O Correio do Estado chega hoje à edição número 20.000. Desde o lançamento do jornal, em 7 de fevereiro de 1954, muitas histórias foram contadas, denúncias investigadas e lutas enfrentadas. Ao mesmo tempo, cada uma das milhares de edições se tornou documento histórico, que servirá a historiadores e pesquisadores que desejem entender o cotidiano de Campo Grande.
Para se manter atual, o diário teve de se adequar e as mudanças pelas quais passou demonstram que sempre houve esforço para estar na vanguarda. Uma das mais marcantes foi o fato de o Correio do Estado ter sido um dos primeiros jornais totalmente coloridos do Brasil. “‘O registro cotidiano é a matéria dos jornais’. José Barbosa Rodrigues [1916/2003 – responsável pelo jornal durante grande parte da sua existência] tinha essa visão, ele sabia que o jornal se tornaria material de consulta para as gerações vindouras”, pontua o professor Hildebrando Campestrini, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul.
As páginas impressas diariamente trazem relatos sobre a política, a economia, o dia a dia da cidade e do Estado, além de informações sobre o comportamento e a cultura. “Olhando o jornal é possível perceber os fatos que marcaram época e entender um pouco mais sobre o que foram e o que são Campo Grande e Mato Grosso do Sul”, aponta.
Para Hildebrando, uma das grandes lutas encampadas pelo Correio do Estado desde seu início foi a criação de MS. “A direção do jornal era divisionista e isso nunca foi escondido. Acredito que um dos momentos mais importantes na história do veículo foi a divisão, em 1977. O episódio veio a coroar os esforços do jornal”, pontua Hildebrando.
A edição no 1 do Correio do Estado chegou às bancas em 7 de fevereiro de 1954. Em agosto de 1957, exatamente no fim de semana dos dias 16 e 17, o periódico atingia o número 1.000. Na capa, uma longa mensagem que se iniciava da seguinte maneira: “Este diário circula hoje completando sua milésima tiragem. Não é, para nós, um acontecimento banal e secundário”. O texto segue homenageando os funcionários.
Na capa, a manchete tratava de um dos assuntos centrais do veículo, a política. “A Caravana da Liberdade em Cuiabá – Grande comício será realizado hoje em Corumbá” trazia informações sobre o comício promovido pela União Democrática Nacional (UDN), grupo político que controlou o jornal até ser comprado por J. Barbosa. Naqueles dias, o diário já tinha garantido o posto de periódico vespertino de maior circulação em Mato Grosso.
Há quem colecione o Correio do Estado, como é o caso do jornalista e memorialista Edson Contar, que afirma ter guardado as edições publicadas entre 1954 e 1980. “Tenho a primeira edição guardada, assinada pelos fundadores do jornal, com mensagens para o meu irmão, que na época era o auxiliar na montagem de máquinas, na limpeza da redação e outros serviços”, conta. O exemplar se tornou objeto da memória afetiva do irmão, que o exibe com orgulho. Em 2014, o assunto virou crônica assinada por Edson que tratava do falecimento de Laurindo.
“O Correio do Estado sempre foi abrangente e abriu espaço para assuntos variados. Também foi o único jornal que se preocupou em atender o público infantil, com um periódico que existe há décadas”, aponta, referindo-se ao suplemento que hoje se chama Galera e é publicado semanalmente. Para Edson, apesar do desenvolvimento das tecnologias digitais, que levaram os veículos para a internet, o impresso ainda mantém seu valor. “Ele pode ser guardado, arquivado e até digitalizado, mas essa materialidade é essencial”, aponta.
Outra leitora que percebe a importância de ter um registro tão duradouro da história nas páginas do jornal é a professora e historiadora Alisolete Weingartner. “No periódico, vemos informações sobre tantos aspectos da sociedade. Orientei uma pesquisa que analisava a questão econômica de Mato Grosso do Sul por meio dos classificados do jornal, isso em 1995 ou 1996”, conta.
Fã das páginas impressas, ela afirma que o diário oferece a possibilidade de aprofundar a interpretação dos fatos. “É uma característica do jornal impresso. Ele tem um tempo diferente do on-line que é algo que eu prefiro”, aponta. Assim, todas as manhãs, o Correio do Estado continua levando notícias, reportagens e artigos opinativos aos leitores, reforçando o papel da imprensa de garantir um dos pilares democráticos: o direito à informação.

Helio Mandetta e Maria Olga Mandetta
Thai de Melo


