Por Flávia Viana
Eu conheci o trabalho do Ricardo Cubba em plena pandemia. Entre dias angustiantes em isolamento social me deparei com uma de suas personagens nas redes sociais, a Blô.
Ele passou a mudar os meus dias com seus vídeos e posts no instagram. Sempre que eu finalizava o meu dia, entrava imediatamente em seu perfil para ver se tinha postado algo novo.
Cubba tem um humor inteligente, ácido e um inglês impecável, que inclusive a Blô usa e muito, porque vive fora do país.
A família dele é de artistas. Sua maior fã, sua mãe, e em seus vídeos a participação hilária de sua avó que já foi vedete.
Esse menino talentoso é de Juiz de Fora (MG), fã do saudoso ator Paulo Gustavo, sua maior inspiração, e sempre soube que queria ser ator.
Ricardo já sofreu bullying no colégio e preconceito no seu dia a dia.
Fiz questão de contar um pouco da história dele aqui no B+ para dividir com vocês bons momentos, porque vale, e muito, seguir esse artista em suas redes sociais e acompanhar seus trabalhos e projetos.
Com exclusividade para o B+ ele fala de escolhas, dificuldades, realizações, família, pandemia e personagens.
Quando você descobriu que queria ser ator?
Desde que me entendo por gente queria ser artista.
A arte sempre esteve muito presente na minha vida, na minha família por parte de mãe que é bem artística.
Meu bisavô era palhaço de circo, minha avó era vedete (ela inclusive grava vídeos comigo hoje em dia), meu avô cantor e minha mãe cantava numa orquestra quando era mais nova.
Eu não sabia ao certo em qual área da arte gostaria de atuar porque morava em Juiz de Fora (MG) e lá não tinha muita perspectiva artística.
Mas foi em 2015 que descobri as artes cênicas quando me matriculei na CAL (Casa de Artes das Laranjeiras) no Rio de Janeiro, foi amor a primeira cena!
Dar vida a personagens e viver suas histórias se tornou necessário em minha vida, é viciante, é prazeroso e não consigo mais ficar sem, é algo que farei até o final da minha vida.
Como descobriu a comédia?
Implantei o humor na minha vida devido ao bullying que sofria na escola quando era criança, eu era gordinho (já cheguei a pesar 120kg), gay e não era bonito de acordo com os padrões de beleza, o combo perfeito para piadinhas maldosas de crianças e adolescentes.
Então comecei a usar o humor como uma armadura para ser aceito pelas pessoas e deu super certo, pararam de me zoar, começaram a me querer por perto porque eu era o ''engraçado'' e acabei levando isso para a minha vida.
A comédia sempre esteve presente na minha vida porque era o gênero favorito do meu pai e assistíamos muitas coisas juntos, mas fui descobrindo e me apaixonando mais pelo gênero com a série Os Normais, os programas Comédia MTV, Saturday Night Live e outros que me ajudaram muito a formar o tipo de humor que gosto de fazer hoje.
Durante minha formação como ator a maioria dos papéis que fui escalado para fazer tinham um toque cômico, então a comédia foi ficando cada vez mais presente em mim.
Fazer comédia é mais difícil?
Fazer arte não é uma tarefa fácil, não é pra qualquer pessoa, é preciso muita responsabilidade, coragem e determinação.
A vida já é um drama, a comédia é desafiadora, tocar as pessoas através do humor, fazê-las rir vivendo no mundo do jeito que está é um dom, é minha forma favorita de me comunicar, não gosto de fazer comédia simplesmente pela graça, claro que vez ou outra é bom para descontrair, mas gosto de me expressar através do humor, expor meus pensamentos, opiniões e abordar assuntos sérios de forma leve e bem humorada.
Você teve alguma inspiração quando começou?
Várias! Na personalidade, na forma de atuar e levar a carreira. Fernanda Torres, Tatá Werneck, Madonna, Drica Moraes, Fernanda Young, Lília Cabral, Adriana Esteves mas principalmente o Paulo Gustavo.
Ele foi inclusive o principal motivo de eu ter me matriculado na CAL, onde ele também se formou.
Via e vejo nele um grande exemplo a ser seguido, gay assumido, ganhou o Brasil através do seu trabalho, tinha um humor único, era ágil, inteligentíssimo, militante, educado, formou sua família e abriu portas para tantos outros artistas lgbtqia+ se expressarem sem medo.
Em nosso país não é fácil fazer arte desde de sempre, principalmente para quem começa. Como foi, é pra você todo esse processo?
