Impedido de estar na Capital para acompanhar um familiar em tratamento médico, o baterista Edu Ribeiro (SP) escalou o guitarrista Fábio Leal para substituí-lo como uma das atrações da primeira das quatro noites do Campo Grande Jazz Festival, no Armazém Cultural, hoje.
Trata-se da segunda etapa do evento que, de segunda a quarta-feira, ocupou estações de ônibus coletivos da cidade com atrações locais – El Trio, Urbem e Barah Trio.
Paulista de São Bernardo do Campo, Leal, na verdade, já estaria no palco de qualquer maneira, como integrante da formação que o baterista vencedor do Grammy traria a Campo Grande.
O que muda é a sua condição, de sideman – como se costuma chamar, no jazz, os músicos de acompanhamento de quem é o líder do grupo – para bandleader.
A nova escalação mexeu, naturalmente, no repertório e na convocação de um novo batera para entrar no lugar do Edu. Mexeu também com a motivação do guitarrista, que se diz duplamente honrado.
Fábio estará acompanhado do baixista Théo Ribeiro, filho de Edu, que já viria a Campo Grande para tocar com pai, e de Rodrigo “Digão” Braz, na bateria, para executar um repertório que revisita clássicos brasileiros, da MPB e do choro, e temas do jazz dos EUA consagrados mundialmente.
“Vou fazer o Fábio Leal Trio, mas com o Edu Ribeiro seria trio também. Então, eu estaria honrado do mesmo jeito de estar participando do primeiro encontro, porque sei o quanto isso é muito importante. Movimenta a cultura da cidade e da região”, afirmou.
DE GIL A COLE PORTER
“Gosto de participar tendo essa consciência”, disse o guitarrista.
“Estou com o repertório do Edu na mão. Já estamos tocando juntos há algum tempo e já estávamos ensaiando para o festival, e aconteceu esse imprevisto, que é uma coisa da vida. As músicas do Edu são músicas complexas, não só para a guitarra, mas para outro baterista pegar em pouco tempo. É difícil, é uma música autoral cheia de nuances. Mas eu queria deixar no mesmo nível do que seria o Edu Ribeiro Trio, com quem, nossa, adoro tocar”, contou Fábio.
“Vamos tocar uma música dele, que se chama ‘Na Calada do Dia’, para representar ele na música também. Está Fábio Leal Trio, mas, na minha cabeça e no coração, a gente está representando o Edu, porque foi uma fatalidade isso que aconteceu”, disse o músico.
Também entregará outros temas do repertório de hoje: canções de Milton Nascimento e Gilberto Gil, “Lamentos”, de Pixinguinha, e dois standards, “Love for Sale”, do Cole Porter, e “Pent-Up House”, do Sonny Rollins.
“Como é o primeiro festival de jazz de Campo Grande, acho importante apresentar o jazz americano, mas também apresentar de uma forma instrumental músicas do cancioneiro brasileiro. Os músicos brasileiros fazem muito essa pesquisa de tocar a música brasileira, melodias brasileiras, seja choro ou do cancioneiro, mas de uma forma jazzística, criativa. O público pode esperar uma forma criativa de tocar melodias já bem conhecidas”, afirmou Fábio, que se define como um guitarrista com “muita raiz” na improvisação e na pesquisa de ritmos brasileiros.
“Quando falo ritmos brasileiros, é um leque muito grande, desde os regionalismos de cada região do País até todo o cancioneiro, que é, no caso, o que a gente vai apresentar um pouco aí. Faço essa síntese das cores do Brasil na minha guitarra de uma maneira improvisada e criativa, e nessa formação jazzística, que é guitarra, baixo e bateria. É uma formação bem consolidada já, bem tradicional. É uma música instrumental com cores brasileiras”, completou.
DO BEBOP AO MODERNO
“Toda a história do jazz me inspira muito desde os primórdios, no começo do século [20]. Desde a era do bebop, da década de 1940, o que a gente costuma chamar de hard bop, na década de 1960, 1970, e o jazz moderno me inspira muito, e também os músicos brasileiros, como Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte, Hélio Delmiro… São pessoas que me inspiraram e me inspiram até hoje. Radamés Gnattali, Jacob do Bandolim... São influências muito fortes para mim”, afirmou o guitarrista.
DISCO NOVO
O músico já lançou oito álbuns, criados na alquimia sonora de bandas e projetos como Mente Clara e Antropojazz. O último, “Derivare”, lançado no ano passado, é fruto da experiência com o Banzú Quintê, “meu grupo de música camerística”, e o próximo já tem data para começar a ser gravado.
"Vou entrar em estúdio daqui duas semanas para gravar o meu primeiro CD de trio, que vai ser com o Digão [bateria], que vai estar aí com a gente, e o baixista vai ser o Fi Maróstica”, declarou Fábio, que foi professor do Conservatório de Tatuí (SP) por 17 anos.
Além do Fábio Leal Trio, a noite de abertura do Campo Grande Jazz Festival na Esplanada Ferroviária, a partir das 19h, terá mais um show do Barah Trio. Liderado pelo saxofonista Júnior Matos, o Barah Trio fez uma apresentação, pela programação do evento, no Ponto de Integração Hércules Maymone. Todos os shows do festival são gratuitos.

Chayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral
Camila Fremder
Equipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles


