Correio B

CAMPÃO CULTURAL

Fantástica viagem pelo cinema a bordo de uma HQ

Artistas de São Paulo falam sobre a criação da graphic novel neste sábado, durante evento do Campão Cultural

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Na graphic novel “O Filme Perdido” (Quadrinhos na Cia, 2023), Cesar Gananian (roteiro e diálogos) e Chico França (arte) mergulham na história da sétima arte para resgatar a figura do francês visionário Louis Le Prince, que filmava imagens em movimento antes dos irmãos Lumière ou de Thomas Edison.

Dupla de São Paulo fala sobre a criação deste álbum tão seminal e de forte impacto visual neste sábado, às 16, horas, no Museu da Imagem e do Som

O que apresentarão na palestra deste sábado?

Cesar: Será uma viagem pela história do cinema e como esses filmes nos influenciaram no texto, no desenho, design de páginas, cores e até no tipo de fontes utilizado.

O que levou à criação de “O Filme Perdido”?

Cesar: A ideia surgiu de uma epifania. Imaginei um filme coletivo, feito ao longo de cem anos por diferentes cineastas de épocas e lugares distintos. Cada um representando um movimento cinematográfico. E isso iria influenciar na forma e conteúdo de cada capítulo-cena. Fiquei eletrizado com essa ideia e só faltava a história. Sobre o que seria esse filme centenário? Pensei que a resposta estaria no fundador dessa empreitada que eu tinha imaginado, alguém do pré-cinema que, no início do século 20, teria dado a largada desse filme coletivo.

Pesquisando sobre pioneiros do cinema, encontrei um inventor chamado Louis Le Prince, que, antes dos Irmãos Lumieres e do Thomas Edison, já estava desenvolvendo uma câmera cinematográfica. Mas quando estava prestes a estrear sua invenção, desapareceu num trem e nunca chegou em Paris. Resolvi misturar essa história real com toda a fantasia que eu tinha imaginado. E depois de dez anos de trabalho, cinco escrevendo e cinco desenhando pelo Chico França, conseguimos lançar pela Companhia das Letras.

Cineastas como Rogério Sganzerla (1946-2004) fizeram filmes sobre a arte dos quadrinhos. Você fez uma HQ sobre o cinema. Como vêem essa dobradinha?

Cesar: Que legal você trazer o Sganzerla! Amo os documentários dele (“História em Quadrinhos” e “Quadrinhos no Brasil”, ambos de 1969. Assisti muito tempo antes de começar a elaborar esse livro. Acho que a relação entre cinema e quadrinhos sempre foi promíscua, digamos assim. Will Eisner (1917-2005), revolucionário dos quadrinhos dos anos 40, bebeu muito de Orson Welles (1915-1985), Hitchcock (1899-1980) e de todo cinema noir. Jean-Luc Godard (1930-2022) com seu filme “Alphaville” (1965) foi o contrário, mergulhou nas HQs de ficção científica.

Acho que nunca pensei num público específico para o filme perdido. Acho que qualquer pessoa que tenha interesse por arte, narrativas e uma mente aberta pra se surpreender. Cada capítulo foi feito num material e estilo diferente para representar um movimento cinematográfico. Temos carvão, aquarela, colagem e até massinha!

O que tem ouvido de quem já leu? 

Cesar: Fico muito feliz quando alguém que leu começa a ir atrás de mais filmes e acaba descobrindo os tesouros escondidos que encontramos ao longo do processo. A obra é sobre nosso amor ao cinema e passar isso para outras pessoas sempre foi meu maior objetivo.

Como se deu o processo de pesquisa e também a seleção das informações que manteve no roteiro e do que optou por excluir?

Cesar: Durante o processo, vi 300 filmes e li uns 20 livros. Foi intenso mas maravilhoso. Eu queria muito ouvir dos próprios criadores e críticos do país dos filmes de origem seus pensamentos sobre o cinema. E isso me influenciou em cada  palavra escolhida, em cada personagem criado. Depois do roteiro pronto, filtrei uns 50 filmes e o Chico França mergulhou neles para além dos meus resumos dos livros encontrados. Também buscamos referências em outras áreas além do cinema: artes plásticas, design, música.

Como se deu a parceria de vocês e como definiram as linhas gerais do tratamento visual?

