“Se eu morrer alhures, onde quer que seja, morrerei um exilado e um proscrito de mim mesmo. Aqui não morreria de todo. Ouviria o passo e a voz dos meus amigos, o gorjeio dos pássaros que amo, o farfalhar das frondes que conheço e o bater do coração da minha casa”.
O autor das linhas acima é Ulysses Serra (1906-1972), e a casa à qual se refere o escritor, um luminoso e elíptico pavimento de lembranças, que passa por diferentes cidades de MS, transformado na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL) por meio da homenagem no busto do autor, inaugurado em maio de 2018, na atual sede da instituição.
Escritor, tabelião e político, sempre ligado ao mundo das letras, Ulysses é um memorialista de mão cheia, do quilate de um Pedro Nava (1903-1984), e fundador da Academia, na qual é o homenageado do mês na Roda de Conversas e Leituras a ser realizada hoje, com entrada franca, a partir das 19h30min, na ASL, Rua 14 de Julho, nº 4.653, Altos do São Francisco.
Personagem que deixou para Mato Grosso do Sul um de seus maiores marcos culturais, a própria Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, o autor de “Camalotes e Guavirais” (1971) recebe mais uma celebração da ASL, com apresentação dos acadêmicos Raquel Naveira, Reginaldo Araújo e Rubenio Marcelo. Os Chás e Rodas Acadêmicas de 2024 são uma parceria entre a casa literária e a Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura (Setesc).
Também estão programadas uma exposição de artes visuais da Confraria Sociartista e a apresentação do projeto Movimento Concerto, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), com sua vertente Música Erudita e Suas Fronteiras. E, após a palestra, na confraternização, Eduardo Martinelli (violão) realiza um breve recital, ao lado de Brenner Rozales (violino) e Jorge Cáceres (contrabaixo acústico).
ULYSSES
Filho de Arnaldo Olavo de Almeida Serra e Júlia Barbato de Almeida Serra, o escritor Ulysses Serra nasceu em Corumbá, em 1º de setembro de 1906, e passou grande parte de sua vida em Campo Grande. Formou-se como perito contador em São Paulo e iniciou a Faculdade de Direito no Rio de Janeiro.
Retornando a Campo Grande no período do governo de Getúlio Vargas, foi membro do Conselho Administrativo de Mato Grosso e deputado estadual classista. Ulysses depois se tornou tabelião e escrivão do 5º Ofício (da Comarca de Campo Grande) e presidiu o Partido Social Democrático (PSD). Foi eleito vereador. Pertenceu, ainda, ao Rotary Clube de Campo Grande, à Academia Mato-Grossense de Letras e à Associação Comercial de Campo Grande.
Lançou, em 13 de outubro de 1971, o seu antológico livro “Camalotes e Guavirais”, que é obra referencial da literatura sul-mato-grossense. Fundou, em 30 de outubro de 1971, na chácara de sua propriedade, de nome Gisele, a Academia de Letras e História de Campo Grande. Posteriormente, com a criação do novo estado de MS, em 1978, Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.
A fundação da Academia teve participação também de José Couto Vieira Pontes e Germano Barros de Sousa. Ulysses Serra faleceu no Rio de Janeiro, no dia 30 de julho de 1972, fato que o impediu de participar da instalação oficial da Academia, que ocorreu no dia 13 de outubro de 1972, em grande festa cultural em Campo Grande.
OS ACADÊMICOS
Participantes desta Roda, os imortais Raquel Naveira, Reginaldo Araújo e Rubenio Marcelo estudaram e pesquisaram por semanas a vida e a obra de Ulysses Serra para a apresentação de sua trajetória de vida e sua importância na ASL.
Raquel Naveira, cadeira número 8 da ASL, é natural de Campo Grande, formada em Direito e em Letras pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), onde lecionou. É doutora em Língua e Literatura Francesas pela Universidade de Nancy (França) e mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP).
Lecionou por anos no Ensino Superior na área de Letras. Escritora e poeta, tem mais de 20 livros publicados, com vasta obra e participação em inúmeras coletâneas. Autora extremamente premiada, já teve indicações ao Prêmio Jabuti. Participa constantemente de inúmeros projetos literários pelo País.
Reginaldo Araújo, cadeira número 21 da ASL, é natural de Salgueiro (PE) e reside em MS desde o fim da década de 1970. Bacharel em Teologia, licenciou-se em Educação Escolar. Formado também em Pedagogia, pela UCDB, exerceu o ofício de professor durante vários anos, em diversas escolas
Foi responsável, no período de 1990 a 1995, pelos cursos oferecidos pela Patrulha Mirim de Campo Grande. Fundou, em 1989, a Associação de Novos Escritores de MS (ANE) e, posteriormente, criou o jornal cultural Arauto. Autor de inúmeros livros, é ex-presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.
Rubenio Marcelo, cadeira número 35 da ASL, é natural de Aracati (CE) e reside em MS desde meados da década de 1980. É poeta, escritor, ensaísta e compositor, membro e atual secretário-geral da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Foi conselheiro estadual de Cultura (MS).
Autor de 14 livros publicados e 3 CDs, destacam-se nas suas obras mais recentes os livros “Vias do Infinito Ser” (poemas), indicado pela UFMS como leitura obrigatória para o vestibular e o triênio 2021-2023 do Passe, e “Caminhos”, antologia de poemas lançada recentemente.
AGNES RODRIGUES
Expondo na ASL pela Confraria Sociartista, Agnes Rodrigues completa 80 anos neste mês. Artista naïf nascida em Campo Grande, continua a se expressar por meio da pintura com a mesma paixão e entusiasmo.
Realizou inúmeras exposições individuais e coletivas desde a década de 1990 até a atualidade e suas obras continuam a encantar a todos com sua liberdade de expressão. Mesmo com conhecimento acadêmico, ela produz arte naïf “em um processo pictórico da realidade individual, com uma visão livre de influência acadêmica”.
Por meio da intuição e da emoção, Agnes constrói formas, espaços e cores que expressam suas vivências e seu imaginário. As imagens surgem de intenções, inquietações, dores e desafios, principalmente de lembranças vividas da construção e da transformação da Capital.
GABRIEL DOS SANTOS
Realizado em parceria pelas ASL e a UFMS, o projeto Movimento Concerto, com sua vertente Música Erudita e Suas Fronteiras, terá a participação de Gabriel dos Santos. Músico, professor de Música e acadêmico no curso de Música da UFMS, durante vários anos, atuou como músico acompanhante nas noites de Campo Grande.
Dedica-se integralmente na atualidade ao ensino de violão e música instrumental. Gabriel interpretará os seguintes temas: “Minueto em Lá Maior”, de Fernando Sor (1778-1839), “Estudo in Em” (Gabriel dos Santos) e “Como Eu Quero” (Leoni/Paula Toller).
MARTINELLI
Além de seu trio e outras formações de grupos instrumentais, Eduardo Martinelli atualmente é maestro da Orquestra Sinfônica de Campo Grande, com a qual tem se apresentado ao lado de solistas brasileiros e de países como EUA, Itália, Coreia do Sul, Argentina, Suíça, Canadá, Trinidad y Tobago, Paraguai, Portugal, Bolívia e Uruguai.
Em seu repertório, constam obras sinfônicas tradicionais e importantes estreias de destacados compositores. Já se apresentou como solista, camerista e maestro convidado em diversos países da América e da Europa. Para a apresentação de hoje, Martinelli anuncia uma proposta de música ambiente, com temas de jazz (“All of Me”, “Fly Me to the Moon”, etc.), MPB e música clássica.