Apaixonado pela culinária desde criança, o chef e influencer de gastronomia Bruno Souza, conhecido por seus milhares de seguidores como Brunão, cresceu entre Campo Grande e Sidrolândia encantado pelas comidas de sua avó, que nasceu na fazenda e cozinhava pratos rústicos muito saborosos.
Ainda adolescente, perguntou para sua mãe como alguns pratos eram feitos e, colocando a mão na massa, descobriu afinidade com a culinária.
“Perguntei para minha mãe como fazia arroz carreteiro, eu era apaixonado, era meu prato preferido, e ela me falou, então aprendi na teoria. Um dia, enjoado de comer pizza de mercado, resolvi testar, e o arroz carreteiro ficou maravilhoso. Ali eu descobri que tinha facilidade com a cozinha”, revela Brunão, em entrevista ao Correio do Estado.
Brunão, já bem conhecido de quem usa redes como o Instagram, é o mais novo colunista do Correio do Estado. Todas as sextas-feiras, o Portal Correio do Estado publicará dicas de gastronomia de um dos chefs mais queridos do Estado.
Os conteúdos também estarão disponíveis no formato de áudio, em um podcast especial gravado semanalmente, e em vídeo, no YouTube.
Aqui, Brunão conta como chegou ao sucesso preparando suas receitas. “Eu era um menino, um adolescente. Nunca fui prodígio, mas tinha boa vontade”, destaca.
Curso técnico
Depois de muitos carreteiros, macarrões e estrogonofes, ele começou a procurar por cursos de gastronomia. O primeiro foi um curso rápido de churrasco, com duração de 15 dias, oferecido pela Prefeitura de Campo Grande em 2012.
“Sinceramente, o churrasco em si não me chamou muita atenção, mas o professor dando aula sim. Conheci ele e viramos amigos”, revela.
O professor atuava no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e sugeriu que Brunão fizesse mais cursos de gastronomia. Ouvindo o conselho, se matriculou no curso Cozinheiro Profissional. “Foi aí que eu comecei a estudar a cozinha realmente”, conta.
A paixão pela cozinha só aumentava, e sempre que tinha oportunidade ele fazia novos cursos, mas nunca com intenção de transformar a culinária em profissão. “Eu queria aprender para mim”, destaca.
Bolo de pote
Com a experiência adquirida nos cursos e em empregos anteriores, Brunão chegou a atuar como gerente de duas hamburguerias e de uma casa de sucos, mas sempre na administração, nunca como chef de cozinha.Pouco tempo depois, passando por dificuldades financeiras, decidiu finalmente começar a lucrar com a culinária.
“Eu comecei a vender bolo de pote. Foi a minha primeira realização vendendo comida para alguém ou prestando serviço de comida. Foi maravilhoso, deu muito certo”, relata.
Além dos bolos, Brunão começou a vender sobremesas de travessa para aniversários e eventos. Mais uma vez, percebeu que as pessoas gostavam de sua comida e que tinha capacidade para atuar na área. “Me chamou atenção que eu dava conta, que a minha mão era boa”, recorda.
Desafios
Formado em Publicidade, passou alguns anos viajando o Brasil, atuando como divulgador de artistas. Em 2017, decidiu largar o emprego, já que ganhava pouco para ficar longe de casa. Voltou para Mato Grosso do Sul para ficar perto do filho pequeno e da avó idosa.
No retorno ao Estado, começou a trabalhar com o dono de uma grande empresa de sucos, prestando serviço para supermercados.
“Um dia, um desses mercados pediu um evento de churrasco e eu fui executar esse evento. Contratei um churrasqueiro, ele se apertou na hora de fazer o serviço, eu entrei para ajudar ele e achei massa demais”, revela.
À época, Brunão não sabia que o serviço de churrasqueiro existia. Na família, os responsáveis pelos churrascos eram o pai e os tios. No grupo de amigos, raramente assava carnes. Então, aproveitou o contato com o churrasqueiro para aprender mais sobre a área. Foi em uma dessas conversas que percebeu que existia muita demanda e pouca mão de obra para o setor.
“Esse foi o dia que virou a chave, porque trocando uma ideia com o rapaz descobri que ele era sozinho nesse mercado”, comenta. Pensando em ingressar na área, ofereceu apoio para o churrasqueiro em troca de experiência.
“Ele seria o zero um, eu viria nos bastidores. Quando ele tivesse dois eventos, eu entraria para fazer. E aí ele achou a ideia maravilhosa”.
No mesmo dia, chegou em casa e montou sua própria marca e uma metodologia para prestar serviço em eventos. A partir desse momento, começou a estudar e a se profissionalizar ainda mais.
“A partir dali eu comecei a viver isso, comecei a estudar, comecei a consumir conteúdos de churrasco. Descobri que existiam festivais de churrasco no Brasil, descobri que tinha um mercado de churrasco no Brasil, que tinham os grandes chefs churrasqueiros, que ganhavam dinheiro para fazer isso, e que as marcas pagavam eles para fazer propaganda”, conta.
Brunão começou a se apaixonar por todas as descobertas e pelas oportunidades que o churrasco poderia oferecer.
“Resumindo a história: comecei a buscar conhecer as pessoas, a fazer contato com esses chefs. Comecei a me inscrever como voluntário para ir trabalhar com esses caras. Três meses depois, eu fui aceito pelo primeiro evento em São Paulo”.
Eventos e competições
Depois do evento na capital paulista, Brunão também foi aceito em um evento na cidade interiorana de Rio Preto, em 2018.
“No meu segundo evento, conheci um cara maravilhoso, que é precursor da carne de qualidade no Brasil, chamado Roberto Barcellos. Ele gostou demais do meu trabalho e me falou: ‘Cara, eu quero você comigo. Você é um guri bom, trabalhador e esforçado’ e me convidou para trabalhar para ele em outros eventos”.
