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DICA DE TURISMO

Conheça a incrível região dos cristais no estado de Goiás, beleza lapidada pela natureza

Por meio de uma rota apresentada pelo fotógrafo Hamilton Zambiancki, saiba como os cristais viram joias, a partir de um percurso encantador no município de Cristalina (GO); repleta de belezas naturais, cidade é reconhecida como a Capital do Cristal

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Ter uma joia com uma pedra preciosa como o cristal pode ser, para muitos, um verdadeiro sonho de consumo. De um anel a um colar, ter a posse de adereços como esses pode ser capaz de evocar sentimentos profundos de poder e satisfação.

No entanto, qual o caminho que o cristal percorre desde a extração da pedra até ela virar uma joia e ganhar o status de obra-prima que fascina e empodera?

Para responder a essa questão, o fotógrafo Hamilton Zambiancki embarcou rumo à cidade de Cristalina, no interior de Goiás, bem perto de Brasília (DF) – apenas 130 km – e a 1.050 km de Campo Grande.

Com 62 mil habitantes, o município é amplamente reconhecido como a Capital do Cristal e guarda, entre suas tradições, o garimpo artesanal, que resiste ao passar do tempo.

“Conhecer esse ofício em profundidade pode transformar completamente a percepção sobre essa atividade no Brasil”, diz o fotógrafo.

Durante a jornada de Zambiancki pelos garimpos da região, um dos personagens centrais desse caminho da pedra entra em evidência: Aguinaldo Matos.

O garimpeiro e lapidador, que trabalha no ofício há mais de 35 anos e que vem de uma linhagem de duas gerações de homens dedicados ao garimpo, é um grande exemplo de que, por trás do glamour de uma joia com pedra de cristal, há histórias de dedicação, desafios e uma conexão visceral entre o homem e a natureza.

Tudo começa nas terras de garimpos, onde o solo é cuidadosamente explorado em busca de cristais brutos. O garimpeiro reforça que o processo de extração artesanal deve envolver muito mais do que a força física e resistência, mas, sobretudo, um profundo conhecimento das formações geológicas da região.

E é sob o sol escaldante e o clima – muitas vezes – seco que Aguinaldo ainda acha tempo e disposição para contar que a busca está sempre naquilo que eles chamam de “bambuzar”, ou seja, achar uma grande quantidade de cristais puros, que são os mais valiosos, mas que, consequentemente, são os mais raros.

“A gente aprende a identificar onde estão as melhores pedras. É um trabalho que requer paciência, respeito pela terra e, claro, contar com a sorte. Nem sempre a gente encontra o que está procurando, mas, quando acha, a gente ‘bambuza’ e o esforço vale muito a pena”, afirma o garimpeiro.

Entre uma rocha e outra, ele conta que as horas na terra vermelha à procura pela pedra perfeita são como “jogar na loteria”.

“Isso significa que, da mesma maneira que um garimpeiro já no primeiro dia pode se deparar com os cristais puros e em grande quantidade, também há a probabilidade de passar meses sem encontrar uma única pedra de boa qualidade”, enfatiza o artesão.

LAPIDAÇÃO

Após o extenso trabalho de extração, os cristais encontrados seguem para o processo de lapidação, que é uma das etapas mais delicadas e cheia de cuidados.

“A gente começa martelando o cristal, para tirar as inclusões. Depois disso, seguimos para uma máquina chamada serra, já tendo em mente a forma que a pedra terá, se é um coração, uma gota ou se será uma pedra oval. Nessa parte, a possibilidade de ação é quase que infinita, e vai depender muito da criatividade de cada artesão na hora da lapidação”, explica Aguinaldo.

Enquanto conversa com o fotógrafo, o mestre do garimpo vai apontando para as ferramentas de precisão que utiliza. Pelo menos outras quatro pessoas trabalham com ele nesse processo. A transformação da pedra bruta em uma joia apta para ser inserida em um anel, colar ou brincos, por exemplo, depende de uma série de fatores.

“Tem pedras que a equipe consegue lapidar em 20 minutos. Um serra, outro molda, outro lixa e o último faz o polimento. É como uma engrenagem, onde cada um cumpre o seu papel e, no fim do dia, foi possível lapidar entre 60 e 70 pedras”, explica enquanto manuseia as ferramentas e prepara uma pedra.

