Morando há um ano e meio em Dubai, a atriz Sabrina Petraglia está passando uma temporada no Brasil para gravar a novela “Família é Tudo”, na qual vive a personagem Maya na TV Globo. “Estou muito feliz com essa oportunidade, ver que é possível, mesmo sendo mãe de três pequenos (Gael, Maya e Leo), morando nos Emirados Árabes, organizar toda uma agenda e se realizar profissionalmente, voltar pra televisão, para os estúdios, depois de quatro anos”, conta.
Sabrina também aproveitou para filmar “Mar de Mães”, filme dirigido por Leticia Prisco, com roteiro de Thaís Vilarinho e Thaís Poetha, ao lado das atrizes Fernanda Rodrigues, Pathy Dejesus e Thaila Ayla.
“É sobre a importância da parceria entre mães que se acolhem, se ajudam. Também fala da exaustão, da solidão. Maternidade é como um mar, as vezes está sereno, às vezes você toma uns ‘caldos’. É imprevisível e você vai aprendendo ao navegar. É um filme lindo”, diz a atriz que viverá a história de uma mãe solo, que está entre ser mãe e ser filha e vive todos os conflitos nessa relação com a mãe.
Em 2016, Sabrina integrou o elenco principal de “Haja Coração”, onde interpretou Shirlei, uma garota com deficiência e que fez par com o ator Marcos Pitombo. A personagem foi um dos grandes divisores de água na carreira de Sabrina, que até hoje é reconhecida nas ruas pela personagem.
No ano seguinte, esteve no elenco de “Tempo de Amar” como a feminista Olímpia, e em 2020, fez a competente administradora de empresas Micaela em “Salve-se Quem Puder”, a sua terceira parceria com o autor Daniel Ortiz.
Sabrina começou a fazer teatro na escola, aos 7 anos de idade. Se formou em bacharel de Comunicação em Multimeios pela PUC-SP, exerceu a profissão, porém, desistiu para atuar. Em 2009, se formou como atriz pela Escola de Arte Dramática.
Sabrina é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela nos contou sobre sua vida fora do país, maternidade e seu retorno as novelas no Brasil.
Sabrina Petraglia é Capa do Correio B+ desta semana - Foto: Babuska Fotografia - Diagramação: Denis Felipe e Denise NevesCE - Você está morando em Dubai há quase dois anos. Como foi se acostumar a uma cultura totalmente diferente?
SP - Estou morando em Dubai há quase dois anos, e não foi difícil me acostumar. É claro que sempre tem um período de adaptação, eu cheguei não falando nada de inglês, muito menos árabe. Eu tinha uma ideia dos Emirados, quando meu marido me propôs a mudança, eu falei de jeito nenhum. Acho que deve ser distante da natureza, aquela ostentação, muito glamour, luxo, para criar crianças. Meus filhos são muito pequenos, não querem um lugar assim. E aí a gente conversou e decidimos ficar por um ano. E eu me apaixonei.
O Sheikh Mohammed, que governa e dirige Dubai, gosta muito de verde, de natureza. Então eu moro num condomínio super arborizado e com pássaros. É um lugar extremamente seguro, os meus filhos saem de bicicleta, a gente vai para a escola de bicicleta, então, tenho uma qualidade de vida surpreendente. Claro que nessa época do ano que a gente está agora, o verão lá é muito quente, e é impossível ficar. Então as escolas fecham e a gente aproveita o período para vir para o Brasil e ficar perto da família.
Lá é um lugar onde as pessoas são muito educadas, não tem essa repressão que eu achava que tinha. A gente tem uma ideia dos Emirados totalmente distorcida da realidade. Os Emirados recebem muitos estrangeiros, é um país onde 80% são expatriados, então não tem essa coisa de não poder usar regata, não poder usar biquíni na praia, não tem nada disso.
Claro que é um país muçulmano, e eu estou morando lá, e pra circular eu prefiro usar tipos diferentes de roupa, me cobrir um pouco mais, por respeito. Isso faz parte não só da religião, como é uma coisa cultural deles, acho que eu tenho que respeitar, mas se um estrangeiro for passar férias, pode usar shorts, regata, pode um monte de coisas que eu achava que não podia. Tenho uma vida muito boa lá com a minha família, muito segura e eu adoro morar em Dubai.
CE - Como é ser mulher e atriz em um país como os Emirados Árabes? Sentiu algum preconceito pelas ruas?
SP - Não senti nenhum preconceito por ser mulher, por ser atriz, muito pelo contrário, eu sinto que quando eu converso com as mulheres emirates, elas têm muita curiosidade de saber como é ser atriz no Brasil e como é ser atriz.
Eu acho que devem ter famílias mais radicais onde realmente a mulher tem menos voz, mas como em qualquer lugar do mundo, o próprio Brasil tem religiões mais radicais, em que as mulheres ainda são submissas, ainda estão num outro lugar, eu acho que deve ter essas famílias mais radicais, mas nas famílias emirates que eu conheci, as mulheres são superdescoladas, empoderadas, trabalham, tem realização profissional também.
Eu tinha uma ideia de que as mulheres eram super reprimidas, que não tinham voz. Mas imagina, tem nove ministras no poder, tem mulheres muito poderosas, eu tenho profunda admiração, são engajadas.
CE - Sente alguma diferença na criação, educação dos filhos nas escolas de lá?
SP - O que eu posso falar das escolas das crianças é que são maravilhosas. A diversidade cultural que se tem nos Emirados eu me sinto em casa porque ninguém está em casa lá, tem gente do mundo inteiro. Na classe do Gael tem 18 alunos de 15 nacionalidades, é uma riqueza, essa pluralidade, meu filho tendo contato aos 5 anos com essa diversidade logo no início da vida, é incrível, porque eu acho que ele vai ter uma cabeça totalmente diferente da minha, muito mais aberta.
Eles estudam hoje numa escola britânica, eu gostei muito, eu e o Ramon estudamos muito sobre a grade curricular, o Gael já começou a aprender a ler e a escrever, inclusive Maya na nursery já arrisca as primeiras palavras. Eu acho que a educação é muito boa.
No Brasil a gente também tem muitas escolas boas, mas em Dubai também. Então eu estou bem feliz de estar dando essa oportunidade para os meus filhos, que já são bilíngues, tão pequenos. E isso é um privilégio. Eu que estou aprendendo a falar inglês agora, eu olho para eles falando inglês e falo “Uau, que bom que eles já têm as duas línguas”. Então eles vão ser alfabetizados em inglês, mas eu já estou procurando professoras em português também Porque português é a língua de base deles e eu não quero que eles percam isso. Essa identidade, nossa identidade brasileira.
Foto: Babuska FotografiaCE - Como tem sido conciliar a carreira de atriz, manter trabalhos no Brasil, morando tão longe?
SP - Eu estou muito feliz de conciliar minha carreira com a maternidade, mesmo morando tão longe, do outro lado do mundo, em pleno deserto. Eu estou muito feliz de estar de volta fazendo um filme, que é o “Mar de Mães”, fazendo a novela das sete, “Família Tudo”, com uma Maya (personagem), que também chega dos Emirados Árabes. O autor, gentilmente, falou um pouco do lugar onde eu moro.
E eu tenho alguns projetos meus que visam mostrar um pouquinho mais aqui no Brasil o que são os Emirados Árabes, de verdade. Uma visão de quem mora lá, de uma expatriada, mãe, que está lá no dia a dia vendo tantas coisas diferentes e incríveis. Gostaria de mostrar os Emirados de uma forma como ninguém nunca mostrou.
Quem sabe aí venha um projeto para o Brasil nesse sentido. Vou trabalhar para isso e também levar a cultura do nosso Brasil para os Emirados. De repente a literatura, a literatura infantil. Eu sou uma atriz que vem do teatro, quem sabe, levando algum texto da literatura brasileira para lá. Não sei ainda, mas tem alguns projetos bem incríveis em mente, fazendo esse intercâmbio Brasil, Emirados.
Mas estou feliz também de ter essa oportunidade, depois de quatro anos, voltar a fazer novela, do Daniel Ortiz, do Fred Mayrink, me considerarem, considerarem essa mãe de três. Porque quando pensam em Sabrina, tem três filhos, essa é uma dor de cabeça, mora tão longe (risos).
E não, estou mostrando que é possível. Estar aqui, eu tenho uma rede de apoio maravilhosa da minha família e de ajuda mesmo, tenho essa oportunidade, esse privilégio. Então consigo, pontualmente, me organizar para fazer produções aqui no Brasil. Estou mostrando isso, que venham mais trabalhos.
CE - Você tem aproveitado esse tempo para estudar, se aprofundar em alguma arte?
SP - Olha, para falar a verdade, eu não tenho muito tempo não, porque eu tenho três bebês e quando eu não estou trabalhando, investindo nos meus projetos, fazendo a novela, eu estou 100% com eles. Eu gosto muito de estar com as minhas crianças, então não tenho muito tempo para estudar, ainda não consegui estudar inglês, eu aprendi inglês na raça, tive carta de motorista, tudo na raça.
O meu filho mais novo tem dois anos, fez dois anos faz pouco tempo, e eu coloquei ele na escolinha só com dois anos, então nesse tempo todo eu fiquei com o Léo em casa, então o meu dia todinho era tomado por eles, quando eles dormiam eu sentava no computador para desenvolver os meus projetos.
