Os problemas causados pelo mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), uma das espécies invasoras mais prejudiciais ao Brasil, podem estar próximos de uma solução definitiva graças a uma abordagem inovadora baseada na modificação genética.
O projeto de controle biotecnológico da infestação desse molusco, que causa um prejuízo milionário ao setor elétrico, vem sendo conduzido pela Bio Bureau Biotecnologia, empresa que se dedica à pesquisa de tecnologia para a conservação em escala da biodiversidade (biodiversity tech).
Desenvolvida em parceria com diversas instituições, a iniciativa chegou recentemente ao fim de sua terceira fase – e com motivos para celebrar. São avanços científicos e estruturais que abrem o caminho para a eliminação gradual da espécie em reservatórios brasileiros.
E desde 2017, o projeto integra o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (P&D Aneel), do governo federal.
A iniciativa combina esforços de cientistas nacionais e internacionais para combater a praga, uma vez que ela causa prejuízos anuais de R$ 400 milhões ao setor elétrico, ao entupir as turbinas e as tubulações de 40% das hidrelétricas brasileiras, além de impactar ecossistemas inteiros.
Liderado pela geradora de energia CTG Brasil, de origem chinesa, o P&D Aneel tem o apoio de várias instituições, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Spic Brasil (que integra o Grupo Spic – State Power Investment Corporation Limited, também chinês, responsável pela geração do maior volume de energia solar do mundo), a concessionária Tijoá Energia, o Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras e, mais recentemente, a empresa Hubz (especializada em projetos de inovação).
DNA SINTÉTICO
A fase três desenvolveu um protótipo de mexilhão-dourado adulto geneticamente modificado, um passo importante na criação do mexilhão equipado com DNA sintético para ativar o mecanismo de gene drive, induzindo a infertilidade na espécie.
“Com o ambiente regulatório progressista do Brasil, temos chance de ser o primeiro grupo a aplicar a tecnologia de gene drive para o combate de uma espécie invasora no ambiente”, explica Mauro Rebelo, fundador da Bio Bureau e especialista de mexilhão-dourado desde 2005.
Os avanços nas fases anteriores foram essenciais para o sucesso atual. O sequenciamento genômico de alta qualidade resultou em um genoma classificado como platinum por referências internacionais. Esse recurso permitiu identificar genes-alvo para o controle biotecnológico e criar um banco genético compartilhado entre o mexilhão-dourado e outros organismos, ampliando as informações biológicas disponíveis.
Métodos para medir a intensidade da infestação e a modelagem ecológica, com o objetivo de entender a herança genética da infertilidade, foram desenvolvidos em paralelo, estabelecendo uma base sólida para os testes de eficiência e segurança em ambientes controlados.
IMPACTOS
O impacto ambiental e econômico causado pelo mexilhão-dourado vai muito além das hidrelétricas. O molusco prejudica a piscicultura, ao obstruir tanques-redes, reduz a qualidade da água e força o aumento no uso de antibióticos.
Afeta ainda a biodiversidade, uma vez que algumas espécies de peixes ingerem o molusco, que continua crescendo em seus organismos, além de comprometer a navegação e o ecoturismo.
Com origem nos rios do Sudeste Asiático, o mexilhão-dourado é uma espécie invasora que foi introduzida acidentalmente na América do Sul há quase 30 anos e que atualmente está amplamente disseminado em rios e reservatórios brasileiros.
PRÓXIMOS PASSOS
O sucesso do projeto depende de investimentos significativos e da colaboração de diversos setores. A CTG Brasil liderou o financiamento das fases um a três, com um aporte de R$ 7,5 milhões, e segue com o interesse em continuar investindo.
Já a Spic Brasil e a Tijoá Energia contribuíram com R$ 5,2 milhões. As etapas futuras, que incluem o escalonamento da produção e testes de controle e eficácia, têm uma estimativa de custos que variam de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões ao longo de um período de 5 a 10 anos.
“A inovação é uma de nossas diretrizes, e apoiar soluções que protejam o setor elétrico e o ecossistema está alinhado à nossa filosofia de atuação. Porém, é preciso engajamento e investimento conjunto dos diversos atores afetados pelo mexilhão-dourado e ações conjuntas com órgãos reguladores”, destaca Soraia Quicu, especialista de P&D da CTG Brasil.
A Bio Bureau segue à frente no desenvolvimento biotecnológico, enquanto a Hubz liderou os esforços para criar métodos de mensuração da infestação.
“Medir a infestação em cada reservatório é essencial para controlá-la de forma eficaz”, afirma José Lavaquial, diretor da Hubz.
Com base nos resultados já alcançados e no engajamento de múltiplos atores, o projeto representa uma solução promissora e sustentável para um dos maiores desafios ambientais do País.
A combinação de ciência, tecnologia e colaboração intersetorial promete não apenas mitigar os prejuízos causados pelo mexilhão-dourado, mas também proteger os ecossistemas brasileiros e garantir maior eficiência no setor elétrico nacional.
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