EM ALTA

Uma vez lapidados, os cristais de Cristalina ganham novas formas nas mãos dos joalheiros, como anéis, colares e adornos.

“A gente trabalha com a terra e a pedra, mas a joia final, essa vai para longe. Quem usa, muitas vezes nem sabe de onde veio”, ressalta Aguinaldo.

Para se ter uma ideia da potência do mercado de joias, nos últimos cinco anos, o segmento avançou consideravelmente. Uma pesquisa feita pela empresa de consultoria Bain afirma que o setor cresceu 18% em 2022, com expectativa de dobrar até 2030. A expectativa segue impulsionada por diversas tendências, como personalização, sustentabilidade e o aumento significativo do interesse por joias.

O ofício retratado na cidade do interior de Goiás mostra que a exploração de cristal no local se mantém desde os anos de 1800, com a chegada dos primeiros exploradores na região, os franceses Etienne Lepesqueur e León Laboissiére (1839-1928), antes comerciantes de ouro na cidade de Rio Bom, hoje conhecida como Paracatu (MG).

Segundo informações dos garimpeiros, atualmente, estima-se que ainda existam por volta de 300 profissionais que trabalham diretamente em garimpos, mas, se levadas em consideração atividades correlatas como a lapidação e o comércio, o número de pessoas envolvidas no mercado do cristal pode ser bem maior.

Ainda assim, mesmo que a administração pública da cidade não tenha números exatos, calcula-se que 90% do mineral extraído de Cristalina sejam comercializados fora do Brasil.

GARIMPO E TURISMO

Com o crescente interesse pela cultura do garimpo, a atividade passou a se consolidar também como uma atração turística. Há aproximadamente um ano e meio, graças a uma iniciativa da prefeitura municipal, o trabalho deixou de ser apenas um ofício tradicional para se tornar uma das principais fontes de turismo na cidade.

Entre os incentivadores do projeto está Edmilson Pereira de Souza, um dos garimpeiros mais conhecidos da região e que hoje é responsável pelo Garimpo Pedra em Pé, que oferece aos convidados a experiência de garimpar a própria pedra. Ele relata que o encanto pela extração e a lapidação de cristais, antes restrito aos profissionais do setor, agora atrai visitantes de diversas partes do País.

O garimpeiro, que nasceu no garimpo e que tem em seu currículo a extração de cerca de 200 toneladas de cristais ao longo de sua vida, recebe em sua propriedade uma média de 40 pessoas a cada fim de semana.

“São pessoas que estão dispostas a vivenciar o cotidiano do garimpo e apreciar a história e as tradições locais”, conta com orgulho.

Mas ele reforça que o otimismo é grande.

“A minha expectativa é de que a cultura do garimpo, enraizada na história e na tradição local, contribua e muito para consolidar a chamada Rota do Turismo de Cristalina”, afirma.

E o que não falta são atrativos. Entre os destaques, além do Pedra em Pé, estão a Cachoeira do Arrojado, a Trilha Pedra Chapéu do Sol – com 900 metros de percurso ida e volta – e a Lagoa dos Cristais, que oferece um “paraíso” de opções para ciclistas, mergulhadores e praticantes de outras modalidades, iniciantes ou experimentados.

Com uma profundidade de 27 m, temperatura média da água de 27ºC e uma visibilidade superior a 15 m, a Lagoa dos Cristais, por exemplo, é ideal para a prática de mergulho – com snorkel ou cilindro – e outros esportes (caiaque, stand up paddle, etc.).

Para relaxar, uma das curtições é a chamada “boia da soneca”. Também dá para apreciar, de um mirante, o aprazível espelho d’água de cor azul turquesa, que faz muita gente se lembrar do mar caribenho. E não sai caro. Os passeios custam a partir de R$ 70. Mais informações: (61) 99923-7248 (Centro de Atendimento ao Turista).

