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Capa B+: A atriz Larissa Ferrara fala com exclusividade ao Correio B+

"Eu sempre me senti mais à vontade no teatro, mas hoje, meu coração bate muito forte com o audiovisual"

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Larissa Ferrara é atriz, dubladora e roterista. Ela iniciou seus estudos cênicos aos 13 anos na Escola de atores Nilton Travesso, onde ficou três anos. Estudou dois anos no renomado Grupo TAPA com orientação de Eduardo Tolentino.

A atriz foi integrante do Teatro da Rotina com Leonardo Medeiros. Se formou na Escola de atores Wolf Mayae também em Dublagem na escola Dubrasil. Fez cursos com Fátima Toledo, estudou o Método Meisner e é adepta ao Método Ivana Chubbuck. 

Além disso, Larissa é graduada em Comunicação Social na Espm e durante sua vida, fez cursos de canto, dança e idiomas, (como Francês e Inglês) e recentemente está estudando Roteiro e escrevendo seus próprios projetos. 

"Quando eu assisti “O Fantasma da Ópera” eu tinha 11 ou 12 anos e ali, eu decidi que esse era o meu caminho. Meu coração acelerou e a contagem de subir no palco ficou constante. E então, meus pais toparam me colocar na escola Nilton Travesso. Fiz minha primeira peça lá aos 13 anos, e não parei até hoje (risos). Eu amo a minha profissão", explica. 

No Áudiovisual

O primeiro grande trabalho foi a série “Contos do Edgar” veiculado no canal Fox em 2013. A serie foi produzida por Fernando Meirelles e pela O2 filmes. Larissa fez a protagonista de um episódio que conta a história de Íris, uma menina drogada e festeira que incomoda o seu vizinho Jorge. E muitas coisas tenebrosas acontecem nesse encontro. 

Já em 2016, Larissa faz uma Serial Killer em um plano sequência na minissérie Missão Axn no canal AXN. No Cinema, participou de inúmeros filmes e integrou mais de 15 curta- metragens, entre eles, o filme ON dirigido por Lucas Romano e foi indicada melhor atriz no festival ALTFF de 2018 em Toronto.

No teatro o começo de tudo. Foram inúmeras peças e em 2020, Ferrara criou, produziu e atuou junto com a atriz Nicole Cordery a Websérie Nós, veiculada nas redes sociais. 

Estreias...

A série As aventuras de José e Durval dirigida por Hugo Prata e produzida pela O2 filmes em conjunto com a Globoplay pode ser vista na paltaforma. A série conta a história icônica da dupla Chitãozinho e Xororó que será interpretado por Rodrigo Simas e Felipe Simas. Larissa está no elenco principal da série com a personagem ADENAIR, esposa de Chitãozinho. Ela faz o par romântico com Rodrigo Simas. 

A atriz Larissa Ferrara é Capa do Correio B+ desta semana e fala com exclusividade ao Caderno sobre começo de carreira, paixão pelo teatro e audivisual, dificuldades e trabalhos atuais.

A atriz Larissa Ferrara é Capa do Correio B+ desta semana - Foto: Vinícius Mochizuki - Diagramação - Denis Felipe e Denise Neves

CE - Você começou com os estudos cênicos aos 13 anos. Desde muito nova você sempre soube que queria isso como carreira?
LF:
Sim, eu me encantei pelo teatro. Quando eu assisti “O Fantasma da Ópera” eu tinha 11 ou 12 anos e ali, eu decidi que esse era o meu caminho. Meu coração acelerou e a contagem de subir no palco ficou constante. E então, meus pais toparam me colocar na escola Nilton Travesso. Fiz minha primeira peça lá aos 13 anos, e não parei até hoje (risos). Eu amo a minha profissão. 

CE - Como foi esse início e evolução? 
LF:
O meu início foi regado com muito estudo, muitos cursos e métodos diferentes. Agora, o início no mercado do audiovisual foi bem complexo. O ator vive altos e baixos durante toda extensão de sua carreira, e não foi diferente comigo. 

