Cidades

PAISAGEM EM RISCO

Seca, cachoeira Boca da Onça sofre com influências climáticas e nas mãos humanas

Há cerca de 3 anos ponto turístico em Bodoquena apresentava sinais preocupantes e, em 2022, chegou a "secar" no mínimo duas vezes

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Fato recorrente em Bodoquena, a maior cachoeira de Mato Grosso do Sul está seca mais uma vez, sendo que o volume de água que cai sofre influência tanto dos fatores climáticos, quanto de ações de dano provocadas pelo ser humano. 

Ainda em janeiro, o Correio do Estado apontou para essa situação, que acontece há pelo menos três anos na região, que atrai diversos turistas tanto para observação, quanto para desfrutar das belezas naturais locais. 

"Há 3 anos a Cachoeira vem apresentando um processo de redução da quantidade de volume de água que cai, de forma significativa. Nesse ano a cachoeira secou já umas duas ou três vezes, ficando com praticamente pouca água, só com filetes", explica um dos sócios proprietários Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Cara da Onça, Gerson Jara. 

Ele comenta que, inclusive, faz umas gravações no Facebook, Instagram e TikTok para que uma discussão sobre o tema seja aberta. O que rendeu holofotes para a situação ainda em janeiro, com repercussão nacional. 

"Nesse período eu percebi uma ação muito eficiente, por parte da comunicação do governo, no sentido de justificar que a situação era em virtude do El Niño. Na verdade, assim, desdobramento de ação de vistoria, essas coisas, não ficamos sabendo de nada", diz. 

Gerson aponta que o processo de redução do volume de água, curiosamente, vem acompanhado com um crescimento muito grande de algas ao longo do trajeto do Salobra.  

"Isso indica, é o fator climático também, mas pode ser um processo muito grande do aumento do uso de adubos, e outras coisas que criam elementos químicos que facilitam a proliferação desse tipo de alga. Uma coisa que não tinha, era raro, em uma pedra ou outra, mas teve uma multiplicação muito grande nesse período". 

Em excursão - em virtude do histórico de desmatamento - por um dos lados do Rio Salobra, que pega a Boca da Onça e fazendas entorno, ele comenta que, algumas propriedades não possuem cobertura vegetal. 

"A própria Fazenda Boca da Onça não cumpre a legislação definida, em relação à metragem da preservação do córrego", frisa Gerson Jara. 

Ainda, ele cita a questão de que, um dos braços do córrego que abastece a cachoeira cai numa piscina natural de pedra, construída na sede da Fazenda Boca da Onça.  

"E é comum a gente verificar, quando existe a presença de turistas, o fluxo de água aumenta, e aí no período da tarde, quando termina, a água diminui. Então existe provavelmente algum controle do mecanismo do fluxo de água na fazenda e acho que isso tem que ser apurado", revela. 

Para Gerson Jara, "não existe uma política em torno da preservação das áreas de mananciais e aguadouros do entorno do córrego que abastece a cachoeira", e cobra uma a necessidade de uma ação efetiva do Ministério público e Governo do Estado.

"No sentido de cobrar a colocação de cercas e isolamento das áreas, dos córregos e mananciais que estão abastecendo o Rio.  Mas pelo conhecimento que tenho, nada disso foi feito até agora no presente momento. Então fica no discurso político e a gente não vê a ação efetiva do Ministério Público", pontua.

Vale ressaltar que - como destaca o próprio sócio-proprietário -, existe ação do Ministério Público na intenção da preservação do Rio Salobra, com uma área de isolamento de 30 metros. 

"Mas assim, em razão de inventário, tem áreas e propriedades que não cumprem isso. Não cumprem a medida sob alegação que tem um inventário, que já existia uma área desmatada antes", destaca. 

Mais problemas

Além dessas situações já citadas, segundo o sócio proprietário da RPPN, atualmente também ocorre um processo de perfuração de poços artesianos na área entorno da Serra da Bodequena, muitas das vezes de forma irregular, e até fazendas que sofrem com assoreamento.

"Tem uma ou duas empresas atuando no setor, uma inclusive vinculada a um vereador de Bodoquena, e vêm fazendo exploração do lençol freático sem licenciamento, sem autorização da ANA (Agência Nacional de Águas), descumprindo a legislação ambiental estabelecida". 

Conhecedor da região ele comenta que Bodoquena encontra-se no início do processo de mineração, o que exige procedimentos como o resfriamento com água, entre outras coisas que esse setor requer.  

"Existe também um avanço muito forte das lavouras. A gente percebe nos últimos anos um afrouxamento na legislação, que permite o licenciamento para plantação de soja e de milho no entorno da Serra da Bodoquena, no entorno do Periperi do Rio Salobra", cita. 

Como se não bastasse, Gerson comenta ainda que algumas propriedades inclusive desmatam, de forma agressiva até e, para ele, é necessário política de preservação e isolamento das áreas dos rios, de forma emergencial. 

"Acho que pode ser feito um TAC (Termo de Acordo de Conduta), com todos os proprietários para que isso seja feito de forma imediata. Porque a mata funciona como esponja. Se ela não retém água, o Rio vai secando e a Cachoeira vai acabando. Por exemplo, a Cachoeira da fazenda Primavera, que fica do lado do assentamento Sumatra, tinha uma Cachoeira Maravilhosa que também está tendo um processo de seca. Isso, simultaneamente também com o afrouxamento de licenciamento para derrubada de matas. ", diz ele. 

Executivo de Bodoquena

Procurada para comentar o assunto, a pessoa do Secretário de Turismo, Cultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, Helio Gonçalves, cita algumas medidas tomadas  pelo executivo municipal de Bodoquena, para lidar com o problema recorrente de seca da cachoeira. 

Uma dessas ações foi o pedido - por parte do prefeito - para inclusão de Bodoquena no Decreto de preservação das bacias.

"Decreto nº 15.661, de 4 de maio de 2021, incluiu as áreas de contribuição das bacias dos rios Betione e Salobra, localizadas em Bodoquena para que possam desenvolver ações de controle na mecanização de solo em qualquer tipo de atividade como gradagem, aragem, uso de subsolador, que seja para renovar ou recuperar pastos e implantação de lavouras", aponta. 

Ainda, quanto à fiscalização, é comentada a parceria com a Polícia Militar Ambiental, e citada também o monitoramento da equipe da Câmara Técnica do Programa de Conservação do Solo e da Água do Estado. 

"O município estará contratando serviços de levantamento planialtimétrico para acompanhamento do avanço das águas, e com isso propor aos proprietários rurais ações pontuais para replantio de árvores, curvas em nível em propriedades, tudo isso para buscar romper ações de sedimentos nas calhas principais das bacias e melhorar o abastecimento do lençol freático", aponta ele. 

Também, são citadas reuniões com o Conselho de Meio Ambiente e Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentável, que, segunda a secretaria, acontecem todos os meses.  

"E há uma discussão permanente para o desenvolvimento de ações concretas de preservação, umas delas foi uma capacitação para nossos operadores de máquinas pesadas (que trabalham com a manutenção das estradas), que aconteceu essa semana em Bonito, lá na câmara técnica, por meio do Prosolo", finaliza. 

 

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INCERTEZAS

Gigante da celulose recua e engaveta projeto de R$ 15 bilhões em MS

No fim de novembro a Eldorado informou que ampliaria o plantio de eucaliptos em 2026 de olho da duplicação da fábrica. Agora, porém, diz que esse aumento não sairá do papel

20/12/2025 16h50

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

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Depois de anunciar, no final de novembro, que a partir do próximo ano pretendia ampliar de 25 mil para até 50 mil hectares o plantio anual de eculiptos na região de leste de Mato Grosso do Sul, a indústria de celulose Eldorado deixou claro nesta semana que engavetou, pelo menos por enquanto, o projeto de expansão. 

Com o recuou, a empresa, que produz em torno de 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano, deixa claro que está adiando a prometida duplicação de capacidade de produção da Eldorado, o que demandaria investimentos da ordem de R$ 15 bilhões US$ 3 bilhões), conforme anunciado em abril do ano passado pelos irmãos Joesley e Wessley Batista, donos da empresa. 