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Diálogo

Tremenda de uma "cascata" a informação apregoada pelo governo de Lula que... Leia na coluna de hoje

Leia a coluna desta terça-feira (23)

23/12/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Cecília Meireles - escritora brasileira

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”

Felpuda

Tremenda de uma “cascata” a informação apregoada pelo governo de Lula que ele ressarciu os aposentados, vítimas da roubalheira de esquema que envolve pessoas ligadas ao INSS, empresas privadas, ONGs, laranjas e políticos. Na realidade, essa conta sobrou para o cidadão, inclusive os próprios aposentados que pagam Imposto de Renda. Nenhum dos bandidos até agora restituiu aos cofres públicos o dinheiro que roubou. Aliás, a maioria está sendo blindada de forma vergonhosa. Há quem diga até que buscam “freio” para que a CPMI do INSS comece a patinar e não avance. Lamentável!

Pra cabeça

Quem entrará em 2026 com problemas no Conselho de Ética da Câmara é a deputada federal Camila Jara, do PT. O Partido Novo protocolou representação contra ela.

Mais

A acusação é de violação do decoro, ao se envolver na confusão originada quando da retirada à força de Glauber Braga, do Psol, e de ofensa ao secretário-geral da Mesa Diretora.

Diálogo

O vorí-vorí, tradicional prato paraguaio, foi eleito o melhor do mundo na lista anual do Taste Atlas, plataforma internacional que reúne avaliações gastronômicas de todas as partes do planeta. A iguaria recebeu nota 4,64 de 5, com base em votos de usuários reais que experimentaram o prato. Conhecido também como borí-borí, o vorí-vorí é descrito pelo portal como “a icônica sopa de galinha paraguaia com bolinhos de fubá recheados com queijo”. Rico em sabor, textura e história, o prato ocupa um lugar especial na mesa das famílias paraguaias e agora também no cenário global da gastronomia. Nos últimos anos, o vorí-vorí já havia figurado entre as melhores sopas do mundo em rankings do mesmo portal, reforçando sua reputação. A lista do Taste Atlas se tornou referência global por utilizar um sistema que identifica e descarta avaliações nacionalistas ou feitas por robôs, garantindo legitimidade às escolhas.

DiálogoChayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral

 

DiálogoCamila Fremder

Prova de fogo

O atual time que forma o entorno do governador Eduardo Riedel terá, no próximo ano, prova de fogo, porque a missão deverá ser reeleger o “chefe” para o segundo mandato. Será o momento de a tchurminha provar quem é quem na estrutura. Quando foi eleito em 2022, Riedel nunca havia disputado uma eleição, porém, tinha um grupo político forte que sabia “o caminho das pedras”, o que foi fundamental para sua vitória. Em 2026, ele não poderá contar com esse pessoal.

Nem tanto

O PT em Mato Grosso do Sul já não estaria demonstrando, digamos, tanto amor pela candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Senado pelo Estado, achando ser melhor por São Paulo. Lideranças petistas cá dessas bandas dizem que a ministra poderá ser um dos nomes para suceder a Lula. Ela figura entre algumas opções para ocupar o trono petista. A lista tem Alckmin, do PSB, e Haddad, o único do PT. Tudo indica que não se faz mais petista raiz como antigamente...

Entrave

Nos bastidores, o que se fala é que a ministra Simone Tebet, até então considerada excelente opção para disputar o Senado por MS, seria fonte de problemas. Algumas das alas do PT teriam torcido o nariz com a possibilidade de ela disputar pelo partido, até porque esse time lembra de que, quando candidata à Presidência, ela desferiu ataques a Lula. Além disso, há dúvidas se no Estado teria potencial eleitoral para o embate com outros candidatos, em sua maioria da direita, tendo em vista que o governo do qual faz parte, dizem, “está caindo pelas tabelas”