Fiz diversas peças sem ganhar nenhum tostão. Na verdade, pagando para trabalhar. (Risos). E então, eu tive que ganhar dinheiro de outra forma. Já vendi bolo, já trabalhei em empresa, já fiz tradução de livros e por aí vai, mas nunca deixei a carreira e os meus estudos.

Um andava ao lado do outro. Eu acho que essas quedas, os nãos, os erros, as rejeições te deixam mais fortes, sabe? Faz parte da vida! É muito fácil cair na tristeza. Falo isso por experiência própria! (Risos), difícil mesmo, é ter a coragem de ser feliz e superar os obstáculos que sempre vão existir. E eu sou grata por ter insistido, estou em um momento muito bacana da minha carreira. Eu olho para trás e tenho orgulho de todos os degrauzinhos que eu subi. Persistência, foco e muito amor. 

Foto: Vinícius Mochizuki

CE - O que te instiga a aceitar uma personagem? 
LF:
Eu ainda não estou em um momento de escolher personagens (Risos), mas eu acho que esse lugar está próximo. Em projetos menores, eu tenho um poder de escolha melhor. Acabo aceitando ou não, devido a vários pontos. Como o enredo da personagem, a relevância dela no projeto, o desafio que terei em fazê-la, o que aquele projeto quer comunicar para o público e principalmente, ter um roteiro consistente com um diretor que tenha uma visão clara. 

CE - O seu primeiro grande trabalho foi a série “Contos do Edgar” como foi o processo de criação da sua personagem?
LF:
Esse trabalho foi meu grande “sim”. Foram vários testes para pegar essa personagem. Tivemos duas semanas de preparação. Eu e Jorge Cerruti que infelizmente nos deixou há um ano. Grande ator... Me ensinou muitas coisas sobre o nosso ofício. Tenho muita saudade dele. 

Sobre a personagem, eu tive que acessar um lado mais sombrio. Ela era usuária de drogas e fazia muitas festas no seu apartamento. O problema com o vizinho foi se intensificando até resultar em um momento trágico. 

Foi sensacional fazer essa série com inspiração dos contos de Edgar Alan Poe.  Foi meu primeiro trabalho com Fernando Meirelles, Pedro Morelli e Cassiano Prado. 

CE - Como atriz e como plateia / telespectadora onde você se sente mais à vontade?
LF:
Humm, difícil dizer! Eu sempre me senti mais à vontade no teatro, que foi o lugar que me acolheu, mas hoje, meu coração bate muito forte com o audiovisual. Sou muito feliz fazendo séries e filmes. Por mim, eu filmaria todos os dias. Eu sou completamente viciada em assistir as obras. Todos os dias eu assisto um filme ou série. Todos os dias mesmo, sem exceção. Eu até dou dicas do que assistir no meu Instagram, porque eu realmente assisto muita coisa. (Risos). 

Na séria sobre a vida da dupla Chitãozinho e Xororó - Foto: Divulgação

CE - Você é atriz, roteirista e dubladora...O que mais gosta de fazer?
LF:
Vou falar de um costume meu que eu ainda não falei em entrevistas. Eu sou andarilha (risos). Eu amo sair andando pela cidade. Já cheguei a ficar 5 horas andando e olhando os detalhes das casas, das ruas, das árvores, dos estabelecimentos e observando as pessoas. Eu saio sem rumo e sigo caminhando. Coloco uma trilha sonora e vou! Eu amo fazer isso, volto para o meu centro. Bem Forrest Gump, mesmo (Risos), e quando canso, só volto para a casa. 

CE - “As Aventuras de José e Durval” conta a história icônica da dupla Chitãozinho e Xororó, como foi o convite para estar no elenco principal?
LF:
Foi através de teste de elenco. Eu fiz o teste já direcionado para a Adenair. 

E acho que temos coisas muito parecidas. Ela é uma mulher forte, carismática, alegre e intensa. Segundo o diretor, a nossa essência é muito parecida. 

Eu me diverti muito na pele da Dena, e sou uma forte defensora da personagem. Através da minha preparação e dos meus estudos, eu entendi tudo o que ela passou. Coisas que nem serão retratadas na série, mas que criou uma empatia e identificação imediata comigo. 

