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CINECLUBISMO

Cineclube da Boca exibe pérolas que vão do expressionismo alemão ao "terrir" brasileiro

Com 13 filmes lançados desde 1920 até 2006, além de debates e oficinas, mostra do Cineclube da Boca exibe pérolas que vão do expressionismo alemão ao "terrir" brasileiro; tudo de graça, a partir de amanhã, e com direito a pipoca

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Um cineclube dos monstros. Assim se caracteriza a mostra Eles Voltam na Noite, que, de amanhã até 29 de junho, ocupa quatro espaços culturais de Campo Grande com atividades gratuitas – Museu da Imagem e do Som (MIS), Capivas Cervejaria, Central Única das Favelas (Cufa) e Casa de Ensaio. Além da exibição de 13 filmes, a mostra conta com oficinas e debates. Tudo de graça e com direito a pipoca durante as sessões.

Na programação, há filmes produzidos e lançados em um arco de tempo que cobre mais de oito décadas, de “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920), uma das obras que definem o expressionismo alemão e, por consequência, serviu como referência para muito do que se produziu depois, ao norte-americano “Garota Infernal” (2009), tachado como um trash, e dos piores, quando de seu lançamento e que vem sendo reconsiderado desde então.

Dirigido por Robert Wiene, “O Gabinete do Dr. Caligari” marca a abertura da mostra, na Capivas Cervejaria (Rua Pedro Celestino, nº 1.079, Centro), amanhã, a partir das 20h. O filme será exibido com trilha musical ao vivo da banda Ovelhas Elétricas.

Na mistura de épocas, lugares e estilos, o traço comum entre os títulos de Eles Voltam na Noite é a presença de arranhões, mordidas e, não raro, sangue, seja em profusão ou apenas algumas gotas, às vezes nem isso, ficando apenas na sugestão, em uma palheta que varia do preto e branco ao colorido.

BRASILEIROS

O Brasil é representado por dois trabalhos do cineasta Ivan Cardoso que, entre outros pontos de interesse, mais que ilustram o chamado “terrir”, uma apropriação bem brasileira do mix terror e comédia: “Nosferato no Brasil” (1970), média-metragem rodado em superoito com o poeta Torquato Neto (1944-1972) no papel principal, e “O Segredo da Múmia” (1982), em que figura Wilson Grey (1923-1993).

Além do talento despojado e cirúrgico na construção de seus tipos, o ator é recordista, talvez o maior, no número de filmes nacionais. 

Realizado pelo coletivo de cinema A Boca Filmes, com produção de João Pelosi e Aram Amorim e curadoria de Felipe Feitosa, a iniciativa destaca produções do gênero de terror que se constroem a partir de criaturas insólitas e ameaçadoras, tão características deste tipo de obra.

Além das exibições de filmes, o projeto oferece oficinas de sonorização e escrita criativa para cinema e promove ainda uma exposição temática.

Esta é a quinta edição do Cineclube da Boca, atividade de difusão e reflexão cinematográfica realizada desde março de 2022 por alunos e ex-alunos do curso de Audiovisual da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Ela engloba os trabalhos de seleção, exibição, contextualização, discussão e recomendação gratuitos de filmes não contemplados no cenário comercial de distribuição da capital sul-mato-grossense por meio de programações semestrais com recortes temáticos alternantes.

NOVOS OLHARES

O projeto tem sua importância, a princípio, na ampliação das ofertas de consumo de cinema para além do circuito comercial de distribuição (shoppings centers), este tomado pelo cinema hegemônico norte-americano, e iniciativas de instituições culturais privadas, as quais muitas vezes são pontuais e inconstantes.

Conceber uma curadoria que, durante meses, compreenda sessões que “conversem” entre si e lancem luz a filmes que, de outra forma, dificilmente seriam exibidos em público, sediando-se em espaços acessíveis e cuja entrada é gratuita, ao mesmo tempo que possibilita o acesso a públicos possivelmente escanteados pelas ofertas comerciais de cinema, faz com que uma cultura de consumo de arte seja fomentada em Campo Grande.

