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Aprenda a fazer aquele que talvez seja o mais típico dos pratos de São Paulo: cuscuz paulista

Encare o desafio e aprenda a fazer aquele que talvez seja o mais típico dos pratos de São Paulo; a iguaria carrega influências tanto da tradição caipira verde e amarela quanto da culinária europeia e africana

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“No Brasil nada nos é estranho, porque tudo o é”. A frase, de Paulo Emílio Sales Gomes, pertence ao acirrado contexto da crítica cultural dos anos 1970.

Mas, deslocada de sua origem, também cai como uma luva para a mistura de itens, e de histórias, que marca a sua aventura do sabor deste fim de semana: cuscuz paulista.

Antes de qualquer coisa, vale ressaltar o que diz o crítico gastronômico, e cozinheiro de mão cheia, Ignacio Medina.

Por mais deliciosa que chegue aos nossos sentidos, o especialista diz que a receita da sugestão de hoje, na realidade, está muito longe de ser um cuscuz. Pelo menos conforme o prato é concebido no norte da África.

O que se utiliza, segundo Medina, é uma forma de bolo que vai sendo preenchida com o cuscuz resultante da mistura de farinha de milho grossa, farinha de mandioca, caldo de camarão ou de galinha e um refogado tradicional.

Com misturas, acréscimos, exclusões, adaptações, acasos e as contingências – históricas, gastronômicas, etc – que, anotadas ou não pelos registros, acabam por redefinir qualquer receita ao longo da trajetória de um prato, o cuscuz paulista é um dos patrimônios imateriais do estado de São Paulo.

Mais que isso: seu caráter miscigenado enriquece sobremaneira a tradição da cozinha nacional.

KUZKUZ

Não à toa, trata-se de uma receita praticada em quase todo o País, e, em vários estados, além de São Paulo, o cuscuz paulista é tido como provisão rotineira. A receita original vem do norte da África – couscous em francês e kuzkuz em árabe – e leva sêmola de trigo, frutos do mar, carne de vitela, aves, legumes e ovos.

Ao ser cozido no vapor, feito com tapioca ou farinha de milho e temperado com sal, o cuscuz se transforma em algo próximo a um bolo salgado.

Foi assim que ele chegou ao Brasil, para depois se tornar o cuscuz paulista, conforme se conhece por aqui: o preparo de farinha de milho, água, azeite, temperos verdes, cebola, tomate, palmito, ervilha, ovos cozidos e, nas receitas mais tradicionais, sardinha em conserva ou frango desfiado.

A mistura dá uma boa medida da miscelânea cultural ligada, especificamente, ao período de atuação dos bandeirantes. Originalmente preparado em cuscuzeiros, o cuscuz paulista costumava levar farinha de milho flocada, legumes, verduras e frango.

QUENTE OU FRIO

Em sua evolução, a receita foi ganhando, cada vez mais, a pegada caipira, como, por exemplo, o cozimento direto em uma panela comum e a mistura da farinha de milho com farinha de mandioca cozida, para dar mais liga na massa.

Da sardinha e do frango, foram surgindo outras opções de proteína para arrematar o delicioso prato, que pode ser acompanhado de camarão com peixe, bacalhau ou berinjela.

Outro diferencial é que o cuscuz paulista é daqueles pratos que funcionam como uma refeição completa. É como se os acompanhamentos já viessem embutidos na peça, bastando apenas uma salada leve para os glutões que fazem questão de uma entrada.

E mais: ele pode ser degustado quente ou frio, e muitos adeptos preferem, inclusive, a segunda opção.

PRONTO EM UMA HORA

O folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) afirma que o cuscuz fazia parte, em sua origem, da dieta dos mouros.

O prato foi sendo incorporado por portugueses e por espanhóis, até ganhar patente “oficial” europeia e, assim, chegar ao Brasil. 

Em território nacional, o cuscuz, por sua vez, foi adaptado pelos tropeiros paulistas. Durante as expedições, os viajantes misturavam a farinha de milho com os outros ingredientes.

Você vai gastar por volta de uma hora para prepará-lo. O cuscuz paulista não custa caro e pode ser calibrado 
de acordo com a grana disponível, já que vai bem com uma infinidade de ingredientes. 

Seja criativo, acredite e vista o avental. Agora, ao trabalho e bom apetite!

Cuscuz paulista

Ingredientes

  • 120 gramas de farinha 
  • de milho;
  • 40 gramas de farinha 
  • de mandioca;
  • 100 gramas de molho 
  • de tomate;
  • Pimentão verde 
  • em cubos;
  • 1 cebola grande picada;
  • 3 dentes de alho;
  • 150 gramas de camarão 
  • miúdo limpo;
  • 250 ml de caldo de 
  • camarão;
  • 20 gramas de ervilhas congeladas;
  • 20 gramas de azeitona 
  • verde picada;
  • 1 colher (café) de colorau;
  • 1 folha de louro;
  • Azeite de oliva;
  • Salsa e cebolinha picadas;
  • Sal e pimenta-do-reino.