Fui feliz sendo a Dena, ou melhor, como a equipe da série a chamava “Adrenalina”. (Risos).

CE - Você já conhecia algo sobre essa dupla tão amada do sertanejo?
LF:
Eu conhecia as músicas e já cantei muito “Evidências” no Karaokê. (Risos). Eu sabia que Chitão era Tio e Xororó era pai de Sandy & Júnior (de quem fui muito fã na minha infância). Agora, a história que está sendo retratada na série, disso eu desconhecia, e é simplesmente incrível. Tudo o que a dupla passou para chegar onde estão hoje, é inspirador. O fato da Dona Araci ter aquele diagnóstico e a dupla passar por tudo aquilo com a mãe, é um reflexo da minha vida. Minha mãe também tem um diagnóstico bem sério e cuidei dela desde a minha adolescência. E fiz como a dupla, dei o melhor para a minha mãe e segui insistindo na minha carreira. Me identifico muito com a história deles. 

Larissa no cinema - Foto: Divulgação

CE - Você participou do filme “Apanhador de Almas” como foi fazer um filme com o gênero diferente dos seus outros trabalhos?
LF:
Apanhador de almas é um filme de suspense e terror, e posso dizer que me divirto muito fazendo esse gênero! Eu faço a Isabella, uma mulher impulsiva e que devido aos fatos de vida e morte na história, ela acaba se perdendo na loucura. 

As filmagens foram intensas e levo comigo a Klara Castanho, tivemos uma parceria maravilhosa. Estou ansiosa para assistir esse filme e quero que o público assista também! Foi uma personagem bem diferente e bem antagonista. 

CE - Tem algum personagem que você sonha em fazer?
LF:
Eu sonho em fazer uma personagem que esteja inserida em séries atuais como, “Justiça”, “Os outros”, “Cangaço Novo” e por aí vai. Eu gosto da intensidade, gosto de personagens complexos e com um enredo completo, bem humano. Aquele personagem que mostra suas qualidades e defeitos e é testado a todo momento na história. Esse é meu desejo. 

CE - Quem te inspira? E o que te inspira? 
LF:
Na vida? Posso citar três inspirações. Meu avô Ferrara, artistão, que já não está mais aqui. Minha adorável e resiliente, Mãe. E a força e caráter do meu Pai. 

Na carreira, tenho como rota, Ricardo Darin, Isabelle Huppert, Phoebe Waller-Bridge, Adriana Esteves, Maeve Jinkings, Alice Carvalho, Fernandona, Elizabeth Taylor, Olivia Colman, Cate Blanchett e vou deixar um monte de fora. Mas essas são as que vieram no meu impulso de falar. O que me inspira…Viver abertamente. Escutar. Contemplar os detalhes. Me experimentar em coisas novas. Errar com gosto. E a eterna busca dos meus desejos e vontades. 

Larissa Ferrara - Foto: Divulgação

CE - Quais seus planos para 2023, pode nos adiantar alguma coisa?
LF:
Terminei recentemente de filmar a série “Estranho Amor” com direção de Ajax Camacho, e roteiro de Ingrid Zavarezzi. É uma série que fala sobre a violência contra a mulher. Eu sou o personagem tema do episódio 2, com a personagem Glorinha, uma mulher que junto com a sua filha (Gabi Cardoso) sofre sérios abusos de seu marido (Emílio Orciollo Neto). A estreia está prevista para janeiro de 2024. É uma série muito importante e estará na Record TV e no Canal Axn. 

Sobre o futuro, estou com dois projetos de teatro que já estão em andamento. E ansiosa para o meu próximo projeto na TV e streaming (risos).  Em breve! 

 

ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

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ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

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MÚSICA

Entre onças e tuiuiús, o jazz

Em parceria com o trombonista Ryan Keberle, com nove composições inspiradas na exuberância do Pantanal, URBEM lança segundo álbum; 2º Campo Grande Jazz Festival celebra o gênero na Capital, com apresentações gratuitas

15/12/2025 10h00

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Divulgação / Alexis Prappas

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Sem dar muitos detalhes, o baterista Sandro Moreno, quando conversou comigo, em junho, sobre o álbum que a Urbem gravaria com Ryan Keberle, adiantou que o projeto seria “algo muito especial”.