Segundo Felipe Feitosa, curador desta edição, fazer a seleção de filmes é sempre um exercício complicado.

“Nós conhecemos muita coisa, mas nunca vimos todos os filmes. Sempre acabamos tendo um número máximo de sessões, e isso implica na pressão de ter que escolher o filme certo. Mas qual é o filme certo? Sempre sigo pela ideia de que a melhor escolha é aquela que vai permitir um novo olhar, seja de um filme novo, de uma época diferente, de um movimento que o espectador não conhece ou de um país distante”, afirma.

“Encontrar obras que possam render boas discussões, nesse sentido, possibilita que nos encontremos com o cinema de uma forma mais enriquecedora do que normalmente fazemos. Acredito que essa seja a maior função do cineclube. Independentemente do recorte escolhido, as sessões servem para levar algo que agregue às pessoas, abrir o horizonte para diferentes formas de consumo cinematográfico e, a partir disso, fomentar uma cultura de cinema. Por isso o recorte do filme de terror é tão interessante”, diz o curador.

“Nós vamos poder nos aproveitar de um gênero popular e chamativo para levar variadas questões para as pessoas. Além de que o terror, historicamente, é o tipo de filme que, por ter um caráter frontal e ser barato, costuma tocar em certos assuntos que são ignorados por outras obras”, prossegue Felipe Feitosa.

“Logo, estamos diante de um mar de filmes ricos em política e cultura, e o nosso papel enquanto cineclube, assim como o meu enquanto curador e mediador, é o de trazer à tona essa diversidade e ampliar as possibilidades de consumo de cinema. Nossa intenção é de sempre mostrar que existe um universo para além das salas de cinema multiplex. E a ideia é fazer isso mostrando que o cinema dito popular pode ser profundo e que o cinema proclamado profundo também pode ser popular”, propõe.

OBJETIVOS

Todos os eventos previstos na programação desta edição do cineclube serão gratuitos e, amplificados pelo recorte curatorial da vez, capazes de, ao mesmo tempo, consolidar o público já recorrente às exibições atuais e alcançar novos potenciais espectadores.

Uma vez que o gênero de horror se trata de um tipo fílmico amplamente acolhido pelas audiências, em razão da sua inerente suscitação de sentimentos reconhecíveis como o medo e o nojo, e que, ao mesmo tempo, permite a diversos realizadores trabalharem questões importantíssimas acerca do mundo e da sociedade, a escolha pelo horror concilia os três principais objetivos do Cineclube da Boca.

Esses três objetivos são: tornar a oferta de exibições de filmes mais acessível; fazê-la chegar até o maior número possível de pessoas; e enriquecer a relação com o cinema dos indivíduos presentes antes, durante e depois das sessões.

A programação de Eles Voltam na Noite também contempla sessões inclusivas voltadas para pessoas com deficiência auditiva e oficinas de realização cinematográfica, além de uma exposição temática. Durante as exibições de filmes serão oferecidos refrigerante e pipoca gratuitamente.

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Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternos

Sugestões da nossa colunista de cinema para o fim de ano que equilibram conforto, repetição afetiva e algumas boas surpresas do streaming

20/12/2025 14h30

Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternos

Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternos Foto: Divulgação Prime Vídeo

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Há anos encerro o ano com dicas de filmes e séries para atravessar o fim de dezembro — e quem acompanha minhas colunas já sabe: Natal, para mim, é revisitar o que já amo. É ritual, repetição afetiva, memória acionada pela trilha sonora certa ou por uma história que já conhecemos de cor. Por isso, a lista tende a mudar pouco. Não é preguiça. É escolha.

