Após a estreia no Rio de Janeiro, em março, e a série de apresentações por outros estados do Sudeste e do Sul, a Companhia de Dança Deborah Colker traz a Campo Grande “Sagração”, sua 15ª montagem, com a qual celebra 30 anos de palco.
No espetáculo, que terá duas sessões no Teatro Glauce Rocha, nos dias 19 e 20, às 20h,
a música clássica de Stravinsky encontra ritmos brasileiros a partir de uma criação inspirada por visões ancestrais sobre a origem do mundo. Os ingressos custam de R$ 19,80 a R$ 120 e estão disponíveis pela internet (ingressos.spartaproducoes.com.br).
O processo criativo de “Sagração” durou dois anos e meio. O espetáculo é uma livre adaptação de “A Sagração da Primavera”, obra composta pelo russo Igor Stravinsky (1882-1971), que ganhou projeção mundial pela montagem estreada em Paris, em 1913, com coreografia de Vaslav Nijinsky (1889-1950) e produção de Sergei Diaghilev (1872-1929) para os Ballets Russes.
A composição musical de Stravinsky é considerada revolucionária, por introduzir estruturas rítmicas e harmônicas nunca antes utilizadas em partituras. “Quando decidi recontar esse clássico, pensei que teria de ser a partir da cosmovisão de povos originários do Brasil”, ressalta Deborah, que também é pianista.
“Stravinsky foi responsável por pontos de ruptura e provocação entre o erudito e o primitivo. ‘A Sagração da Primavera’ representa esses pontos de evolução da humanidade”, afirma a coreógrafa.
Foi em uma viagem para o Xingu, durante o Kuarup, e no encontro com as aldeias indígenas Kalapalo e Kuikuro, que Deborah conheceu Takumã Kuikuro. O cineasta contou para ela como o povo do chão recebeu o fogo do Urubu Rei.
Essa história é dançada e acompanhada por narração do próprio Takumã e faz parte da coleção de cosmogonias que a diretora reuniu para montar a dramaturgia do espetáculo.
MITOS E BACTÉRIAS
“Tudo só poderia ter começado com uma mulher. Uma avó. A avó do mundo”, prossegue Deborah, a qual, na companhia de Nilton Bonder, revisitou a mitologia judaico-cristã. Do livro “Gênesis”, as passagens sobre Eva e a serpente e sobre Abraão ganham cenas que destacam momentos de ruptura.
“São dois mitos que elaboram sobre a consciência humana: [um] pela autonomia de uma mulher que desperta para caminhos interditados e transgride e [o outro] por um homem que sai de sua casa e cultura em direção a si mesmo”, destaca o dramaturgo Bonder, um dos mais influentes rabinos do País.
Além das alegorias bíblicas, a coreógrafa também buscou referências na literatura científica. “A versão mais recente da nossa espécie é a Homo sapiens sapiens, a qual, assim como outros seres, precisa se adaptar constantemente”, pontua a bailarina, destacando a presença das personagens que representam bactérias, herbívoros e quadrúpedes no espetáculo: “Nossa dramaturgia é feita da poesia presente em mitos
e teorias que pensam a existência da vida em nosso planeta”.
A coreógrafa, em parceria com o diretor musical Alexandre Elias, introduziu à partitura instrumental de Stravinsky à sonoridade pujante das florestas e dos ritmos brasileiros boi-bumbá, coco, afoxé e samba foram introduzidos à criação de Stravinsky.
Aos acordes de instrumentos de orquestra, o diretor musical adicionou flauta de madeira, maracá, caxixi e tambores. Os paus de chuva também entram em cena no arranjo executado ao vivo pelos bailarinos. Para Elias, “foi um privilégio trabalhar profundamente na estrutura da obra”.
Com suporte do Ministério da Cultura e do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e com patrocínio da Petrobras, “Sagração” já passou pelo Rio de Janeiro, por Paraná, por Santa Catarina, pelo Rio Grande do Sul e por Mato Grosso.
De Campo Grande, a montagem que marca as três décadas da companhia segue para Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo.
As montagens anteriores assinadas por Deborah somaram mais de 2 mil apresentações em mais de 100 cidades de 32 países, totalizando um público de quase 3,5 milhões de pessoas. “Ao longo desses anos, assistimos e participamos de muitas transformações na cultura, na política e na economia. Chegamos até aqui porque temos esse espírito de evolução, que é um tema muito precioso para o novo espetáculo”, avalia o diretor executivo João Elias, que em 1994 fundou a companhia de dança com a coreógrafa.

As pinturas de Isabê também estarão na Casa-Quintal 109 de Manoel de Barros, museu na antiga residência do poeta, no Jardim dos Estados - Foto: Divulgação


Filme lança hoje - Foto: Divulgação

Patricia Maiolino e Isa Maiolino
Ana Paula Carneiro, Luciana Junqueira, Beto Silva e Cynthia Cosini


