Imagine ser bissexual nos anos 1940? O desafio de interpretar o personagem Érico na novela das seis “Amor Perfeito” chegou para o ator Carmo Dalla Vecchia (51), antes mesmo de encerrar as gravações de “Cara e Coragem” e o ator aceitou de imediato.
O advogado Érico avança na trama com contornos complexos sobre sua sexualidade e sofre com as chantagens da vilã Gilda enquanto tenta esconder a sua orientação sexual para manter a sua reputação.
Para Dalla Vecchia, por mais que a novela se passe em uma década mais distante, o mundo ainda atravessa preconceitos difíceis de quebrar: “As pessoas não aceitam pessoas diferentes delas. O Érico tem uma história muito bonita e uma curva muito grande ao longo da história. Acho que essa trama traz questionamentos muito importantes, mas em uma trama recheada de afeto e amor,” destaca o ator.
A causa LGBTQIPA+ está também nas redes sociais do ator, que comemorou recentemente mais de 1 milhão de seguidores de seus conteúdos que com humor, leveza e inteligência, trata de temas sensíveis e cumpre uma importante função de informar e descontruir preconceitos.
O artista tem apostado na criação de vídeos divertidos, brincando sobre sua experiência e orientação sexual dois anos após se assumir gay.
Nestes mais de 30 anos de carreira, Dalla Vecchia demonstra sua pluralidade artística e sua forma singular de enxergar a vida, se reinventando como ator e assumindo papéis importantes em sua jornada pessoal como homem, pai do pequeno Pedro de 3 anos, e como marido de João Emanuel Carneiro, com quem é casado há 17 anos.
Em conversa exclusiva com o Correio B+, Carmo fala sobre família, conteúdo digital, seu novo personagem Érico, início de carreira e também sobre ser pai. Veja a entrevista na íntegra...
O ator Carmo Dalla Vecchia é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Vinícius Mochizuki - Diagramação: Denis Felipe/Denise NevesCE - Carmo, você iniciou como modelo e depois como ator? Nos conte um pouco do início.
CD - Minha carreira como modelo foi curta. Morei em SP, venci o “The Look of the Year” de 1990 e geralmente todo trabalho que pegava eram comerciais para TV com texto. Naturalmente o ator foi surgindo enquanto era modelo.
CE - Você teve seu primeiro papel já na TV Globo. Como foi essa estreia na maior emissora do país?
CD - Foi bonito e difícil. Era um trabalho muito especial, que foi “Engraçadinha – Seus Amores e Seus Pecados”. Trabalhei com pessoas que já tinham muita experiência e eu estava vindo de uma escola de teatro sem entender como funcionava a televisão. Poucos meses depois da mini-série, já estava gravando minha primeira novela e tudo rapidamente aconteceu. Mas o que me grudou os pés no chão foi a minha carreira paralela no teatro que me ensinava a ter calma e entender onde exatamente se localizava o prazer do meu ofício. O prazer da descoberta, do ensaio, da criação de um personagem, o teatro acabou me ensinando a respirar.
CE - Permear por emissoras como Record e SBT foi um aprendizado? Porque você fez trabalhos de destaque e sucesso também.
CD - Sim, foi e sou muito grato a todas elas. Por mais que a maioria desses trabalhos quase ninguém tenha visto.
CE - O teatro e o cinema também fazem parte dessa trajetória não é mesmo?
CD - O teatro mais, sempre me dediquei mais ao teatro e a TV, o cinema foi esporádico. Acabava emendando sempre uma novela em outra e hoje quando me dou conta que já realizei 19 novelas fico surpreso do tanto que já fiz. O mercado da TV sempre me absorveu tento que acabei entrando nesse fluxo e aceitando os convites que me faziam.
Carmo em A Favorita - Foto: TV GloboCE - Como foi fazer Billy Elliot? Você gosta de atuar em musicais?
CD - Sou apaixonado por eles. Foi lindo demais! Meu filho estava sendo gerado ainda e olhava para aqueles três meninos que revezavam o personagem do Billy e me perguntava com qual deles meu filho se pareceria.
CE - Um personagem difícil de construir ao longo desse caminho que tenha sido um desafio..
CD - Sem dúvida “Zé Bob” de A Favorita. Era uma responsabilidade grande demais e a imprensa estava louca para me tirar do armário. Foram cruéis e malvados comigo e eu hoje me orgulho de ter aguentado a surra com a cabeça em pé e ter acreditado no poder do meu trabalho.
CE - Você também é fotógrafo e fez uma exposição? Nos conte sobre esse olhar.
CD - Sempre falo que me considero um melhor fotógrafo que ator. Meu olhar para a fotografia é mais claro, não tão confuso e sei exatamente o que quero de uma foto. Consigo identificar o que é ordinário e extraordinário no meu trabalho como fotógrafo mais facilmente.
CE - Fala um pouco pra gente do Érico?
CD - Personagem lindo em que tive a chance de tocar em feridas profundas e falar um pouco mais sobre a minha comunidade LGBTQIAPN+
CE - Carmo, você é um grande sucesso nas redes sociais, como é influenciar tanta gente através de seu conteúdo nas redes?
CD - É um grande prazer e também requer muito trabalho e muita criatividade. Sendo um ator, me sinto exercitando o tempo inteiro meu lado dramaturgo e também o ator. Tem sido uma grande alegria e hoje me vejo sendo muito mais conhecido pelos vídeos no Instagram do que nos trabalhos que já fiz e que faço na TV.
Carmos com o filho Pedro - Foto: DivulgaçãoCE - Como você cria esse conteúdo?
CD - Consumindo muito o material que outras pessoas criam e tendo ideias a partir de outros vídeos.
Entendendo a velocidade do Instagram e do Tik Tok.
Nunca perdendo o medo de estar me tornando um cara chato.
Esses três itens ativaram minha criatividade e muito. No começo eu pensava: ‘O que vou postar amanhã”? Hoje penso: “Tenho que gravar uma das centenas de ideias que tive aqui. Que horas farei isso”?
CE - Em que momento sentiu que queria ser pai?
CD - Quando já estava há mais de dez anos casado e percebi que outros caras estavam conseguindo ser pais, então era possível. Escrevendo isso percebo a importância do ativismo que me proponho a fazer em minhas mídias sociais.
CE - Como é a relação com o seu filho?
CD - Mágica e respeitosa. Meu filho foi muito desejado e esse para mim é o grande segredo de crianças felizes. Nunca entendi por que no nosso país não se fala em controle de natalidade. As pessoas fazem campanhas para ajudar crianças abandonadas ou com dificuldades básicas, mas ninguém toca no tema Controle da Natalidade. Por quê? Isso é uma questão religiosa? Será?
O ator com o marido o diretor João Emanuel Carneiro - Foto: DivulgaçãoCE - Como é o Carmo fora do trabalho? O que gosta de fazer?
CD - Fora do trabalho atualmente o Carmo trabalha também, por que a cabeça dele não para poder criar tanto material para postagens. O único que me tira completamente disso a qualquer momento é meu filho.
CE - Você tem algo que gostaria muito de fazer dentro da sua carreira de ator? E como pai?
CD - Como ator, quero fazer um monólogo contando histórias de pessoas como eu. Como pai, quero continuar com minha família com saúde e unida como já é.
CE - Novos projetos?
CD - Um filme e inicio do texto de um novo espetáculo.
Seu personagem Erico na TV Globo - Foto: Divulgação

Estener Ananias de Carvalho e Renata dos Santos Araújo de Carvalho
Anderson Varejão, Luiz Fruet e Aylton Tesch


