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Hayden Christensen conquista nova geração e redime vilão da saga Star Wars

O ator tinha o desafio de criar o processo de um jovem ambicioso que iria sucumbir ao lado obscuro da Força

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Por Ana Cláudia Paixão

A longevidade da franquia Star Wars coloca de alguma forma indireta o conflito de gerações em outra perspectiva, uma na qual arquétipos se confundem. 

O maior exemplo foi a celebração da volta do ator Hayden Christensen como Darth Vader/Anakin Skywalker na série Obi-Wan Kenobi. 

Sua participação, como coadjuvante, ganhou status de protagonismo porque a relação de sua personagem com o mestre Jedi é a de maior impacto em toda jornada, seja na trilogia original, na prequel, sequel ou spin-offs. 

É a velha canção, que diferença um dia faz. 

No caso, algumas décadas…

O ator canadense, que começou a trabalhar com 13 anos e fez sucesso em filmes independentes e séries dramáticas, como Higher Ground (um título irônico que os geeks vão captar), tinha apenas 19 anos quando assumiu o papel de Anakin Skywalker na prequel dirigida e escrita pelo próprio George Lucas. 

Foi escolhido dentre 1500 candidatos e com isso só aumentou a pressão.

Estreiou em Star Wars – Ataque dos Clones, substituindo o pequeno Jake Lloyd que interpretou Anakin como criança em Star Wars – A Ameaça Fantasma. 

Foi massacrado pelos fãs e críticos. Injusto? Sempre houve uma corrente que defendia essa teoria, pois Hayden tinha mais obstáculos do que material para aprofundar a personagem, desde a maneira robótica e empostada que James Earl Jones dublou Darth Vader nos filmes originais aos diálogos infantis – hoje clássicos – como o que diz dramaticamente “eu odeio areia”.

O ator tinha o desafio de criar o processo de um jovem ambicioso que iria sucumbir ao lado obscuro da Força e ao mesmo tempo falar e agir da maneira que todos os fãs já conheciam a personagem. 

Em Star Wars – A Vingança dos Sith, Hayden conseguiu reduzir as críticas (dentro das limitações de texto) e estava tão dedicado que pediu para ser mantido no papel mesmo quando Darth Vader assume sua armadura clássica (e a voz de James Earl Jones) em vez de usar um dublê. Isso é comprometimento.

Para a geração impactada pelos originais, do qual faço parte, nenhum dos filmes da prequel foi 100% satisfatório. 

A essa altura, por mais que fãs apontem detalhes da narrativa, já me acostumei que ela será adaptada com o tempo. 

Coisas como “Darth Vader matou seu pai” que virou “de um ponto de vista foi verdade” foi apenas o começo de muitos desafinos. Como R2-D2 e C3PO serem robôs de Anakin, por isso ter que “apagar a memória deles” para que depois pudessem estar com a Princesa Leia

Aliás, Darth nem reagiu ao reencontrá-los, em Uma Nova Esperança.  

Com a série Obi-Wan Kenobi surgiu novo problema. Agora temos uma Princesa Leia apegada à Obi-Wan, mas nem vai reagir quando testemunhar sua morte, mandando Luke (esse sim chocado e sofrendo) andar logo para fugirem. Falando neles, e o beijo incestuoso entre Leia e Luke? 

E a crush que Luke tinha na irmã sem saber que ela era sua gêmea? 

E claro, como Darth Vader não desconfiou imediatamente quando um piloto vindo do seu planeta de nascença, com o sobrenome Skywalker e na idade exata do bebê que teria com Padmé, poderia ser seu filho? Cobrar coerência em Star Wars sempre foi bem complicado.

Voltando a Hayden, ele fez o melhor que pôde, mas por muitos anos ficou “queimado” pelo papel que ficou conhecido mundialmente. Nada como a passagem do tempo para mudar as análises. Para os milenials, que puderam assistir a franquia na ordem certa, Hayden e Ewan McGregor passaram a ser as maiores referências. Luke Skywalker (Mark Hammill) deixou de ser visto como o grande herói da saga, como George Lucas imaginou originalmente.

Aliás, a genialidade esteve na decisão do diretor de usar a tese do filósofo Joseph Campbell, que decifrou os passos do que hoje sabemos de ser o “arco do herói” ou sua “jornada”, contados em 3 atos. A história era a de Luke Skywalker, salvando a galáxia e aos poucos foi ganhando complexidade.