Existe um mercado fonográfico e audiovisual inteiro dedicado ao Natal, que entrega, ano após ano, produtos descartáveis, previsíveis e — ainda assim — confortantes. Eles existem para preencher o silêncio entre uma refeição e outra, para acompanhar casas cheias, para oferecer finais felizes sem exigir atenção plena. Em 2025, esse mercado deixa algo ainda mais claro: o Natal virou um ativo estratégico — e estrelas ajudam a sustentá-lo.

De blockbusters de ação a comédias familiares e retratos mais irônicos do cansaço emocional, as produções do ano revelam diferentes formas de explorar a mesma data. E, como toda boa tradição de fim de ano, a lista também abre espaço para um clássico que, mesmo não sendo natalino, atravessa gerações como parte indissociável desse período

Operação Natal Amazon Prime Video
Aqui, o Natal é tratado como evento global, literalmente. Operação Natal aposta em ação, fantasia e ritmo de blockbuster para transformar o dia 25 de dezembro em cenário de missão impossível. Tudo é grande, barulhento e deliberadamente exagerado.

É o exemplo mais claro do Natal-espetáculo. O filme existe como veículo de estrela para Dwayne Johnson, que transforma a data em entretenimento de alta octanagem, longe de qualquer delicadeza afetiva.

Um Natal Surreal Amazon Prime Video
Neste filme, o Natal deixa de ser acolhimento para virar ponto de ruptura. Michelle Pfeiffer interpreta uma mulher que decide simplesmente desaparecer da própria celebração depois de anos sendo invisível dentro da dinâmica familiar. O gesto desencadeia situações absurdas, desconfortáveis e reveladoras.

A presença de Pfeiffer requalifica o projeto. Não é um Natal infantilizado, mas um retrato irônico do cansaço emocional, da maternidade esvaziada e da pressão simbólica que a data carrega.

A Batalha de Natal Amazon Prime Video
O Natal volta ao território da comédia familiar clássica. Eddie Murphy vive um pai obcecado por vencer uma disputa natalina em seu bairro e transforma a celebração em um caos crescente de exageros, erros e humor físico. Murphy opera no registro que domina há décadas. É o Natal como bagunça coletiva, desenhado para virar tradição doméstica e ser revisto ano após ano.

My Secret Santa Netflix
Uma mãe solteira em dificuldades aceita trabalhar disfarçada de Papai Noel em um resort de luxo durante o Natal. O plano se complica quando sentimentos reais entram em cena. O filme cumpre com precisão a cartilha da comédia romântica natalina, com química funcional e uma premissa simpática o bastante para sustentar o conforto esperado do gênero.

Cinema B+: 10 filmes para assistir no Natal de 2025: entre novidades e clássicos eternosMy Secret Santa Netflix - Divulgação

Man vs Baby Netflix
É para os fãs de Mr. Bean, apesar de não ser “ele”. Rowan Atkinson volta como Mr. Bingley, um adulto despreparado precisa sobreviver a um bebê imprevisível em plena temporada de festas. O que poderia ser um Natal tranquilo vira uma sucessão de pequenos desastres.
Funciona quando assume o humor físico e o exagero, ideal como filme de fundo para casas cheias.

All I Need for Christmas Netflix
Uma musicista em crise profissional encontra, durante o Natal, a chance de reconexão pessoal e afetiva ao cruzar o caminho de alguém que parecia seu oposto. Produção que aposta no tom acolhedor e na ideia de recomeço como motores emocionais simples, mas eficazes.

A Merry Little Ex-Christmas Netflix
Alicia Silverstone e Oliver Hudson sustentam uma trama previsível, mas ainda assim, bem natalina. Ex-relacionamentos, ressentimentos antigos e um Natal que força reencontros. A tentativa de manter a civilidade rapidamente desmorona. Um filme que reconhece que o passado nunca está totalmente resolvido, especialmente em datas simbólicas.