Após o show – memorável, diga-se – que fizeram juntos no Teatro do Mundo, o quarteto campo-grandense – além de Sandro, Bianca Bacha (vocais), Ana Ferreira (piano), Gabriel Basso (contrabaixo) – e o trombonista norte-americano foram para a zona rural de Miranda e se instalaram na Fazenda Caiman.

Foi lá que a magia aconteceu. Na estrada desde 2013 e com apenas um álbum lançado até então, “Living Room” (2016), a banda disponibilizou “Pantanal Jam” no Spotify no dia 29 de outubro, três dias antes do show que realizaria em Nova York, em um evento na Detour Gallery que uniu arte, gastronomia e turismo para promover o Pantanal.

São nove faixas criadas e gravadas com extremo apuro e sensibilidade, que alcançam os músicos da Urbem e Ryan num ponto bem elevado de suas capacidades.

Os temas soam como se os cinco artistas tivessem se deixado abraçar pela contagiante pregnância da natureza de Miranda, e Bianca Bacha confirma isso em entrevista exclusiva.

Melodias, pulsações e andamentos foram se definindo conforme eles mergulhavam em tudo que viam, ouviam e sentiam por ali: ventos, o canto das aves, “o esturro da onça”, como Bianca relata. Ouvindo os sons naturais, captados previamente por Sandro, que assina a produção musical do projeto, cada um estabeleceu sua conversa criativa com o Pantanal.

O registro dos sons naturais – de aves, por exemplo — introduz, se mescla ou faz a ponte para uma execução instrumental (voz inclusa) coesa e deveras inspirada, que não força a barra para sorver e devolver, em forma de música, a fartura que o habitat de Miranda oferece.

“Suspiro da Terra”, doce e pulsante, e “Paisagem Invertida”, essa mais selvagem e misteriosa, são uma prova disso.

Ryan pontua, preenche ou arremata sempre com uma precisão e desprendimento envolventes. Ana, como se ouve em “Espiral”, migra da base para os solos numa transparência que comove. Gabriel – em “Canção do Ninho”, por exemplo, que começa e segue na cama dos gomos que vai colhendo ao longo do tema – parece deter a justa medida para o desempenho de seu baixo.

"Foi uma grande honra participar da criação do ‘Pantanal Jam’. Os sons da Pantanal, do modo como Sandro captou, tiveram um papel direto no processo de composição das duas músicas que fiz para o álbum.

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoRyan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

O tom e os ritmos dos sons naturais do Pantanal, inspirados por ideias musicais e paisagens sonoras próprias, criaram um clima que eu tentei capturar nas minhas composições. Quando nós gravamos, literalmente no meio de um dos lugares mais selvagens e remotos do mundo, a beleza e a energia natural nos inspirou a ouvir a natureza e um ao outro mais profundamente, o que resultou numa performance musical que demonstra uma profunda comunicação musical.

Adoro os músicos e a música da Urbem. E, desde que tocamos juntos em diversas ocasiões anteriores, eu compus as minhas músicas especificamente com o talento e a habilidade musical especial deles em mente” - Ryan Keberle, trombonista.

Sandro é um laboratório inquieto, dos pedais aos pratos de condução. E Bianca conduz os vocais numa têmpera e numa fruição que se articula como síntese do conjunto.

Comparações e referências são uma tentação no mundo do jazz. Mas a qualquer palpite sobre “Pantanal Jam”, é melhor calar e ouvir. É um álbum estimulante para esse silêncio de dentro, que nos faculta as melhores emoções da escuta e da experiência musical.

Brazilian jazz? Jazz? Ouça. Música apenas. E quanta música! Embrenhada e revelada nos refúgios de um lugar mágico, onde a natureza se recobra e o espírito se fortalece.

A Urbem lança “Pantanal Jam” hoje, às 18h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Apareça.

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