Quando foi ao ar em 2014, True Detective conquistou o mundo com grandes atuações de Matthew McConaughey e Woody Harrelson, assim como uma história intricada criada por Nic Pizzolato e uma direção inovadora de Cary Fukunawa.
Aí veio a pressão da HBO de colocar logo uma continuação no ar e os ciúmes entre criadores nos bastidores e a franquia passou a ser sempre um discurso de “nenhuma outra temporada chegou aos pés da primeira”, o que é verdade.
A estreia mesclava tons de sobrenatural com crimes e as seguintes apostaram em narrativas não lineares e histórias confusas, sem chegar perto da qualidade que esperávamos.
Com esse cenário, foi ousado da diretora mexicana Issa López aceitar o desafio de ‘recuperar’ a franquia porque seria a última chance e, se desse errado, o peso estaria nos ombros dela. Já adianto: ela acertou!
A 4ª temporada, chamada de True Detective: Terra Noturna já é a melhor continuação da 1ª, traz a sempre maravilhosa Jodie Foster como principal nome do elenco, mas conta com grandes atores como Fiona Shaw, John Hawkes, Kali Reis e Christopher Eccleston também. São apenas seis episódios e dois já foram ao ar, está quase na metade da temporada, caso ainda não tenha visto, veja!
Agora vem a pegadinha. O conceito de True Detective era de que cada temporada seria independente, o que é libertador e interessante, mas o que aconteceu foi que nenhuma das tramas seguintes foi tão curiosa como a da estreia.
Issa López espertamente corrige esse erro, trazendo elementos da história e sutilmente ligando as duas, mas sem forçar que seja obrigatório ver ambas. É melhor que sim, mas pode ver a última sem sofrer se tiver perdido a outra, afinal, são 10 anos de distância e não há como lembrar de todos os detalhes.
Foto: DivulgaçãoNa estreia ressaltaram muito a presença feminina na série que até aqui foi essencialmente feita sobre e para um mundo de homens tóxicos. Bobagem. O que a série está fazendo é o que Hollywood chamou de “‘McConaughaissance“.
O termo é porque em 2014, o ator Matthew McConaughey “reinventou” sua carreira, que estava associada à filmes românticos, passando a estrelar True Detective e ganhando um Oscar de Melhor Ator por Dollar Buyers Club. O reposicionamento da franquia tem objetivo semelhante.
A história traz duas detetives antagônicas - Danvers (Jodie Foster) e Navarro (Kali Reis) – investigando dois casos que estão claramente interligados: o desaparecimento de sete cientistas no meio do Alasca e o assassinato anos antes de uma ativista local.
No cenário opressor do inverno onde não há luz solar, tudo fica mais soturno e pesado, com pitadas sobrenaturais para nos confundir ainda mais.
Detalhe, a história é inspirada em 3 fatos reais. Isso mesmo, em 1872, a tripulação de um navio, o Mary Celeste, desapareceu enquanto viajava para a Itália e o navio mercante foi descoberto abandonado e flutuando à deriva no Oceano Atlântico.
A tripulação nunca mais foi ouvida ou vista. Issa López juntou esse mistério com o incidente conhecido como “Passo Dyatlov”, de 1959, quando nove caminhantes soviéticos morreram nos Montes Urais em circunstâncias suspeitas e até hoje ninguém sabe o que os forçou a sair de suas tendas com roupas inadequadas para as temperaturas abaixo de zero.
O terceiro fato real foi o assassinato de Ann Le, que também tinha uma conexão com um laboratório de pesquisa – no caso, o Departamento de Farmacologia da Escola de Medicina de Yale – e que foi assassinada por um homem real chamado Raymond Clark.
Não fosse o suficiente, a showrunner espertamente uniu a trama da quarta temporada com a da primeira usando como o gancho o fato de que a personagem de McConaughey tinha vivido no Alasca, o que levou os fãs de True Detective à loucura essa semana.
Séries policiais inteligentes e com qualidade de produção andam mais escassas na TV, a onda noir nórdica teve um pico há alguns anos, mas estava meio devagar. True Detective: Terra Noturna é uma opção perfeita para quem ama o gênero. Vale conferir. E, quando acabar, maratonar as duas (melhores) temporadas para curtir ainda mais!
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