A profissão que escolhi trilhar não é nada fácil. Vejo muitas pessoas talentosas desistindo devido às dificuldades, mas apesar de ser clichê, as palavras chave para quem quer fazer arte no país é perseverança e (muita) paciência.
Quando não se tem muitos contatos (que é o meu caso), você tem que fazer acontecer e as redes sociais são grandes aliadas, são vitrines para mostrar seu trabalho para o mundo.
Quando me formei fiz cadastro na Globo, teste para Malhação, mas não deram em nada, então cansei de esperar as oportunidades acontecerem e decidi me produzir para ser visto.
Escrevo, produzo, gravo e edito meus vídeos e foi assim que alcancei mais de 20 mil seguidores nos meus dois perfis do Instagram (@ricardocubba e @blogueirablo) e mais de 300 mil no TikTok.
O processo é lento, muitas vezes desestimulante, desesperador, mas o importante é não desistir.
Pensa em fazer algo para a TV?
Muito! Uma das minhas maiores ambições é fazer uma série de comédia para a TV ou plataformas de streaming no estilo Modern Family, Sex And The City, Chewing Gum e Os Normais.
Quero muito fazer algo escrito e encenado por mim e outros artistas que admiro. Eu ouvi um amém?
Na pandemia o que mudou pra você?
Sempre fui muito caseiro, então a pandemia não me afetou muito no quesito ficar em casa.
Tive que ''dar um passo para trás'' indo embora do Rio e voltar a morar com minha mãe em Juiz de Fora, minha ansiedade aumentou devido a toda essa instabilidade e medo gerado pela pandemia, mas também tive uma grande surpresa.
Meus vídeos me salvaram, foi a forma que eu encontrei de estar em contato com a arte e não parar de exercê-la, foi a forma que encontrei de não enlouquecer com tudo que estava acontecendo no mundo.
Foi durante a pandemia que meus vídeos ganharam visibilidade.
Sua família sempre apoiou você?
Sempre! Meu pai e minha mãe me criaram dizendo que eu podia ser o que eu quisesse ser.
Meu pai infelizmente já faleceu, só conseguiu assistir minha primeira peça, mas ele foi uma das pessoas que mais apoiou a minha escolha de ser ator e fez de tudo para que isso fosse possível, além de apoiar minha sexualidade, desde sempre assistia as princesas da Disney comigo, cantava Kylie Minogue, me levou ao show da Britney e da Madonna no Rio foi realmente um paizão.
Minha mãe é minha fã número 1 e faz tudo que está ao seu alcance para realizar meu sonho.
Você já sofreu preconceito?
Sim, já sofri homofobia nas ruas várias vezes.
Como você consegue lidar?
Isso foi algo que aprendi no ensino fundamental quando sofria bullying.
Eu fico parado olhando no olho da pessoa sem falar uma palavra até a pessoa ficar sem graça e ir embora.
Os agressores não conseguem olhar no olho, ficam super sem jeito e intimidados.
Como você criou a Blô?
A Blô é meu xodó, é uma mistura de amor e ranço o que sinto por ela.
A criei com bastante ironia no início da pandemia devido a antipatia que tenho de algumas influenciadoras/blogueiras com milhares de seguidores mas muito pouco bom senso.
Influenciam muitas pessoas de forma tóxica, vendem produtos que não funcionam, acham que sabem mais que os profissionais da saúde, romantizam distúrbios alimentares, vivem em um mundo paralelo, fútil, egoísta, algumas vezes preconceituoso, irresponsável e sem noção.
É meu personagem mais bem-sucedido e abriu os olhos de muita gente que antes não via maldade nos discursos pregados por elas.
Como as blogueiras encaram a Blô?
Elas não gostam muito da Blô, talvez por se identificarem muito. Várias já me bloquearam, já denunciaram meu perfil, algumas me seguiram para acompanhar o trabalho, mas no geral elas se sentem bem ofendidas.
Qual o objetivo da personagem?
É, alertar, através de um humor bem ácido e uma lente de aumento, a gravidade dos discursos, ações e ''conteúdo'' de muitas influenciadoras que são extremamente tóxicas e prejudiciais para saúde mental de seus seguidores, além claro, de provocar boas risadas e aliviar a tensão do dia-a-dia.
Qual o seu sonho Ricardo?
Tenho vários, mas o maior deles é conseguir viver do meu trabalho como artista, tendo uma carreira longa, levando alegria para o máximo de pessoas possível, fazendo as pessoas extravasarem suas emoções através do riso e promovendo reflexões de maneira leve.
Projetos?
Alguns no teatro e outros na internet, não posso falar muito (sempre quis falar isso numa entrevista) para não estragar a surpresa, mas ambos estão ligados a comédia.





