Uma colaboração transfronteiriça, entre Brasil e Argentina, por meio de uma troca de ideias que se deu tanto em suporte digital quanto analógico e resultou em um espetáculo de dança capaz de surpreender suas duas criadoras, mesmo dois anos depois de iniciado todo o processo. Mas chegou a hora de o público ver isso de perto.
Com direção e provocação da artista argentina Bárbara Alonso, a intérprete campo-grandense Jackeline Mourão estreia o seu novo solo, “Sintonizar ao Momento del Cambio”, nesta sexta-feira, às 19h30min, na Casa de Ensaio, com mais duas apresentações, sábado e domingo, no mesmo horário. A entrada é franca.
O espetáculo teve seu projeto entre os selecionados do 1° Prêmio Ipê de Dança – 2021, da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campo Grande (Sectur), e conta ainda com o apoio do programa de incentivo Cultura Argentina al Mundo, do governo federal do país platino.
“Conheci a Bárbara em 2018, quando ela veio dançar aqui o espetáculo ‘Acto Blanco’, um trabalho dançado e dirigido só por mulheres. Na época, fiquei bastante impactada ao ver todas aquelas mulheres fortes e potentes em cena. Aí comecei a acompanhar o trabalho da Bárbara pelas redes sociais. Na pandemia, ela abriu uma turma on-line e comecei a fazer as aulas”, conta Jackeline Mourão.
“Logo foram abrindo editais com a possibilidade de fazer criação com profissionais de fora do País e a convidei para trabalharmos juntas. Fomos contempladas pelo 1° Prêmio Ipê, iniciamos uma pesquisa on-line e finalizamos a criação presencialmente aqui em Campo Grande”, completa a dançarina, que integra, entre outros coletivos, a Cia Dançurbana.
“Sintonizar ao Momento del Cambio” é um trabalho que traz uma investigação intensa em torno das potências expressivas da dança e “a construção de uma linguagem própria em meio à incerteza e à prontidão do desconhecido”. Neste espetáculo, a dançarina campo-grandense e sua parceira da Argentina procuram explorar a efemeridade do tempo e os devaneios da linguagem em meio à velocidade da mudança.
Por meio de uma jornada que transita entre o analógico e o digital, elas investigam “a materialidade do corpo em uma era em que as telas se tornaram a nova pele do mundo”. Ao tensionar o som, o espaço e o tempo, a dança posiciona a dupla em sua própria dialética criativa, abrindo campo para uma “experiência do impossível”.
TRANSCULTURALIDADE
O espetáculo aproxima Campo Grande de Buenos Aires, na Argentina, pelas mãos de duas criadoras confessadamente impactadas pela ponte transcultural que pavimentaram juntas. Desafiando fronteiras e transcendendo limites, Jackeline e Bárbara guiam a audiência por uma experiência singular de metamorfose e de descoberta.
A direção perspicaz de Bárbara se amalgama com o destacado trabalho autoral de Jackeline, concebendo uma sinergia artística de fôlego para o espectador. Jackeline Mourão é artista da dança, performer, improvisadora, professora e brincante.
Ela transita por vários coletivos artísticos da Capital, entre eles a Cia Dançurbana (2010-2023) e o Grupo Expressão de Rua (2008-2023). Em 2019, criou seu primeiro trabalho solo, “Talvez Seja Isso”, com o qual se apresentou no Palco Virtual (2020) do Itaú Cultural (SP); no Junta – Festival Internacional de Dança de Teresina (2021), no Piauí; e no Sesc Cultura (2019), na capital sul-mato-grossense.
Bárbara Alonso é uma artista da dança com sólida formação acadêmica na área. Além de suas realizações artísticas, também se dedica ao ensino de disciplinas relacionadas à dança em instituições educacionais. Sua versatilidade e sua competência têm sido evidenciadas por meio de colaborações com companhias e com grupos independentes, destacando-se em diferentes contextos e estilos de dança.
PRIMEIRA VEZ
Após se destacar como intérprete e adquirir vivências abrangentes em gestão cultural e assistência coreográfica, Bárbara embarca em uma nova empreitada, desta vez como diretora, explorando sua visão artística e seu compromisso inabalável com a produção em dança. Sua abordagem meticulosa e sua dedicação incansável à dança são refletidas em cada faceta deste espetáculo.
“Para mim é um privilégio realizar meu primeiro trabalho como diretora. Anteriormente atuei como assistente de direção, colaborei em alguns trabalhos e trago muitas horas como intérprete em muitos processos criativos. Mas até então ainda não tinha dirigido uma obra”, afirma Bárbara.
“Esta é a minha primeira obra-prima e vim ao Brasil para realizá-la com uma equipe de trabalho maravilhosa, na qual cada pessoa envolvida está se dedicando muito e com muita sensibilidade. Realmente me sinto muito privilegiada de poder realizar este trabalho aqui”, exulta a diretora de “Sintonizar ao Momento del Cambio”.
Na equipe elogiada por Bárbara, estão, entre outros nomes, a “prata da casa” que, com frequência, marca presença nas coxias da Casa de Ensaio e em outros espaços culturais da Capital: Reginaldo Borges (desenho de som e vídeo), Jonatan Kluk (desenho gráfico), Adriel Santos (iluminação), Febraro de Oliveira (paratexto), Roberta Siqueira (produção-executiva) e Maura Menezes (produção).
Jackeline reforça o quanto toda a experiência tem sido enriquecedora: “Inicialmente tive contato com a Bárbara de forma on-line e já era muito bom, mas era um contato distante, até abordamos no solo essa relação da tecnologia como mediadora das relações”.
“Ela traz modos diferentes de ver, de fruir, de sentir a dança, pautados em cima da experiência que traz da Argentina. Então, esse intercâmbio está sendo muito bom, estou tendo a oportunidade de experimentar, de aprender mesmo, de trocar”, completa.



Cristianne e Rinaldo Modesto de Oliveira
Isabella Suplicy


