É incrível o impacto e polêmica que cerca a excelente produção de The Crown e que tenha já alcançado ao longo de cinco temporadas. Quando estreou, em 2016, sabíamos tanto da Família Real e ao mesmo tempo tão pouco.
Com uma proposta de avaliar a instituição monárquica, a série também foi uma clara nostalgia que recapitulou a importância e a vida da mais longeva monarca britânica, com um plano de cobrir seis décadas até o Jubileu de Ouro de Elizabeth I, completou o de Platina em 2022.
Em sete anos muita coisa mudou e nem a Netflix é hoje o que foi e nós nem sonhávamos que o pior drama entre os Windsors estava para eclodir com Meghan e Harry, em 2020. Éramos inocentes, podemos reconhecer.
O showrunner Peter Morgan era o que se poderia dizer, especialista no assunto. Dez anos antes ele, ainda em 2006, assinou o filme A Rainha, que rendeu um Oscar para Helen Mirren. Em seguida, o adaptou para os palcos como a peça The Audience, em 2013, com a mesma Helen Mirren repetindo o papel.
Percebendo que gerações mais novas não lembravam ou sabiam da juventude de Elizabeth II, ele reapresentou sua ascensão ao trono em forma de série dramática. O sucesso foi tanto que trouxe para a Netflix assinantes e prêmios (é uma das séries mais premiadas dos últimos anos) e, para a Rainha, uma nova onda de popularidade inesperada.
Última temporada de The Crown - Divulgação NetflixClaire Foy, Matt Smith e Vanessa Kirby viraram estrelas internacionais com o mega sucesso das duas primeiras temporadas. A novata Emma Corrin despontou do anonimato para os prêmios como um meteoro quando deu vida à jovem Diana Spencer, na terceira, e Josh O’Connor proporcionou uma nova perspectiva sobre o hoje Rei Charles.
No entanto, quanto mais se aproximavam dos tempos atuais – com o drama atual do rompimento entre os Príncipes Harry e William – mais The Crown passou de querida à problemática. Atores e fãs se dividem na discussão se ela não deveria ter parado antes do previsto e nem sempre teve unanimidade para a resposta. Houve um atraso nas gravações que só contribuiu para o incômodo, afinal as pessoas retratadas estão vivas e nem sempre expostas com simpatia.
Mais ainda, por mais que a série alerte ser ficção, as pessoas a consideram documentário. Algo que a narrativa de Meghan e Harry contribui para confundir. E, depois de tanta qualidade no ar, há um consenso de alívio que Peter Morgan tenha batido o pé que vai parar mesmo na sexta temporada.
Conhecida como a série mais cara feita (certamente na Netflix), The Crown reune grande atuações e reconstituição de época, colecionando nada menos do que sessenta e três indicações ao Emmy Awards, ganhando vinte e um, incluindo o de Melhor Série Drama e atuações. É, sem trocadilho, histórica.
A insegurança de endereçar o problemático casamento de Charles e Diana já seria suficientemente delicada não estivesse sendo paralela ao drama de Harry e Meghan, que não ofuscou a série, mas a colocou frequentemente em maus lençóis.
Se The Crown fosse simpática à Camilla e Charles, como foi na terceira, os defensores de Diana alegavam as liberdades criativas como perigosas. No entanto, ao seguir a narrativa pró-Diana, criou um caos nas redes sociais contra o atual rei e sua rainha. Que dor de cabeça!
The Crown - Divulgação NetflixA quinta temporada não teve o mesmo impacto que as anteriores justamente por conta da polaridade delicada e as brigas atuais entre fãs e amigos, sem mencionar que – com o falecimento de Elizabeth II – muitos acham desrespeito parte das histórias que serão abordadas sobre a rainha e Philip, também, mesmo que outra parte sonhasse que em vez de parar a narrativa no início dos anos 2000, The Crown chegasse até 2022, com o jubileu de platina e morte da Rainha. Peter Morgan se recusou e a sexta temporada será mesmo a última. Por hora.
As gravações da sexta temporada foram acompanhas de perto pelas redes sociais e dedica a metade da temporada para cobrir os últimos dias de vida de Diana. Posso falar? Emocionante.
A solidão de Diana é algo que The Crown destaca o tempo todo. Sua vida pública foi curta, apenas 16 anos, e significou uma mudança incrível da tradição da realeza. A série, embora ainda insistam em dizer o contrário, não é documentário, mas sim uma biografia fictícia.
Os fatos estão lá, a reconstituição de época é perfeita, mas ainda tem muito da imaginação e menos da realidade. Precisava encerrar e está incrível, mesmo que tenhamos uma Imelda Staunton quase desperdiçada em uma Elizabeth II mais fechada, mais observadora e menos participativa. Vale cada minuto e histórias delicadas foram abordadas com respeito e até carinho.
Me emocionei em vários momentos, mesmo sabendo antecipadamente o que iria acontecer. Por isso fica o aviso: será que estamos realmente prontos para dar adeus à The Crown?
My Secret Santa Netflix - Divulgação


