A promessa de um futuro mais promissor, melhores rendimentos e mais oportunidades gerou uma movimentação de bolivianos decidindo deixar o país vizinho para viver no Brasil.
O problema é que esse fluxo migratório estava sendo promovido por coiotes em Corumbá, na promessa de muitas benesses, mas tudo dentro da ilegalidade.
O esquema foi descoberto pela Polícia Federal e há uma investigação em curso para identificar o tamanho dessa imigração ilegal de bolivianos.
Os envolvidos no aliciamento de estrangeiros são integrantes de uma mesma família que tem descendência boliviana, mas residem no Brasil.
A partir de Corumbá, esse grupo familiar contratava empresas de ônibus e faziam viagens regulares para São Paulo, levando entre 30 a 40 pessoas diariamente, pelo menos entre dezembro de 2021 e este começo de 2022.
Dois homens, um de 32 anos e o outro de 22 anos, e uma mulher de 33 anos estão por trás dessa promoção de imigração ilegal, que agora é caso de polícia. A investigação ganhou elementos importantes para avançar depois de um flagrante no dia 20 de janeiro.
A Polícia Federal em Corumbá obteve detalhes de que um ônibus estava saindo da cidade com destino a São Paulo. O ponto de saída era um bairro da parte alta da cidade.
Os policiais federais precisaram montar campana para monitorar a movimentação e reunir detalhes fotográficos. Depois que as pessoas estavam embarcadas no ônibus, houve a fiscalização e a identificação de que a viagem não estava legalizada.
Após depoimentos colhidos, a PF identificou que o grupo estava programado para viajar até São Paulo com a promessa de ter trabalho e oportunidades.
Para cada pessoa que a família envolvida no crime conseguiu aliciar, eles cobraram entre R$ 250 e R$ 450, dependendo do que seria ofertado para as pessoas quando chegassem à cidade de destino.
Algumas vezes, em uma só viagem, o grupo criminoso tinha a possibilidade de receber R$ 18 mil. O que se apurou até agora é que essas viagens vinham ocorrendo regularmente ao menos desde dezembro de 2021, e o potencial de ganhos a partir da promoção de imigração ilegal está na casa dos milhares de reais.
Conforme apurado, antes de haver a fiscalização em um ônibus, os investigadores precisaram acompanhar a movimentação de empresas que promovem o transporte irregular.
“O esquema criminoso era organizado por, pelo menos, uma família de quatro bolivianos e envolvia agências de transportes”, divulgou a PF, em nota.
Nesse flagrante identificado em Corumbá, com um dos integrantes da família envolvida na venda dos “pacotes ilegais” estava R$ 20 mil em notas. A pessoa abordada não conseguiu comprovar a origem do recurso. O dinheiro foi apreendido e encaminhado para uma conta judicial, enquanto há o andamento do inquérito.
Apesar de a identificação de que quatro pessoas estavam diretamente envolvidas no crime tipificado no artigo 232 do Código Penal, a Polícia Federal conseguiu qualificar três envolvidos, que acabaram presos no dia 20 de janeiro.
O outro elemento segue como uma incógnita e nova etapa da investigação deve contribuir para qualificá-lo.
Os homens de 32 e 22 anos e a mulher de 33 anos prestaram depoimento na delegacia da PF em Corumbá, mas o conteúdo dessas informações prestadas por eles não foi divulgado pelas autoridades por conta do estágio inicial das apurações.
Eles chegaram a ficar presos por pouco mais de um dia, mas na audiência de custódia acabaram soltos após o pagamento de fiança. Não foi possível confirmar o valor que cada um pagou para responder ao processo em liberdade.
“O flagrante abre portas para novas investigações dessa organização criminosa. A imigração ilegal prejudica toda estrutura do País e afeta no desemprego de brasileiros, que são substituídos por mão de obra que aceita trabalho barato diante da situação que se encontram no País”, apontou a Polícia Federal.
Estimativas extraoficiais apontam que só no mês de janeiro, em torno de 600 bolivianos acabaram entrando no esquema ilegal de imigração e foram levados para São Paulo. Uma outra etapa da investigação vai procurar detalhar como era a recepção dessas pessoas em outra cidade.
Dados de dezembro apontam que só no Brasil a taxa de desemprego está em cerca de 12,5%, conforme a Pnad Contínua.
O governo boliviano informou que a taxa de desemprego no país vizinho estava em cerca de 7,6%, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística. O pico do desemprego na Bolívia desde dezembro de 2018 ocorreu em junho de 2020, com 11,6%.
Oficialmente, o salário mínimo na Bolívia está maior que no Brasil. Em dólar, o valor seria de US$ 213, enquanto o salário mínimo boliviano é de US$ 313, conforme o Decreto Supremo 4501.
Apesar dessas disparidades mais favoráveis para o território boliviano, ainda existe uma expectativa de que no Brasil ocorram mais oportunidades de trabalho.
Os bolivianos podem permanecer em território brasileiro por três meses, com visto de turista. Para trabalharem, precisam firmar um contrato de trabalho com o empregador, que faz uma solicitação formal ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Há taxas envolvidas. Os contratos para visto temporário são de 90 dias a dois anos de duração.




