Correio B

ENTREVISTA

Antonio Calloni, o Júlio de "Éramos Seis", da Globo

Na novela, o ator faz mais um personagem com data marcada para sair do ar

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Antonio Calloni se tornou, nos últimos anos, um dos atores mais requisitados de sua geração na tevê. Porém, pelo menos nas novelas, vem interpretando personagens com prazo de validade curto dentro das histórias. Foi o que aconteceu em “Os Dias Eram Assim”, em que o empreiteiro Arnaldo morria de infarto no começo da segunda fase; em “O Sétimo Guardião”, onde apareceu por 16 capítulos; e agora, como o vendedor de tecidos Júlio, na quinta versão de “Éramos Seis”. “Foi coincidência, mas não reclamo. Acho maravilhoso fazer um trabalho com mais calma e dedicação. Mas, se tiver de fazer uma novela inteira, farei, sem problema”, garante.

Na história, Júlio se esforça para honrar todos os compromissos financeiros de sua família – principalmente o financiamento do casarão em que mora e a educação dos quatro filhos que tem com Lola, papel de Gloria Pires. Para aliviar o estresse e desabafar suas frustrações, porém, recorre ao cabaré da trama, onde mantém um caso com Marion, vivida por Ellen Rocche. É lá também que Júlio toma umas doses a mais, preocupando sempre a mulher e fragilizando ainda mais sua própria saúde. “Acho que o peso de ser o provedor de quatro filhos em uma casa gigantesca que a esposa quis comprar é muito grande para o Júlio. Isso é algo que a gente carrega até hoje. Já mudou, mas ainda precisa melhorar. Essa carga realmente adoece as pessoas”, analisa.

P – Em “Éramos Seis”, qual é o seu maior desafio?

R – Fazer um homem simples. A simplicidade é extremamente difícil. Confesso, modéstia à parte, que também me considero um homem simples, não tenho grandes arroubos de excentricidade. Mas fazer esse universo, artisticamente falando, é difícil. Você precisa torná-lo interessante. Esse é o desafio aqui e eu estou adorando fazer.

P – Fisicamente, você está mais magro que em “Assédio”, seu último trabalho exibido na tevê antes de “Éramos Seis”. Foi proposital?

R – O Júlio tem úlcera. Acho que ele gosta de comer. Mas, ao mesmo tempo, não pode exagerar, porque ataca o estômago. Então, para esse personagem, achei que era melhor perder um pouquinho de peso. Nessas horas, o que costumo fazer é comer de tudo, só que menos um pouco. Eu ando de bicicleta e, quando não consigo, subo as escadas do prédio – o que também é muito bom. São dez andares. Academia eu não frequento. Não tenho nada contra, mas prefiro atividades ao ar livre. Porém, não sei quanto eu perdi.

P – “Assédio” chamou bastante atenção. O que representou, na sua opinião, para sua carreira?

R – Foi um dos trabalhos mais incríveis que já fiz. Fundamental para esse tema, que precisa acabar. Politicamente, é um trabalho muito importante não só para o Brasil, mas para o mundo todo. Quanto mais a gente discutir essa questão, mas ela tende a ser resolvida. E o mais rápido possível, que é o que espero.

P – Em novelas, você tem feito personagens que não ficam até o final. Isso é um pedido seu?

R – Coincidência, mas não reclamo. Acho maravilhoso, dá para fazer um trabalho com mais calma e dedicação. Mas, se eu tiver de fazer uma novela inteira, farei, sem problema nenhum. Em “Éramos Seis”, a previsão é que eu fique até o capítulo 48. Em “O Sétimo Guardião”, foram 16. Talvez, na próxima, eu faça inteira (risos).

P – Suas cenas em “Éramos Seis” mostram, cada vez mais, a questão do alcoolismo de Júlio. De que forma esse tema será abordado?

R – Essa é a válvula de escape do Júlio, é onde ele consegue se desafogar um pouco dessa pressão de ser o provedor, de ter de pagar a casa e a educação de quatro filhos. Até hoje isso é comum. Na história, o Júlio até fala com a Lola sobre vender a casa, mas aquele é o sonho dela e ele aceita. A contradição do personagem é essa e é muito bonita: ele é apaixonado pela Lola e quer que a família seja feliz.

P – Mas ele tem uma amante...