Com as indicações, Brunão passou a ser visto por muitas marcas. A vitória na etapa brasileira do Sul-Americano de Churrasco deu mais visibilidade, e ele passou a ser convidado por organizadores de eventos.
Em janeiro de 2019, esteve em Valdívia, no Chile, para competir no Sul-Americano de Churrasco, que contou com equipes convidadas do mundo todo, onde ficou em 2º lugar com a melhor costela, 2º lugar em melhor frango e como 3º colocado em melhor cordeiro.
“Em 2019, fui chef churrasqueiro de praticamente todos os maiores eventos de churrasco do Brasil”, relembra.
O destaque de Brunão nessas competições fez com que grandes marcas se interessassem pelo trabalho dele.
“Eu participei e fui escolhido para ações das maiores marcas relacionadas a churrasco do mundo que tinham sede no Brasil. Os caras escolhiam os grandes e eu. Então, eu estava no meio dos grandes. Tive as três maiores do mundo: Ambev, JBS e Tramontina”, comenta.
Churrasco do Teló
Em um desses eventos, a equipe de Michel Teló fez contato com Brunão para realizar o Churrasco do Teló, um festival de churrasco realizado em resorts all inclusive acompanhado por um show do cantor.
Em maio de 2018, a avó de Brunão, que era o principal motivo para ele ainda morar em Mato Grosso do Sul, morreu, e ele acabou voltando a viajar a trabalho.
“Se ela não tivesse morrido, eu não teria ido. Quando ela faleceu, eu me senti ‘liberado’ para me mudar daqui, para poder ficar longe, porque eu saí do meu trabalho anterior para ficar perto dela”, conta.
Então, se tornou o produtor, curador e churrasqueiro do primeiro Churrasco do Teló. O projeto foi um sucesso.
“Eu falo que, no evento Churrasco do Teló, eu era o churrasqueiro e ele era o Teló. Eu não mexia com palco, som, luz, mas o resto era comigo: estrutura, fornecedores, carne, acompanhamento, churrasqueira, logística, tudo era comigo”, explica.
Mudança
Com a agenda cheia, Brunão decidiu se mudar para São Paulo (SP). A ideia era passar quarenta dias, trabalhar nos eventos e encontrar um emprego.
“Com 10 dias que eu estava lá, arrumei emprego em uma agência de eventos que cuidava de grandes marcas. São Paulo paga muito bem, então eu já ganhava o dinheiro que precisava para viver. O dinheiro do churrasco vinha como um extra para mim”, detalha.
Brunão também participou da gravação do DVD de Michel Teló, lançado em dois EPs no fim de 2019 e no início de 2020.
Pandemia
Brunão deu início ao ano de 2020 participando do maior evento de churrasco do mundo, o BBQMix, realizado em Goiânia. Um mês depois, a pandemia da Covid-19 teve início no Brasil. Com agenda fechada para quase todo o ano, o chef churrasqueiro sentiu o impacto da paralisação do setor de eventos.
“O ano tem 44 fins de semana, eu tinha 32 fins de semana fechados. Tava estouradaço, ia ganhar mais dinheiro do que podia gastar. Só com o Michel [Teló], tinha de 10 a 15 resorts fechados”, lamenta.
A equipe de Brunão tinha convite para participar do mundial de churrasco, que seria realizado na Bélgica. “Eu vim embora para Mato Grosso do Sul sem saber o que ia fazer da vida. Eu vivia de aglomeração, mas não podia aglomerar. Passei três meses sem nenhum real”, desabafa.
Os contratos com os patrocinadores também foram pausados. “Ninguém sabia o que estava acontecendo, e eles não conseguiam elaborar que tipo de entrega a gente podia fazer, que tipo de vídeo a gente podia gravar para não afrontar. Então eles pausaram as entregas, eles seguraram tudo em março. A gente voltou a falar em julho, com uma entrega de Dia dos Pais”, explica.
Churrasqueiro do Bolsonaro.
Ainda na pandemia, em agosto de 2020, Brunão foi convidado para fazer um churrasco para
o então presidente da República Jair Bolsonaro. “Quando eu fiz o churrasco para ele, os fãs dele começaram a me contratar”.
O chef churrasqueiro começou a vender um workshop, um curso em que ensinava as pessoas a fazerem churrasco, desde as entradas aos acompanhamentos e sobremesas.
Com o dinheiro recebido nos trabalhos, finalmente pôde começar a trabalhar em um sonho antigo: seu canal no YouTube.
Paixão pelo fogo e pescaria
“Eu tinha o sonho de ter um canal no YouTube para falar das receitas que aprendi com a minha avó, das receitas que aprendi na escola de culinária, do meu tempero… Então, eu ia montar um canal no YouTube de tudo que eu sabia cozinhar”, relata.
A ideia era compartilhar no canal desde receitas mais simples, como arroz e feijão, até técnicas de churrasco.
“Estando aqui em Mato Grosso do Sul, eu fui pescar e pensei: meu canal no YouTube era só de gastronomia, só de culinária, mas vou colocar pescaria. Eu sou apaixonado por pescaria, então meu projeto, que se chamaria Paixão pelo Fogo, passou a se chamar Paixão pelo Fogo e Pescaria”.
No fim de 2020, construiu seu cenário e deu início ao projeto. “A paixão pelo fogo não remete só ao fogo em si, o fogo que queima é o calor, a reação, a alquimia do calor com a comida, do calor com a água que cozinha, do calor com a carne que assa, do calor que faz a lenha e que faz a fumaça que defuma. A paixão pelo fogo é tudo que ele pode mudar”, explica.

Equipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles

Cristianne e Rinaldo Modesto de Oliveira
Isabella Suplicy


