Correio B

CINEMA

Mostra gratuita traz homenagem às seis décadas de carreira do ator e diretor Davi Cardoso

Museu da Imagem e do Som realiza mostra em homenagem às seis décadas de carreira do ator e diretor David Cardoso

Continue lendo...

“Vai ser talvez a última oportunidade de nós interagirmos. Ao término de cada sessão, eu vou bater um papo com o público. Vou aprender com a juventude que está fazendo comunicação, cinema, teatro, televisão aqui no Estado. E eles aprendem comigo. Isso é muito importante.”

Quem fala é o ator, produtor e diretor David Cardoso, nascido em Maracaju, em 9 de abril de 1943, e com uma carreira de seis décadas no cinema e na televisão. 

O Rei da Pornochanchada, como Cardoso ficou conhecido nos anos setenta, refere-se à Mostra Especial David Cardoso – 60 Anos, que começa hoje no Museu da Imagem e do Som, com sessões gratuitas, sempre às 19 horas, e segue até sexta-feira (23).

“Fiz oito filmes no Estado. Considero isso um orgulho para nós, sul-mato-grossenses. São imagens de uma época remota ou de um passado mais recente aqui de Campo Grande, Dourados, Aquidauana e outras cidades do Estado.”

HOJE (19)

Caingangue, A Pontaria do Diabo

101 minutos

Aventura, faroeste

Direção: Carlos Hugo Christensen

Classificação indicativa: 14 anos

A história começa quando o pai de um jovem mestiço índio é morto em uma emboscada em uma estrada perto da fronteira de Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul) com o Paraguai. Anos depois, o jovem vagueia pelo Cerrado como o misterioso pistoleiro solitário conhecido como Caingangue. Cavalgando pelos campos, ele avista a família do posseiro Zé Cajueiro sendo ameaçada por um bando de jagunços. Com rapidez ele age e imediatamente cinco jagunços caem mortos. Caingangue leva os cadáveres para a vila de Santa Helena, quando o sinistro coveiro Lírio Branco de Jesus os identifica como capangas do doutor Ribeiro, proprietário da Fazenda Ouro Verde. Em poucas palavras, Lírio conta a história do lugar, marcado por confrontos de 20 anos entre os posseiros e os grileiros. Caingangue diz a todos que “está de passagem,” mas aos poucos resolve intervir na luta do lado dos posseiros.

“Foi todo rodado em Maracaju. Não tinha asfalto, não tinha água, não tinha luz. Nós alugamos um gerador de 80 Kva para poder tocar os refletores e iluminar o local. E este gerador servia, o que é um dado curioso, para o hospital na parte da noite, porque a luz da cidade só ia das 18h às 22h. Depois das 22h, nosso gerador ficava à disposição para uma emergência no hospital.

É um marco na produção cinematográfica brasileira, o maior faroeste já realizado na América Latina. Não tem nada igual. Só ganhou ótimo e bom na cotação dos jornais. Não foi um êxito comercial muito grande porque, para começar, foi lançado durante o Carnaval e em uma rede de cinemas que não eram próprios para o povão. Foi a produção mais difícil que eu fiz na minha vida. Nem ‘A Moreninha’ nem em nenhuma outra fita eu fui tão sobrecarregado de trabalho como nesse filme. Porque eu era o diretor de produção e o ator principal, com uma equipe de 45 pessoas. Então eu tive de me dividir, trazer, por exemplo, 200 cavalos de Ponta Porã para Maracaju. É um marco na produção cinematográfica brasileira.”

TERÇA-FEIRA (20)

Corpo e Alma de Mulher

91 minutos

Drama

Direção: David Cardoso

Classificação indicativa: 16 anos

Um jovem casal, Rodrigo e Aimé, se ama profundamente e faz de tudo para alcançar a felicidade eterna. Porém, Aimé sofre um acidente e fica paraplégica.