Agora que os três estão na escola, quando eu voltar para Dubai, eu vou me organizar para estudar, para falar inglês, o inglês correto. Porque eu tô me virando, eu me comunico muito bem, mas falo muito errado, tenho essa consciência, preciso melhorar urgente isso.
Eu gosto sempre de conseguir ler os meus livros, eu sou atriz, eu nasci atriz e já estudei muito, fiz escola de arte dramática da USP, fiz vários cursos, então trabalhar também, me colocar em movimento a prova disso, ver que eu ainda estou em alta performance, me sinto até melhor, depois de tanto mergulho na maternidade, eu sou uma atriz muito mais profunda, mais interessante. Com muito mais profundidade, isso é maravilhoso.
Foto: Babuska FotografiaCE - Você pensa também em trabalhar nos Emirados? Como é o mercado lá para atriz?
SP - Atuar, trabalhar como atriz nos Emirados, eu ainda acho que não consigo por conta da língua. Eu não falo um bom inglês e muito menos árabe. Eu tenho amigos que são apresentadores da TV Local, acho que tem um caminho ali para mim, mas eu ainda preciso aprimorar a língua.
Mas eu pretendo fazer, trabalhar com projetos nos Emirados, Brasil-Emirados, eu estou muito próxima do embaixador Osidne Romero, que é uma pessoa maravilhosa, fazemos aniversário No mesmo dia, dia 16 de abril, somos arianos, empolgados, apaixonados e estamos pensando em muitos projetos, temos muitas ideias para promover esse intercâmbio Brasil-Emirados, então os meus projetos são nesse sentido agora.
CE - Como está sendo essa volta às gravações depois de algum tempo afastada da televisão?
SP - Foram quatro anos distante, só cuidando das minhas crianças e dessa mudança radical para os Emirados Árabes, e agora voltar é maravilhoso, eu tô me realizando de voltar. Tinha tanto medo de me verem só como mãe e não me darem essa oportunidade depois da maternidade.
Eu sou apaixonada, eu já tentei não ser atriz, não deu, já fui jornalista por sete anos antes, então comecei minha carreira tarde, assim, tarde, entre aspas, né, então tá sendo maravilhoso voltar, mostrar que eu sou capaz, pra mim mesma. Estou muito mais madura, mais profunda, não me preocupando tanto com o que os outros acham, mas me preocupando mais com a minha performance, como eu consigo desenrolar tudo isso, essa vitalidade que eu ainda tenho de atuar e tudo, enfim, tá sendo um reencontro comigo mesma, quem é a Sabrina pós-maternidade agora no Rio de Janeiro, sozinha, muitas vezes sozinha, porque os meus filhos ficam em São Paulo, perto dos avós, né? E eu vou para o Rio toda semana para gravar e gravo quase a semana inteira.
Está sendo muito bom, um reencontro comigo mesma, a carreira, a profissão faz parte da minha individualidade, isso é muito importante também. Então eu tenho voltado muito feliz, tenho mostrado que a mamãe faz o que ama para os meus filhos, então está sendo maravilhoso.
Foto: Babuska FotografiaCE - Além da novela, você também gravou um filme que fala sobre maternidade. Conta um pouco sobre essa experiência.
SP - Foi sensacional gravar “Mar de Mães”. Há dois anos eu me encontrei, tomei um café com a Thais Vilarinho, a mãe fora da caixa. A gente se conectou nas redes sociais, marcamos um café. Eu estava grávida do Léo, dois anos e meio atrás.
E eu falei, “Thais, escreve alguma coisa de maternidade pra mim. Eu tenho medo de não conseguir voltar a trabalhar, de ninguém me querer mais”. Aquelas inseguranças que temos. Quem é mãe sabe. E aí ela começou a escrever esse projeto, Mar de Mães, e juntas a gente agregou pessoas maravilhosas e realizou esse ano Mar de Mães, que é um filme que fala principalmente sobre amizade entre mulheres mães. Só uma mãe, uma outra mãe, sabe o que está no mesmo estágio, que você sabe o que você passa. Como é solitário, quais os perrengues. Medos, as vitórias também, enfim, o caos e a delícia.
Então fala dessa amizade de três mulheres, o filme serve como uma rede de apoio para muitas mulheres, mães, que estão aí nessa maternidade, muitas vezes, solitária. É um filme lindo, poético, foi demais gravar, foi um sonho, foi realizar um sonho. E que venham outros, porque Thaís tem vários projetos nesse sentido e estamos juntas em todos eles.

Helio Mandetta e Maria Olga Mandetta
Thai de Melo