ANIVERSARIANTES

Beatriz Rahe Pereira, 
Dr. Gevair Ferreira Lima Júnior,
Julianne Stranieri Metello, 
Stephan Duailibi Younes, 
Maria Fatima Bueno,
Adhemar Mombrum de Carvalho Neto,
Augusto Costa Canhete,
Rosangela Neves,
Edgar Basmage,
Gileno Almeida Costa Nonato,
Sérgio Aguni,
Rinaldo da Silva Cruz,
Edna Maria Potsch Magalhães,
Dr. Márcio Molinari,
Ivo Batista Benites,
Ronaldo Fernandes Donizeti de Jesus,
Fabiano Borges da Silva,
Maria Aparecida Menezes,
Rafael Medina Araujo,
Rosilene Gois Paes,
Antonio Angelo Garcia dos Santos,
Maria Elisa Hindo Dittmar,  
Beatriz de Almeida,
Dr. Amaury Bittencourt Gonçalves, 
Izabella de Matos Lopes,
Cláudia Regina Di Felice,
Neide machado da Silva Gimenes,
Domingos Puckes,
Silvio Luiz de Moura Leite,
Helder Kohagura,
Maria Clementina Aparício Fernandes,  
Aurino Rodrigues Brasil,
Tânia Ignez Pinheiro,
Marilda Flores Haidar,
Samara Carvalho Gomes Binn,
Josselen Resstel Escórcio,
Valdo Maciel Monteiro,
Luiz Eduardo Yukio Egami,
Rafael Ferreira Ribeiro Lima,
Leila Maria de Albuquerque,
Maria Aparecida de Moura Leite, 
Datis Alves de Souza,
Aurea Leite de Camargo,
Maria de Fátima Vendas Muzzi, 
Thiago Ferraz de Oliveira,
Ruth Lopes Abreu,
Sandra Rodrigues Pereira,
Paulo da Costa Oliveira,  
Paulo César Reis Mendonça,
Fernanda Marques Ferreira,
Terezinha Alves Araújo,
Lucilaine Aparecida Tenorio de Medeiros,
Maria Helena Alves Lima,
Rosana Paes de Matos,
Laura Holsback Alvarenga,
Renato de Freitas Martins,
Miriam Fontoura Prata,
Nelson Maia de Melo,
Cleonice Gomes de Oliveira,
Rodolfo de Morais Dias,
Jussara Leite Barbosa,
Hugo Sabatel Neto,
Carolina Saves,
Solange Xavier Vargas,
Augusto Coelho Freire,
Soraia Kesrouani,  
Rubens Mendes Pereira,
Lilian Gabriela Heideriche Garcia,
Ana Maria Coimbra Santos,
Nelly Vasconcelos Coelho,
Valmir de Andrade Ferreira,
Eliana Miyuki Aratani Kaiya, 
Flávia Ribeiro Ramirez,
Laurinda Paiva Peixoto,
Patrícia de Souza Queiroz,
José Antônio Braga,
Elaine Viana Nunes,
Washington Justino Gonzaga,
Maria Stella Maia Pepino,
Vânia de Toledo Neder,
Osvaldo de Moraes Barros Neto,
Raquel Barbosa Franco,
Suely Ferreira Leal,
João Rafael Sanches Florindo,
Antonio Fernando Cavalcante,
Lúcia Torres Marchine,
Marcos Henrique Boza,
Adriana de Oliveira Rocha,
Suely Luiza Comerlato,  
Benedito Celso Dias,
Alirio Leitun,
Débora Queiroz de Oliveira,
Edson Pulchério Alves,
João Borges da Silva Filho,
Mário Zan Moreira,
Marcelo Luiz Ferreira Correa,
Valdecir Jorge,
Sérgio Carlos Borges,
Dr. Ruy Alberto Bueno,  
Marta Maria Vicente,
Guilherme Nucci dos Reis,
Marcelo Flores Acosta,
Noêmia Ramos de Oliveira,
Luiz Carlos de Carvalho,
Cláudia Garcia de Souza Trefilo,
Leonardo Marques Mourão,
Maria Delfina Louveira Trindade,
Camyla Queiroz de Faria Gonzales. 

*Colaborou Tatyane Gameiro

CINEMA

Curta-metragem "Carne Amarela" transforma a Terra do Pé de Cedro em set de filmagens

Com produção de Marcus Teles e direção de Gleycielli Nonato Guató, curta-metragem "Carne Amarela" tem equipe local e conta história que entrelaça memórias da infância em meio aos pequizeiros e banhos de rio

22/12/2025 10h30

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab),

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da natureza Divulgação: Marcus Teles

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Nostalgia e engajamento são os motores para evocar os sabores da infância que fizeram Coxim voltar a ser cenário de cinema. Conhecida como Terra do Pé de Cedro, a cidade localizada a 245 quilômetros de Campo Grande, no norte do Estado, é uma das protagonistas de “Carne Amarela”, curta-metragem de ficção dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles.