“Rodei em Ponta Porã, Pedro Juan Caballero e Assunção. Os ambientes são os mais bonitos. Foi feito na casa de um homem famoso lá em Ponta Porã. Em Pedro Juan, a mesma coisa. Em Assunção também. A gente pegou os melhores lugares e as melhores condições. O maior desafio dessa produção foi convencer a Tássia Camargo, que é a atriz principal do filme, a não ir para São Paulo ou Rio de Janeiro durante as filmagens. Às vezes, ela precisava de dois ou três dias para fazer as coisas dela e eu falava ‘pelo amor de Deus, eu não posso ficar com a equipe de 22, 23 pessoas parada’”.

Mostra Especial David Cardoso – 60 anos

Museu da Imagem e do Som

Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 559

Bairro Vila Carvalho

Entrada franca

Às 19 horas

QUARTA-FEIRA (21)

Dezenove Mulheres e Um Homem

107 minutos

Aventura

Direção: David Cardoso

Classificação indicativa: 18 anos

Dezenove universitárias alugam um ônibus para uma excursão ao Paraguai. No meio do caminho, o veículo é interceptado por perigosos bandidos. O motorista, Rubens, é a única esperança para salvá-las.

“Foi rodado em Campo Grande, Maracaju, Aquidauana e em fazendas do Pantanal sul-mato-grossense. É uma brincadeira, um suspense. Foi o filme que mais dinheiro me deu, entre todos os que eu fiz. Porque eu não tinha sócios. Não tem nada, mas a censura era de 18 anos. Qualquer novela das oito hoje é mais forte. Não podia aparecer nem a frente do homem nem a frente da mulher. Mas era uma tentação, na época do regime militar, teve censura, cortes, não nesse filme, mas em vários outros filmes meus, do Zé do Caixão e outros produtores, a gente tinha de ir a Brasília para lutar para a censura suavizar um pouco nos cortes.” 

QUINTA-FEIRA (22)

Desejo Selvagem – Massacre no Pantanal

95 minutos

Ação, aventura

Direção: David Cardoso

Classificação indicativa: 18 anos

A região do Pantanal é o lugar ideal para homens inescrupulosos em busca de fortuna, aventura e anonimato. Piloto de um pequeno avião que presta serviços no local, o jovem Tigre decide defender Mônica, herdeira de uma grande fazenda, contra a conduta predatória do ambicioso Malamud. Visando tornar-se o maior proprietário de terras da região, Malamud usa uma quadrilha de homens violentos para extorquir e matar outros fazendeiros.

“Foi todo rodado aqui no Estado. Aquidauana, Maracaju, Corumbá, Ladário e fazenda Pantanal sul-mato-grossense. Percorremos várias cidades e o Pantanal sul-mato-grossense. Sou piloto, sou um defensor ferrenho, então levava fiscais do antigo órgão de proteção ambiental para o Pantanal no meu avião. O governo pagava a gasolina, eu pilotava com um 38 na cinta, vê se tem cabimento.

O maior desafio era pegar todo o elenco e levar para esses lugares. A atriz principal é a Ira von Fürstenberg, que era na época a quarta mais rica do mundo, sobrinha do dono da Fiat mundial.

É justamente em defesa do meio ambiente. Tem uma famosa caçada da onça. Eu tive problemas, tive de ir a Brasília porque mataram a onça e ela estava registrada no meu nome.”

SEXTA-FEIRA (23)

Sem Defesa

110 minutos

Ficção documental

Direção: David Cardoso

Documentário realizado em Mato Grosso do Sul, que aborda temas como maioridade penal, pena de morte, uso de drogas, maus-tratos de crianças e mulheres, lentidão no Poder Judiciário, uso de células-tronco, corrupção, além de violência social.

“É a última produção que eu fiz em longa-metragem. É um filme documentário. Quer dizer, tem a parte emocional contando as atrocidades que acontecem nesse país e em vários países da América do Sul com relação aos crimes. A ênfase é que a polícia faz a parte dela e muitas vezes a Justiça não corresponde à altura. Há depoimentos de vários desembargadores daqui do Estado, cinco deles advogados, e a participação especial do Ratinho e do juiz da época Odilon de Oliveira e do meu amigo Álvaro Dias, que é senador do Paraná. Foi rodado em Campo Grande, em Terenos, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Quis fazer porque é uma denúncia. Sempre tive esse negócio dentro de mim, aquela de denunciar os crimes hediondos, e não são fabricados porque são cenas retiradas de vários canais de televisão do Brasil. São cenas verdadeiras e, com isso, o drama desse camarada que fica paraplégico e o que ele faz no fim do filme.”

Diálogo

Tremenda de uma "cascata" a informação apregoada pelo governo de Lula que... Leia na coluna de hoje

Leia a coluna desta terça-feira (23)

23/12/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

Continue Lendo...

Cecília Meireles - escritora brasileira

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”

Felpuda

Tremenda de uma “cascata” a informação apregoada pelo governo de Lula que ele ressarciu os aposentados, vítimas da roubalheira de esquema que envolve pessoas ligadas ao INSS, empresas privadas, ONGs, laranjas e políticos. Na realidade, essa conta sobrou para o cidadão, inclusive os próprios aposentados que pagam Imposto de Renda. Nenhum dos bandidos até agora restituiu aos cofres públicos o dinheiro que roubou. Aliás, a maioria está sendo blindada de forma vergonhosa. Há quem diga até que buscam “freio” para que a CPMI do INSS comece a patinar e não avance. Lamentável!

Pra cabeça

Quem entrará em 2026 com problemas no Conselho de Ética da Câmara é a deputada federal Camila Jara, do PT. O Partido Novo protocolou representação contra ela.

Mais

A acusação é de violação do decoro, ao se envolver na confusão originada quando da retirada à força de Glauber Braga, do Psol, e de ofensa ao secretário-geral da Mesa Diretora.

Diálogo

O vorí-vorí, tradicional prato paraguaio, foi eleito o melhor do mundo na lista anual do Taste Atlas, plataforma internacional que reúne avaliações gastronômicas de todas as partes do planeta. A iguaria recebeu nota 4,64 de 5, com base em votos de usuários reais que experimentaram o prato. Conhecido também como borí-borí, o vorí-vorí é descrito pelo portal como “a icônica sopa de galinha paraguaia com bolinhos de fubá recheados com queijo”. Rico em sabor, textura e história, o prato ocupa um lugar especial na mesa das famílias paraguaias e agora também no cenário global da gastronomia. Nos últimos anos, o vorí-vorí já havia figurado entre as melhores sopas do mundo em rankings do mesmo portal, reforçando sua reputação. A lista do Taste Atlas se tornou referência global por utilizar um sistema que identifica e descarta avaliações nacionalistas ou feitas por robôs, garantindo legitimidade às escolhas.

DiálogoChayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral

 

DiálogoCamila Fremder

Prova de fogo

O atual time que forma o entorno do governador Eduardo Riedel terá, no próximo ano, prova de fogo, porque a missão deverá ser reeleger o “chefe” para o segundo mandato. Será o momento de a tchurminha provar quem é quem na estrutura. Quando foi eleito em 2022, Riedel nunca havia disputado uma eleição, porém, tinha um grupo político forte que sabia “o caminho das pedras”, o que foi fundamental para sua vitória. Em 2026, ele não poderá contar com esse pessoal.

Nem tanto

O PT em Mato Grosso do Sul já não estaria demonstrando, digamos, tanto amor pela candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Senado pelo Estado, achando ser melhor por São Paulo. Lideranças petistas cá dessas bandas dizem que a ministra poderá ser um dos nomes para suceder a Lula. Ela figura entre algumas opções para ocupar o trono petista. A lista tem Alckmin, do PSB, e Haddad, o único do PT. Tudo indica que não se faz mais petista raiz como antigamente...

Entrave

Nos bastidores, o que se fala é que a ministra Simone Tebet, até então considerada excelente opção para disputar o Senado por MS, seria fonte de problemas. Algumas das alas do PT teriam torcido o nariz com a possibilidade de ela disputar pelo partido, até porque esse time lembra de que, quando candidata à Presidência, ela desferiu ataques a Lula. Além disso, há dúvidas se no Estado teria potencial eleitoral para o embate com outros candidatos, em sua maioria da direita, tendo em vista que o governo do qual faz parte, dizem, “está caindo pelas tabelas”

