A maioria das famílias no Brasil é formada por pai, mãe e filhos, que normalmente são apenas dois ou três. No entanto, mais comum do que parece são as famílias em que, numa mesma casa, vão se juntando as noras, genros e netos. A casa é do mesmo tamanho, mas a família aumenta, e muito. Em Campo Grande não é diferente e mesmo tendo uma grande redução nos índices de quantidade de pessoas dividindo o mesmo cômodo de uma casa, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a ocorrência ainda é comum, de acordo com matéria de hoje (26) no caderno especial de aniversário de Campo Grande do jornal Correio do Estado. Segundo os dados do levantamento, publicado este ano, mas baseado nos dados do Censo Demográfico de 2010, 20,7% dos domicílios da Capital possuem mais de dois moradores por dormitório. Por exemplo: se em uma casa moram cinco pessoas, duas ficam em um dormitório e as outras três juntas em um segundo. Em 2000 esse percentual era de 31,08% e em 1991, de 40,99%.
O dado demonstra a “superpopulação domiciliar”, ou seja, moradias superpovoadas. É o caso da família de Maria José da Costa Fonseca, 46 anos. Numa casa de apenas cinco cômodos - sem contar o banheiro - moram oito pessoas. Em dois “puxadinhos” de lona aos fundos da moradia, moram mais cinco pessoas, totalizando uma família de 14 moradores num mesmo domicílio, na região do Indubrasil “É igual coração de mãe: sempre cabe mais um”, diz o marido de Maria José, Antônio Lucas da Fonseca, 53 anos.É assim: na casa principal moram Maria José, o esposo, um filho, sua esposa, a filhinha de 4 anos, o cunhado de 58 anos e mais dois filhos solteiros. Num barraquinho aos fundos moram um outro filho, a esposa e a filha de seis anos. No outro “puxadinho” moram a sogra deste último filho e o esposo dela. “Quando se trata de filho da gente, não incomoda nada. É bom ficar perto”.

Foto: Álvaro Rezende - Correio do Estado
Parte dos familiares em frente à moradia compartilhada
Com 26 anos, Sales Lucas da Costa Fonseca, filho do casal que mora no “puxadinho” de lona, conta que já se inscreveu em programas de moradia popular, mas nunca foi chamado. “Desisti de procurar porque nunca sai essa casa”, comentou ao explicar que não renova seu cadastro todos os anos. Esse barraco em que vive com a esposa e a filhinha de seis anos “esfria demais no inverno, porque entra vento de tudo que é lado e quando chove também é ruim. As condições são precárias, mas não tenho dinheiro pra montar minha casa”. Sales trabalha no ensacamento de ração mineral, mas teve problemas na coluna e está afastado. “O médico disse que no raio-x não tem problema sério, mas eu to sentindo a coluna ainda. Mas se ele falou que não tem nada, vou voltar a trabalhar”. Desse modo, a família numerosa vai levando a vida e fazendo parte das estatísticas de déficit habitacional. A reportagem é de Lúcia Morel.