E nada mais complexo do que a jornada de Anakin Skywalker

George Lucas fez história ao, em 1980, radicalizar a narrativa e chocar o mundo ao decidir que Darth Vader não era apenas o aprendiz de Obi-Wan Kenobi que traiu a todos e assassinou o pai de Luke. 

Ele era o próprio Anakin, que metaforicamente matou sua persona para se transformar em algo maligno. 

Essa premissa deu à Anakin, não mais Luke, o arco dramático mais profundo do cinema. Luke, assim como sua mãe que nunca conheceu, sentia que Anakin jamais desapareceu por completo e consegue redimir o pai, salvando sua alma no último minuto. 

(Não que tenha adiantado muito quando seu sobrinho, anos depois, repetiu o erro do avô, mas isso é outra história).

Os milenials perderam o que foi a revelação do segredo de Darth Vader e sua importância, mas abraçaram sua trajetória e sempre aprovaram Hayden Christensen. Tanto que seu retorno na série Obi-Wan Kenobi foi celebrado. 

E sim, ele conseguiu – finalmente – trazer a dimensão trágica da personagem como merecia. Foi perfeito.

E com isso, entendemos que a saga passou a ser sobre a relação de um representante da Geração X (Obi-Wan) e sua “falha” com seu aprendiz Milenial (Anakin Skywalker). 

Ao criticá-lo pela impetuosidade, até ocasional crueldade para alcançar o bem, Obi-Wan contribui para alimentar suas fraquezas até que sucumba ao poder e liberdade opressora do Império, o lado obscuro da Força.

Lembremos de novo que quando vemos Anakin pela primeira vez, era órfão de pai e escravo. Um grande mestre Jedi o identifica como “o escolhido”, desafia a toda bancada de jedis que discordam, e educa o menino pessoalmente. Porém, com sua morte trágica e repentina, cabe ao outro aluno, Obi-Wan, a ser promovido a Mestre e mentor da criança. 

O impacto de toda essa expectativa na cabeça de uma pessoa que em pouco tempo saiu da escravidão para um papel de maior relevância na Galáxia, foi subestimado pelos Jedis. 

Ao ver Obi-Wan rapidamente subir na Ordem, Anakin naturalmente esperava a mesma velocidade. 

Afinal, era “o escolhido”. Para piorar, ao ser “segurado” por Obi-Wan, que dava feedbacks negativos, Anakin sempre encarou as críticas como “inveja” e “insegurança”. Pelo que sabemos, mesmo como Darth Vader ele nunca mudou de opinião.

Em A Ameaça Fantasma, Mestre Yoda dá a dica ao explicar que “O medo é o caminho para o Lado Negro. 

O medo leva à raiva, a raiva leva ao ódio, o ódio leva ao sofrimento”. Anakin temia por sua mãe, que foi forçado a abandonar para assumir um grande papel. Quando ela foi assassinada, se sentiu revoltado. 

Ao não poder se relacionar abertamente com Padmé, também se sentiu injustiçado. 

Em seguida, faz uma sequência de más escolhas, que reforçam a análise de Obi-Wan de que não estava pronto. Sem priorizar a saúde mental, Anakin nunca teve controle emocional. 

Tudo que faz é por ímpeto e paixão. Mesmo que ainda no Ataque dos Clones, Obi-Wan o influencie, em A Vingança dos Sith Anakin revela seu ressentimento. Sucumbe à influência do Imperador Palpatine, alcança o Poder, mas perde tudo e todos que amava no processo.

Em vez de entender as consequências de suas escolhas, Anakin coloca a culpa de tudo nos ombros do protetor Obi-Wan. Não aguenta o fato de que, como o Jedi sempre o lembra, Obi-Wan está em um patamar acima (“higher ground”).

Mas vamos tentar entender Anakin. Ele é apontado como “o escolhido”, mas só ouve críticas. 

Suas visões políticas refletem um desejo genuíno de fazer a coisa certa. Só que tem pressa. 

Ao só perceber a ordem Jedi como algo restritivo, quase elitista, abraça os Sith, que sempre oferecem ajuda, liderança e a ideia de uma “ditadura benigna”. (Se Anakin encontrasse Daeneryen Targaryen de da 8ª temporada de Game of Thrones seria o casamento feito no paraíso.)

Obi-Wan, fiel aos princípios da geração X, “fez o que precisava fazer”, sofrendo as consequências com resiliência e reflexão. 

