Correio B

ARTES VISUAIS

A Ferro e Fogo

Exposição com 113 obras no Centro Cultural José Octávio Guizzo encerra o projeto Arte nas Estações em Campo Grande; os trabalhos pertencem ao Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil e a curadoria é de Ulisses Carrilho, com visitação de amanhã até 19/2

Continue lendo...

Idealizado pelo colecionador carioca Fabio Szwarcwald, o projeto Arte nas Estações encerra a sua passagem pelo Centro Cultural José Octávio Guizzo (Rua 26 de Agosto, nº 453, Centro) com a exposição coletiva “A Ferro e Fogo”.

São 113 obras de arte naïf sob a curadoria de Ulisses Carrilho, que se inspirou na canção de mesmo nome de Zezé Di Camargo & Luciano. A mostra tem abertura amanhã, às 19h, e fica em cartaz até 19 de fevereiro. A entrada é franca.

O grupo de dança indígena Hána’iti Kipâe participa do lançamento de amanhã com uma performance. O Arte nas Estações foi viabilizado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio master da Energisa.

“Chegamos à última exposição em Campo Grande, exibindo um total de 262 obras de 27 artistas que retratam uma imensa gama de temáticas. A pluralidade da produção pictórica apresentada é capaz de afetar todo tipo de espectador. Com isso, o Arte nas Estações impulsiona a formação de novos públicos”, celebra Fabio.

“Outro ponto a ser destacado são as tecnologias de relação e participação desenvolvidas ao longo do projeto, fomentando a construção de novos saberes e reafirmando a expressão das identidades regionais por onde passa o Arte nas Estações. Tem sido emocionante ver as comunidades locais integrarem as suas práticas e seus interesses ao corpo das exposições”, diz o colecionador e gestor cultural.

Do ambiente imersivo, sai o azul e entra o amarelo. Nas paredes, entre imagens do cotidiano no campo ou na cidade, há cenas que retratam o embarque de escravos em navios negreiros, o combate e a morte de Zumbi dos Palmares, o enterro de Chico Mendes, denúncias de queimadas e desmatamento e o exército nas ruas durante a ditadura militar.

“A música ‘A Ferro e Fogo’, um fenômeno da cultura de massa, narra as mazelas que assolam a vida de um indivíduo. Da vida dura, no campo social, à vontade de ter o ser amado, na esfera pessoal”, observa o curador Ulisses Carrilho.

A expressão também dá título à outra obra com proximidade histórica à dupla sertaneja, ressalta o curador.

Lançado em 1996, o livro homônimo de Warren Dean conta a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira.

“No enredo, somos lembrados de que um dos primeiros atos dos portugueses, ao chegarem ao Brasil em 1500, foi abater uma árvore para construir a cruz da primeira missa. Esse gesto, considerado premonitório, teria feito, segundo o autor, a primeira vítima da ocupação europeia da Mata Atlântica, que cobria boa parte do território brasileiro”, conta Ulisses.

“A Ferro e Fogo” chega em um momento em que Mato Grosso do Sul vive os efeitos das grandes queimadas.

“Acho que a exposição, que carrega o fogo no título, vem nos relembrar um pouco da urgência das ecologias como uma pauta política que fica radicalmente mais evidente. [É também sobre] as cenas de queimadas, essa natureza com tintas mais escuras que os artistas nos trazem, retratando a morte dos animais, dos biomas e dos ecossistemas e os assassinatos dos ativistas”, analisa.

Na história do Brasil, a qual conta com lutas nada ingênuas, se inscrevem inúmeras revoluções e revoltas e diversos conflitos. A imagem de um país pacífico, de população cordial, se desfaz a cada dia nas telas de celulares ou nas páginas de jornais.

Marcada pela violência colonial, pelo extrativismo e pelo projeto de manutenção da desigualdade, essa história – caso fosse narrada de maneira pacífica – ignoraria a força de uma população que ousou batalhar por sua importância e pelo seu poder.

Nos cinco séculos que se seguiram, cada novo ciclo econômico de desenvolvimento do País significou mais um passo na destruição de uma floresta de 1 milhão de quilômetros quadrados – hoje reduzida a vestígios.

“Tal fato preocupa não apenas os milhões de brasileiras 
e brasileiros, mas toda a comunidade internacional que reconhece o protagonismo que esta terra tem para a preservação dos biomas e das condições de vida mundo afora”, pontua o curador.

“Na exposição, a qual reúne 113 obras, podemos ver juntos como as paisagens, as geografias e as representações de natureza são marcadas não apenas pela riqueza natural, mas também pela ação do humano, tornando cada vez mais complexas as ideias de natureza e cultura. Nesse sentido, percebemos um país marcado pela força de seus cenários ricos em flora e fauna, mas também pelo esforço de trabalhadoras e trabalhadores em construir um país mais justo em oportunidades”, afirma Ulisses.

“As obras de arte produzidas por artistas autodidatas que não tiveram acesso ao ensino formal em arte, muito embora tenham sido produzidas no passado, buscam dar densidade ao intenso agora”, salienta.

A equipe do educativo do projeto Arte nas Estações desenvolveu uma programação especial para as férias. Durante o próximo mês inteiro, de terça-feira a sábado, sempre das 14h às 17h, serão oferecidas oficinas com atividades lúdicas e sensoriais direcionadas a crianças a partir de 5 anos (acompanhadas pelos seus respectivos responsáveis), além de jovens e adultos.

Para conferir a programação completa, integralmente gratuita e que já está disponível no site oficial do projeto, basta acessar artenasestacoes.com.br.

Assine o Correio do Estado

DIÁLOGO

Tudo transcorria tranquilo no campo colegiado, até que o "dono da bola"... Leia na coluna de hoje

Confira a coluna Diálogo desta segunda-feira (07/04)

07/04/2025 00h02

Continue Lendo...

Arthur Schopenhauer - filósofo Alemão

"O dinheiro é uma felicidade humana abstrata;
por isso, aquele que já não é capaz de apreciar a verdadeira
felicidade humana, dedica-se completamente a ele”.

FELPUDA

Tudo transcorria tranquilo no campo colegiado, até que o “dono da bola” resolveu, como guri traquina que não aparentava ser, mexer na caixa de marimbondo com uma canetada, como se os colegas não estivessem atentos. Desta forma, time adversário ficou todo ouriçado e tratou de espalhar, tal qual papéi$ assinado$, o que considera malfeito, a fim de que sejam dadas várias ferroadas no autor da peripécia. Como bem escreveu o cardeal de Richelieu: “Os grandes braseiros brotam das pequenas faíscas”...

Empregos

Em fevereiro, Mato Grosso do Sul registrou saldo positivo de 8.333 empregos formais. O melhor resultado para o mês desde que a nova série histórica do Novo Caged foi iniciada (2020), conforme divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Mais

Os dados estão na Carta de Conjuntura do Trabalho e Emprego, elaborada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação. O resultado positivo se deve a 41.338 admissões e 33.005 desligamentos registrados no mês.

Ana Claudia Arce Vaitti com seu filho Francisco Vaitti, que hoje comemora 11 anos
Alexandre Sá

Na real

O ex-presidente Jair Bolsonaro, presidente de honra do PL, estaria mais precavido para evitar os aproveitadores do seu nome em Mato Grosso do Sul e que, como aconteceu, venham a traí-lo no futuro. Assim, segundo os bastidores, terão seu apoio as candidaturas daqueles que, desde já, saírem na linha de frente empunhando a bandeira do conservadorismo e que estiverem comprometidos em travar luta contra a extrema esquerda. Dizem que Bolsonaro quer distância dos políticos dissimulados.

Corredor

A Câmara Municipal de Campo Grande aprovou projeto que autoriza o Executivo a criar um corredor comercial no Bairro Jardim Centro-Oeste. O objetivo é fomentar o desenvolvimento econômico da região e atrair novos investimentos. O espaço será estabelecido na Avenida dos Cafezais, entre a Avenida Delegado Alfredo Hardman e a Rua Campo Nobre.

Mais caras

As tarifas do transporte rodoviário intermunicipal de passageiros em Mato Grosso do Sul foram reajustadas em 4,56% neste mês. O porcentual corresponde à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos últimos 12 meses e segue a política de atualização anual prevista na regulamentação do setor. A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de MS publicou portaria com os valores atualizados.

Aniversariantes

  • Francisco Vaitti,
  • Aldo Miranda,
  • Adelina de Souza Brandão Ota,
  • York da Silva Corrêa,
  • Monique de Paula Scaff Raffi,
  • Vilson Luiz Galvão,
  • Iracema Paixão de Souza,
  • Marcio de Oliveira Ribas,
  • Lucia Conceição de Oliveira Friozi,
  • Éder Marsiglia Ocampos Orué,
  • Mario Cesar Ferreira Santana,
  • Wanderley Matias Guimarães,
  • Tânia Maura Barbosa,
  • Guilherme Rahe Pereira,
  • Rosa Maria Martins de Oliveira,
  • Janaina Nunes Roque,
  • Josimar Machado dos Reis,
  • Antônio Carlos Navarrete Sanches,
  • Valdemir da Costa Lima,
  • Aguinaldo dos Santos,
  • Gisele Marques Carvalho,
  • Sérgio Roberto Barcelos,
  • Viviane Rodrigues Saad,
  • Dr. Carlos Roberto Delfim,
  • Germano Barros de Souza Filho,
  • Dra. Yassuco Ueda Purisco,
  • Hilda Nunes da Cunha,
  • Dr. Roberto Vinicius Bertoni,
  • Manoel Fernandes de Oliveira Neto,
  • Jackeline Santana,
  • Garcia Kemparsk de Andrade,
  • Waldir Tramontine,
  • Amadeu Furtado Alvim,
  • Adilson Edson Reich,
  • Silvestre Lopes,
  • Ana Maria Ferreira,
  • Vivian Luise Mendes da Silva,
  • Aylda Menezes Alves,
  • Luiz Gonzaga Prata Braga,
  • Dr. Paulo Sérgio dos Santos Calderon,
  • Luciana Lazarin,
  • Sérgio Adilson de Cicco,
  • Ciro José Guerreiro,
  • Tânia Maria Braga Netto,
  • Maria do Socorro Cavalcanti Freitas,
  • Elizabete do Carmo Cortez Pereira,
  • Maria Cristina Medeiros de Almeida,
  • Leila Rondon Pereira,
  • Tânia Maria Nahas Curado,
  • Irineu Navas,
  • Aureo Nogueira Lisboa,
  • Edilmar Soares Arruda,
  • Felipe Euripedes Amaral,
  • Florivaldo Bruno Ribeiro,
  • Valdo Batista de Souza Junior,
  • Izabel Morais,
  • Elizabete Fabris de Albuquerque,
  • Vilmê Maria Rodrigues Gomes,
  • Nelson Ruy Pitta,
  • Luciane Massaroto Gonçalves de Almeida,
  • Antônio Cancian Lopes,
  • Geraldo Macelaro Leite,
  • Iranilda Bordon Buchara,
  • Nelson Carlos Trindade,
  • Prudente Ramos da Silva,
  • Antônio Mandetta Filho,
  • Osnei Rosa da Costa,
  • Keila Renata Barreiro,
  • Regina Helena Barcelos Brandão,
  • Denise Cunha de Souza,
  • Ruben Campos Gehre,
  • Valdir Moritz,
  • Inaldo Geraldo Viedes,
  • Delarim Martins Gomes,
  • Aldecir Roque de Carvalho,
  • Edney Arantes de Campos,
  • Jucinez dos Santos Reis,
  • Rosilene Aparecida Mendes,
  • Vilmar Gomes de Carvalho,
  • Seiko Nakamura,
  • Hélio Costa Lima,
  • Patricia Robban,
  • Cláudia Ramos de Souza Magalhães,
  • Nelson Gracia Villa Verde,
  • Maria Dourado de Assis,
  • Edivaldo Cézar Germiniani,
  • Douglas Pavão Matos,
  • Lincoln Capurro Braga,
  • Sandra Cristina Brasileiro da Silva
  • Fontellas dos Santos,
  • Gustavo Medeiros Horn,
  • Roseli Veiber,
  • Bruno Russi Silva,
  • Dr. Vitor Hugo Santos,
  • Cristiane de Fátima Muller,
  • José Manuel Marques Candia,
  • Marcelo Kaun,
  • Claudeney Ferreira da Hora,
  • Vera Lúcia Marcondes,
  • Diva Dias dos Santos Rigato,
  • Fernando Zanélli Mitsunaga,
  • Lucia Gomes Barroso Pavani,
  • Aracelli Benatto,
  • Edvaldo Cezar Germiniani,
  • Andréia Martins da Conceição Terron,
  • Maria Helena Miranda Stevanato,
  • Cleusa Spinola,
  • Gustavo Feitosa Beltrão,
  • João Guilherme Miranda Carpes

* Colaborou Tatyane Gameiro

Correio B+

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme Weber

"É sempre uma alegria encontrar um personagem com subjetividade, como somos todos nós. O Marco não é um "personagem de função" como acontece normalmente com personagens que entram em uma novela há um certo tempo no ar".

06/04/2025 20h00

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme Weber

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme Weber Foto: Sergio Baia

Continue Lendo...

Ator e diretor, Guilherme Weber está prestes a completar 35 anos de carreira, tudo isso com muito trabalho e dedicação. No elenco da novela “Volta por Cima”, da TV Globo onde vive o bicheiro Marco, o artista prepara para o segundo semestre deste ano a estreia de seu quarto monólogo no Teatro Sesi, no Rio: “O Corpo Mais Bonito já Visto Nesta Cidade”, que é um texto inédito no Brasil do catalão Joseph Maria Miró sobre o assassinato de um menino de 17 anos num vilarejo, levantando temas como abusos, homofobia e desesperanças.

Ele também aguarda o lançamento do longa “Dr. Monstro”, do premiado diretor Marcos Jorge. O true crime é baseado na história do cirurgião plástico Farah Jorge Farah, que matou e esquartejou a namorada e cujo julgamento polêmico marcou a história recente do judiciário brasileiro. A produção conta ainda com Taís Araújo e Marat Descartes. 

Para 2026, Guilherme Weber será o diretor da versão brasileira de Plaza Suíte no Brasil, um clássico da comédia de Neil Simon que teve temporada triunfal em NY e em Londres, marcando o retorno de Sarah Jessica Parker e o marido Mathew Broderick aos palcos.

Já em 2027, Guilherme Weber dirigirá a nova montagem de “Chanel”, com texto de Maria Adelaide Amaral, sobre as memórias da estilista francesa. O espetáculo foi sucesso na interpretação de Marília Pêra em 2004 e voltará aos palcos desta vez estrelado por Christiane Torloni.

Com mais de 20 trabalhos na TV, Guilherme Weber ganhou destaque ao dar vida ao vilão Tony de “Da Cor do Pecado”, em 2004. No cinema, o artista contabiliza dezenas de longas, como os aclamados “Olga” e “Árido movie”.

Ele ainda assina a direção do filme  “Deserto”, com Lima Duarte no elenco e que venceu diversos prêmios, como o de Melhor Direção no Festival de Cinema Brasileiro em Los Angeles. Nos palcos, ele já esteve em diversos espetáculos, como “Fantasmagoria IV”, com direção de Felipe Hirsch, em 2024.

Guilherme é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ele fala sobre o seu personagem em Volta Por Cima na TV Globo, carreira e novos projetos.

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme WeberO ator Guilherme Weber é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Sergio Baia - Diagramação: Denis Felipe - Por Flávia Viana

CE - Guilherme Weber está no elenco de Volta por Cima vivendo um bicheiro. A trama tem tido situações de drama com a história de encontrar a mãe desaparecida e a vilania, como um bandido que está lutando pelo comando dos negócios da família.  Como é fazer um personagem com tantas possibilidades numa só história?
GW -
 É sempre uma alegria encontrar um personagem com subjetividade, como somos todos nós. O Marco não é um “personagem de função” como acontece normalmente com personagens que entram em uma novela há um certo tempo no ar, que vem para ajudar a desenvolver determinada situação; é um personagem com vida própria. E ele mexe com muito destreza nas expectativas dos espectadores.

Chega como um vilão, sequestra uma garota, acoberta crime de cárcere privado, ameaça comerciantes idosos, cheira com prazer o dinheiro arrecadado na contravenção. Mas carrega uma crise de identidade, se mostra um filho amoroso, um homem que sofre por amor, então estas facetas juntas complexificam de maneira positiva o personagem aos olhos dos espectadores, o que é sempre ótimo. 

