.

Segundo o governo, a medida reafirma uma política penal equilibrada, que combina repressão a crimes graves com a promoção da dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade e da reintegração social sem abrir margem para o perdão de atos que atentem contra a democracia.

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