Sabe que falhou, múltiplas vezes, e que não soube ajudar Anakin. Com diálogos melhores, a série Obi-Wan Kenobi bate nessa tecla quando os dois se reencontram pela primeira vez em 10 anos, com o Jedi chocado em ver o ex-aprendiz como Darth Vader. 

“Eu sou o que você me fez”, diz Anakin. A frase que vai direto ao coração do sofrido Obi-Wan, que volta a pedir perdão. Em A Vingança dos Sith, ele disse “eu falhei com você, Anakin”, mas na série simplesmente diz “me perdoa”. No entanto, o que ele diz não tem a mesma tradução para Darth Vader, que ouve apenas como um reconhecimento de culpa que justificaria as ações violentas e criminosas do Império.

Uma das vantagens da maturidade de Hayden Christensen como ator, e o avanço da narrativa da saga, não mais assinada por George Lucas, é que foi possível humanizar o inexpressivo Darth Vader, restrito por uma armadura que altera sua voz, sua respiração e movimentos. 

Agora vemos seu ódio e igualmente sua ansiedade diante de fracassos, quando sua respiração pesada acelera e parece mais vulnerável. Ele vive para superar e provar que seu Mestre está errado, mas a cada passo só entende que Obi-Wan está certo. 

Vê-lo com a máscara partida, uma imagem sensacional vinda da animação e transportada para TV, foi de arrepiar.

A falha de Obi-Wan com Anakin desencadeou o período de repressão e violência que apenas Luke Skywalker pôde reverter. Mas, como um carma familiar, o mesmo conflito voltará a fazer os Skywalkers sofrerem em futuras gerações.

George Lucas jamais poderia antecipar sua precisão narrativa ao desenvolver a franquia. O segredo de sua longevidade são as relações humanas. Falhas, mas sempre com a redenção no horizonte.

Diálogo

Tremenda de uma "cascata" a informação apregoada pelo governo de Lula que... Leia na coluna de hoje

Leia a coluna desta terça-feira (23)

23/12/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Cecília Meireles - escritora brasileira

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”

Felpuda

Tremenda de uma “cascata” a informação apregoada pelo governo de Lula que ele ressarciu os aposentados, vítimas da roubalheira de esquema que envolve pessoas ligadas ao INSS, empresas privadas, ONGs, laranjas e políticos. Na realidade, essa conta sobrou para o cidadão, inclusive os próprios aposentados que pagam Imposto de Renda. Nenhum dos bandidos até agora restituiu aos cofres públicos o dinheiro que roubou. Aliás, a maioria está sendo blindada de forma vergonhosa. Há quem diga até que buscam “freio” para que a CPMI do INSS comece a patinar e não avance. Lamentável!

Pra cabeça

Quem entrará em 2026 com problemas no Conselho de Ética da Câmara é a deputada federal Camila Jara, do PT. O Partido Novo protocolou representação contra ela.

Mais

A acusação é de violação do decoro, ao se envolver na confusão originada quando da retirada à força de Glauber Braga, do Psol, e de ofensa ao secretário-geral da Mesa Diretora.

Diálogo

O vorí-vorí, tradicional prato paraguaio, foi eleito o melhor do mundo na lista anual do Taste Atlas, plataforma internacional que reúne avaliações gastronômicas de todas as partes do planeta. A iguaria recebeu nota 4,64 de 5, com base em votos de usuários reais que experimentaram o prato. Conhecido também como borí-borí, o vorí-vorí é descrito pelo portal como “a icônica sopa de galinha paraguaia com bolinhos de fubá recheados com queijo”. Rico em sabor, textura e história, o prato ocupa um lugar especial na mesa das famílias paraguaias e agora também no cenário global da gastronomia. Nos últimos anos, o vorí-vorí já havia figurado entre as melhores sopas do mundo em rankings do mesmo portal, reforçando sua reputação. A lista do Taste Atlas se tornou referência global por utilizar um sistema que identifica e descarta avaliações nacionalistas ou feitas por robôs, garantindo legitimidade às escolhas.

DiálogoChayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral

 

DiálogoCamila Fremder

Prova de fogo

O atual time que forma o entorno do governador Eduardo Riedel terá, no próximo ano, prova de fogo, porque a missão deverá ser reeleger o “chefe” para o segundo mandato. Será o momento de a tchurminha provar quem é quem na estrutura. Quando foi eleito em 2022, Riedel nunca havia disputado uma eleição, porém, tinha um grupo político forte que sabia “o caminho das pedras”, o que foi fundamental para sua vitória. Em 2026, ele não poderá contar com esse pessoal.