Cesar: Somos amigos de escola e mesmo na vida adulta já tínhamos inúmeras parcerias. Mas nunca em quadrinhos. Apenas falávamos sobre isso. E quando nasceu a ideia, a parceria foi perfeita. Sabíamos que teríamos que experimentar muito, pesquisar muito e ambos viam isso como uma grande oportunidade de nos desenvolvermos como artistas. Era uma relação muito próxima, conversávamos quase todos os dias durante os cinco anos que o Chico passou desenhando.

Chico: Diria que tivemos uma parceria muito afinada, que foi ganhando ainda mais fluidez ao longo do tempo. A cada capítulo eu mergulhava nos filmes e tentava me embeber da atmosfera daquele movimento cinematográfico sobre o qual me debruçava. Era o primeiro passo para, em seguida, e junto com o Cesar, decidirmos qual a técnica e que material combinava para criar os aspectos visuais que melhor condiziam com as referências do cinema.

Nas nossas reuniões quase diárias decidíamos quadro a quadro a página, pensando angulação, atuação dos personagens etc. O fato de serem duas cabeças criando juntas potencializa demais as possibilidades. 

Poderia comentar sobre essas possíveis outras inspirações e influências para além do universo da arte sequencial?

Cesar: Sou muito influenciado pela literatura fantástica de Jorge Luis Borges (1899-1986). Foi ele quem falou que talvez a humanidade tenha escrito apenas um grande livro feito por milhões de escritores. Também fui influenciado por “Ulysses” (1920), de James Joyce (1882-1941), onde ele se utilizou de diferentes linguagens para cada capítulo de seu livro.

A HQ dos EUA termina sendo a que mais aparece no cenário internacional. Há trabalhos ou autores de outros países que lhes chamam a atenção?

Chico: O cenário do quadrinho nacional me parece muito prolífico, com muitas publicações interessantes e nomes novos que aos poucos vão rompendo o nicho. Tenho muito ainda para conhecer e ler, mas entre os que mais me atraem estão certamente Marcelo D’Salete, Eloar Guazzelli, Luli Penna. E estrangeiros, os clássicos (Guido) Crepax (1933-2003), (Alberto) Breccia (1919-1993) e Marjane Satrapi. Para citar alguns.

Talvez a partir de “Daytripper” (Fábio Moon e Gabriel Bá, 2010), a HQ brasileira atingiu um outro patamar, não só de reconhecimento, mas também quanto à criação e à confecção em si. Como vê a produção e o mercado de talentos do país hoje?

Cesar: Talento é o que não falta. Acredito que falta a grande mídia trazer mais sobre essas obras. Existe ainda um pensamento muito arcaico de que quadrinhos é apenas coisa de super heróis, quando, desde o início do século 20, vemos obras avassaladoras feitas em quadrinhos.

Chico: Esses talentos estão por aí, muita gente produzindo de forma independente, sem muita chance de poder viver da sua arte, mas às duras penas perseverando na criação. Concordo com o Cesar. Os quadrinhos são ainda uma linguagem pouco valorizada, tida infelizmente como inferior ao texto literário ou menos rentável e engajadora de atenção do que outras formas de expressão típicas do entretenimento.

Ainda assim, existe sim alguma mudança por parte de alguns setores que passam a investir, digamos, nos quadrinhos com status de livro, histórias longas, graphic novels. E, surpreendentemente, editoras grandes têm cada vez mais aberto espaço para isso.

E o cinema brasileiro? O que diriam da produção contemporânea?

César: Diria que é plural como nosso próprio pais é!

Vocês me diriam filmes e HQ’s preferidas?

Cesar: Acho que prefiro responder mais por autores do que pelas obras. Nas HQs, meu autor preferido é o Alan Moore. Já li tudo que ele escreveu e me inspira demais. No cinema, diria Orson Welles, Sergei Parajanov (1924-1990), Jean-Luc Godard, Maya Deren (1917-1961), Sganzerla, Kubrick (1928-1999), Abbas Kiarostami, Bergman (1918-2007), Murnau (1888-1931), Chaplin (1899-1977)… É gigante a lista. Diria que vou estar sempre do lado daqueles que buscam reinventar, experimentar sem medo do risco. 

Chico: Tenho gostado bastante de HQs documentais, como os livros de Joe Sacco e “Uma Vida Chinesa”, de Li Kunwu e P. Ôtié. No cinema, os filmes de Kiarostami e Akira Kurosawa (1910-1998). Pretendo rever e rever ainda algumas vezes na vida. 

     

Diálogo

Tremenda de uma "cascata" a informação apregoada pelo governo de Lula que... Leia na coluna de hoje

Leia a coluna desta terça-feira (23)

23/12/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Cecília Meireles - escritora brasileira

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”

Felpuda

Tremenda de uma “cascata” a informação apregoada pelo governo de Lula que ele ressarciu os aposentados, vítimas da roubalheira de esquema que envolve pessoas ligadas ao INSS, empresas privadas, ONGs, laranjas e políticos. Na realidade, essa conta sobrou para o cidadão, inclusive os próprios aposentados que pagam Imposto de Renda. Nenhum dos bandidos até agora restituiu aos cofres públicos o dinheiro que roubou. Aliás, a maioria está sendo blindada de forma vergonhosa. Há quem diga até que buscam “freio” para que a CPMI do INSS comece a patinar e não avance. Lamentável!

Pra cabeça

Quem entrará em 2026 com problemas no Conselho de Ética da Câmara é a deputada federal Camila Jara, do PT. O Partido Novo protocolou representação contra ela.

Mais

A acusação é de violação do decoro, ao se envolver na confusão originada quando da retirada à força de Glauber Braga, do Psol, e de ofensa ao secretário-geral da Mesa Diretora.

Diálogo

O vorí-vorí, tradicional prato paraguaio, foi eleito o melhor do mundo na lista anual do Taste Atlas, plataforma internacional que reúne avaliações gastronômicas de todas as partes do planeta. A iguaria recebeu nota 4,64 de 5, com base em votos de usuários reais que experimentaram o prato. Conhecido também como borí-borí, o vorí-vorí é descrito pelo portal como “a icônica sopa de galinha paraguaia com bolinhos de fubá recheados com queijo”. Rico em sabor, textura e história, o prato ocupa um lugar especial na mesa das famílias paraguaias e agora também no cenário global da gastronomia. Nos últimos anos, o vorí-vorí já havia figurado entre as melhores sopas do mundo em rankings do mesmo portal, reforçando sua reputação. A lista do Taste Atlas se tornou referência global por utilizar um sistema que identifica e descarta avaliações nacionalistas ou feitas por robôs, garantindo legitimidade às escolhas.

DiálogoChayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral

 

DiálogoCamila Fremder

Prova de fogo

O atual time que forma o entorno do governador Eduardo Riedel terá, no próximo ano, prova de fogo, porque a missão deverá ser reeleger o “chefe” para o segundo mandato. Será o momento de a tchurminha provar quem é quem na estrutura. Quando foi eleito em 2022, Riedel nunca havia disputado uma eleição, porém, tinha um grupo político forte que sabia “o caminho das pedras”, o que foi fundamental para sua vitória. Em 2026, ele não poderá contar com esse pessoal.

Nem tanto

O PT em Mato Grosso do Sul já não estaria demonstrando, digamos, tanto amor pela candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Senado pelo Estado, achando ser melhor por São Paulo. Lideranças petistas cá dessas bandas dizem que a ministra poderá ser um dos nomes para suceder a Lula. Ela figura entre algumas opções para ocupar o trono petista. A lista tem Alckmin, do PSB, e Haddad, o único do PT. Tudo indica que não se faz mais petista raiz como antigamente...

Entrave

Nos bastidores, o que se fala é que a ministra Simone Tebet, até então considerada excelente opção para disputar o Senado por MS, seria fonte de problemas. Algumas das alas do PT teriam torcido o nariz com a possibilidade de ela disputar pelo partido, até porque esse time lembra de que, quando candidata à Presidência, ela desferiu ataques a Lula. Além disso, há dúvidas se no Estado teria potencial eleitoral para o embate com outros candidatos, em sua maioria da direita, tendo em vista que o governo do qual faz parte, dizem, “está caindo pelas tabelas”

ANIVERSARIANTES

Beatriz Rahe Pereira, 
Dr. Gevair Ferreira Lima Júnior,
Julianne Stranieri Metello, 
Stephan Duailibi Younes, 
Maria Fatima Bueno,
Adhemar Mombrum de Carvalho Neto,
Augusto Costa Canhete,
Rosangela Neves,
Edgar Basmage,
Gileno Almeida Costa Nonato,
Sérgio Aguni,
Rinaldo da Silva Cruz,
Edna Maria Potsch Magalhães,
Dr. Márcio Molinari,
Ivo Batista Benites,
Ronaldo Fernandes Donizeti de Jesus,
Fabiano Borges da Silva,
Maria Aparecida Menezes,
Rafael Medina Araujo,
Rosilene Gois Paes,
Antonio Angelo Garcia dos Santos,
Maria Elisa Hindo Dittmar,  
Beatriz de Almeida,
Dr. Amaury Bittencourt Gonçalves, 
Izabella de Matos Lopes,
Cláudia Regina Di Felice,
Neide machado da Silva Gimenes,
Domingos Puckes,
Silvio Luiz de Moura Leite,
Helder Kohagura,
Maria Clementina Aparício Fernandes,  
Aurino Rodrigues Brasil,
Tânia Ignez Pinheiro,
Marilda Flores Haidar,
Samara Carvalho Gomes Binn,
Josselen Resstel Escórcio,
Valdo Maciel Monteiro,
Luiz Eduardo Yukio Egami,
Rafael Ferreira Ribeiro Lima,
Leila Maria de Albuquerque,
Maria Aparecida de Moura Leite, 
Datis Alves de Souza,
Aurea Leite de Camargo,
Maria de Fátima Vendas Muzzi, 
Thiago Ferraz de Oliveira,
Ruth Lopes Abreu,
Sandra Rodrigues Pereira,
Paulo da Costa Oliveira,  
Paulo César Reis Mendonça,
Fernanda Marques Ferreira,
Terezinha Alves Araújo,
Lucilaine Aparecida Tenorio de Medeiros,
Maria Helena Alves Lima,
Rosana Paes de Matos,
Laura Holsback Alvarenga,
Renato de Freitas Martins,
Miriam Fontoura Prata,
Nelson Maia de Melo,
Cleonice Gomes de Oliveira,
Rodolfo de Morais Dias,
Jussara Leite Barbosa,
Hugo Sabatel Neto,
Carolina Saves,
Solange Xavier Vargas,
Augusto Coelho Freire,
Soraia Kesrouani,  
Rubens Mendes Pereira,
Lilian Gabriela Heideriche Garcia,
Ana Maria Coimbra Santos,
Nelly Vasconcelos Coelho,
Valmir de Andrade Ferreira,
Eliana Miyuki Aratani Kaiya, 
Flávia Ribeiro Ramirez,
Laurinda Paiva Peixoto,
Patrícia de Souza Queiroz,
José Antônio Braga,
Elaine Viana Nunes,
Washington Justino Gonzaga,
Maria Stella Maia Pepino,
Vânia de Toledo Neder,
Osvaldo de Moraes Barros Neto,
Raquel Barbosa Franco,
Suely Ferreira Leal,
João Rafael Sanches Florindo,
Antonio Fernando Cavalcante,
Lúcia Torres Marchine,
Marcos Henrique Boza,
Adriana de Oliveira Rocha,
Suely Luiza Comerlato,  
Benedito Celso Dias,
Alirio Leitun,
Débora Queiroz de Oliveira,
Edson Pulchério Alves,
João Borges da Silva Filho,
Mário Zan Moreira,
Marcelo Luiz Ferreira Correa,
Valdecir Jorge,
Sérgio Carlos Borges,
Dr. Ruy Alberto Bueno,  
Marta Maria Vicente,
Guilherme Nucci dos Reis,
Marcelo Flores Acosta,
Noêmia Ramos de Oliveira,
Luiz Carlos de Carvalho,
Cláudia Garcia de Souza Trefilo,
Leonardo Marques Mourão,
Maria Delfina Louveira Trindade,
Camyla Queiroz de Faria Gonzales. 

*Colaborou Tatyane Gameiro

CINEMA

Curta-metragem "Carne Amarela" transforma a Terra do Pé de Cedro em set de filmagens

Com produção de Marcus Teles e direção de Gleycielli Nonato Guató, curta-metragem "Carne Amarela" tem equipe local e conta história que entrelaça memórias da infância em meio aos pequizeiros e banhos de rio

22/12/2025 10h30

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab),

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da natureza Divulgação: Marcus Teles

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Nostalgia e engajamento são os motores para evocar os sabores da infância que fizeram Coxim voltar a ser cenário de cinema. Conhecida como Terra do Pé de Cedro, a cidade localizada a 245 quilômetros de Campo Grande, no norte do Estado, é uma das protagonistas de “Carne Amarela”, curta-metragem de ficção dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles.

Os dois nasceram na cidade, que também é conhecida como Portal do Pantanal, e são profundamente conectados ao Cerrado e ao Pantanal.

As filmagens se encerraram ontem e foram realizadas integralmente por lá, contando com elenco local, que envolveu moradores atuando pela primeira vez na frente de uma câmera e também uma equipe de produção majoritariamente formada por coxinenses. Ou seja, uma combinação de saberes tradicionais, talento regional e formação técnica.

A produção nasce do desejo de fazer Coxim se ver na tela grande, “suas cores, sua luz, seus frutos, suas infâncias”, como afirma a diretora. E nasce, segundo Gleycielli, também da necessidade urgente de lembrar o que esses mesmos elementos significam para a identidade do município.

“Eu estou completamente em êxtase. Planejei muito trazer esse filme para cá. É emocionante gravar na cidade onde cresci, com o povo daqui, com artistas da terra. Noventa por cento do elenco é coxinense, a equipe tem muita gente da cidade, e isso me deixa profundamente feliz”, compartilha Gleycielli Nonato Guató, que, além de dirigir a produção, também assina o roteiro baseado em seus próprios textos literários.

DOIS TEXTOS

“Carne Amarela” nasce de dois textos de Gleycielli – o poema “Carne Amarela” e o conto “É Tempo de Ouro no Cerrado” – que guardam lembranças de uma Coxim que pulsava mata, rio e fruta. A diretora explica que o filme busca reencontrar essa paisagem quase perdida.

“Eu quero trazer a infância que vivi. A gente saía para caçar pequi, pegava ingá, comia goiaba no pé, trazia caju para fazer doce. Coxim era meu ‘Sítio do Picapau Amarelo’. Hoje, muitos lugares onde eu brincava viraram bairros. O filme é um lembrete do que ainda existe e do que não pode desaparecer”, afirma.

A obra convida as crianças e os adultos a olhar novamente para o Cerrado como pertencimento. O pequi, fruto central da narrativa, é apresentado como força, resistência e alimento da memória coxinense.

“O pequi já sustentou muitas famílias. Trouxe renda, trouxe mistura, trouxe nutrição. Ele resiste ao fogo, resiste ao tempo, mas não resiste ao machado. O filme quer acender esse sentimento de pertencimento e preservação, para que as próximas gerações vejam valor no que tantas vezes sustentou Coxim”, ressalta Gleycielli.

ZORAIDE

A protagonista adulta, Zoraide, teve como referências mulheres de alusão familiar e ancestral para Gleycielli: sua mãe, tias, avó e bisavó. A diretora revela que a personagem carrega traços de todas elas. E quem interpreta Zoraide é justamente Maria Agripina, mãe da diretora, pioneira do teatro coxinense.

“É muito emocionante ver minha mãe interpretando a Zoraide, que leva o nome da minha tia que faleceu na pandemia. Este filme é pioneiro em muitas coisas dentro de mim”, revela. Além disso, todos os cargos de direção são ocupados por mulheres, fortalecendo a presença feminina no audiovisual sul-mato-grossense.

“Trabalhar com essa equipe é um prazer imenso. Estamos construindo juntas. É uma energia muito poderosa”, afirma. A equipe ainda é formada majoritariamente por profissionais de Coxim, como Robertson Isan Vieira, artesão ceramista premiado, e José Carlos Soares, cabeleireiro e designer de imagem.

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da naturezaEquipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles

ENCONTRO

Para o produtor executivo e corroteirista Marcus Teles, filmar em Coxim não foi uma escolha estética, mas ética e afetiva. “Coxim faz parte da nossa formação pessoal e artística. Os textos que deram origem ao filme nasceram daqui.

A luz, a paisagem, o modo de vida, o jeito como o pequi aparece na cidade, tudo isso faz parte da essência da história. Filmar em Coxim é garantir autenticidade”, afirma Marcus.

O produtor explica que mapear as locações foi um processo guiado pela afetividade. “Coxim é uma cidade onde o urbano e o rural se encontram o tempo todo. Não procuramos cenários: reconhecemos neles o que a história já trazia em essência”.

Marcus destaca ainda que oito moradores da cidade trabalharam pela primeira vez no audiovisual, acompanhados de profissionais experientes. “Queremos abrir portas. Que jovens de Coxim encontrem no set um caminho possível, uma nova profissão, um futuro”, destaca o produtor.

101 FILMES

O elenco também conta com a participação especial do ator Breno Moroni, que marcou gerações como o Mascarado na novela “A Viagem” (Globo, 1994), além de ter participado de diversas outras produções no cinema e na televisão.

Com uma carreira extensa que inclui desde aberturas de telenovelas e mais de 100 filmes, Breno esteve em Coxim para integrar o elenco de “Carne Amarela” como seu 101º trabalho audiovisual.

“Trazer o Breno foi como aproximar duas forças que se completam. Ele chega com experiência, mas com humildade. Ele senta na varanda e deixa a conversa fluir. É uma presença que soma sem apagar a simplicidade regional, que é a alma do filme”, reconhece Marcus.

“Ele é fantástico. Consegue ir do drama à palhaçaria. Traz o duo que a personagem dele pede: o velho ranzinza e o homem capaz de se transformar”, completa Gleycielli.

O CERRADO

O filme aborda temas urgentes como queimadas, perda de territórios e desmatamento, mas com a delicadeza necessária para o público infantil, segmento prioritário na meta de audiência da produção.

“O tema duro vem com sutileza. As crianças vão entender o sentimento de perder e o de pertencer. E, quando algo pertence a você, você quer cuidar”, explica Gleycielli. Ao fim, o curta reforça que a preservação é um aprendizado coletivo e que cuidar da terra só é possível quando ela é reconhecida como parte de nós.

Na semana passada, a equipe teve uma atividade formativa com Alexandre Lopes, que é doutor em Ciências Sociais e professor de Sociologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), no campus de Coxim.

A interação rendeu contribuições fundamentais para reflexão sobre como pensar e construir um audiovisual mais inclusivo.

AUTOESTIMA

A expectativa da equipe é de que o filme leve Coxim para o Brasil e para o mundo por meio de festivais, mas, principalmente, que devolva à cidade a consciência de seu próprio valor.

“Esperamos que Coxim se veja com carinho. Que perceba que suas histórias merecem estar no cinema. ‘Carne Amarela’ é uma celebração da cidade, das suas raízes e da força do Cerrado”, diz Marcus.

Para Gleycielli, a gravação na cidade é também um gesto de retorno. “Eu sou uma Guató de Coxim. Este filme diz muito sobre de onde eu vim e quem sou eu”.

Como uma “semente que rompe a casca”, reforça a diretora, “Carne Amarela” nasce para devolver à cidade o brilho do seu fruto mais resistente.

Aquele que atravessa gerações, que muda o PIB, que alimenta famílias, que resiste ao fogo e que ensina a permanecer. E Coxim, agora, se prepara para ver sua história ganhar corpo, cor, movimento e tela.

O projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), do governo federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).

"Carne Amarela"

> Direção e roteiro: Gleycielli Nonato Guató;
Direção de produção: Gabriela Lima Ferlin;
> Direção de arte: Maíra Espíndola;
Direção de fotografia: Dafne Alana;
Som direto e edição de mixagem: Laura Cristina;
Produção executiva, assistência de direção e roteiro: Marcus Teles;
Operador de câmera: Gabriel Ribeiro;
Produção de set: Jefley M. Cano;
Elenco: Breno Moroni, Maria Agripina, João da Mata, Elena Vendroscolo, Maria Sonea Domingos;
Trilha sonora original: Gian Markes;
> Edição de imagem e cor: Rafael Viriato;
Microfonista: 4real.wav;
Assistente de produção executiva: Lucas Moura e Guinha Serrou;
Assistente de produção e captação: Robertson Vieira;
Assistente de produção: Carlos Soares;
Assistente de arte: Angela Gabrieli;
2º assistente de direção: Eduardo Henrique;
2ª assistente de fotografia: Lavinia Ribeiro;
Assessoria de imprensa: Lucas Arruda e Aline Lira.

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