Em meio ao verde, erguida sobre quatro pilares de eucalipto, a casa entre árvores foi a primeira moradia de Flávia e Gabriel como casal, em 2010. Construída no bairro Vila Nascente, região do Parque dos Poderes, a solitária estrutura de madeira foi o suficiente para mostrar que o amor mora na simplicidade.
Por seis meses, eles viveram sob as agruras do tempo. Se lá fora chovia, lá dentro também. O espaço que tinham como quintal era e ainda hoje é tomado pelo verde. Do portão de elevação até o telhado, única cobertura da casa, são bons passos percorridos debaixo de água, sol e vento. Vinte e um degraus separavam o chão do céu e a vista que o casal tinha ao acordar de manhã e olhar a Campo Grande lá fora, pelas janelas.
Entre o verde de um bosque, casa da árvore foi onde casal aprendeu o quão simples pode ser o amor. (Foto: Gerson Oliveira)
Gabriel Sborowski Polon, hoje com 36 anos e Flávia Menezes Polon, de 33, se conheceram cursando Direito. Ele estava saindo da casa dos pais e o primeiro lugar que chamou de “seu” foi a casa na árvore, que havia sido construída pelo carpinteiro da família a pedido da mãe dele, dez anos atrás.
“Eu ficava por aqui, tinha uma vida que dava para se aventurar, aí ela vinha e ficava comigo”, recorda Gabriel. “Fazia umas comidinhas... E um dia, conversando nessa escada, eu falei: ‘se você construir uma pecinha aqui, eu venho morar com você’”, lembra Flávia. Ele emenda a história “e do jeito que está, você não vem?”, perguntou. A resposta dela foi sim.
O diálogo de agora se passa nos degraus onde foi feito o convite para dividirem o mesmo teto. A moradia foi escolha do casal e nada tinha a ver com condições financeiras. “Era puro romantismo”, descreve Gabriel. A mudança dela aconteceu em setembro, época de muita chuva naquele ano. “A gente tinha que sair para trabalhar e tomava chuva. Não era fácil não, ficávamos ao relento, mas era bom, muito bom”, pontua Gabriel.
Casa contava apenas com um cômodo, poucos móveis e muito amor entre os dois. (Foto: Gerson Oliveira)
Em 20m², o casal tinha tudo o que precisava e isso não estava relacionado à estrutura. O conforto vinha do carinho que um tinha pelo outro. Com apenas um cômodo, até o banheiro ficava lá fora, a céu aberto. “Coloquei um ar condicionado, porque era muito calor, tinha a nossa cama, um criadinho mudo e depois um fogão à lenha e aqui vivemos de amor durante seis meses”, aponta Gabriel. O chuveiro era uma bica e a água, geladíssina. “E nem sentir frio eu sentia. Era muito amor mesmo”, concorda Flávia.
A casa entre árvores não contava com vizinhos, muito menos alguma alguma casa de “apoio”. O cenário era de um bosque praticamente inabitável. “Quando meu sogro veio conhecer, fomos pedir uma pizza. Liguei, fiz o pedido, mas não quiseram entregar dizendo que era muito arriscado”, conta Gabriel.
Na conversa, a pose para a foto traz um sorriso nostálgico. Era bem ali que eles se fotografavam quando viviam entre as árvores. “Aqui era lindo quando saía a lua cheia e tinha muito passarinho. Eles vinham aqui, sentavam e cantavam, acordávamos com uma sinfonia”, contam os dois.
A necessidade de se adequar levou o casal a procurar um lar “convencional”. “Eu estava tirando a Flávia da casa dos pais dela, então tinha que corresponder a uma certa expectativa”, explica ele. E também havia o outro lado, apesar de ser uma bela moradia, aos poucos, o casal foi sentindo falta de um banheiro dentro de casa, de uma cozinha prática à mão. Necessidades da vida que foram aparecendo.
“Nós tínhamos 23 e 27 anos e juízo nenhum, mas muito carinho um pelo outro e vontade de viver junto”, resume Flávia. Gabriel acrescenta que a experiência validou o que encaram como lema até hoje. “É preciso de muito pouco para ser feliz. A gente vivia bem, feliz”.
Sem maiores necessidades, o mais importante era que um já havia encontrado o outro. “Isso que é difícil e tem gente que passa a vida inteira, tem tudo e não consegue encontrar alguém”, se declara Flávia.
Voltar à casa trouxe uma saudade boa, ao mesmo tempo em que mostrou que a vida deles nunca mais foi igual. A sogra de Flávia tem o sonho de se mudar para o terreno e aproveitar a casa na árvore para fazer um espaço de leitura.
“Para mim, essa casa é felicidade e me lembra uma época da minha vida que não vai voltar, que não se constrói. Você não faz um momento assim, ele acontece”, reflete Flávia. Se eles voltariam para lá? O sim é unânime. “Voltaria sim, porque a gente conservou no coração aquela simplicidade”, finaliza Gabriel.
Sem maiores necessidades naquela época, o mais importante era que um já havia encontrado o outro. (Foto: Gerson Oliveira)
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