É uma delícia poder transitar por diferentes estados emocionais e situações da história. E para isso é importante que em uma novela clássica, aberta, se componha um personagem com assinatura mas ao mesmo tempo deixe esta composição aberta para o que pode vir pela frente. E o público responde... começa odiando o ambicioso traidor, mas ele protege a mãe, a abraça, cheira seus cabelos, e todos se derretem, rs... 

CE - Marco, aliás, entrou em Volta por Cima depois da estreia. Como foi pegar “esse bonde andando”? Você já sabia como seria o desenrolar da trama dele?
GW -
 Nem eu, nem a Claudia Souto sabíamos como o personagem se desenrolaria. Ela queria um outro bicheiro na família Barros para poder ter retrato de clã na contravenção do lado antagonista da história. Mas no início até se pensou no Marco ser apaixonado pelo Gerson, personagem do Enrique Diaz, e esconder esta paixão em uma fidelidade canina.

Perguntei para a Claudia a caminha do meu primeiro dia de gravação, “será que já chego dando uma certa pinta?” rsrsrs e ela falou para segurar um pouco que estava pensando. E aí veio o personagem aparecendo durante as gravações, num cenário quase shakespeareano de briga sobre poder. Filho bastardo, crise de identidade, revanche vingativa, mãe desaparecida, ambição, paixão pela mulher impossível, muitos clássicos do gênero foram caindo no colo do personagem, para minha alegria.

CE - A novela acaba no fim de abril e você já tem previsto um monólogo, que vai estrear em junho, no Rio. O que podemos esperar desse projeto? E quais as facilidades e os desafios de fazer uma peça sozinho?
GW -
 Estreio dia 14 de Agosto no Rio de Janeiro, no Teatro Sesi Firjan. Chama-se “O Corpo Mais Bonito Já Visto Nesta Cidade” a partir do texto do catalão Joseph Maria Miró e conta o assassinato de um jovem de 17 anos em uma cidade pequena.

O jovem cheio de libido, desejos e pulsão de vida é punido pela moral e pelas facadas. Uma obra que além de sua temática de excruciante atualidade se sustenta em uma narrativa muito original e de enorme rigor estético e cumpre o ditado “cidade pequena, inferno grande.” Parece dizer que um corpo que deseja tanto e é tão desejado, em algum momento tem que ser punido.

O desafio é pela extensão do tempo em cena em palco vazio, um solo solicita muito do seu repertório de composição. Facilidades eu não listaria para não atrair azar nem pagar a língua, rs... mas existe uma grande delícia de começar o jogo, a troca com a plateia e não parar até o final, o fluxo contínuo da proposta do ator, do palco para a plateia.

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme WeberO ator Guilherme Weber é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Sergio Baia - Diagramação: Denis Felipe - Por Flávia Viana

CE - Além de atuar, você é diretor, tendo vários projetos desses no currículo. Como seu lado diretor se comporta quando está atuando sob a batuta de outro diretor? Já pensou em se dirigir em algum projeto?
GW -
 Eu tento deixar o lado diretor em “modo avião” quando estou sendo dirigido, para usufruir justamente do universo e do olhar do outro, que é uma das coisas mais interessantes de ser dirigido. Confesso que não é fácil, rs... mas sempre fui um ator criador, muito propositivo, então estes dois papéis se misturam um pouco.

A ideia de me dirigir em um projeto sempre me pareceu ruim, não ter a visão da cena o tempo todo de fora, mas resolvi me deixar tomar por este delírio e assumir minha “fase Orson Wells” em um projeto de teatro que será fruto da minha pesquisa sobre literatura e dramaturgia latino americana. Cansei de chegar no dia da estreia e perder o melhor da festa que é estar no palco, rsrsrs

CE - Inclusive, você tem vários projetos como diretor já confirmados para os próximos tempos, como as novas montagens das peças “Plaza Suíte”, que já foi encenada por Fernanda Montenegro e Jorge Doria nos anos de 1970, e de “Chanel”, que foi estrelada há 20 anos por Marília Pêra. Qual o desafio maior de refazer esses projetos de sucesso? E eles terão adaptação para os tempos atuais?
GW - 
Eu não chamaria de “refazer”, serão criações de espetáculos a partir de textos que já foram encenados por outros artistas. Plaza Suite, inclusive, é um clássico absoluto da comédia e o autor do texto, Neil Simon, é um dos meus dramaturgos favoritos; seus diálogos são brilhantes e as situações cênicas da peça são um banquete para os atores, mistura comédia física, diálogos afiados, ritmo alucinante, drama visto pelos olhos do humor, uma delícia. Eu assino também a tradução e a adaptação da obra.

Não trarei a peça para os dias atuais porque ela não precisa deste recurso, é um clássico. Mas sempre injeto algumas piadas a mais, rsrsrs...

Chanel tem estatura de mito, então parece sempre se apresentar como uma pergunta impossível de ser inteiramente respondida. Será curioso observar novas gerações, oriundas do tik tok e do politicamente correto encarando uma mulher tão complexa e contraditória em sua genialidade.

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme WeberFoto: Sergio Baia

CE - Em breve, ainda poderemos ver Guilherme Weber no cinema no filme “Dr. Monstro”, onde dá vida ao polêmico advogado Roberto Podval. Como é fazer um personagem verídico, que faz parte de uma história de assassinato recente no Brasil? Como foi seu processo de composição?
GW -
 Não houve a intenção de reproduzir o Podval, inclusive o meu personagem tem outro nome no filme; questões jurídicas acredito, rs...

Assistimos alguns julgamentos no Tribunal de Curitiba, onde filmamos, e foi uma preparação especialíssima. Entender as narrativas jurídicas, a encenação e ritos do tribunal e pensar em tudo isso na época da pós verdade foi muito instigante. É um “true crime” fascinante.

Além de relembrar de todos os filmes de tribunal, que é um subgênero fascinante, que vi e que sempre adorei. Disse ao diretor Marcos Jorge que sempre serei grato a ele pela oportunidade de dizer na minha carreira as frases “sem mais perguntas, meretíssimo” e “protesto, meritíssimo.”

CE - Você ganhou projeção ao fazer o inesquecível vilão Tony de “Da cor do pecado”.  Como foi o impacto para sua carreira ao fazer essa novela de tanto sucesso?
GW -
 Foi minha primeira novela e o personagem é lembrado até hoje, vinte anos depois e por diferentes gerações em função das sucessivas reprises e agora redescoberta no streming com impacto. Foi realmente uma sorte começar meu trabalho na televisão, depois de tantos anos de palco, com um personagem desta envergadura.

Agradeço muito ao João Emanuel Carneiro, ao Sílvio de Abreu e a Denise Saraceni em me escolherem para encarná-lo. Ele era muito irônico e tinha embates quase de desenho animado com a Bárbara de Giovanna Antonelli, essas eram também chaves de sucesso. O bordão do personagem, “Calma Coração” é falado até hoje e fiz uma auto citação em Volta Por Cima, repetindo-o em uma cena, parte de uma sequência de homenagens que a Claudia Souto de maneira muito sutil fez durante toda a novela.

CE - Como Guilherme Weber lida com a crítica? E é muito autocrítico com o próprio trabalho?
GW -
 Não lido, rs, deixo acontecer e sigo em frente, e digo isso sem nenhum esnobismo, acho que é maturidade mesmo. Tem muitas frases maravilhosas sobre crítica, duas que eu adoro, a do Laurence Olivier, “uma crítica pode estragar meu café da manhã, mas jamais o meu almoço” e a que li como do grande Luis Fernando Veríssimo, “um crítico é alguém que assiste uma batalha do alto de uma montanha e quando ela acaba, desce e atira nos sobreviventes.”

Sou muito observador do meu próprio trabalho, mas pelo entusiasmo da criação contínua.

CE - Com tantos trabalhos no currículo e outros à vista, o que Guilherme Weber ainda não realizou na profissão?
GW -
 Quero dirigir uma ópera.

CE - Você é um artista que trabalha bastante – inclusive em projetos bem populares como as novelas- e consegue manter a vida mais discreta. Como você lida com a exposição que a fama traz?
GW -
 Recebo a exposição como puro carinho do público e reconhecimento do meu trabalho, não me incomoda em nada.

 

 

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail marketing@correiodoestado.com.br na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).