Decoração

  • 3 camarões médios;
  • 100 gramas de palmito 
  • em fatias;
  • 50 gramas de ervilhas;
  • 2 ovos cozidos em fatias.

Modo de Preparo:

Passe a farinha de milho em uma peneira grossa, esfarelando os flocos com as mãos e forçando sua passagem. Acrescente a farinha de mandioca e peneire também. Refogue a cebola, com o azeite, em uma panela grande. Junte o alho e deixe dourar.

Acrescente os pimentões, o colorau, o palmito, o molho de tomate, os camarões, o caldo e as ervilhas. Deixe ferver por cinco minutos. Adicione as azeitonas, a salsa, a cebolinha e tempere com sal e pimenta. Vá mexendo e acrescentando as farinhas.

Unte com azeite uma forma de bolo e decore o fundo e a borda externa com os palmitos, os ovos em fatias, as ervilhas e os camarões, prendendo com colheradas do cuscuz.

Distribua o restante da massa do cuscuz, com bastante cuidado, na forma, de maneira que não desmanche a decoração. Quando terminar, aperte suavemente com as costas de uma colher. Deixe descansando por cinco minutos. Desenforme e sirva em fatias.

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Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternos

Sugestões da nossa colunista de cinema para o fim de ano que equilibram conforto, repetição afetiva e algumas boas surpresas do streaming

20/12/2025 14h30

Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternos

Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternos Foto: Divulgação Prime Vídeo

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Há anos encerro o ano com dicas de filmes e séries para atravessar o fim de dezembro — e quem acompanha minhas colunas já sabe: Natal, para mim, é revisitar o que já amo. É ritual, repetição afetiva, memória acionada pela trilha sonora certa ou por uma história que já conhecemos de cor. Por isso, a lista tende a mudar pouco. Não é preguiça. É escolha.

Existe um mercado fonográfico e audiovisual inteiro dedicado ao Natal, que entrega, ano após ano, produtos descartáveis, previsíveis e — ainda assim — confortantes. Eles existem para preencher o silêncio entre uma refeição e outra, para acompanhar casas cheias, para oferecer finais felizes sem exigir atenção plena. Em 2025, esse mercado deixa algo ainda mais claro: o Natal virou um ativo estratégico — e estrelas ajudam a sustentá-lo.

De blockbusters de ação a comédias familiares e retratos mais irônicos do cansaço emocional, as produções do ano revelam diferentes formas de explorar a mesma data. E, como toda boa tradição de fim de ano, a lista também abre espaço para um clássico que, mesmo não sendo natalino, atravessa gerações como parte indissociável desse período

Operação Natal Amazon Prime Video
Aqui, o Natal é tratado como evento global, literalmente. Operação Natal aposta em ação, fantasia e ritmo de blockbuster para transformar o dia 25 de dezembro em cenário de missão impossível. Tudo é grande, barulhento e deliberadamente exagerado.

É o exemplo mais claro do Natal-espetáculo. O filme existe como veículo de estrela para Dwayne Johnson, que transforma a data em entretenimento de alta octanagem, longe de qualquer delicadeza afetiva.

Um Natal Surreal Amazon Prime Video
Neste filme, o Natal deixa de ser acolhimento para virar ponto de ruptura. Michelle Pfeiffer interpreta uma mulher que decide simplesmente desaparecer da própria celebração depois de anos sendo invisível dentro da dinâmica familiar. O gesto desencadeia situações absurdas, desconfortáveis e reveladoras.

A presença de Pfeiffer requalifica o projeto. Não é um Natal infantilizado, mas um retrato irônico do cansaço emocional, da maternidade esvaziada e da pressão simbólica que a data carrega.

A Batalha de Natal Amazon Prime Video
O Natal volta ao território da comédia familiar clássica. Eddie Murphy vive um pai obcecado por vencer uma disputa natalina em seu bairro e transforma a celebração em um caos crescente de exageros, erros e humor físico. Murphy opera no registro que domina há décadas. É o Natal como bagunça coletiva, desenhado para virar tradição doméstica e ser revisto ano após ano.

My Secret Santa Netflix
Uma mãe solteira em dificuldades aceita trabalhar disfarçada de Papai Noel em um resort de luxo durante o Natal. O plano se complica quando sentimentos reais entram em cena. O filme cumpre com precisão a cartilha da comédia romântica natalina, com química funcional e uma premissa simpática o bastante para sustentar o conforto esperado do gênero.

Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternosMy Secret Santa Netflix - Divulgação

Man vs Baby Netflix
É para os fãs de Mr. Bean, apesar de não ser “ele”. Rowan Atkinson volta como Mr. Bingley, um adulto despreparado precisa sobreviver a um bebê imprevisível em plena temporada de festas. O que poderia ser um Natal tranquilo vira uma sucessão de pequenos desastres.
Funciona quando assume o humor físico e o exagero, ideal como filme de fundo para casas cheias.

