A prefeita Adriane Lopes acompanhou de perto o trabalho na comunidade conhecida como Favela do Mandela, que ficou destruída pelo fogo. Após atender a população, participou de uma reunião de emergência com autoridades e secretarias de todos os setores do município no CRAS, Renato Pereira Guedes, no bairro Estrela do Sul, para traçar o planejamento das ações desde abrigo, alimentação até cadastramento de documentos.
Comitê de gestão de crise / Foto: Gerson OliveiraOs moradores que perderam tudo e manifestaram o desejo de deixar o local serão atendidos pelo CRAS Henedina Hugo Rodrigues, no bairro Vida Nova e depois seguem para um abrigo temporário na Escola Kamé Adania.
A preocupação manifestada por alguns dos populares que não quiseram deixar o local, estava relacionada ao medo de ir e ter os poucos pertences que conseguiram salvar furtados. Situação que ocorreu enquanto ajudavam uns aos outros retirando eletrodomésticos, crianças e ao mesmo tempo tentavam conter o fogo com uso de mangueira.
"Enquanto a gente estava no desespero tirando botijão de gás, coisas para fora, as pessoas más aproveitaram para levar botijão de gás, a televisão sumiu. Porque a gente no apuro foi tentar salvar o que podia para ajudar o próximo. Se já estão roubando com a gente aqui imagina se nós sairmos. Já tá difícil, tenho pouco e querem roubar?", contou Jessica que mora no local com o companheiro e dois filhos.
Para a imprensa, após a reunião de gestão de crise, a prefeita informou que até o momento 43 famílias aceitaram o acolhimento. Já os que permaneceram no local ficarão aos cuidados de agentes da Defesa Civil e da Guarda Civil Metropolitana. Com ajuda do exército tendas foram armadas e a prefeitura também enviou banheiros químicos para atender às famílias que agora estão desabrigadas.
“Vão ficar na comunidade agora, acalmando os ânimos, entendendo todo o processo. Tenho certeza que outras famílias também virão para o acolhimento”, explicou a prefeita.
Prefeita na favela do Mandela
Enquanto esteve na comunidade do Mandela, a prefeita relatou ao Correio do Estado, que os moradores estão sendo cadastrados por quatro ou cinco secretarias trabalhando em conjunto para atender as vítimas do incêndio.
"Vamos ouvir a comunidade, ninguém vai tomar nenhuma decisão isoladamente. E a gente vai atender a todas as famílias que estão precisando de atendimento agora".
A moradora Luciane Braga, inconsolável, contou para a prefeita que perdeu tudo e questionou em relação à moradia para a comunidade. A gestora explicou que estão em um processo de regularização.
"E quando a nossa moradia como que vai ficar? Agora a gente está na rua. Desamparados. Sem barraco, sem nada", comentou a moradora. Com relação a área que a prefeitura pretende ceder ela questionou: "Então, vocês vão conseguir doar pelo menos material pra gente construir? Imagina ficar na rua, não tenho nem família aqui, eu morava solo. Eu trabalhava, trabalhava. As minhas coisas conquistei tudo aí lutando, trabalhando sozinha, não tenho ninguém aqui", lamentou Luciane.

Com relação a forma de construção das novas moradias, Adriane chegou a citar o programa Credhabita que concede crédito para famílias de baixa renda construírem suas moradias e mencionou outros do município que podem facilitar para que a comumidade tenha acesso à tão sonhada casa própria.
"A outra área precisamos da licença ambiental que a gente já está resolvendo", explicou Adriane sobre benefícios para construção da casa, complementou: "Temos o Credhabita, agora vamos sentar com cada família e vamos resolver. Ninguém vai tirar o direito de vocês. Eu vim aqui como mulher, como mãe", disse Adriane.
Alguns moradores relataram à reportagem que perderam seus bichinhos de estimação. Enquanto outros conseguiram soltá-los. Cachorros passeavam em meio aos moradores, bombeiros e agentes de segurança, sobre a causa animal, Adriane falou que será atendida em breve.
"Para as pessoas, os animais, vamos atender a todos. A gente só precisa ter um pouquinho de paciência. É um momento muito difícil para todo mundo. Mas nós vamos atender a todas as famílias que precisarem serem atendidas", explicou a prefeita.

O presidente da Câmara dos Vereadores de Campo Grande, Carlos Augusto (PSB), também esteve no local prestando solidariedade aos moradores. Sobre o incêndio pontuou que a população está em situação de visível vulnerabilidade e nessecida de ajuda celere.
"Acho que a prefeita tem que dar uma resposta imediata que é a questão do incêndio. E depois uma resposta da casas porque tem que remover essas famílias daqui. A prefeita está aqui para conversar com eles. Eu vim para ajudar. Vai vir mais vereadores da Câmara para tentar intermediar", comentou Carlão.
Consumido pelo fogo
O local ficou completamente destruído conforme informou o Capitão do Corpo de Bombeiros, Alencar, sendo que mais de cem barracos pegaram fogo. Ainda assim, enquanto o maquinário trabalhava para fazer o rescaldo, populares procuravam em meio aos escombros coisas que pudessem salvar.
Entre tantos objetos caídos ao solo o caderno escolar de uma criança com carimbos da escola de atividades em dia chamou atenção da reportagem. São pequenos retalhos de uma comunidade humilde que vivia em situação precária e "agora perdeu tudo".
Pranto de famílias, pessoas que viviam solo, desespero de ver o pouco que tinham ter sido consumido pelas chamas. "Triste, triste porque [isso aqui] é um pedacinho da gente. Mas graças a Deus que não morreu ninguém. Menos mal porque vidas não foram [perdidas] diz que agora vão ver uma área para gente", comentou Sandra Maria Pereira dos Reis, de 65 anos.

Alimentação
Enquanto a Adriane estava em reunião, a equipe do CRAS Nossa Senhora Aparecida, do bairro Vila Margarida, chegou com uma panela de arroz com frango que será distribuída para os moradores do Mandela. A cozinheira Ana Lúcia Pereira do Nascimento, ressaltou que todas as unidades estão empenhadas em ajudar nesse momento de dificuldade. "Está todo mundo unido", garantiu Ana Lúcia.
Além disso, o CRAS, Renato Pereira Guedes, será o ponto central de apoio para receber e distribuir a alimentação pela proximidade com o local.
Incêndio
O incêndio de grandes proporções começou por volta das 11h e se alastrou rapidamente, devido as altas temperaturas, de mais de 37°C no momento do incidente, aliado a baixa umidade relativa do ar e ventos fortes, além do fato do material com o qual as moradias são construídas serem inflamáveis.
Conforme o Corpo de Bombeiros, o número de moradias destruídas ainda não havia sido oficialmente contado, mas estima-se que entre 100 a 150 casas foram consumidas pelas chamas.
Várias equipes e viaturas do Corpo de Bombeiros foram enviadas ao local para combater as chamas, assim como do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), para atender possíveis vítimas. Não houve mortes. Diversos caminhões pipa também foram enviados.
Durante a tarde, a prefeita Adriane Lopes (PP) foi até a comunidade e garantiu aos moradores que as famílias que perderam suas moradias receberão suporte da prefeitura.
A fundadora da comunidade do Mandela, Ivonete Santos, de 47 anos, conhecida como Miru, disse que é a terceira vez em que a comunidade pega fogo. “Infelizmente é esse desespero. Se um barraco tem problemas, todo mundo aqui é afetado. Estamos juntos nessa batalha para salvar as nossas vidas”, relatou.
**Colaborou Leo Ribeiro






