Mais que moradia, a casa em que vivemos pode ser reflexo do nosso comportamento e estado emocional. Um ambiente escuro, abafado e bagunçado tem poder de desencadear sentimentos negativos, de isolamento e tristeza. Já um local arejado, bem iluminado e harmônico pode estimular a criatividade e o bem-estar.
É isto que defende o arquiteto e escritor Carlos Solano, que ensina uma técnica intitulada “terapia da casa”. Em outras palavras, são “artes do cuidado”, desenvolvidas para morar e viver melhor.
O arquiteto, que é sul-mato-grossense, nascido em Bela Vista, mas reside em Belo Horizonte – Minas Gerais, afirma que com pequenas alterações é possível melhorar a qualidade do lar. Por exemplo, plantas tem o poder de “limpar” o ar do ambiente, cores quentes são estimulantes e cômodos organizados, sem acúmulo de tranqueiras, transmitem harmonia e satisfação.
Atualmente, com a rotina atribulada, Carlos percebe que as pessoas estão cada vez mais distantes do cuidado do lar. “As pessoas estão voltadas para fora: fora de si mesmo, fora das próprias casas. Almoçam foram, passam o dia inteiro e até os fins de semana longe de casa”, analisa.
O profissional alerta que esse distanciamento pode não ser saudável, pois a casa é mais que um abrigo. “Casa e pessoa interagem constantemente, um influencia o outro”, define.
CUIDADO
A produtora cultural e artista de dança Roberta Siqueira, 47 anos, é uma das pessoas que decidiram adotar as “terapias de casa” para melhorar o ambiente e sua qualidade de vida.
“Tenho praticado a técnica do cuidado, como faxinar com ervas, borrifar aromas, desapegar daquilo que já não é mais útil e, com isso, deixar espaço para o novo e optar por cores mais claras na composição das salas”, relata.
“Me estimula a clareza e a ordem interna”, afirma Roberta, que mora com o marido, que ajuda nos cuidados diários.
Ela também acredita na importância de incorporar o verde e a natureza em sua residência. “Tenho uma linda árvore jasmim-manga, um pé de jabuticaba que ganhei do marido e um pequeno ervário em vasos, os pássaros estão sempre por aqui, cantando, é muito aconchegante”.
CONFORTO
Para a arquiteta e designer de interiores Ludmila Vasco, deixar o ambiente do jeito que lhe agrade é realmente sinal de uma vida mais tranquila e feliz. “Quando você não está satisfeito onde você mora, tudo te incomoda, então você já fica mais irritado”, pontua.
Em sua experiência profissional, Ludmila relata que muitas pessoas criam projetos de residência levando em consideração a opinião de terceiros, o que pode trazer transtorno e decepção. “A pessoa tem de pensar no próprio conforto. Tive uma cliente que queria fazer um banheiro extra porque a vizinha falou que valorizaria a casa. Eu perguntei: ‘a vizinha vai vir lavar esse banheiro para você?’”, conta.
A arquiteta destaca que é preciso atenção especial para o quarto da pessoa, pois é o lugar de relaxamento. “As cores influenciam bastante. Se você é uma pessoa irritada, o vermelho pode piorar”, exemplifica.
Sempre que vai conceber um projetou ou realizar alterações em um imóvel, Ludmila senta e conversa com o cliente. “Eu pergunto a rotina inteira, porque muitas vezes as pessoas não têm noção do que é mais confortável para elas. A casa é muito mais que moradia, é o local de conforto da pessoa. Muita gente faz casa pensando nos outros, em receber os amigos. É preciso dosar”, aconselha.
SEM CUSTO
O arquiteto e escritor Carlos Solano afirma que é possível revitalizar sua casa com pouco custo financeiro. Algumas mudanças nem precisam de investimento.
Um dos principais pontos é desapegar. Carlos usa um verbo que ele mesmo inventou, “destralhar”, que é “limpar toda a tralha”.
“Tirar aquelas coisas que são indesejadas, que não tem utilidade. Esse ‘destralhamento’ representa uma liberação, uma renovação”, explica.
Também é possível realizar remanejamentos: pintar paredes com cores mais adequadas, trocar os móveis de lugar, abrir espaços para entrada de iluminação e ar, aumentar as plantas nos ambientes e jardim, consertar peças estragadas.
“São intervenções muito simples, porém significativas”, defende Carlos. “A gente acredita que a casa não é feita só de tijolos, ela é feita de significados, memórias, vivências e atitudes. Tudo isso também compõe o imaginário da casa”, finaliza.