Cidades

PONTA PORÃ E PEDRO JUAN CABALLERO

Violência do crime organizado na região de fronteira gera temor na população

Estudantes brasileiros que moram no Paraguai contam que não saem à noite e nova prefeita só anda de carro blindado

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A guerra entre facções criminosas na fronteira do Brasil com o Paraguai, em Mato Grosso do Sul, tem causado temor na população que reside na região. 

Após o ataque que resultou na morte do prefeito de Pedro Juan Caballero, José Carlos Acevedo, e o recente atentado contra o filho de um ex-prefeito de outra cidade paraguaia, a fronteira tem estado mais tensa, e isso tem gerado temor na população.

Estudantes brasileiros que fazem faculdade no Paraguai contam que é prática comum entre eles não saírem durante a noite e circular o mínimo possível em Pedro Juan Caballero, justamente pela sensação de insegurança que a região traz.

O universitário Renan da Silva Cardoso, 29 anos, que faz medicina na Universidade Central do Paraguai (UCP) há três anos, contou que tem “medo de estar no lugar errado” e na hora errada e se tornar uma vítima.

“Não entro no Paraguai durante a noite, só vou para o Paraguai para ir à faculdade e depois volto para casa. A gente sabe que geralmente só acontece alguma coisa com quem mexe com coisa errada, mas tenho medo de estar no lugar errado”, declarou o estudante.

Segundo ele, após o crime contra o prefeito da cidade paraguaia, os pais teriam pedido para que ele não ficasse em Pedro Juan Caballero além do horário da faculdade. O rapaz saiu de Xinguara, no Pará, para estudar medicina na fronteira, mas mora do lado brasileiro.

A mesma situação é relatada por outros colegas de Renan. A estudante Tailla Milena Alves da Costa também disse que teme ficar na cidade paraguaia. “Tenho medo de sair [à noite], a gente sabe que pode ser vítima de bala perdida, então evito ficar saindo à noite”, contou a jovem, que mora em Pedro Juan Caballero.

A jovem é de Três Lagoas, mas está no Paraguai há três anos. Segundo ela, só tem o costume de sair para ir ao mercado, além da universidade. 

“[A cidade] está mais tensa [depois do atentato contra o prefeito], temos visto polícia na rua com mais frequência. Depois do atentado, meus pais me ligaram para saber se eu estava bem e pediram para ter mais cuidado e evitar sair à noite”, contou.

“Eu acho muito perigoso aqui, tomo muito cuidado com quem ando, dá medo porque morre muita gente, todo dia tem alguém sendo morto”, declarou Lorena Martins, 20 anos, que mora na fronteira desde 2019. Ela e o pai estão morando na região porque ambos fazem medicina na UCP, porém, estão tentando transferir para alguma instituição brasileira. 

A mais tempo morando no Paraguai, a estudante Laura Luisa Martins, de 23 anos, afirma que sentiu que a violência cresceu nos últimos anos. Segundo ela, recentemente houve um atentado próximo da casa onde ela reside, em Pedro Juan Caballero.

“Madrugada passada mesmo, eu estava em casa e ouvi tiros, depois fui ver e tentaram matar um rapaz aqui perto da minha casa”, conta a jovem, que mesmo com esses relatos, não pensou em transferir a faculdade para o Brasil.

“Aqui é muito perigoso, mas se você souber com quem você anda, se não mexer com coisa errada. Você tem de saber aonde você vai e com quem vai, porque aí é tranquilo”, garante a jovem.

Ela ainda completa dizendo que, apesar de morar em Pedro Juan Caballero, só tem costume de sair em Ponta Porã. “Por questão de escolha e porque tenho medo”, diz a jovem ao ser perguntada do motivo.

Segundo a assessoria de imprensa da UCP, a faculdade ainda não teve pedido de transferência, cancelamento de matrícula ou queda de alunos após o ataque contra o prefeito, entretanto, neste segundo semestre, começam as matrículas para um novo período e só aí a instituição saberá o real reflexo da violência na universidade.

PREFEITURA

Depois que José Carlos Acevedo sofreu um atentato, sendo atingido por sete tiros na saída da prefeitura, a região passou a ser mais vigiada por policiais paraguaios. 

Segundo fontes do Correio do Estado, a nova prefeita, Carolina Yunis de Acevedo, só tem transitado pela cidade em um carro blindado e a segurança dentro da prefeitura é feita por homens armados.

Durante entrevista ao Ponta Porã News, a nova chefe do Executivo municipal afirmou que é muito difícil e doloroso ocupar a posição neste momento.

“É muito difícil e doloroso porque fomos eleitos para o mesmo período e estava melhor para lhe dar todo o suporte para tudo que ele vinha sofrendo na política. Sentar hoje aqui é muito doloroso e de muita responsabilidade”, declarou a prefeita ao site do interior. Ela foi eleita como vereadora e por ser a presidente da Câmara Municipal de Pedro Juan, assumiu o lugar deixado por José Carlos.

Carolina é casada com o irmão de José Carlos Acevedo, Ronald Acevedo, governador do departamento de Amambay. A filha dela, Haylee Carolina Acevedo Yunis, foi morta em outubro do ano passado também durante um atendado. Outras três pessoas que estavam com a jovem também foram mortas.

De acordo com fontes da reportagem, além de Carolina, outras autoridades da cidade também estão circulando pela cidade com carros blindados por segurança.

Depois do atentado de domingo, em que cinco pessoas ficaram feridas, um deles era Júlio Cesár Velazquez Penaderi, filho de ex-prefeito do município paraguaio de Zanja Pytã, Ramón Velázquez Marí, a segurança da fronteira foi novamente reforçada e na segunda-feira houve um aumento de efetivo e dezenas de postos de controle da polícia foram criados na cidade.

LADO BRASILEIRO

Segundo o titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, o incremento no efetivo da polícia da região fronteiriça continua, porém, sem a mesma intensidade de 15 dias atrás, quando o aumento no número de agentes ultrapassava 50%.

Videira afirmou que manteve o reforço policial na região por meio da Operação Hórus, mas uma parte dos policiais retornou aos seus postos. Entretanto, a intercambialidade do setor de inteligência permanece enquanto as autoridades do Paraguai necessitarem.

“A inteligência tem prestado apoio nas diligências em território brasileiro, todas [as diligências] que necessitam ser feitas do lado brasileiro nós temos feito. Temos mantido essa sintonia porque crimes praticados dos dois lados abalam toda a região. Existe uma disputa por território por organizações criminosas, e essa disputa tem criado sensação de insegurança na região, por isso a necessidade de manter o reforço no lado brasileiro”, declarou Videira.

O secretário salientou que apenas a polícia na rua será possível de evitar que novos crimes como esse aconteçam com frequência. “[A maneira de conter é], principalmente, intensificando o policiamento ostensivo na linha de fronteira, policiamento preventivo e ostensivo”.

Videira afirmou que não há prazo para que as ações conjuntas e o aumento do efetivo permaneçam na região.

INCERTEZAS

Gigante da celulose recua e engaveta projeto de R$ 15 bilhões em MS

No fim de novembro a Eldorado informou que ampliaria o plantio de eucaliptos em 2026 de olho da duplicação da fábrica. Agora, porém, diz que esse aumento não sairá do papel

20/12/2025 16h50

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

A Eldorado, dos irmãos Batista, funciona em Três Lagoas desde 2012 e existe a previsão de que sua capacidade aumente em 100%

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Depois de anunciar, no final de novembro, que a partir do próximo ano pretendia ampliar de 25 mil para até 50 mil hectares o plantio anual de eculiptos na região de leste de Mato Grosso do Sul, a indústria de celulose Eldorado deixou claro nesta semana que engavetou, pelo menos por enquanto, o projeto de expansão. 

Com o recuou, a empresa, que produz em torno de 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano, deixa claro que está adiando a prometida duplicação de capacidade de produção da Eldorado, o que demandaria investimentos da ordem de R$ 15 bilhões US$ 3 bilhões), conforme anunciado em abril do ano passado pelos irmãos Joesley e Wessley Batista, donos da empresa. 

Em entrevista ao site AGFeed, especiliazado em agronegócio, o diretor florestal da Eldorado, Germano Vieira, afirmou que a empresa tem atualmente 305 mil hectares de pantações de eucaliptos na região, mas precisa de apenas dois terços disso para abastecer a fábrica. 

Ou seja, a empresa tem em torno de 100 mil hectares de eucaliptos sobrando e este excedente está sendo vendido ou permutado com a Bracell e a Suzano, que opera duas fábricas do setor na região, em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo. 

Então, caso o comando da Eldorado decida desengavetar repentinamente o projeto da duplicação,  já existe um excedente que seria capaz de abastecer a segunda unidade no período inicial, mesmo que não ocorra o início do plantio extra a partir de 2026, explicou Germano Vieira.

Atualmente são colhidos em torno de 25 mil hectares por ano para abastecer a indústria e o mesmo tanto é replantado, fazendo um giro para que sempre haja florestas "maduras".

São necessários, em média, sete anos para que a planta chegue ao estágio de corte e por conta disso havia a programação de começar o plantio agora (2026) para que houvesse matéria-prima suficiente quando a ampliação da fábrica estivesse concluída. Em três anos é possível fazer a ampliação da indústria, acredita Germando Vieira.  

Uma das explicações para o recuo, segundo a reportagem do AGFeed, é que a Eldorado ainda têm uma série de ajustes financeiros a serem feitos depois que os irmãos Batista conseguiram, em maio deste ano, fechar um acordo e colocar fim a batalha judicial com a Paper Excellence.

Para retomarem o controle total da Eldorado, que funciona em Três Lagoas desde 2012 e havia sido vendida parcialmente em 2017, eles se comprometeram a pagar US$ 2,640 bilhões à canadense Paper, que detinha pouco mais de 49% das ações do complexo industrial.  

Para duplicar a produção, segundo Germando Vieira, serão necessários 450 mil hecteres de florestas. Para chegar a esse montante, a empresa teria que arrendar mais 150 mil hecteres, o que demandaria um investimento da ordem de R$ 180 milhões anuais, já que o arrendamento custa em torno de R$ 1,2 mil por ano por hectare. 

Além disso, somente para o plantio de 25 mil hectares anuais a mais, conforme chegou a ser anunciado, seriam necessários em torno de R$ 220 milhões extras no setor florestal por ano, uma vez que o custo do plantio está na casa dos R$ 8,7 mil por hectare. E isso sem contabilizar os custos com o combate a pragas e combate a incêndios, entre outros. 

No final de novembro, Carlos Justo, gerente-geral florestal da Eldorado, chegou a informar ao site The AgriBiz que 15 mil hectares já haviam sido arrendados para dar início à ampliação do plantiu a partir do próximo ano. 

Preços da celulose

Embora Germano Vieira diga que a demanda mundial por celulose cresça em torno de um milhão de toneladas por ano e por conta disso a Eldorado mantem viva a promessa da duplicação, a empresa pisou no freio em meio à queda nos preços mundiais e ao aumento da oferta. 

Neste ano, o faturamento das três fábricas de Mato Grosso do Sul literalmente despencou. Por conta da ativação da unidade de Ribas do Rio Pardo, que tem capacidade de até 2,55 milhões de toneladas por ano, as exportações de Mato Grosso do Sul aumentaram em 57% nos dez primeiros meses de 2025, passando de 3,71 milhões de toneladas para 5,84 milhões de toneladas. 

Porém, o faturamento cresceu apenas 25,6%, subindo de U$ 2,121 bilhões para U$ 2,665 bilhões. No ano passado, quando a cotação da celulose já não estava nos melhores patamares, o valor médio da tonelada rendeu 570 dólares aos cofres das três indústrias. Neste ano, porém, elas tiveram rendimento médio de apenas 456 dólares, o que representa queda de 20%. 

Em decorrência desta queda nos preços, as indústrias deixaram de faturar em torno de 666 milhões de dólares, ou algo em torno de R$ 3,6 bilhões na moeda local, nos dez primeiros meses deste ano. 

Por conta disso, a Suzano, concorrente da Eldorado, chegou a emitir um alerta no começo de novembro dizendo que os preços internacionais estavam "completamete insustentáveis" e por isso estava reduzindo sua produção em cerca de 3,5%. 

O alerta da Suzano foi feito durante a prestação de contas relativa aos resultados do terceiro trimestre da empresa. E, segundo Leonardo Grimaldi, diretor do negócio de celulose da Suzano, a situação é crítica e “o setor está sangrando há meses”. 

Mas, apresar deste cenário de apreensão, investimentos da ordem de R$ 25 bilhões estão a todo vapor em Inocência, onde a chilena Arauco está instalando uma fábrica que terá capacidade para colocar 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano a partir do final de 2027. 

Outra empresa, a Bracell, pretende começar, em fevereiro do próximo ano, em Batagussu, as obras de uma fábrica que terá capacidade para 1,8 milhão de toneladas por ano. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 16 bilhões. 


 

MATO GROSSO DO SUL

Em pleno período de chuvas, Hidrelétrica Porto Primavera reduz vazão

Com a barragem mais extensa do País (10,2km), redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciadano último dia 12, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira

20/12/2025 14h14

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera

Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera Reprodução/Cesp

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Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também conhecida como Porto Primavera, a unidade começou nesta sexta-feira (19) através da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) a redução da vazão, para preservar os estoques de água dos reservatórios da bacia do Rio Paraná. 

Com a barragem mais extensa do País (10,2 km), essa redução segue determinação emitida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e havia sido anunciada pela Cesp no último dia 12, prevista para começar ainda em 15 de dezembro, como medida para garantir a "segurança energética" brasileira. 

"O patamar mínimo defluente será reduzido de forma gradual e controlada, passando dos atuais 4.600 metros cúbicos por segundo para 3.900 m³/s, seguindo diretrizes operacionais do ONS", cita a Cesp em nota. 

Além disso, a Companhia frisa que, durante o processo, será mantido o plano de conservação da biodiversidade que havia sido aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), e teve início em maio deste ano, para monitoramento do Rio Paraná justamente nos trechos da jusante - parte rio abaixo - da Porto Primavera até a foz do Ivinhema. 

Ou seja, entre outros pontos, equipes embarcadas formadas por biólogos e demais profissionais especializados, devem trabalhar como os responsáveis por acompanhar a qualidade da água, bem como a conservação e comportamento dos peixes locais enquanto durar a flexibilização da vazão. 

Importante frisar a redução adotada também ao final de novembro (24/11) e mantida até 1° de dezembro, a partir de quando houve a retomada gradativa aos patamares originais. 

Problemas com a vazão

Em épocas passadas, como bem acompanha o Correio do Estado, o controle da vazão em Porto Primavera já trouxe prejuízo e revolta de produtores que chegaram a culpar a ONS pelas fazendas alagadas por mais de quatro meses em Batayporã no ano de 2023, por exemplo. 

Nessa ocasião, o problema começou com a abertura das comportas de Porto Primavera no dia 18 de janeiro de 2023, com a usina avisando a Defesa Civil de Batayporã da liberação de até 14,7 mil metros cúbicos de água por segundo. 

Sendo a maior vazão desde o começo do período chuvoso, as águas se somaram ainda à liberação dos cerca de 3 mil metros cúbicos por segundo do Rio Paranapanema, juntando em torno de 18 mil metros cúbicos por segundo. 

Na linha cronológica em 2023, o problema dos alagamentos começou no final de janeiro, indo até o mês de abril diante do fechamento das comportas em 31 de março. 

Quando a água já havia recuado, saindo de boa parte dos nove mil hectares alagados, as comportas foram reabertas na terceira semana de abril, com vazão máxima de dez mil metros cúbicos.

Depois, o aumento da vazão para até 13 mil metros cúbicos chegou a alcançar 14,7 mil m³, sendo que antes disso o volume anterior já havia sido responsável por invadir casas de moradores locais pela terceira vez no ano. 

Estimativas da Defesa Civil de Batayporã à época apontaram que pelo menos sete mil animais tiveram de ser remanejados na região por causa do mesmo problema. E, mesmo depois que a água baixar, são necessários de dois a três meses para que o pasto cresça e esteja em condições para alimentar os rebanhos. 

 

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