Com 32 anos de idade e festejando 10 de carreira, Murilo Sampaio é o grande vilão da terceira (e última) temporada da série "Dom", da Prime Video. Na trama, o ator dá vida ao traficante Colibri, que já fez aparição na segunda parte da produção.
Atualmente, seu trabalho pode ser visto na série "Depois da meia-noite", no Youtube, sob a direção do vencedor do Emmy Rogério Gomes e com texto de Lela Gomes. O projeto com temática LGBT estreou no dia 16 de abril e semanalmente tem novos episódios disponibilizados. E, por conta do sucesso, já há previsão para uma nova temporada.
"Suspense e imprevisibilidade. O personagem vem com a função dramatúrgica de acuar o Pedro Dom, de deter sobre ele certo domínio, coagi-lo a fazer coisas e usar de sua expertise em assaltos até a última gota. Agora, o modo como ele exerce esse poder é sempre uma caixa de surpresas. Ele é um manipulador imprevisível, metade sombra, metade carisma", explica.
No streaming, Murilo Sampaio está no elenco da aguardada novela "Guerreiros do Sol", do Globoplay. A produção sobre o cangaço, também com direção de Rogério Gomes, chegará na plataforma em 2025 como parte das comemorações dos 60 anos da Globo.
O artista ainda espera o lançamento da série "Vidas Bandidas", da Starplus, em que atua ao lado de Juliana Paes, Rodrigo Simas e Otávio Muller, além de ser protagonista das séries "Empurrando com a Barriga" e "Fim de Comédia", ambas sem previsão de estreia no CineBrasil TV.
No cinema, ele rodou os inéditos "Vilã das Nove", ao lado de nomes como Alice Wegman, "Oeste outra vez" e o pernambucano "A vida secreta dos meus três homens", de Letícia Simões, em que interpreta um contador que sonha em ser bailarino. Baiano, Murilo Sampaio acabou de fazer seu primeiro projeto em sua terra natal: o longa "O sino", de Isaac Donato, em que vive um pescador.
Em seu currículo ele ainda tem o filme "Pacificado", em que atuou e fez seu primeiro trabalho como assistente de produção de elenco. Já na TV, o ator fez participação nas novelas "Malhação", "Orgulho e Paixão" e "Segundo Sol" e também na série "Justiça", todas na TV Globo.
Recentemente, esteve em "Todas a Flores", no Globoplay, e nas séries "Impuros", da StarPlus, e "Cidade Invisível", da Netflix. No teatro, fez algumas peças e integrou o Grupo Nós do Morro.
Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, o ator fala sobre carreira, escolhas e também do sucesso da série DOM que chega a sua última temporada pela PRIME VÍDEO.
CE - Murilo, o público já teve um gostinho do Colibri na segunda temporada de "Dom". Agora, o seu personagem vem com muito destaque na nova fase da produção. O que podemos esperar dele dessa vez?
MS - Suspense e imprevisibilidade. O personagem vem com a função dramatúrgica de acuar o Pedro Dom, de deter sobre ele certo domínio, coagi-lo a fazer coisas e usar de sua expertise em assaltos até a última gota. Agora, o modo como ele exerce esse poder é sempre uma caixa de surpresas. Ele é um manipulador imprevisível, metade sombra, metade carisma.
CE - Como é entrar no meio de uma série de grande sucesso e ganhar muito espaço com um novo personagem ?
MS - É como entrar num carrossel onde o ritmo da rotação e a música que toca é desconhecida por você, mas você tem q saltar nele em movimento e dançar junto. Claramente não é fácil, a gente cobra o êxito de si próprio o tempo todo, sente que tem que aderir a esse corpo de baile no mesmo padrão dos que já estão para manter a mesma energia e retroalimentar as boas expectativas que o público tem com a série, rola uma autocobrança forte.
Penso que é uma responsabilidade grande pra qualquer artista entrar no meio ou na sequência de um projeto grande como este. Ao mesmo tempo que é um presente, agradecerei ao Breno Silveira eternamente por esse espaço.
CE - Murilo Sampaio é baiano, mas em "DOM" vive um traficante que domina a Rocinha, a maior favela do Rio onde a história se passa. Como foi trabalhar para chegar no sotaque carioca? E como foi construir um bandido violento de uma realidade bem distante da sua?
MS - A Rocinha é uma das comunidades do Rio de Janeiro que mais teve migração nordestina, muitos ali são nordestinos ou filhos e netos de nordestinos. Colibri não era diferente. A ideia na dramaturgia era de que, como alguns traficantes da época, a personagem fosse filho de migrantes ou fosse nordestino.
Só que sem delimitar necessariamente de onde. Não tive que aprender ou fazer um sotaque carioca. Também não me foi recomendado fazer um "baiano convicto". Acredito que o que saiu no Colibri é resultado de um hibridismo que habita em mim, um baiano que mora há 9 anos no Rio de Janeiro. Quem é carioca não me ouve como um local, por exemplo. Acho que essa mistura foi boa para o personagem, já que muitos moradores daquela comunidade também são atravessados por esta mistura regional.
CE - Atualmente, também podemos ver seu trabalho na série "Depois da meia-noite", no Youtube. O projeto tem direção do Rogério Gomes, famosos ex-diretor da Globo que já ganhou Emmy. Como você observa essa possibilidade que os artistas têm de poder mostrar seus trabalhos independentes na internet?
MS - A internet está aí, é uma realidade. A possibilidade de produzir conteúdos e depositá-los em veículos de streaming gratuitos (como o YouTube) é a janela que muitos realizadores de audiovisual tem para poder ter seus trabalhos vistos. É a saída pra muita gente que não tem seus trabalhos aprovados por canais ou que simplesmente quer comunicar, quer ter sua arte vista.
Acredito que as webséries e demais conteúdos gratuitos em plataformas de internet já são uma realidade que veio pra ficar e contribuem com q pluralidade de narrativas, uma das tantas novas alternativas que o público tem para consumir arte além da tv aberta. Acho excelente qualquer modalidade que permita difusão de diversidade. A internet é isso.
CE -"Depois da meia-noite" tem temática LGBT. Como artista, como você analisa a possibilidade de levar assuntos atuais para o público?
MS - Fundamental. Toda manifestação artística é uma forma de comunicação, a possibilidade de levar informação, reflexão, emancipação de horizontes e discussões sociais através de uma obra de arte pra mim é essencial, se torna, muitas vezes, uma questão de compromisso.
CE - Ainda hoje vemos muitos artistas (até já renomados) sonhando em fazer cinema e chegar ao streaming, mas Murilo Sampaio tem feito justamente o caminho contrário. Como você enxerga essa sua trajetória além da teledramaturgia? Sonha em fazer novelas na Tv aberta?
MS - Eu comecei a trabalhar no cinema de autor, natural que fosse estabelecendo redes alí. Foi o cinema e as séries que me deram as primeiras oportunidades, desde as pequenas participações aos grandes personagens como Colibri e Glauber (Guerreiros do Sol). Não me furto em dizer que o que vocês chamam de "caminho contrário" foi meu fluxo natural porque é um espaço mais aberto a heterogeneidades.
Veja, eu sou um homem preto e nordestino, por muitos e muitos anos essa não foi a cara da televisão brasileira. É natural que tenha tido mais oportunidade em uma seara mais alternativa. Eu desejo fazer novelas na televisão aberta, acredito que preciso ter essa experiência profissional e esse contato direto e abrangente com o público em geral.
CE - Hoje, estamos vendo cada vez mais artistas nordestinos ganhando espaço no mercado artístico fora da sua região e sendo reconhecidos pela imprensa e pelo público. O que você pode falar sobre isso? Acha que realmente está mais fácil para atores além do eixo Rio-SP chegar na indústria?
MS - É necessário. Por uma questão lógica o mercado necessitou ampliar o espectro das narrativas que se debruçava, tendo que contar outras histórias, com outros rostos e vozes, onde o Brasil se visse e se reconhecesse.
Naturalmente seguir falando com, sobre e para o sudeste não é mais suficiente para atrair audiência. Então mais espaço foi criado para o novo, que na verdade sempre esteve aí. Rio e São Paulo sempre estiveram cheio de artistas do Brasil todo buscando um lugar ao sol. Bom que agora estes artistas estão tendo mais oportunidades de trabalho e, por consequência, de reconhecimento dos seus êxitos.
Não acredito que a afirmação mais apropriada seja dizer que está mais fácil. Ainda encontramos muitas e muitas barreiras para conseguir trabalhos ou conseguir personagens de destaque e protagonismos.
É difícil quando ainda há muito preconceito e resistências mercadológicas, como por exemplo, a tão cobrada exigência de seguidores. Fator impossível de superar quando se é um artista desconhecido do grande público, ainda que com performances de qualidade. Mas concluo que, sim, hoje temos mais oportunidades do que há 10 anos atrás, por exemplo.
CE - Murilo Sampaio está no elenco da aguardada novela "Guerreiros do Sol", que vai estrear em 2025 no Globoplay. Geralmente, atores de novela gostam de acompanhar o retorno de público para ir moldando seu trabalho. Como foi fazer esse projeto às escuras nesse sentido?
MS - Foi como fazer uma série. Nessa minha pequena trajetória fiz mais séries e filmes do que teatro e TV, de modo que não tive a experiência de ter retorno imediato do público, já que boa parte do que fiz levou muito tempo entre feitura e lançamento. É o processo natural em cinema e séries de streaming. Como ainda nunca fiz uma novela inteira, não sei dizer como é isso de sentir o público ao passo que estou trabalhando.
CE - É muito autocrítico?
MS - Me assisto, entretanto, o faço mais por um dever para com a investigação e melhora do meu trabalho do que por um prazer. Não é confortável me ver. Me crítico a todo tempo. Enquanto respondo essa entrevista ainda não terminei de assistir o DOM, por exemplo, comecei ontem, dias após a estreia (risos).
CE - Que avaliação faz desses seus 10 anos de carreira? E como se vê daqui 10 anos?
MS - Uma escala de batimentos cardíacos de uma personagem hipertensa (risos). Altos, baixos, vontade de desistir, sonhos muito altos a ponto de seguir continuando, enfim, muita coisa. Mas no geral é positiva, consegui nos últimos anos fazer projetos incríveis, colocar meus quereres e reflexões em processos autorais com Marcus Curvelo, meu amigo e sócio de sonhos, trabalhei com referências em atuação, direção roteiro. Conheci gente incrível em função do meu trabalho. Enfim, o saldo segue sendo positivo.
CE - Quais os próximos projetos em que poderemos ver seu trabalho?
MS - Em breve filmo um curta sob a direção da atriz Camila Márdila e rodo a segunda temporada da série "Depois da Meia Noite", web série no Youtube de direção de Rogério Gomes. Ainda no segundo semestre estreará a série "Vidas Bandidas", no Star Plus, o filme "Vilã das Nove", de Teo Poppovic, nos cinemas e para o ano que vem os longas "A vida Secreta dos meus três homens" e "O sino", de Leticia Simões e Isaac Donato, respectivamente. Na Globo, irá ao ar a aguardada "Guerreiros do Sol", também de direção de Rogério Gomes, o Papinha, em homenagem aos 60 anos da emissora