Champagne Problems Netflix
Filme que anda liderando o Top 10 desde novembro, traz uma executiva americana viaja à França para fechar um grande negócio antes do Natal e se vê envolvida em dilemas profissionais e afetivos. Menos açucarado, aposta em melancolia leve e conflitos adultos, usando o Natal mais como pano de fundo do que como solução.

Jingle Bell Heist Netflix
Dois trabalhadores frustrados planejam um assalto na véspera de Natal, quando ninguém parece prestar atenção. Cheio de reviravoltas e troca o romance pelo formato de filme de golpe, oferecendo uma variação divertida dentro do gênero natalino.

A Noviça Rebelde Disney+
Não é um filme natalino, mas poucas obras ocupam um lugar tão fixo no imaginário do fim de ano. Em 2025, o musical completa 60 anos e segue atravessando gerações como ritual afetivo de dezembro. Música, família, infância e acolhimento fazem dele uma tradição que resiste ao tempo e às modas.

No fim, a lógica permanece: filmes de Natal não precisam ser memoráveis para serem importantes. Precisam estar ali — como trilha de fundo, como pausa emocional, como promessa silenciosa de que, por algumas horas, tudo vai acabar bem. Em 2025, isso já é mais do que suficiente. Feliz Natal!

"REI DO BOLERO"

Voz de 'Você é doida demais', Lindomar Castilho morre aos 85 anos

História de sucesso mudou após um dos feminicídios de maior repercussão no País, quando em 30 de março de 81 matou sua mulher, a também cantora Eliane de Grammont, com cinco tiros

20/12/2025 13h30

Lili De Grammont e seu pai, Lindomar, em foto compartilhada nas redes sociais.

Lili De Grammont e seu pai, Lindomar, em foto compartilhada nas redes sociais. Reprodução/Redes Sociais

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Conhecido como "Rei do Bolero", Lindomar Castilho morreu neste sábado, 20, aos 85 anos. A nota de falecimento foi postada pela filha do artista, a coreógrafa Lili De Grammont, em suas redes sociais.

A causa da morte não foi informada e o velório está marcado para esta tarde no Cemitério Santana, em Goiânia.

"Me despeço com a certeza de que essa vida é uma passagem e o tempo é curto para não sermos verdadeiramente felizes, e ser feliz é olhar pra dentro e aceitar nossa finitude e fazer de cada dia um pequeno milagre. Pai, descanse e que Deus te receba, com amor… E que a gente tenha a sorte de uma segunda chance", escreveu Lili.

Nascido em Rio Verde, Goiás, Lindomar foi um dos artistas mais populares dos anos 1970. Brega, romântico, exagerado. Um dos recordistas de vendas de discos no Brasil. Um de seus maiores sucessos, "Você é doida demais", foi tema de abertura do seriado Os Normais nos anos 2000.

Seu disco "Eu vou rifar meu coração", de 1973, lançado pela RCA, bateu 500 mil cópias vendidas.

Crime e castigo

A história de sucesso, porém, mudou após um dos feminicídios de maior repercussão no País. Em 30 de março de 1981, Lindomar matou a mulher, a também cantora Eliane de Grammont, com cinco tiros. Ela tinha 26 anos.

Os dois foram casados por dois anos, período em que a cantora se afastou temporariamente da carreira para cuidar da filha Lili. Depois de sustentar o relacionamento abusivo, Eliane pediu o divórcio.

Eliane foi morta pelo ex-marido no palco, durante uma apresentação na boate Belle Époque, em São Paulo. Ela cantava "João e Maria", de Chico Buarque, no momento em que foi alvejada

Lindomar foi preso em flagrante e condenado a 12 anos de prisão. Ele foi liberado da pena por ser réu primário e aguardou o julgamento em liberdade. O cantor cumpriu quase sete anos da pena em regime fechado e o restante em regime semi-aberto. Em 1996, já era um cidadão livre.

O caso tornou-se um marco na luta contra a violência doméstica no Brasil, impulsionando o movimento feminista com o slogan "Quem ama não mata".

 

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