All I Need for Christmas Netflix
Uma musicista em crise profissional encontra, durante o Natal, a chance de reconexão pessoal e afetiva ao cruzar o caminho de alguém que parecia seu oposto. Produção que aposta no tom acolhedor e na ideia de recomeço como motores emocionais simples, mas eficazes.

A Merry Little Ex-Christmas Netflix
Alicia Silverstone e Oliver Hudson sustentam uma trama previsível, mas ainda assim, bem natalina. Ex-relacionamentos, ressentimentos antigos e um Natal que força reencontros. A tentativa de manter a civilidade rapidamente desmorona. Um filme que reconhece que o passado nunca está totalmente resolvido, especialmente em datas simbólicas.

Champagne Problems Netflix
Filme que anda liderando o Top 10 desde novembro, traz uma executiva americana viaja à França para fechar um grande negócio antes do Natal e se vê envolvida em dilemas profissionais e afetivos. Menos açucarado, aposta em melancolia leve e conflitos adultos, usando o Natal mais como pano de fundo do que como solução.

Jingle Bell Heist Netflix
Dois trabalhadores frustrados planejam um assalto na véspera de Natal, quando ninguém parece prestar atenção. Cheio de reviravoltas e troca o romance pelo formato de filme de golpe, oferecendo uma variação divertida dentro do gênero natalino.

A Noviça Rebelde Disney+
Não é um filme natalino, mas poucas obras ocupam um lugar tão fixo no imaginário do fim de ano. Em 2025, o musical completa 60 anos e segue atravessando gerações como ritual afetivo de dezembro. Música, família, infância e acolhimento fazem dele uma tradição que resiste ao tempo e às modas.

No fim, a lógica permanece: filmes de Natal não precisam ser memoráveis para serem importantes. Precisam estar ali — como trilha de fundo, como pausa emocional, como promessa silenciosa de que, por algumas horas, tudo vai acabar bem. Em 2025, isso já é mais do que suficiente. Feliz Natal!

"REI DO BOLERO"

Voz de 'Você é doida demais', Lindomar Castilho morre aos 85 anos

História de sucesso mudou após um dos feminicídios de maior repercussão no País, quando em 30 de março de 81 matou sua mulher, a também cantora Eliane de Grammont, com cinco tiros

20/12/2025 13h30

Lili De Grammont e seu pai, Lindomar, em foto compartilhada nas redes sociais.

Lili De Grammont e seu pai, Lindomar, em foto compartilhada nas redes sociais. Reprodução/Redes Sociais

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Conhecido como "Rei do Bolero", Lindomar Castilho morreu neste sábado, 20, aos 85 anos. A nota de falecimento foi postada pela filha do artista, a coreógrafa Lili De Grammont, em suas redes sociais.

A causa da morte não foi informada e o velório está marcado para esta tarde no Cemitério Santana, em Goiânia.

"Me despeço com a certeza de que essa vida é uma passagem e o tempo é curto para não sermos verdadeiramente felizes, e ser feliz é olhar pra dentro e aceitar nossa finitude e fazer de cada dia um pequeno milagre. Pai, descanse e que Deus te receba, com amor… E que a gente tenha a sorte de uma segunda chance", escreveu Lili.

Nascido em Rio Verde, Goiás, Lindomar foi um dos artistas mais populares dos anos 1970. Brega, romântico, exagerado. Um dos recordistas de vendas de discos no Brasil. Um de seus maiores sucessos, "Você é doida demais", foi tema de abertura do seriado Os Normais nos anos 2000.

Seu disco "Eu vou rifar meu coração", de 1973, lançado pela RCA, bateu 500 mil cópias vendidas.

Crime e castigo

A história de sucesso, porém, mudou após um dos feminicídios de maior repercussão no País. Em 30 de março de 1981, Lindomar matou a mulher, a também cantora Eliane de Grammont, com cinco tiros. Ela tinha 26 anos.

Os dois foram casados por dois anos, período em que a cantora se afastou temporariamente da carreira para cuidar da filha Lili. Depois de sustentar o relacionamento abusivo, Eliane pediu o divórcio.

Eliane foi morta pelo ex-marido no palco, durante uma apresentação na boate Belle Époque, em São Paulo. Ela cantava "João e Maria", de Chico Buarque, no momento em que foi alvejada

Lindomar foi preso em flagrante e condenado a 12 anos de prisão. Ele foi liberado da pena por ser réu primário e aguardou o julgamento em liberdade. O cantor cumpriu quase sete anos da pena em regime fechado e o restante em regime semi-aberto. Em 1996, já era um cidadão livre.

O caso tornou-se um marco na luta contra a violência doméstica no Brasil, impulsionando o movimento feminista com o slogan "Quem ama não mata".

 

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