Os dois nasceram na cidade, que também é conhecida como Portal do Pantanal, e são profundamente conectados ao Cerrado e ao Pantanal.

As filmagens se encerraram ontem e foram realizadas integralmente por lá, contando com elenco local, que envolveu moradores atuando pela primeira vez na frente de uma câmera e também uma equipe de produção majoritariamente formada por coxinenses. Ou seja, uma combinação de saberes tradicionais, talento regional e formação técnica.

A produção nasce do desejo de fazer Coxim se ver na tela grande, “suas cores, sua luz, seus frutos, suas infâncias”, como afirma a diretora. E nasce, segundo Gleycielli, também da necessidade urgente de lembrar o que esses mesmos elementos significam para a identidade do município.

“Eu estou completamente em êxtase. Planejei muito trazer esse filme para cá. É emocionante gravar na cidade onde cresci, com o povo daqui, com artistas da terra. Noventa por cento do elenco é coxinense, a equipe tem muita gente da cidade, e isso me deixa profundamente feliz”, compartilha Gleycielli Nonato Guató, que, além de dirigir a produção, também assina o roteiro baseado em seus próprios textos literários.

DOIS TEXTOS

“Carne Amarela” nasce de dois textos de Gleycielli – o poema “Carne Amarela” e o conto “É Tempo de Ouro no Cerrado” – que guardam lembranças de uma Coxim que pulsava mata, rio e fruta. A diretora explica que o filme busca reencontrar essa paisagem quase perdida.

“Eu quero trazer a infância que vivi. A gente saía para caçar pequi, pegava ingá, comia goiaba no pé, trazia caju para fazer doce. Coxim era meu ‘Sítio do Picapau Amarelo’. Hoje, muitos lugares onde eu brincava viraram bairros. O filme é um lembrete do que ainda existe e do que não pode desaparecer”, afirma.

A obra convida as crianças e os adultos a olhar novamente para o Cerrado como pertencimento. O pequi, fruto central da narrativa, é apresentado como força, resistência e alimento da memória coxinense.

“O pequi já sustentou muitas famílias. Trouxe renda, trouxe mistura, trouxe nutrição. Ele resiste ao fogo, resiste ao tempo, mas não resiste ao machado. O filme quer acender esse sentimento de pertencimento e preservação, para que as próximas gerações vejam valor no que tantas vezes sustentou Coxim”, ressalta Gleycielli.

ZORAIDE

A protagonista adulta, Zoraide, teve como referências mulheres de alusão familiar e ancestral para Gleycielli: sua mãe, tias, avó e bisavó. A diretora revela que a personagem carrega traços de todas elas. E quem interpreta Zoraide é justamente Maria Agripina, mãe da diretora, pioneira do teatro coxinense.

“É muito emocionante ver minha mãe interpretando a Zoraide, que leva o nome da minha tia que faleceu na pandemia. Este filme é pioneiro em muitas coisas dentro de mim”, revela. Além disso, todos os cargos de direção são ocupados por mulheres, fortalecendo a presença feminina no audiovisual sul-mato-grossense.

“Trabalhar com essa equipe é um prazer imenso. Estamos construindo juntas. É uma energia muito poderosa”, afirma. A equipe ainda é formada majoritariamente por profissionais de Coxim, como Robertson Isan Vieira, artesão ceramista premiado, e José Carlos Soares, cabeleireiro e designer de imagem.

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da naturezaEquipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles

ENCONTRO

Para o produtor executivo e corroteirista Marcus Teles, filmar em Coxim não foi uma escolha estética, mas ética e afetiva. “Coxim faz parte da nossa formação pessoal e artística. Os textos que deram origem ao filme nasceram daqui.

A luz, a paisagem, o modo de vida, o jeito como o pequi aparece na cidade, tudo isso faz parte da essência da história. Filmar em Coxim é garantir autenticidade”, afirma Marcus.

O produtor explica que mapear as locações foi um processo guiado pela afetividade. “Coxim é uma cidade onde o urbano e o rural se encontram o tempo todo. Não procuramos cenários: reconhecemos neles o que a história já trazia em essência”.