Nem tanto

O PT em Mato Grosso do Sul já não estaria demonstrando, digamos, tanto amor pela candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Senado pelo Estado, achando ser melhor por São Paulo. Lideranças petistas cá dessas bandas dizem que a ministra poderá ser um dos nomes para suceder a Lula. Ela figura entre algumas opções para ocupar o trono petista. A lista tem Alckmin, do PSB, e Haddad, o único do PT. Tudo indica que não se faz mais petista raiz como antigamente...

Entrave

Nos bastidores, o que se fala é que a ministra Simone Tebet, até então considerada excelente opção para disputar o Senado por MS, seria fonte de problemas. Algumas das alas do PT teriam torcido o nariz com a possibilidade de ela disputar pelo partido, até porque esse time lembra de que, quando candidata à Presidência, ela desferiu ataques a Lula. Além disso, há dúvidas se no Estado teria potencial eleitoral para o embate com outros candidatos, em sua maioria da direita, tendo em vista que o governo do qual faz parte, dizem, “está caindo pelas tabelas”

ANIVERSARIANTES

Beatriz Rahe Pereira, 
Dr. Gevair Ferreira Lima Júnior,
Julianne Stranieri Metello, 
Stephan Duailibi Younes, 
Maria Fatima Bueno,
Adhemar Mombrum de Carvalho Neto,
Augusto Costa Canhete,
Rosangela Neves,
Edgar Basmage,
Gileno Almeida Costa Nonato,
Sérgio Aguni,
Rinaldo da Silva Cruz,
Edna Maria Potsch Magalhães,
Dr. Márcio Molinari,
Ivo Batista Benites,
Ronaldo Fernandes Donizeti de Jesus,
Fabiano Borges da Silva,
Maria Aparecida Menezes,
Rafael Medina Araujo,
Rosilene Gois Paes,
Antonio Angelo Garcia dos Santos,
Maria Elisa Hindo Dittmar,  
Beatriz de Almeida,
Dr. Amaury Bittencourt Gonçalves, 
Izabella de Matos Lopes,
Cláudia Regina Di Felice,
Neide machado da Silva Gimenes,
Domingos Puckes,
Silvio Luiz de Moura Leite,
Helder Kohagura,
Maria Clementina Aparício Fernandes,  
Aurino Rodrigues Brasil,
Tânia Ignez Pinheiro,
Marilda Flores Haidar,
Samara Carvalho Gomes Binn,
Josselen Resstel Escórcio,
Valdo Maciel Monteiro,
Luiz Eduardo Yukio Egami,
Rafael Ferreira Ribeiro Lima,
Leila Maria de Albuquerque,
Maria Aparecida de Moura Leite, 
Datis Alves de Souza,
Aurea Leite de Camargo,
Maria de Fátima Vendas Muzzi, 
Thiago Ferraz de Oliveira,
Ruth Lopes Abreu,
Sandra Rodrigues Pereira,
Paulo da Costa Oliveira,  
Paulo César Reis Mendonça,
Fernanda Marques Ferreira,
Terezinha Alves Araújo,
Lucilaine Aparecida Tenorio de Medeiros,
Maria Helena Alves Lima,
Rosana Paes de Matos,
Laura Holsback Alvarenga,
Renato de Freitas Martins,
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Nelson Maia de Melo,
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Jussara Leite Barbosa,
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Rubens Mendes Pereira,
Lilian Gabriela Heideriche Garcia,
Ana Maria Coimbra Santos,
Nelly Vasconcelos Coelho,
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Eliana Miyuki Aratani Kaiya, 
Flávia Ribeiro Ramirez,
Laurinda Paiva Peixoto,
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José Antônio Braga,
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Vânia de Toledo Neder,
Osvaldo de Moraes Barros Neto,
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Suely Luiza Comerlato,  
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Dr. Ruy Alberto Bueno,  
Marta Maria Vicente,
Guilherme Nucci dos Reis,
Marcelo Flores Acosta,
Noêmia Ramos de Oliveira,
Luiz Carlos de Carvalho,
Cláudia Garcia de Souza Trefilo,
Leonardo Marques Mourão,
Maria Delfina Louveira Trindade,
Camyla Queiroz de Faria Gonzales. 