R – Só que não se apaixona. Tem o caso com a Marion, do cabaré. É uma relação bonita porque, além do sexo, há um companheirismo e uma intimidade de amigos. Tudo que ele não consegue falar em casa, diz para ela. E a Marion tem essa sabedoria de entender, uma inteligência de vida bem interessante. Ele precisa desabafar com alguém os conflitos, as frustrações, mas não se apaixona. Ela é uma confidente. Na época, era uma coisa muito comum o homem dar suas saidinhas, ter uma amante e a mulher fingia que estava tudo bem.

P – Hoje, como você acha que as mulheres encaram esse tipo de situação?

R – A cabeça da sociedade mudou, embora o machismo ainda esteja mais presente do que eu gostaria e do que as mulheres gostariam. Sem dúvida, houve avanços, mas podemos melhorar muito. O empoderamento feminino está cada vez mais presente, sentimos isso e ainda bem! Até hoje, há resquícios daquela criação machista. Mas esse tipo de compreensão que a mulher tinha já não existe mais. Agora, é “ok, se ele dá as saidinhas dele, eu vou dar as minhas também”.

P – Em dezembro, o Viva vai reprisar “O Clone”. Quais são suas lembranças dessa época?

R – Até hoje, é inacreditável como essa novela tomou conta do mundo. Recebo mensagens dos países mais diferentes do planeta. É impressionante como deu certo. E que delícia ter feito. Vou assistir de novo e me divertir. Às vezes, vejo no Instagram algumas cenas, tem gente que coloca ali.

P – O que você acha que mudou na sua vida de lá para cá?

R – Interiormente, vamos ganhando experiência, maturidade e calma. O senso de paciência sobre as coisas melhorou muito. Gostaria de ser bem mais paciente do que eu sou, mas melhorei bastante. O tempo faz a gente compreender o movimento da vida. Essa foi uma mudança que eu gostei de viver.

Voz da experiência

Para interpretar Júlio em “Éramos Seis”, Calloni contou com uma ajuda importante. A Globo promoveu um workshop da equipe do remake com profissionais que participaram de outras versões do romance de Maria José Dupré, publicado em 1943. Nicette Bruno, que viveu Lola na versão de 1977, produzida pela extinta Rede Tupi, e Othon Bastos, que interpretou Júlio na adaptação mais recente antes da atual, de 1994, feita pelo SBT, conversaram com o grupo. “Ele falou muito da novela, do papel, foi bem generoso. Sou bem agradecido ao Othon”, lembra Calloni.

Mesmo assim, Calloni não viu outras versões de “Éramos Seis” para interpretar o patriarca da família Lemos no texto de Angela Chaves. Até porque, para ele, é preciso que cada leitura que se faça dessa história acompanhe as mudanças da época em que é feita. “Isso, claro, sem descaracterizar a história original. Torço para que, daqui a alguns anos, seja refeita essa novela e com uma nova visão, de outro período. Isso é bem estimulante”, defende.

Direções incertas

A carreira tão bem-sucedida de Antonio Calloni na televisão pode fazer parecer que o paulistano de 57 anos direcionou sua vida para chegar ao ponto em que está. Mas, pelo menos de maneira consciente, o ator garante que isso não acontece. “Não tenho nenhum planejamento. A vida tem de ter movimento e não pode parar. E eu gosto de seguir o fluxo, não crio muitas expectativas. Prefiro ter fé de que as coisas vão acontecer do jeito que elas têm de acontecer”, filosofa.

A dedicação intensa a veículos como a tevê e o cinema, no entanto, fazem com que Calloni precise abrir de alguns hobbies em sua vida. Inclusive dos mais simples. “Gosto muito de ver séries e de ler, por exemplo. Mas não consigo no ritmo que eu gostaria. Amo viajar e fica difícil, porque o tempo que dedicamos a uma novela é muito intenso”, confessa.

Instantâneas

# Antonio Calloni começou a atuar em 1978, fazendo teatro de periferia, em São Paulo.

# Em 1980, inscreveu-se no curso de teatro de Célia Helena, com três anos de estudo, e esteve também no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), dirigido por Antunes Filho.

# Sua estreia na tevê aconteceu em 1986, na minissérie “Anos Dourados”, da Globo.

# Em 33 anos de carreira na tevê, Calloni fez apenas dois trabalhos fora da Globo. O primeiro foi a novela “Brasileiras e Brasileiros”, do SBT, em 1990, e o segundo foi “74.5: Uma Onda no Ar”, na Manchete, em 1994.

Diálogo

Tremenda de uma "cascata" a informação apregoada pelo governo de Lula que... Leia na coluna de hoje

Leia a coluna desta terça-feira (23)

23/12/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Cecília Meireles - escritora brasileira

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”

Felpuda

Tremenda de uma “cascata” a informação apregoada pelo governo de Lula que ele ressarciu os aposentados, vítimas da roubalheira de esquema que envolve pessoas ligadas ao INSS, empresas privadas, ONGs, laranjas e políticos. Na realidade, essa conta sobrou para o cidadão, inclusive os próprios aposentados que pagam Imposto de Renda. Nenhum dos bandidos até agora restituiu aos cofres públicos o dinheiro que roubou. Aliás, a maioria está sendo blindada de forma vergonhosa. Há quem diga até que buscam “freio” para que a CPMI do INSS comece a patinar e não avance. Lamentável!

Pra cabeça

Quem entrará em 2026 com problemas no Conselho de Ética da Câmara é a deputada federal Camila Jara, do PT. O Partido Novo protocolou representação contra ela.

Mais

A acusação é de violação do decoro, ao se envolver na confusão originada quando da retirada à força de Glauber Braga, do Psol, e de ofensa ao secretário-geral da Mesa Diretora.

Diálogo

O vorí-vorí, tradicional prato paraguaio, foi eleito o melhor do mundo na lista anual do Taste Atlas, plataforma internacional que reúne avaliações gastronômicas de todas as partes do planeta. A iguaria recebeu nota 4,64 de 5, com base em votos de usuários reais que experimentaram o prato. Conhecido também como borí-borí, o vorí-vorí é descrito pelo portal como “a icônica sopa de galinha paraguaia com bolinhos de fubá recheados com queijo”. Rico em sabor, textura e história, o prato ocupa um lugar especial na mesa das famílias paraguaias e agora também no cenário global da gastronomia. Nos últimos anos, o vorí-vorí já havia figurado entre as melhores sopas do mundo em rankings do mesmo portal, reforçando sua reputação. A lista do Taste Atlas se tornou referência global por utilizar um sistema que identifica e descarta avaliações nacionalistas ou feitas por robôs, garantindo legitimidade às escolhas.

DiálogoChayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral

 

DiálogoCamila Fremder

Prova de fogo

O atual time que forma o entorno do governador Eduardo Riedel terá, no próximo ano, prova de fogo, porque a missão deverá ser reeleger o “chefe” para o segundo mandato. Será o momento de a tchurminha provar quem é quem na estrutura. Quando foi eleito em 2022, Riedel nunca havia disputado uma eleição, porém, tinha um grupo político forte que sabia “o caminho das pedras”, o que foi fundamental para sua vitória. Em 2026, ele não poderá contar com esse pessoal.

Nem tanto

O PT em Mato Grosso do Sul já não estaria demonstrando, digamos, tanto amor pela candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Senado pelo Estado, achando ser melhor por São Paulo. Lideranças petistas cá dessas bandas dizem que a ministra poderá ser um dos nomes para suceder a Lula. Ela figura entre algumas opções para ocupar o trono petista. A lista tem Alckmin, do PSB, e Haddad, o único do PT. Tudo indica que não se faz mais petista raiz como antigamente...

Entrave

Nos bastidores, o que se fala é que a ministra Simone Tebet, até então considerada excelente opção para disputar o Senado por MS, seria fonte de problemas. Algumas das alas do PT teriam torcido o nariz com a possibilidade de ela disputar pelo partido, até porque esse time lembra de que, quando candidata à Presidência, ela desferiu ataques a Lula. Além disso, há dúvidas se no Estado teria potencial eleitoral para o embate com outros candidatos, em sua maioria da direita, tendo em vista que o governo do qual faz parte, dizem, “está caindo pelas tabelas”