ANIVERSARIANTES

Beatriz Rahe Pereira, 
Dr. Gevair Ferreira Lima Júnior,
Julianne Stranieri Metello, 
Stephan Duailibi Younes, 
Maria Fatima Bueno,
Adhemar Mombrum de Carvalho Neto,
Augusto Costa Canhete,
Rosangela Neves,
Edgar Basmage,
Gileno Almeida Costa Nonato,
Sérgio Aguni,
Rinaldo da Silva Cruz,
Edna Maria Potsch Magalhães,
Dr. Márcio Molinari,
Ivo Batista Benites,
Ronaldo Fernandes Donizeti de Jesus,
Fabiano Borges da Silva,
Maria Aparecida Menezes,
Rafael Medina Araujo,
Rosilene Gois Paes,
Antonio Angelo Garcia dos Santos,
Maria Elisa Hindo Dittmar,  
Beatriz de Almeida,
Dr. Amaury Bittencourt Gonçalves, 
Izabella de Matos Lopes,
Cláudia Regina Di Felice,
Neide machado da Silva Gimenes,
Domingos Puckes,
Silvio Luiz de Moura Leite,
Helder Kohagura,
Maria Clementina Aparício Fernandes,  
Aurino Rodrigues Brasil,
Tânia Ignez Pinheiro,
Marilda Flores Haidar,
Samara Carvalho Gomes Binn,
Josselen Resstel Escórcio,
Valdo Maciel Monteiro,
Luiz Eduardo Yukio Egami,
Rafael Ferreira Ribeiro Lima,
Leila Maria de Albuquerque,
Maria Aparecida de Moura Leite, 
Datis Alves de Souza,
Aurea Leite de Camargo,
Maria de Fátima Vendas Muzzi, 
Thiago Ferraz de Oliveira,
Ruth Lopes Abreu,
Sandra Rodrigues Pereira,
Paulo da Costa Oliveira,  
Paulo César Reis Mendonça,
Fernanda Marques Ferreira,
Terezinha Alves Araújo,
Lucilaine Aparecida Tenorio de Medeiros,
Maria Helena Alves Lima,
Rosana Paes de Matos,
Laura Holsback Alvarenga,
Renato de Freitas Martins,
Miriam Fontoura Prata,
Nelson Maia de Melo,
Cleonice Gomes de Oliveira,
Rodolfo de Morais Dias,
Jussara Leite Barbosa,
Hugo Sabatel Neto,
Carolina Saves,
Solange Xavier Vargas,
Augusto Coelho Freire,
Soraia Kesrouani,  
Rubens Mendes Pereira,
Lilian Gabriela Heideriche Garcia,
Ana Maria Coimbra Santos,
Nelly Vasconcelos Coelho,
Valmir de Andrade Ferreira,
Eliana Miyuki Aratani Kaiya, 
Flávia Ribeiro Ramirez,
Laurinda Paiva Peixoto,
Patrícia de Souza Queiroz,
José Antônio Braga,
Elaine Viana Nunes,
Washington Justino Gonzaga,
Maria Stella Maia Pepino,
Vânia de Toledo Neder,
Osvaldo de Moraes Barros Neto,
Raquel Barbosa Franco,
Suely Ferreira Leal,
João Rafael Sanches Florindo,
Antonio Fernando Cavalcante,
Lúcia Torres Marchine,
Marcos Henrique Boza,
Adriana de Oliveira Rocha,
Suely Luiza Comerlato,  
Benedito Celso Dias,
Alirio Leitun,
Débora Queiroz de Oliveira,
Edson Pulchério Alves,
João Borges da Silva Filho,
Mário Zan Moreira,
Marcelo Luiz Ferreira Correa,
Valdecir Jorge,
Sérgio Carlos Borges,
Dr. Ruy Alberto Bueno,  
Marta Maria Vicente,
Guilherme Nucci dos Reis,
Marcelo Flores Acosta,
Noêmia Ramos de Oliveira,
Luiz Carlos de Carvalho,
Cláudia Garcia de Souza Trefilo,
Leonardo Marques Mourão,
Maria Delfina Louveira Trindade,
Camyla Queiroz de Faria Gonzales. 

*Colaborou Tatyane Gameiro

CINEMA

Curta-metragem "Carne Amarela" transforma a Terra do Pé de Cedro em set de filmagens

Com produção de Marcus Teles e direção de Gleycielli Nonato Guató, curta-metragem "Carne Amarela" tem equipe local e conta história que entrelaça memórias da infância em meio aos pequizeiros e banhos de rio

22/12/2025 10h30

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab),

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da natureza Divulgação: Marcus Teles

Continue Lendo...

Nostalgia e engajamento são os motores para evocar os sabores da infância que fizeram Coxim voltar a ser cenário de cinema. Conhecida como Terra do Pé de Cedro, a cidade localizada a 245 quilômetros de Campo Grande, no norte do Estado, é uma das protagonistas de “Carne Amarela”, curta-metragem de ficção dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles.

Os dois nasceram na cidade, que também é conhecida como Portal do Pantanal, e são profundamente conectados ao Cerrado e ao Pantanal.

As filmagens se encerraram ontem e foram realizadas integralmente por lá, contando com elenco local, que envolveu moradores atuando pela primeira vez na frente de uma câmera e também uma equipe de produção majoritariamente formada por coxinenses. Ou seja, uma combinação de saberes tradicionais, talento regional e formação técnica.

A produção nasce do desejo de fazer Coxim se ver na tela grande, “suas cores, sua luz, seus frutos, suas infâncias”, como afirma a diretora. E nasce, segundo Gleycielli, também da necessidade urgente de lembrar o que esses mesmos elementos significam para a identidade do município.

“Eu estou completamente em êxtase. Planejei muito trazer esse filme para cá. É emocionante gravar na cidade onde cresci, com o povo daqui, com artistas da terra. Noventa por cento do elenco é coxinense, a equipe tem muita gente da cidade, e isso me deixa profundamente feliz”, compartilha Gleycielli Nonato Guató, que, além de dirigir a produção, também assina o roteiro baseado em seus próprios textos literários.

DOIS TEXTOS

“Carne Amarela” nasce de dois textos de Gleycielli – o poema “Carne Amarela” e o conto “É Tempo de Ouro no Cerrado” – que guardam lembranças de uma Coxim que pulsava mata, rio e fruta. A diretora explica que o filme busca reencontrar essa paisagem quase perdida.

“Eu quero trazer a infância que vivi. A gente saía para caçar pequi, pegava ingá, comia goiaba no pé, trazia caju para fazer doce. Coxim era meu ‘Sítio do Picapau Amarelo’. Hoje, muitos lugares onde eu brincava viraram bairros. O filme é um lembrete do que ainda existe e do que não pode desaparecer”, afirma.

A obra convida as crianças e os adultos a olhar novamente para o Cerrado como pertencimento. O pequi, fruto central da narrativa, é apresentado como força, resistência e alimento da memória coxinense.

“O pequi já sustentou muitas famílias. Trouxe renda, trouxe mistura, trouxe nutrição. Ele resiste ao fogo, resiste ao tempo, mas não resiste ao machado. O filme quer acender esse sentimento de pertencimento e preservação, para que as próximas gerações vejam valor no que tantas vezes sustentou Coxim”, ressalta Gleycielli.

ZORAIDE

A protagonista adulta, Zoraide, teve como referências mulheres de alusão familiar e ancestral para Gleycielli: sua mãe, tias, avó e bisavó. A diretora revela que a personagem carrega traços de todas elas. E quem interpreta Zoraide é justamente Maria Agripina, mãe da diretora, pioneira do teatro coxinense.

“É muito emocionante ver minha mãe interpretando a Zoraide, que leva o nome da minha tia que faleceu na pandemia. Este filme é pioneiro em muitas coisas dentro de mim”, revela. Além disso, todos os cargos de direção são ocupados por mulheres, fortalecendo a presença feminina no audiovisual sul-mato-grossense.

“Trabalhar com essa equipe é um prazer imenso. Estamos construindo juntas. É uma energia muito poderosa”, afirma. A equipe ainda é formada majoritariamente por profissionais de Coxim, como Robertson Isan Vieira, artesão ceramista premiado, e José Carlos Soares, cabeleireiro e designer de imagem.