*Colaborou Tatyane Gameiro

CINEMA

Curta-metragem "Carne Amarela" transforma a Terra do Pé de Cedro em set de filmagens

Com produção de Marcus Teles e direção de Gleycielli Nonato Guató, curta-metragem "Carne Amarela" tem equipe local e conta história que entrelaça memórias da infância em meio aos pequizeiros e banhos de rio

22/12/2025 10h30

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab),

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da natureza Divulgação: Marcus Teles

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Nostalgia e engajamento são os motores para evocar os sabores da infância que fizeram Coxim voltar a ser cenário de cinema. Conhecida como Terra do Pé de Cedro, a cidade localizada a 245 quilômetros de Campo Grande, no norte do Estado, é uma das protagonistas de “Carne Amarela”, curta-metragem de ficção dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles.

Os dois nasceram na cidade, que também é conhecida como Portal do Pantanal, e são profundamente conectados ao Cerrado e ao Pantanal.

As filmagens se encerraram ontem e foram realizadas integralmente por lá, contando com elenco local, que envolveu moradores atuando pela primeira vez na frente de uma câmera e também uma equipe de produção majoritariamente formada por coxinenses. Ou seja, uma combinação de saberes tradicionais, talento regional e formação técnica.

A produção nasce do desejo de fazer Coxim se ver na tela grande, “suas cores, sua luz, seus frutos, suas infâncias”, como afirma a diretora. E nasce, segundo Gleycielli, também da necessidade urgente de lembrar o que esses mesmos elementos significam para a identidade do município.

“Eu estou completamente em êxtase. Planejei muito trazer esse filme para cá. É emocionante gravar na cidade onde cresci, com o povo daqui, com artistas da terra. Noventa por cento do elenco é coxinense, a equipe tem muita gente da cidade, e isso me deixa profundamente feliz”, compartilha Gleycielli Nonato Guató, que, além de dirigir a produção, também assina o roteiro baseado em seus próprios textos literários.

DOIS TEXTOS

“Carne Amarela” nasce de dois textos de Gleycielli – o poema “Carne Amarela” e o conto “É Tempo de Ouro no Cerrado” – que guardam lembranças de uma Coxim que pulsava mata, rio e fruta. A diretora explica que o filme busca reencontrar essa paisagem quase perdida.

“Eu quero trazer a infância que vivi. A gente saía para caçar pequi, pegava ingá, comia goiaba no pé, trazia caju para fazer doce. Coxim era meu ‘Sítio do Picapau Amarelo’. Hoje, muitos lugares onde eu brincava viraram bairros. O filme é um lembrete do que ainda existe e do que não pode desaparecer”, afirma.

A obra convida as crianças e os adultos a olhar novamente para o Cerrado como pertencimento. O pequi, fruto central da narrativa, é apresentado como força, resistência e alimento da memória coxinense.

“O pequi já sustentou muitas famílias. Trouxe renda, trouxe mistura, trouxe nutrição. Ele resiste ao fogo, resiste ao tempo, mas não resiste ao machado. O filme quer acender esse sentimento de pertencimento e preservação, para que as próximas gerações vejam valor no que tantas vezes sustentou Coxim”, ressalta Gleycielli.

ZORAIDE

A protagonista adulta, Zoraide, teve como referências mulheres de alusão familiar e ancestral para Gleycielli: sua mãe, tias, avó e bisavó. A diretora revela que a personagem carrega traços de todas elas. E quem interpreta Zoraide é justamente Maria Agripina, mãe da diretora, pioneira do teatro coxinense.

“É muito emocionante ver minha mãe interpretando a Zoraide, que leva o nome da minha tia que faleceu na pandemia. Este filme é pioneiro em muitas coisas dentro de mim”, revela. Além disso, todos os cargos de direção são ocupados por mulheres, fortalecendo a presença feminina no audiovisual sul-mato-grossense.

“Trabalhar com essa equipe é um prazer imenso. Estamos construindo juntas. É uma energia muito poderosa”, afirma. A equipe ainda é formada majoritariamente por profissionais de Coxim, como Robertson Isan Vieira, artesão ceramista premiado, e José Carlos Soares, cabeleireiro e designer de imagem.

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da naturezaEquipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles

ENCONTRO

Para o produtor executivo e corroteirista Marcus Teles, filmar em Coxim não foi uma escolha estética, mas ética e afetiva. “Coxim faz parte da nossa formação pessoal e artística. Os textos que deram origem ao filme nasceram daqui.

A luz, a paisagem, o modo de vida, o jeito como o pequi aparece na cidade, tudo isso faz parte da essência da história. Filmar em Coxim é garantir autenticidade”, afirma Marcus.

O produtor explica que mapear as locações foi um processo guiado pela afetividade. “Coxim é uma cidade onde o urbano e o rural se encontram o tempo todo. Não procuramos cenários: reconhecemos neles o que a história já trazia em essência”.

Marcus destaca ainda que oito moradores da cidade trabalharam pela primeira vez no audiovisual, acompanhados de profissionais experientes. “Queremos abrir portas. Que jovens de Coxim encontrem no set um caminho possível, uma nova profissão, um futuro”, destaca o produtor.

101 FILMES

O elenco também conta com a participação especial do ator Breno Moroni, que marcou gerações como o Mascarado na novela “A Viagem” (Globo, 1994), além de ter participado de diversas outras produções no cinema e na televisão.

Com uma carreira extensa que inclui desde aberturas de telenovelas e mais de 100 filmes, Breno esteve em Coxim para integrar o elenco de “Carne Amarela” como seu 101º trabalho audiovisual.

“Trazer o Breno foi como aproximar duas forças que se completam. Ele chega com experiência, mas com humildade. Ele senta na varanda e deixa a conversa fluir. É uma presença que soma sem apagar a simplicidade regional, que é a alma do filme”, reconhece Marcus.

“Ele é fantástico. Consegue ir do drama à palhaçaria. Traz o duo que a personagem dele pede: o velho ranzinza e o homem capaz de se transformar”, completa Gleycielli.

O CERRADO

O filme aborda temas urgentes como queimadas, perda de territórios e desmatamento, mas com a delicadeza necessária para o público infantil, segmento prioritário na meta de audiência da produção.

“O tema duro vem com sutileza. As crianças vão entender o sentimento de perder e o de pertencer. E, quando algo pertence a você, você quer cuidar”, explica Gleycielli. Ao fim, o curta reforça que a preservação é um aprendizado coletivo e que cuidar da terra só é possível quando ela é reconhecida como parte de nós.

Na semana passada, a equipe teve uma atividade formativa com Alexandre Lopes, que é doutor em Ciências Sociais e professor de Sociologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), no campus de Coxim.

A interação rendeu contribuições fundamentais para reflexão sobre como pensar e construir um audiovisual mais inclusivo.

AUTOESTIMA

A expectativa da equipe é de que o filme leve Coxim para o Brasil e para o mundo por meio de festivais, mas, principalmente, que devolva à cidade a consciência de seu próprio valor.

“Esperamos que Coxim se veja com carinho. Que perceba que suas histórias merecem estar no cinema. ‘Carne Amarela’ é uma celebração da cidade, das suas raízes e da força do Cerrado”, diz Marcus.

Para Gleycielli, a gravação na cidade é também um gesto de retorno. “Eu sou uma Guató de Coxim. Este filme diz muito sobre de onde eu vim e quem sou eu”.

Como uma “semente que rompe a casca”, reforça a diretora, “Carne Amarela” nasce para devolver à cidade o brilho do seu fruto mais resistente.

Aquele que atravessa gerações, que muda o PIB, que alimenta famílias, que resiste ao fogo e que ensina a permanecer. E Coxim, agora, se prepara para ver sua história ganhar corpo, cor, movimento e tela.

O projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), do governo federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).

"Carne Amarela"

> Direção e roteiro: Gleycielli Nonato Guató;
Direção de produção: Gabriela Lima Ferlin;
> Direção de arte: Maíra Espíndola;
Direção de fotografia: Dafne Alana;
Som direto e edição de mixagem: Laura Cristina;
Produção executiva, assistência de direção e roteiro: Marcus Teles;
Operador de câmera: Gabriel Ribeiro;
Produção de set: Jefley M. Cano;
Elenco: Breno Moroni, Maria Agripina, João da Mata, Elena Vendroscolo, Maria Sonea Domingos;
Trilha sonora original: Gian Markes;
> Edição de imagem e cor: Rafael Viriato;
Microfonista: 4real.wav;
Assistente de produção executiva: Lucas Moura e Guinha Serrou;
Assistente de produção e captação: Robertson Vieira;
Assistente de produção: Carlos Soares;
Assistente de arte: Angela Gabrieli;
2º assistente de direção: Eduardo Henrique;
2ª assistente de fotografia: Lavinia Ribeiro;
Assessoria de imprensa: Lucas Arruda e Aline Lira.

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