Histórias podem ser contadas de diferentes formas. A campo-grandense Marina Duarte, 27 anos, encontrou nos desenhos o melhor caminho para relatar trajetórias diferentes, desde a situação vivida pelas populações indígenas de Mato Grosso do Sul durante a pandemia do novo coronavírus até a história lendária de um ícone do rock. Esse trabalho como ilustradora lhe rendeu a participação no maior evento da cultura pop do País, a Comic Con Experience (CCXP), que acontece pela primeira vez on-line, em dezembro deste ano.
“A Comic Con é aberta a inscrições e seleciona os artistas que vão expor e vender. Eu acabei sendo aprovada para ter uma mesa digital. Não sei como vai ser nesse formato direito, porque é diferente do convencional, em razão da pandemia”, afirma Marina.
No evento, a campo-grandense apresentará o trabalho que desenvolve como ilustradora da revista de jornalismo em quadrinhos Badaró, além de outros desenhos e um material inédito, a série de histórias em quadrinhos “O Último Pedaço de Terra”, que fez em parceria com o roteirista Tayran Valiente.
“Um dos critérios da CCXP é lançar algum material no evento. Durante a mesa, eu farei o lançamento do primeiro episódio dessa história em quadrinhos, que é o meu primeiro trabalho ficcional, já que atualmente eu faço jornalismo em quadrinhos”, frisa.
Voz feminina
Como quadrinista, Marina começou a criar há cerca de um ano, mas confessa que sempre foi apaixonada pela ilustração. “Por mais que eu faça quadrinhos recentemente, eles sempre estiveram presentes na minha vida desde a minha alfabetização. Na pré-adolescência eu gostava de consumir mangás, quadrinhos japoneses. O desenho sempre me estimulou”, conta Marina.
Como referência para criar, Marina cita os clássicos, que vão de Maurício de Sousa (Turma da Mônica) até Laerte e Quino (Mafalda). “Agora na fase adulta, o que me move a ler são as histórias em quadrinhos independentes, principalmente de mulheres”, ressalta.
Por mais machista que o ambiente nerd possa ser, as mulheres têm ocupado cada vez mais espaço neste universo, inclusive no das HQs. “Nesse sentido, tem essas mulheres que cada vez mais estão dominando os quadrinhos, a cena nerd, a cena geek. Durante muito tempo esse universo foi muito isolado. A cultura pop, como tudo que é popular, externaliza muito o que é machista e assunto de homem, mesmo que as mulheres sempre tenham produzido muito”, frisa.
Na lista de mulheres que ela acompanha, há famosas, como o grupo Clamp, que publicou o mangá “Sakura Card Captors”. “Não é que as mulheres não estivessem presentes, mas era um ambiente mais hostil do que é hoje”, ressalta.
Marina explica que dentro do próprio jornalismo em quadrinhos há poucas mulheres. “Sou uma das poucas ilustradoras no Brasil que trabalha com jornalismo em quadrinhos”, pontua.