Marcus destaca ainda que oito moradores da cidade trabalharam pela primeira vez no audiovisual, acompanhados de profissionais experientes. “Queremos abrir portas. Que jovens de Coxim encontrem no set um caminho possível, uma nova profissão, um futuro”, destaca o produtor.

101 FILMES

O elenco também conta com a participação especial do ator Breno Moroni, que marcou gerações como o Mascarado na novela “A Viagem” (Globo, 1994), além de ter participado de diversas outras produções no cinema e na televisão.

Com uma carreira extensa que inclui desde aberturas de telenovelas e mais de 100 filmes, Breno esteve em Coxim para integrar o elenco de “Carne Amarela” como seu 101º trabalho audiovisual.

“Trazer o Breno foi como aproximar duas forças que se completam. Ele chega com experiência, mas com humildade. Ele senta na varanda e deixa a conversa fluir. É uma presença que soma sem apagar a simplicidade regional, que é a alma do filme”, reconhece Marcus.

“Ele é fantástico. Consegue ir do drama à palhaçaria. Traz o duo que a personagem dele pede: o velho ranzinza e o homem capaz de se transformar”, completa Gleycielli.

O CERRADO

O filme aborda temas urgentes como queimadas, perda de territórios e desmatamento, mas com a delicadeza necessária para o público infantil, segmento prioritário na meta de audiência da produção.

“O tema duro vem com sutileza. As crianças vão entender o sentimento de perder e o de pertencer. E, quando algo pertence a você, você quer cuidar”, explica Gleycielli. Ao fim, o curta reforça que a preservação é um aprendizado coletivo e que cuidar da terra só é possível quando ela é reconhecida como parte de nós.

Na semana passada, a equipe teve uma atividade formativa com Alexandre Lopes, que é doutor em Ciências Sociais e professor de Sociologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), no campus de Coxim.

A interação rendeu contribuições fundamentais para reflexão sobre como pensar e construir um audiovisual mais inclusivo.

AUTOESTIMA

A expectativa da equipe é de que o filme leve Coxim para o Brasil e para o mundo por meio de festivais, mas, principalmente, que devolva à cidade a consciência de seu próprio valor.

“Esperamos que Coxim se veja com carinho. Que perceba que suas histórias merecem estar no cinema. ‘Carne Amarela’ é uma celebração da cidade, das suas raízes e da força do Cerrado”, diz Marcus.

Para Gleycielli, a gravação na cidade é também um gesto de retorno. “Eu sou uma Guató de Coxim. Este filme diz muito sobre de onde eu vim e quem sou eu”.

Como uma “semente que rompe a casca”, reforça a diretora, “Carne Amarela” nasce para devolver à cidade o brilho do seu fruto mais resistente.

Aquele que atravessa gerações, que muda o PIB, que alimenta famílias, que resiste ao fogo e que ensina a permanecer. E Coxim, agora, se prepara para ver sua história ganhar corpo, cor, movimento e tela.

O projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), do governo federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).

"Carne Amarela"

> Direção e roteiro: Gleycielli Nonato Guató;
Direção de produção: Gabriela Lima Ferlin;
> Direção de arte: Maíra Espíndola;
Direção de fotografia: Dafne Alana;
Som direto e edição de mixagem: Laura Cristina;
Produção executiva, assistência de direção e roteiro: Marcus Teles;
Operador de câmera: Gabriel Ribeiro;
Produção de set: Jefley M. Cano;
Elenco: Breno Moroni, Maria Agripina, João da Mata, Elena Vendroscolo, Maria Sonea Domingos;
Trilha sonora original: Gian Markes;
> Edição de imagem e cor: Rafael Viriato;
Microfonista: 4real.wav;
Assistente de produção executiva: Lucas Moura e Guinha Serrou;
Assistente de produção e captação: Robertson Vieira;
Assistente de produção: Carlos Soares;
Assistente de arte: Angela Gabrieli;
2º assistente de direção: Eduardo Henrique;
2ª assistente de fotografia: Lavinia Ribeiro;
Assessoria de imprensa: Lucas Arruda e Aline Lira.

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