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da naturezaEquipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles

ENCONTRO

Para o produtor executivo e corroteirista Marcus Teles, filmar em Coxim não foi uma escolha estética, mas ética e afetiva. “Coxim faz parte da nossa formação pessoal e artística. Os textos que deram origem ao filme nasceram daqui.

A luz, a paisagem, o modo de vida, o jeito como o pequi aparece na cidade, tudo isso faz parte da essência da história. Filmar em Coxim é garantir autenticidade”, afirma Marcus.

O produtor explica que mapear as locações foi um processo guiado pela afetividade. “Coxim é uma cidade onde o urbano e o rural se encontram o tempo todo. Não procuramos cenários: reconhecemos neles o que a história já trazia em essência”.

Marcus destaca ainda que oito moradores da cidade trabalharam pela primeira vez no audiovisual, acompanhados de profissionais experientes. “Queremos abrir portas. Que jovens de Coxim encontrem no set um caminho possível, uma nova profissão, um futuro”, destaca o produtor.

101 FILMES

O elenco também conta com a participação especial do ator Breno Moroni, que marcou gerações como o Mascarado na novela “A Viagem” (Globo, 1994), além de ter participado de diversas outras produções no cinema e na televisão.

Com uma carreira extensa que inclui desde aberturas de telenovelas e mais de 100 filmes, Breno esteve em Coxim para integrar o elenco de “Carne Amarela” como seu 101º trabalho audiovisual.

“Trazer o Breno foi como aproximar duas forças que se completam. Ele chega com experiência, mas com humildade. Ele senta na varanda e deixa a conversa fluir. É uma presença que soma sem apagar a simplicidade regional, que é a alma do filme”, reconhece Marcus.

“Ele é fantástico. Consegue ir do drama à palhaçaria. Traz o duo que a personagem dele pede: o velho ranzinza e o homem capaz de se transformar”, completa Gleycielli.

O CERRADO

O filme aborda temas urgentes como queimadas, perda de territórios e desmatamento, mas com a delicadeza necessária para o público infantil, segmento prioritário na meta de audiência da produção.

“O tema duro vem com sutileza. As crianças vão entender o sentimento de perder e o de pertencer. E, quando algo pertence a você, você quer cuidar”, explica Gleycielli. Ao fim, o curta reforça que a preservação é um aprendizado coletivo e que cuidar da terra só é possível quando ela é reconhecida como parte de nós.

Na semana passada, a equipe teve uma atividade formativa com Alexandre Lopes, que é doutor em Ciências Sociais e professor de Sociologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), no campus de Coxim.

A interação rendeu contribuições fundamentais para reflexão sobre como pensar e construir um audiovisual mais inclusivo.

AUTOESTIMA

A expectativa da equipe é de que o filme leve Coxim para o Brasil e para o mundo por meio de festivais, mas, principalmente, que devolva à cidade a consciência de seu próprio valor.

“Esperamos que Coxim se veja com carinho. Que perceba que suas histórias merecem estar no cinema. ‘Carne Amarela’ é uma celebração da cidade, das suas raízes e da força do Cerrado”, diz Marcus.

Para Gleycielli, a gravação na cidade é também um gesto de retorno. “Eu sou uma Guató de Coxim. Este filme diz muito sobre de onde eu vim e quem sou eu”.

Como uma “semente que rompe a casca”, reforça a diretora, “Carne Amarela” nasce para devolver à cidade o brilho do seu fruto mais resistente.

Aquele que atravessa gerações, que muda o PIB, que alimenta famílias, que resiste ao fogo e que ensina a permanecer. E Coxim, agora, se prepara para ver sua história ganhar corpo, cor, movimento e tela.

O projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), do governo federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).

"Carne Amarela"

> Direção e roteiro: Gleycielli Nonato Guató;
Direção de produção: Gabriela Lima Ferlin;
> Direção de arte: Maíra Espíndola;
Direção de fotografia: Dafne Alana;
Som direto e edição de mixagem: Laura Cristina;
Produção executiva, assistência de direção e roteiro: Marcus Teles;
Operador de câmera: Gabriel Ribeiro;
Produção de set: Jefley M. Cano;
Elenco: Breno Moroni, