Aprender a tocar um instrumento musical permanece sendo o sonho de muitas pessoas. E, para a maioria dos interessados, o maior empecilho ao acesso a essa formação, que, além de qualificar profissionalmente, proporciona um salto na autoestima, é a questão financeira.
Afinal, como se sabe, dedicar-se à arte no Brasil, mesmo apenas por hobby, custa caro. Mas quem tem entre 8 anos e 16 anos ou mulheres que já passaram dos 60 anos podem estar mais perto de realizar esse sonho do que imaginam.
É que a Fundação Barbosa Rodrigues está com vagas abertas para turmas gratuitas em quatro modalidades: três na área musical – violino, violoncelo e teclado – para crianças e adolescentes e dança do ventre para mulheres com 60 anos ou mais.
Criada há mais de quatro décadas, com o propósito de fomentar a formação artística, especialmente na área musical, de jovens de baixa renda, a entidade segue com inscrições abertas para as aulas de dança do ventre, que começam nesta sexta-feira, e as turmas de música, que começam no dia 12.
As aulas serão oferecidas até o dia 28 de novembro. Para fazer a inscrição, os interessados devem comparecer na Fundação Barbosa Rodrigues (Rua Ourinhos, nº 159, Vila Carvalho), das 8h30min às 11h30min, com documentos pessoais e comprovante de residência.
As aulas de dança do ventre, uma vez por semana, todas as sextas-feiras, a partir das 14h, terão uma hora de duração e serão oferecidas por meio de uma parceria da Fundação Barbosa Rodrigues com o Instituto Dança da Vida Nidal Abdul.
DANÇA DO VENTRE
“As alunas vão aprender a arte da dança do ventre em nível iniciante”, informa a dançarina e professora Nidal Abdul, que é a responsável pela condução das aulas. O figurino adequado para a atividade é uma malha de ginástica, e as alunas podem praticar descalças ou de meia.
“A dança do ventre oferece diversos benefícios, tanto para o corpo como para a mente, como melhoria da postura, aumento da flexibilidade, fortalecimento muscular, queima de calorias e redução do estresse, além de auxiliar na autoestima e no autoconhecimento”, afirma Nidal.
“Além de fortalecer os músculos, melhorando a postura e reduzindo dores de coluna, traz o aumento da flexibilidade por meio dos movimentos específicos. A dança do ventre aumenta a flexibilidade do corpo com o fortalecimento muscular. E trabalha a musculatura abdominal, das pernas, braços e glúteos, tonificando e enrijecendo os músculos”, diz a professora, que destaca ainda a queima de calorias durante a atividade.
“É uma excelente atividade aeróbica, que ajuda a queimar calorias e a controlar o peso, melhorando, assim, a circulação”, afirma.
“Os movimentos da dança do ventre estimulam a circulação sanguínea, melhorando a oxigenação do corpo”, prossegue.
“E auxilia no alívio de dores menstruais e sintomas da TPM. Sim, a dança do ventre pode ajudar a aliviar as dores menstruais e os sintomas da TPM”, reforça a professora.
“Posso dizer também que a dança do ventre é uma atividade relaxante que ajuda a aliviar o estresse e a ansiedade, com benefícios para a autoestima. Ao se movimentar ao ritmo da música e descobrir novas formas de expressão, a dança do ventre contribui para o aumento da autoestima e da confiança. A prática da dança do ventre permite conhecer melhor o corpo e as sensações físicas, promovendo uma maior autoconsciência”, garante a professora.
“A dança do ventre estimula a desinibição e a comunicação, incentivando a expressão e a espontaneidade. E ainda estimula a criatividade, a concentração e a agilidade mental. É uma prática que trabalha a favor do fortalecimento do vínculo social. Feita em grupo, pode criar novos vínculos de amizade e reduzir a sensação de solidão. A dança, bem como a arte, transforma a vida das pessoas”, afirma a dançarina, coreógrafa e professora Nidal Abdul.
MÚSICA
“A proposta das aulas de música na Fundação Barbosa Rodrigues vai muito além do ensino técnico de um instrumento. Nosso objetivo principal é promover o desenvolvimento humano por meio da arte. A música é utilizada como ferramenta de transformação social, autoestima, disciplina e expressão. É um espaço onde os jovens podem se reconhecer como parte de algo maior, desenvolver senso de pertencimento e enxergar novas possibilidades para o futuro”, diz a professora Thayná, que foi aluna da Fundação Barbosa Rodrigues.
“Os alunos aprendem desde a teoria musical básica até a prática instrumental, com foco em violino, violoncelo e contrabaixo. Também trabalhamos percepção auditiva, afinação, leitura de partituras e, principalmente, a escuta coletiva. Mas, além da música, eles aprendem sobre compromisso, trabalho em equipe e o valor da persistência”, afirma.
“Utilizamos uma abordagem que mistura ensino coletivo com atenção individual. A base está em métodos ativos, como o Suzuki e o Kodály, adaptados à realidade dos alunos. A dinâmica valoriza o processo: respeitamos o tempo de cada um e procuramos construir um ambiente seguro, lúdico e motivador, onde o aprendizado acontece de forma natural e significativa”, conta Thayná. Ela está na reta final dos estudos para a licenciatura na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Sobre atuar com os jovens, Thayná diz que representa uma responsabilidade imensa, mas também uma das experiências mais gratificantes de sua vida.
“Tenho um carinho especial por essa função porque eu mesma fui aluna da fundação. Hoje, poder estar do outro lado, como professora, é muito simbólico. Representa um ciclo que se renova: fui acolhida, formada e agora posso acolher e formar outros jovens. Ser educadora aqui é ser testemunha de conquistas diárias, muitas vezes invisíveis aos olhos de quem está de fora”, relata a jovem professora.
AFINANDO
“Ver um aluno afinando o instrumento pela primeira vez ou se apresentando em público com confiança é algo que não tem preço. É a certeza de que estamos plantando sementes de transformação. O maior desafio é, sem dúvida, do ponto de vista prático, lidar com a desigualdade de acesso. Muitos alunos não têm instrumentos em casa ou enfrentam dificuldades de transporte e rotina familiar. Por isso, adaptamos o ensino ao máximo, buscando formas criativas de garantir que ninguém fique para trás”, conta Thayná.
A professora diz que a reação e a interação com pais e familiares têm sido muito positiva.
“Os pais muitas vezes se emocionam ao ver os filhos se apresentando, e muitos relatam melhorias no comportamento, na concentração e até no rendimento escolar. Com o tempo, a música vai ganhando espaço dentro das casas, e isso fortalece os vínculos familiares”, afirma.
“Teve um dia em especial que nunca vou esquecer: uma apresentação em que um aluno que era muito tímido e quase desistiu no começo se apresentou com segurança e alegria. Ao fim, a mãe dele veio até mim chorando, dizendo que era a primeira vez que o via tão confiante em público. Aquilo me marcou profundamente. São momentos assim que nos mostram que vale a pena”, relembra Thayná.
“A Fundação Barbosa Rodrigues é um espaço de resistência e esperança. A arte, quando acessível, muda realidades. E ver isso acontecer todos os dias é um privilégio imenso”, celebra a professora.
Tome nota dos horários das aulas com Thayná. Terças e sextas-feiras: violino, das 8h às 9 h; violoncelo, das 9h às 10h; e teclado, das 10h às 11h.

Chayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral
Camila Fremder
Equipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles


