Entre as talentosas atrizes da nova geração, com apenas 36 anos, a carioca Gabriela Moreyra ganhou destaque ao ser a primeira protagonista negra da TV Record ao estrelar a novela “Escrava mãe”, em 2016. Desde então, participou dos folhetins “Segundo Sol”, “Bom sucesso” e “Salve-se Quem Puder”, na TV Globo.
Celebrando 20 anos de carreira, a querida atriz Gabriela Moreyra está no elenco da primeira série infanto-juvenil produzida pela Netflix “Luz”. Sucesso na plataforma, em sua estreia a série chegou em primeiro no Top 10 em todo o mundo como em "Olhar Indiscreto”, que ficou também entre as mais vistas do mundo na Netflix, no ano passado.
Na trama, que fala sobre cultura indígena e liderança feminina, a artista dá vida a personagem Dora. E em breve, a atriz poderá ser vista no longa “A Educação da Avó” (“L'Educazione de la Nonna”) todo feito em italiano e rodado entre Niterói, Rio de janeiro (RJ) e Calabria, na Itália.
Também com formação em dança, Gabriela Moreyra estrelou o longa “Para Além da Memória", em Portugal, e o filme infanto-juvenil "Os Aventureiros", ao lado de Luccas Neto, que também está disponível na Netflix.
Gabriela é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana e contou ao Caderno sobre a série "LUZ", carreira e seu novo filme.
Gabriela Moreyra - Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Sergio Baia - Diagramação Denis Felipe e Denise NevesCE - Gaby Moreyra, você acabou de estrear na Netflix a série “Luz”. Como foi fazer parte desse projeto? E o que pode contar de sua personagem?
GM - Foi incrível! Sinto orgulho de fazer parte de um projeto que além de abrir um novo gênero numa das maiores plataformas de streaming do mundo, aborda nossa cultura, nossa diversidade, trazendo debates sobre empatia e igualdade de uma forma leve.
Dora é uma mulher empreendedora, uma contadora de histórias que acredita no poder da literatura, e não vai desistir tão facilmente de seu sonho, apesar de leve e lúdica Dora traz em alguns momentos uma tristeza profunda.
CE - “Luz”, aliás, já está entre as produções mais vistas em alguns países pelo mundo em poucos dias de lançamento. Como você observa esse sucesso com uma trama que aborda questões relevantes como a cultura indígena e a liderança feminina?
GM - Sinto que essa série chegou para reafirmar as transformações que estamos vivendo e passando, trazendo cada vez mais o olhar das novas gerações para temas que são relevantes, e fazendo nós adultos repensarmos a forma como vivemos e lidamos com muitas questões até os dias atuais.
CE - E como tem sido o retorno do público brasileiro e estrangeiro?
GM - Maravilhoso! Tenho recebido muitas mensagens através das redes sociais, algumas de seguidores que já acompanhavam meu trabalho e sentiam saudade de me ver nas telinhas, e de novos seguidores que vieram parabenizar o trabalho em LUZ, agradecendo, contando as cenas preferidas.
Alguns perguntam se já estamos gravando a segunda temporada (risos). Recebi mensagens da Argentina, dos EUA, algumas de brasileiros que moram fora, Itália e, claro, muitas aqui do nosso Brasil.
CE - Você também está na série “Olhar indiscreto”, da Netflix, que também teve muita repercussão nacional e internacional em 2023. O que essa produção trouxe pra sua carreira?
GM - “Olha Indiscreto’ tem um espaço especial no meu coração porque foi a minha estreia no streaming e a minha primeira produção com maior alcance mundial, além de ter sido um desafio interpretar algo de um gênero tão diverso na minha carreira até então.
Gabriela na série "LUZ" da Netflix - DivulgaçãoCE - Há alguns meses, você filmou o longa “A educação da avó” em que fala em italiano. Como surgiu a oportunidade para esse trabalho na Itália? O longa vai estrear no Brasil também?
GM - Eu tenho um relacionamento com um italiano, e foi assim que a cultura italiana entrou na minha vida. Eu queria me expressar bem, conversar com os amigos que tinha feito na Itália e sentia que enquanto eu não pudesse me expressar bem jamais seria eu mesma.
E foi então que começou minha jornada de estudos. Estudei por alguns meses quando estive lá indo pra escola todos os dias e, desde então, não parei mais. Definitivamente me encantei com a língua e a cultura. O filme pareceu uma mera coincidência pois faltavam poucos dias pra eu viajar pra Itália, mas eu acredito no universo, eram sinais que estavam sendo mandados há alguns anos e foi assim.
A produção do projeto nos procurou e tivemos uma reunião, leitura de roteiro...Sendo uma produção entre Brasil e Itália a personagem teria que falar as duas línguas e ter um sotaque italiano sulista e um pouco de carioca, que em ambas as situações era o meu caso (risos). Ah sim! O filme vem pro Brasil, Itália e vai estar alguns festivais mundo afora.
CE - Como é atuar em outro idioma? Você planeja investir de fato em uma carreira internacional?
GM - Confesso que no início senti muito nervos. Sentia que não estava preparada. Levei isso até para a terapia e cheguei a conclusão de que o ser humano nunca se sente preparado o bastante. Muitas vezes pode ser o medo ou até mesmo a síndrome da impostora querendo te colocar freios, afinal eu estudava a língua há 3 anos. Se o momento não era aquele seria quando?
Estudei muito o roteiro para que me sentisse menos insegura, mas quando as gravações começaram e o entrosamento com a equipe aconteceu, tudo fluiu muito bem. Tive inclusive momentos de improviso com a língua, me surpreendi. Agora esperar que o resultado final tenha sido tão bom quanto o processo… Falando em processo eu já acredito que a carreira internacional está caminhando, mas sem pressa, um passo de cada vez, curtindo o processo e a conquista de cada trabalho.
CE - Gaby, além de “Luz”, você também está no filme “Os aventureiros”, estrelado pelo Luccas Neto. Como é trabalhar com o público infanto-juvenil? Como é seu contato com ele?
GM - O público infanto-juvenil é um público muito leal e que vibra muito com os projetos com os quais se identifica. Poder enviar algum tipo de mensagem que engrandece esses seres que são como uma esponjinha e estão num processo de aprendizado e construção me deixa muito orgulhosa.
Esse contato está sendo uma delícia. Já fui reconhecida na rua, ganhei abraços apertados e perguntas do tipo “Tia, mas se você está aqui agora, como você entrou na tela do cinema?” (risos)
Gabriela Moreyra - Foto: Sergio BaiaCE - Impossível falar com você e não lembrar que você foi a primeira protagonista negra da Record na novela “Escrava mãe”, em 2016. Como esse trabalho impactou sua vida pessoal e profissional?
GM - Foi um processo um tanto quanto doloroso, pois fui entrevistar meu pai e depois minhas tias. Somos uma família preta que batalhou muito para ter uma ascensão e que carregavam histórias duras de preconceito na vida.
Em “Escrava Mãe” fui estudar mais sobre quem era eu, como mulher preta no mundo. Muitas fichas não tinham caído até a chegada de Juliana. Não foi fácil, mas foi imprescindível para meu crescimento pessoal. Aprendi muito, muito mesmo, e conheci também meus limites de trabalho, o volume, a importância e o peso de carregar uma protagonista. Sou completamente grata por esse trabalho, em todas as esferas.
CE - E como você analisa hoje essa maior participação de atores negros, inclusive como protagonistas nas produções da TV e do streaming?
GM - Todo ator quer trabalhar. Muitas vezes não temos a oportunidade de escolher personagens então, realmente, cabe a essas produções colocarem pessoas pretas em lugares de destaque.
Faltam ainda mulheres e homens pretos em lugares de poder dentro dessas plataformas, nos roteiros, na direção, e assim por diante. Ocupar outros espaços e não somente na frente das telas. Ainda estamos distantes do que seria o ideal, mas já é um caminho.
CE - Olhando sua trajetória, vemos poucos trabalhos em novelas. Acha que, no Brasil, atuar nesse tipo de produção ainda é fundamental para uma carreira de sucesso?
GM - Olha…não acho que seja fundamental, inclusive fico contente com tantas plataformas surgindo cada vez mais. O mercado agora tem concorrência, tem mais emprego e mais chance para outras pessoas poderem trabalhar com o audiovisual.
Sobre as novelas, eu particularmente sou uma super fã, tanto de assistir quanto de trabalhar. Sou noveleira das antigas (risos). Somos pioneiros em telenovelas e o Brasil faz isso com muita maestria e qualidade, sem querer puxar sardinha. Sinceramente, pra mim, novela continua sendo paixão nacional!
Ela foi a primeira protagonista negra da TV Record - Divulgação

Helio Mandetta e Maria Olga Mandetta
Thai de Melo