Em entrevista ao site AGFeed, especiliazado em agronegócio, o diretor florestal da Eldorado, Germano Vieira, afirmou que a empresa tem atualmente 305 mil hectares de pantações de eucaliptos na região, mas precisa de apenas dois terços disso para abastecer a fábrica. 

Ou seja, a empresa tem em torno de 100 mil hectares de eucaliptos sobrando e este excedente está sendo vendido ou permutado com a Bracell e a Suzano, que opera duas fábricas do setor na região, em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo. 

Então, caso o comando da Eldorado decida desengavetar repentinamente o projeto da duplicação,  já existe um excedente que seria capaz de abastecer a segunda unidade no período inicial, mesmo que não ocorra o início do plantio extra a partir de 2026, explicou Germano Vieira.

Atualmente são colhidos em torno de 25 mil hectares por ano para abastecer a indústria e o mesmo tanto é replantado, fazendo um giro para que sempre haja florestas "maduras".

São necessários, em média, sete anos para que a planta chegue ao estágio de corte e por conta disso havia a programação de começar o plantio agora (2026) para que houvesse matéria-prima suficiente quando a ampliação da fábrica estivesse concluída. Em três anos é possível fazer a ampliação da indústria, acredita Germando Vieira.  

Uma das explicações para o recuo, segundo a reportagem do AGFeed, é que a Eldorado ainda têm uma série de ajustes financeiros a serem feitos depois que os irmãos Batista conseguiram, em maio deste ano, fechar um acordo e colocar fim a batalha judicial com a Paper Excellence.

Para retomarem o controle total da Eldorado, que funciona em Três Lagoas desde 2012 e havia sido vendida parcialmente em 2017, eles se comprometeram a pagar US$ 2,640 bilhões à canadense Paper, que detinha pouco mais de 49% das ações do complexo industrial.  

Para duplicar a produção, segundo Germando Vieira, serão necessários 450 mil hecteres de florestas. Para chegar a esse montante, a empresa teria que arrendar mais 150 mil hecteres, o que demandaria um investimento da ordem de R$ 180 milhões anuais, já que o arrendamento custa em torno de R$ 1,2 mil por ano por hectare. 

Além disso, somente para o plantio de 25 mil hectares anuais a mais, conforme chegou a ser anunciado, seriam necessários em torno de R$ 220 milhões extras no setor florestal por ano, uma vez que o custo do plantio está na casa dos R$ 8,7 mil por hectare. E isso sem contabilizar os custos com o combate a pragas e combate a incêndios, entre outros. 

No final de novembro, Carlos Justo, gerente-geral florestal da Eldorado, chegou a informar ao site The AgriBiz que 15 mil hectares já haviam sido arrendados para dar início à ampliação do plantiu a partir do próximo ano. 

Preços da celulose

Embora Germano Vieira diga que a demanda mundial por celulose cresça em torno de um milhão de toneladas por ano e por conta disso a Eldorado mantem viva a promessa da duplicação, a empresa pisou no freio em meio à queda nos preços mundiais e ao aumento da oferta. 

Neste ano, o faturamento das três fábricas de Mato Grosso do Sul literalmente despencou. Por conta da ativação da unidade de Ribas do Rio Pardo, que tem capacidade de até 2,55 milhões de toneladas por ano, as exportações de Mato Grosso do Sul aumentaram em 57% nos dez primeiros meses de 2025, passando de 3,71 milhões de toneladas para 5,84 milhões de toneladas. 

Porém, o faturamento cresceu apenas 25,6%, subindo de U$ 2,121 bilhões para U$ 2,665 bilhões. No ano passado, quando a cotação da celulose já não estava nos melhores patamares, o valor médio da tonelada rendeu 570 dólares aos cofres das três indústrias. Neste ano, porém, elas tiveram rendimento médio de apenas 456 dólares, o que representa queda de 20%. 

Em decorrência desta queda nos preços, as indústrias deixaram de faturar em torno de 666 milhões de dólares, ou algo em torno de R$ 3,6 bilhões na moeda local, nos dez primeiros meses deste ano. 

Por conta disso, a Suzano, concorrente da Eldorado, chegou a emitir um alerta no começo de novembro dizendo que os preços internacionais estavam "completamete insustentáveis" e por isso estava reduzindo sua produção em cerca de 3,5%. 

O alerta da Suzano foi feito durante a prestação de contas relativa aos resultados do terceiro trimestre da empresa. E, segundo Leonardo Grimaldi, diretor do negócio de celulose da Suzano, a situação é crítica e “o setor está sangrando há meses”. 

Mas, apresar deste cenário de apreensão, investimentos da ordem de R$ 25 bilhões estão a todo vapor em Inocência, onde a chilena Arauco está instalando uma fábrica que terá capacidade para colocar 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano a partir do final de 2027. 

Outra empresa, a Bracell, pretende começar, em fevereiro do próximo ano, em Batagussu, as obras de uma fábrica que terá capacidade para 1,8 milhão de toneladas por ano. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 16 bilhões. 


 

MATO GROSSO DO SUL

Em pleno período de chuvas, Hidrelétrica Porto Primavera reduz vazão

Com a barragem mais extensa do País (10,2km), redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciadano último dia 12, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira

20/12/2025 14h14

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera Reprodução/Cesp

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Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera, a unidade começou nesta sexta-feira (19) através da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) a redução da vazão, para preservar os estoques de água dos reservatórios da bacia do Rio Paraná. 

Com a barragem mais extensa do País (10,2 km), essa redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciada pela Cesp no último dia 12, prevista para começar ainda em 15 de dezembro, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira. 

"O patamar mínimo defluente será reduzido de forma gradual e controlada, passando dos atuais 4.600 metros cúbicos por segundo para 3.900 m³/s, seguindo diretrizes operacionais do ONS", cita a Cesp em nota. 

Além disso, a Companhia frisa que, durante o processo, será mantido o plano de conservação da biodiversidade que havia sido aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), e teve início em maio deste ano, para monitoramento do Rio Paraná justamente nos trechos da jusante - parte rio abaixo - da Porto Primavera até a foz do Ivinhema. 

Ou seja, entre outros pontos, equipes embarcadas formadas por biólogos e demais profissionais especializados, devem trabalhar como os responsáveis por acompanhar a qualidade da água, bem como a conservação e comportamento dos peixes locais enquanto durar a flexibilização da vazão. 

Importante frisar a redução adotada também ao final de novembro (24/11) e mantida até 1° de dezembro, a partir de quando houve a retomada gradativa aos patamares originais. 

Problemas com a vazão

Em épocas passadas, como bem acompanha o Correio do Estado, o controle da vazão em Porto Primavera já trouxe prejuízo e revolta de produtores que chegaram a culpar a ONS pelas fazendas alagadas por mais de quatro meses em Batayporã no ano de 2023, por exemplo. 

Nessa ocasião, o problema começou com a abertura das comportas de Porto Primavera no dia 18 de janeiro de 2023, com a usina avisando a Defesa Civil de Batayporã da liberação de até 14,7 mil metros cúbicos de água por segundo. 

Sendo a maior vazão desde o começo do período chuvoso, as águas se somaram ainda à liberação dos cerca de 3 mil metros cúbicos por segundo do Rio Paranapanema, juntando em torno de 18 mil metros cúbicos por segundo. 

Na linha cronológica em 2023, o problema dos alagamentos começou no final de janeiro, indo até o mês de abril diante do fechamento das comportas em 31 de março. 

Quando a água já havia recuado, saindo de boa parte dos nove mil hectares alagados, as comportas foram reabertas na terceira semana de abril, com vazão máxima de dez mil metros cúbicos.

Depois, o aumento da vazão para até 13 mil metros cúbicos chegou a alcançar 14,7 mil m³, sendo que antes disso o volume anterior já havia sido responsável por invadir casas de moradores locais pela terceira vez no ano. 

Estimativas da Defesa Civil de Batayporã à época apontaram que pelo menos sete mil animais tiveram de ser remanejados na região por causa do mesmo problema. E, mesmo depois que a água baixar, são necessários de dois a três meses para que o pasto cresça e esteja em condições para alimentar os rebanhos. 

 

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