Novos territórios, nova área de atuação e também um novo nome.
O Instituto Raquel Machado completa três anos de atividades neste ano, no mês de outubro, e anuncia diversas novidades. A primeira delas é que a entidade passa a se chamar Instituto LiBio, e, sob nova alcunha, expande suas fronteiras e redefine seus objetivos e projetos.
O novo batismo é uma homenagem da médica dermatologista, que até agora emprestava sua identidade à instituição, a seu avô, Líbio Vieira Machado.
Capixaba de nascimento e conhecedor da Amazônia ao longo da vida, o patriarca defendia a natureza e a necessidade de se preservar o bioma desde a década de 1940, quando ainda nem estava em uso corrente a palavra conservação nem hasteadas as bandeiras em prol do meio ambiente.
Não se trata apenas de uma mudança de razão social da entidade, que permanece fiel a seus eixos de atuação – reabilitação de animais, educação ambiental e criação e gestão de refúgios.
O LiBio amplia seus horizontes, fincando raízes em diferentes regiões do País e expandindo seu portfólio de atividades.
Nesse sentido, dá continuidade a seu permanente propósito de combater o tráfico de animais silvestres, trabalhando para reabilitá-los, promovendo a devolução a seus ambientes naturais e defendendo o fim do desmatamento em diferentes ecossistemas brasileiros, hábitats originais de inúmeras espécies da fauna nacional.
É a mesma motivação de Líbio, de quem Raquel herdou, apesar da pouca convivência (ela tinha nove anos de idade quando ele faleceu), a consciência de manter a floresta de pé e os animais livres em seus ambientes de origem.
Diante de uma nova fase que se inicia, a fundadora do instituto afirma que o ano passado foi desafiador, mas repleto de conquistas.
“Hoje, abrimos espaço para o início de um novo momento, um período que começa trazendo a sensação de renovação e nos preenchendo de otimismo e de esperança. Com a virada de ano, iniciamos um capítulo de nossa história cheio de possibilidades e novos voos, para trabalhar ainda mais pela preservação da nossa fauna e alcançar melhorias efetivas para o meio ambiente e para a conservação da natureza”, antecipa Raquel.
TRAJETÓRIA E DESAFIOS
Para chegar a esse momento de ampliação do raio de ação do instituto, há de se compreender a trajetória dessa médica e ativista ambiental.
Nascida e criada em Belo Horizonte (MG), Raquel mudou-se em 2004 para São Paulo, onde reside e clinica. Vivendo na metrópole paulista, sentia falta de um contato mais próximo com a natureza.
Encantada pelo Rio Tietê, na região de Sorocaba, adquiriu um sítio em Porto Feliz, a 110 km da capital paulistana, onde, inicialmente, pretendia trabalhar pela proteção da área. Mas se deparou com um papagaio em cativeiro, deixado pelo antigo proprietário, fato que a indignou.
Ao procurar entidades responsáveis para saber como lidar com a situação da ave, tomou conhecimento sobre a realidade de espécies silvestres, uma situação em que poucas conseguem ser reabilitadas.
Por conta do grande número de animais recebidos ou resgatados pela Polícia Ambiental e pelo Ibama, que não dispunham de espaços para mantê-los de forma adequada, a ativista se sensibilizou e decidiu construir recintos direcionados à manutenção da vida silvestre.
“Hoje, com o mantenedor, buscamos fornecer a esses animais a oportunidade de uma vida mais saudável e justa, onde são cuidados de maneira profissional, com o respeito que merecem”, afirma Raquel.
No local, que tem capacidade para abrigar 150 animais, há vários exemplares da fauna silvestre vítimas de tráfico, de maus tratos e de atropelamentos, que são acolhidos para um lento processo de reabilitação.
“Trabalho para proporcionar qualidade de vida para eles, e meu sonho é reinserir todos na natureza”, diz.
Ainda no mantenedor, a presidente do instituto desenvolve um projeto permanente de educação junto às escolas da rede municipal de ensino de Porto Feliz.
“Atuamos no sentido de educar para conservar. Para que tenhamos adultos conscientes, precisamos sensibilizar os jovens hoje. Espécies silvestres devem permanecer soltas na natureza. Animal não é entretenimento nem pet de estimação”, ressalta Raquel.
MS E PARÁ
Nessa contínua trajetória, a criação do instituto, no ano de 2020, sucedeu face à necessidade de informar a população sobre a realidade da vida silvestre, promovendo conscientização sobre a urgência da conservação da natureza e da biodiversidade do País.
Atualmente, a entidade administra o mantenedor de Porto Feliz e duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) em Mato Grosso do Sul, as reservas Saci e Santuário.
No sul do Pará, na região amazônica do Rio Azul, implementa uma iniciativa de ecoturismo voltada à conservação de um importante corredor ecológico, que integra os rios Azul e São Benedito.
A intenção é promover expedições guiadas para difundir a necessidade de preservação, assim como angariar recursos e estabelecer parcerias.
A iniciativa de Raquel tem por missão promover a proteção da fauna silvestre brasileira via manejo responsável, acolhimento, reabilitação, soltura na natureza e educação ambiental, visando inibir o tráfico e a caça, além de atuar na proteção de ambientes naturais e na recuperação de áreas degradadas.
A proposta se alinha aos valores comuns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), com destaque para o 15º, que prevê: “Proteger, recuperar e promover o uso sustentável de ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da Terra e deter a perda da biodiversidade”.
RAQUEL
Conservacionista, defensora do direito dos animais e da natureza, Raquel Machado é a presidente do Instituto LiBio.
A dermatologista passou a atuar diretamente com conservação de terras privadas ao adquirir duas áreas de Mato Grosso do Sul destinadas a proteção, pesquisa, visitação e educação ambiental, contribuindo com a proteção da maior diversidade possível de ambientes.
No Pantanal, ela atua junto à Reserva Santa Sofia, que integra o maior projeto de conservação privado do País, responsável por manter 600 mil hectares preservados. Raquel também é conselheira da Fundação Neotrópica do Brasil, da SOS Pantanal e do Onçafari.