ANIVERSARIANTES

Beatriz Rahe Pereira, 
Dr. Gevair Ferreira Lima Júnior,
Julianne Stranieri Metello, 
Stephan Duailibi Younes, 
Maria Fatima Bueno,
Adhemar Mombrum de Carvalho Neto,
Augusto Costa Canhete,
Rosangela Neves,
Edgar Basmage,
Gileno Almeida Costa Nonato,
Sérgio Aguni,
Rinaldo da Silva Cruz,
Edna Maria Potsch Magalhães,
Dr. Márcio Molinari,
Ivo Batista Benites,
Ronaldo Fernandes Donizeti de Jesus,
Fabiano Borges da Silva,
Maria Aparecida Menezes,
Rafael Medina Araujo,
Rosilene Gois Paes,
Antonio Angelo Garcia dos Santos,
Maria Elisa Hindo Dittmar,  
Beatriz de Almeida,
Dr. Amaury Bittencourt Gonçalves, 
Izabella de Matos Lopes,
Cláudia Regina Di Felice,
Neide machado da Silva Gimenes,
Domingos Puckes,
Silvio Luiz de Moura Leite,
Helder Kohagura,
Maria Clementina Aparício Fernandes,  
Aurino Rodrigues Brasil,
Tânia Ignez Pinheiro,
Marilda Flores Haidar,
Samara Carvalho Gomes Binn,
Josselen Resstel Escórcio,
Valdo Maciel Monteiro,
Luiz Eduardo Yukio Egami,
Rafael Ferreira Ribeiro Lima,
Leila Maria de Albuquerque,
Maria Aparecida de Moura Leite, 
Datis Alves de Souza,
Aurea Leite de Camargo,
Maria de Fátima Vendas Muzzi, 
Thiago Ferraz de Oliveira,
Ruth Lopes Abreu,
Sandra Rodrigues Pereira,
Paulo da Costa Oliveira,  
Paulo César Reis Mendonça,
Fernanda Marques Ferreira,
Terezinha Alves Araújo,
Lucilaine Aparecida Tenorio de Medeiros,
Maria Helena Alves Lima,
Rosana Paes de Matos,
Laura Holsback Alvarenga,
Renato de Freitas Martins,
Miriam Fontoura Prata,
Nelson Maia de Melo,
Cleonice Gomes de Oliveira,
Rodolfo de Morais Dias,
Jussara Leite Barbosa,
Hugo Sabatel Neto,
Carolina Saves,
Solange Xavier Vargas,
Augusto Coelho Freire,
Soraia Kesrouani,  
Rubens Mendes Pereira,
Lilian Gabriela Heideriche Garcia,
Ana Maria Coimbra Santos,
Nelly Vasconcelos Coelho,
Valmir de Andrade Ferreira,
Eliana Miyuki Aratani Kaiya, 
Flávia Ribeiro Ramirez,
Laurinda Paiva Peixoto,
Patrícia de Souza Queiroz,
José Antônio Braga,
Elaine Viana Nunes,
Washington Justino Gonzaga,
Maria Stella Maia Pepino,
Vânia de Toledo Neder,
Osvaldo de Moraes Barros Neto,
Raquel Barbosa Franco,
Suely Ferreira Leal,
João Rafael Sanches Florindo,
Antonio Fernando Cavalcante,
Lúcia Torres Marchine,
Marcos Henrique Boza,
Adriana de Oliveira Rocha,
Suely Luiza Comerlato,  
Benedito Celso Dias,
Alirio Leitun,
Débora Queiroz de Oliveira,
Edson Pulchério Alves,
João Borges da Silva Filho,
Mário Zan Moreira,
Marcelo Luiz Ferreira Correa,
Valdecir Jorge,
Sérgio Carlos Borges,
Dr. Ruy Alberto Bueno,  
Marta Maria Vicente,
Guilherme Nucci dos Reis,
Marcelo Flores Acosta,
Noêmia Ramos de Oliveira,
Luiz Carlos de Carvalho,
Cláudia Garcia de Souza Trefilo,
Leonardo Marques Mourão,
Maria Delfina Louveira Trindade,
Camyla Queiroz de Faria Gonzales. 

*Colaborou Tatyane Gameiro

CINEMA

Curta-metragem "Carne Amarela" transforma a Terra do Pé de Cedro em set de filmagens

Com produção de Marcus Teles e direção de Gleycielli Nonato Guató, curta-metragem "Carne Amarela" tem equipe local e conta história que entrelaça memórias da infância em meio aos pequizeiros e banhos de rio

22/12/2025 10h30

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab),

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da natureza Divulgação: Marcus Teles

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Nostalgia e engajamento são os motores para evocar os sabores da infância que fizeram Coxim voltar a ser cenário de cinema. Conhecida como Terra do Pé de Cedro, a cidade localizada a 245 quilômetros de Campo Grande, no norte do Estado, é uma das protagonistas de “Carne Amarela”, curta-metragem de ficção dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles.

