Sempre há um pouco de mistério quando o assunto é cemitério. O local pode ser rodeado de lembranças ou histórias de terror. Mas esse não é o caso do Cemitério Santo Amaro. Muito pelo contrário. A história mais conhecida na maior necróple de Mato Grosso do Sul é o túmulo de uma criança que se tornou famoso por ter minado água logo após o sepultamento – é o mais visitado por fiéis, mesmo depois de três décadas de sua morte.
A sepultura é de Fátima Aparecida Vieira, que nasceu em 8 de dezembro de 1971 e faleceu com apenas oito anos de idade, em 22 de maio de 1979, após um incêndio em sua casa.
A história da menina é contada por um dos administradores do cemitério, Marcos da Silva Vargas, que trabalha no local há 16 anos. Segundo Marcos, a menina era muito católica e, no dia da tragédia, a criança havia ficado sozinha em casa.
Ela resolveu acender vela para um santo, mas a casa incendiou e Fátima morreu queimada. “Soube que, quando ela foi sepultada, começou a minar água do chão, do túmulo de uma inocente. As pessoas ficaram extasiadas e a visita ao jazigo virou tradição”, contou.
O túmulo cor-de-rosa com portão na cor branca chama atenção entre as milhares de sepulturas que ficam próximas. No portão, fiéis penduram terços, laços e bilhetes vermelhos, além de flores e imagens de santos deixadas no local. Atrás do túmulo, a família da menina mantém filtros com água benta, deixada para os fiéis. “No Dia de Finados, é um dos túmulos mais visitados”, comentou Marcos.
Anderson Silva, coveiro há oito anos no cemitério, relata que várias pessoas deixam brinquedos e presentes no jazigo da menina. “Vem gente praticamente todos os dias visitar o túmulo, trazem flores, deixam terços, fazem orações e levam embora um pouco da água”, afirmou.
O túmulo de Fátima fica próximo ao Cruzeiro, uma cruz grande e disponível para as pessoas fazerem orações. O jazigo continua sendo visitado, mesmo após três décadas da morte da menina e mesmo não saindo mais água. “Não sei mais se minou água desde que ela foi sepultada, mas a fé das pessoas é muito grande, por isso o túmulo é famoso”, disse o administrador.
VIZINHOS
Quem mora próximo ao cemitério também já visitou o jazigo e diz que a história é bem famosa. Há mais de 40 anos morando no Bairro Santo Amaro, a dona de uma casa de salgados Dejanir de Araújo, 61, conta já ter visitado o local. “Visitei o túmulo no Dia de Finados, quando saía água, mas faz tempo que não volto lá. Tenho muitos parentes enterrados ali, tem avó, avô, primo e primas, um monte de gente”, relatou.
Dejanir fala que sentia medo do cemitério, principalmente à noite. “O ônibus para bem em frente, eu morria de medo de descer ali por causa de assombração, atravessava a rua correndo, mas a gente acostuma e hoje em dia nem me importo mais”, afirmou.
Se tem história de assombração, a comerciante não sabe, mas diz que o cemitério é famoso pelo fato de ter a temperatura mais gelada do que no outro lado da rua. “Ali é um gelo por causa dos mortos. Os coveiros reclamam do frio”, ri.
Antes de construírem uma padaria bem em frente ao cemitério, havia uma casa abandonada e moradores de rua dormiam na calçada, exatamente em frente ao portão do cemitério.
Dejanir afirma que eles viam assombração na Capela Municipal. “Eles vinham comer aqui e contavam que viam assombração no prédio ao lado [Capela], morriam de medo”, afirmou.
Também morando há mais de 40 anos no bairro, a comerciante Sárbia Lourdes, 70, que vende flores, tem a loja localizada bem em frente ao cemitério. Mais cética, ela diz nunca ter visto nada. “Estou aqui há mais de 40 anos, eu não tenho história para contar, não. Para mim, sempre foi tranquilo. Já tive outro comércio nesta mesma rua, por aqui nunca vi nada, nem assombração”, comentou.
Sárbia já visitou o túmulo da menina Fátima. “Já fui lá, sim, quando minava água. A fé das pessoas é que cura qualquer doença”, ressaltou.
No Cemitério Santo Amaro, parece não ter história de assombração, pelo menos não entre os trabalhadores do local. Rosalino Sanchez, 75, é um dos funcionários que cuidam da limpeza do cemitério.
Ele diz que trabalhou a vida toda lá e se aposentou há doze anos, mas continua no serviço e não pretende parar tão cedo. “Aqui não tem assombração, não. Fiquei dois anos como guarda à noite, sozinho, e nunca vi atravessar uma abelha para me assustar”, disse.
IMBIRUSSU
A região é composta por sete bairros, que abrigam hoje uma população de 98,7 mil pessoas. Em 2000, o número de moradores era de 89,2 mil, conforme dados do IBGE.
CURIOSIDADE:
O Nova Campo Grande é o bairro com maior área: 1.008,67 hectares, o que corresponde a 2,68% do perímetro urbano de Campo Grande. A área só não é maior que a do Indubrasil.


