Sem comando definitivo há mais de um mês, a Saúde de Campo Grande vive um iminente colapso, fato que parece não estar causando muita dor de cabeça às autoridades, já que o Comitê Gestor da Saúde, implementado por Adriane Lopes (PP) logo após a saída de Rosana Leite do cargo, disse ainda estar realizando estudos e levantamentos para solucionar problema antigo da Capital.
Nesta segunda-feira, a Câmara Municipal realizou uma audiência pública para tratar sobre a falta de medicamentos na Capital, em que algumas autoridades estiveram presentes, como parlamentares e chefes da saúde.
Entre elas, a chefe-gestora do Comitê da Saúde e ex-secretária de Saúde de Iguatemi, Ivoni Kanaan Nabhan Pelegrinelli. A cidade é “berço” do deputado estadual Lídio Lopes (sem partido), marido da prefeita Adriane Lopes.
Questionada sobre qual seria o plano da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) para resolver a falta de leitos em hospitais e a superlotação de unidades de saúde, Ivoni Nabhan hesitou e não saiu do básico.
“Estamos em discussão com o Estado para a gente fazer o levantamento da necessidade de mais leitos, estamos em conversa”, disse à reportagem.
Além disso, afirmou que está realizando levantamentos e estudos acerca do número ideal de leitos que Campo Grande necessita para acabar com o deficit. Ou seja, há quase 40 dias, seis gestores ainda não foram capazes de mostrar uma proposta ou sequer completar pesquisas que já deveriam estar na “ponta da língua”.
Outra autoridade que se fez presente na audiência pública foi o Superintendente Estadual do Ministério da Saúde, Ronaldo de Souza Costa.
Acerca da escassez de leitos hospitalares, o médico afirma que falta uma auditoria eficiente no Executivo Municipal, visto que apenas 33% dos leitos destinados a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) eram ocupados por doentes da saúde pública, dados que foram repassados a ele durante reunião com o Conselho Municipal de Saúde, em dezembro do ano passado.
“Todo município tem que ter uma auditoria eficiente. Cada lugar que o município tem contratualizado, ele tem que auditar, ele tem que ir lá e ver se todos os leitos estão efetivamente ocupados, tem que saber por que os leitos não estão ocupados, porque isso significa falta de atendimento, sofrimento e morte evitável”, disse ao Correio do Estado.
Ele também disse estar surpreso com o Comitê Gestor que substituiu a ex-secretária de Saúde, Rosana Leite, que depois de deixar a Pasta, ainda acabou “promovida” com um cargo semelhante a uma secretaria, no gabinete da prefeita Adriane Lopes (PP).
“É a primeira vez que eu vejo esse tipo de gestão na Saúde. Como você coloca um comitê, quem que vai decidir, quem que vai assinar, quem que vai ter a responsabilidade?”, indagou o representante do ministério.
Sobre recursos, Ronaldo explicou que há “dinheiro em caixa”, já que apenas R$ 529 milhões (oriundos do Fundo Municipal de Saúde) de R$ 2,250 bilhões foram investidos na Saúde até o fim do segundo quadrimestre, conforme divulgado na prestação de contas feita antes de Rosana Leite deixar a chefia da Pasta.
Ou seja, os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro teriam mais de R$ 1,6 bilhão para aplicar no setor.
Curiosamente, durante seu discurso na audiência pública, Ivoni disse que há a necessidade de aportes financeiros, e que pensa em procurar o governo federal para conseguir mais recursos. “A saúde demanda de recursos, né? Nós precisamos de aporte financeiro também”, reforçou.
Vale lembrar que o setor detém cerca de um terço do orçamento do Município, sendo R$ 2,1 bilhões de R$ 6,87 bilhões este ano e R$ 2,25 bilhões de R$ 6,97 bilhões previstos para 2026, conforme Lei Orçamentária Anual (LOA) aprovada em cada um dos anos.
LEITO HOSPITALAR
Nos últimos dias, o Correio do Estado têm relatado a situação de Dilfa Almeida, de 74 anos, que está na UPA do Jardim Leblon desde o dia 6, onde apresenta tosse acompanhada de sangue, quadro que piora dia após dia.
Na noite de quinta-feira, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul deu um prazo de 72 horas para que fosse providenciado a transferência da paciente a uma unidade hospitalar adequada, seja pública ou privada.
No sábado, este período de três dias acabou, com descumprimento da Prefeitura. Porém, na manhã desta segunda-feira, a idosa finalmente conquistou a vaga tão esperada, no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS).
PANORAMA
Semana passada, o Correio do Estado entrou em contato com os principais hospitais de Campo Grande que recebem pacientes do SUS, e foi passado um contexto alarmante e que necessita de preocupação.
O Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS) conta com nove leitos de Centro de Terapia Intensiva (CTI) adulto, nove leitos na Unidade Coronariana (UCO), nove leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica e seis leitos de UTI neonatal. Todos com 100% de ocupação.
A Santa Casa informou que são disponibilizados 637 leitos para saúde pública, ou seja, SUS (609 entre UTI e enfermarias, 23 leitos de pronto-socorro e oito de C.O.), dos quais 80,87% estão ocupados. O hospital ainda complementa que, em média, o tempo de permanência de pacientes em leitos é de 7,28 dias.
Já o Hospital Adventista do Pênfigo (HAP) disse que conta com 20 leitos de UTI e 30 leitos clínicos contratualizados com a Prefeitura de Campo Grande e mais 10 leitos de UTI e 20 leitos clínicos com contrato vigente com o Estado, acordo este que vai até novembro. Novamente, todos se encontram ocupados.
No Sistema de Gestão de Saúde (SiGS), portal disponibilizado pela Prefeitura para verificação de leitos e tempo de espera em cada Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) e Centro Regional de Saúde (CRS), constantemente as unidades aparecem com leitos lotados, tanto para emergência quanto observação. Os dados são atualizados a cada duas horas no site.
*SAIBA
Além de Ivone Nabhan, integram o Comitê Gestor da Saúde: a gestora de planejamento e execução estratégica, Catiana Sabadin Zamarrenho; a gestora jurídica Andréa Alves Ferreira Rocha; o gestor de finanças e orçamento, Isaac José de Araújo; o gestor administrativo Vanderlei Bispo de Oliveira; e o gestor de contratação André de Moura Brandão.