Os dois nasceram na cidade, que também é conhecida como Portal do Pantanal, e são profundamente conectados ao Cerrado e ao Pantanal.

As filmagens se encerraram ontem e foram realizadas integralmente por lá, contando com elenco local, que envolveu moradores atuando pela primeira vez na frente de uma câmera e também uma equipe de produção majoritariamente formada por coxinenses. Ou seja, uma combinação de saberes tradicionais, talento regional e formação técnica.

A produção nasce do desejo de fazer Coxim se ver na tela grande, “suas cores, sua luz, seus frutos, suas infâncias”, como afirma a diretora. E nasce, segundo Gleycielli, também da necessidade urgente de lembrar o que esses mesmos elementos significam para a identidade do município.

“Eu estou completamente em êxtase. Planejei muito trazer esse filme para cá. É emocionante gravar na cidade onde cresci, com o povo daqui, com artistas da terra. Noventa por cento do elenco é coxinense, a equipe tem muita gente da cidade, e isso me deixa profundamente feliz”, compartilha Gleycielli Nonato Guató, que, além de dirigir a produção, também assina o roteiro baseado em seus próprios textos literários.

DOIS TEXTOS

“Carne Amarela” nasce de dois textos de Gleycielli – o poema “Carne Amarela” e o conto “É Tempo de Ouro no Cerrado” – que guardam lembranças de uma Coxim que pulsava mata, rio e fruta. A diretora explica que o filme busca reencontrar essa paisagem quase perdida.

“Eu quero trazer a infância que vivi. A gente saía para caçar pequi, pegava ingá, comia goiaba no pé, trazia caju para fazer doce. Coxim era meu ‘Sítio do Picapau Amarelo’. Hoje, muitos lugares onde eu brincava viraram bairros. O filme é um lembrete do que ainda existe e do que não pode desaparecer”, afirma.

A obra convida as crianças e os adultos a olhar novamente para o Cerrado como pertencimento. O pequi, fruto central da narrativa, é apresentado como força, resistência e alimento da memória coxinense.

“O pequi já sustentou muitas famílias. Trouxe renda, trouxe mistura, trouxe nutrição. Ele resiste ao fogo, resiste ao tempo, mas não resiste ao machado. O filme quer acender esse sentimento de pertencimento e preservação, para que as próximas gerações vejam valor no que tantas vezes sustentou Coxim”, ressalta Gleycielli.

ZORAIDE

A protagonista adulta, Zoraide, teve como referências mulheres de alusão familiar e ancestral para Gleycielli: sua mãe, tias, avó e bisavó. A diretora revela que a personagem carrega traços de todas elas. E quem interpreta Zoraide é justamente Maria Agripina, mãe da diretora, pioneira do teatro coxinense.

“É muito emocionante ver minha mãe interpretando a Zoraide, que leva o nome da minha tia que faleceu na pandemia. Este filme é pioneiro em muitas coisas dentro de mim”, revela. Além disso, todos os cargos de direção são ocupados por mulheres, fortalecendo a presença feminina no audiovisual sul-mato-grossense.

“Trabalhar com essa equipe é um prazer imenso. Estamos construindo juntas. É uma energia muito poderosa”, afirma. A equipe ainda é formada majoritariamente por profissionais de Coxim, como Robertson Isan Vieira, artesão ceramista premiado, e José Carlos Soares, cabeleireiro e designer de imagem.

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da naturezaEquipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles

ENCONTRO

Para o produtor executivo e corroteirista Marcus Teles, filmar em Coxim não foi uma escolha estética, mas ética e afetiva. “Coxim faz parte da nossa formação pessoal e artística. Os textos que deram origem ao filme nasceram daqui.

A luz, a paisagem, o modo de vida, o jeito como o pequi aparece na cidade, tudo isso faz parte da essência da história. Filmar em Coxim é garantir autenticidade”, afirma Marcus.

O produtor explica que mapear as locações foi um processo guiado pela afetividade. “Coxim é uma cidade onde o urbano e o rural se encontram o tempo todo. Não procuramos cenários: reconhecemos neles o que a história já trazia em essência”.

Marcus destaca ainda que oito moradores da cidade trabalharam pela primeira vez no audiovisual, acompanhados de profissionais experientes. “Queremos abrir portas. Que jovens de Coxim encontrem no set um caminho possível, uma nova profissão, um futuro”, destaca o produtor.

101 FILMES

O elenco também conta com a participação especial do ator Breno Moroni, que marcou gerações como o Mascarado na novela “A Viagem” (Globo, 1994), além de ter participado de diversas outras produções no cinema e na televisão.

Com uma carreira extensa que inclui desde aberturas de telenovelas e mais de 100 filmes, Breno esteve em Coxim para integrar o elenco de “Carne Amarela” como seu 101º trabalho audiovisual.

“Trazer o Breno foi como aproximar duas forças que se completam. Ele chega com experiência, mas com humildade. Ele senta na varanda e deixa a conversa fluir. É uma presença que soma sem apagar a simplicidade regional, que é a alma do filme”, reconhece Marcus.

“Ele é fantástico. Consegue ir do drama à palhaçaria. Traz o duo que a personagem dele pede: o velho ranzinza e o homem capaz de se transformar”, completa Gleycielli.

O CERRADO

O filme aborda temas urgentes como queimadas, perda de territórios e desmatamento, mas com a delicadeza necessária para o público infantil, segmento prioritário na meta de audiência da produção.

“O tema duro vem com sutileza. As crianças vão entender o sentimento de perder e o de pertencer. E, quando algo pertence a você, você quer cuidar”, explica Gleycielli. Ao fim, o curta reforça que a preservação é um aprendizado coletivo e que cuidar da terra só é possível quando ela é reconhecida como parte de nós.

Na semana passada, a equipe teve uma atividade formativa com Alexandre Lopes, que é doutor em Ciências Sociais e professor de Sociologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), no campus de Coxim.

A interação rendeu contribuições fundamentais para reflexão sobre como pensar e construir um audiovisual mais inclusivo.

AUTOESTIMA

A expectativa da equipe é de que o filme leve Coxim para o Brasil e para o mundo por meio de festivais, mas, principalmente, que devolva à cidade a consciência de seu próprio valor.

“Esperamos que Coxim se veja com carinho. Que perceba que suas histórias merecem estar no cinema. ‘Carne Amarela’ é uma celebração da cidade, das suas raízes e da força do Cerrado”, diz Marcus.

Para Gleycielli, a gravação na cidade é também um gesto de retorno. “Eu sou uma Guató de Coxim. Este filme diz muito sobre de onde eu vim e quem sou eu”.

Como uma “semente que rompe a casca”, reforça a diretora, “Carne Amarela” nasce para devolver à cidade o brilho do seu fruto mais resistente.

Aquele que atravessa gerações, que muda o PIB, que alimenta famílias, que resiste ao fogo e que ensina a permanecer. E Coxim, agora, se prepara para ver sua história ganhar corpo, cor, movimento e tela.

O projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), do governo federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).

"Carne Amarela"

> Direção e roteiro: Gleycielli Nonato Guató;
Direção de produção: Gabriela Lima Ferlin;
> Direção de arte: Maíra Espíndola;
Direção de fotografia: Dafne Alana;
Som direto e edição de mixagem: Laura Cristina;
Produção executiva, assistência de direção e roteiro: Marcus Teles;
Operador de câmera: Gabriel Ribeiro;
Produção de set: Jefley M. Cano;
Elenco: Breno Moroni, Maria Agripina, João da Mata, Elena Vendroscolo, Maria Sonea Domingos;
Trilha sonora original: Gian Markes;
> Edição de imagem e cor: Rafael Viriato;
Microfonista: 4real.wav;
Assistente de produção executiva: Lucas Moura e Guinha Serrou;
Assistente de produção e captação: Robertson Vieira;
Assistente de produção: Carlos Soares;
Assistente de arte: Angela Gabrieli;
2º assistente de direção: Eduardo Henrique;
2ª assistente de fotografia: Lavinia Ribeiro;
Assessoria de imprensa: Lucas Arruda e Aline Lira.

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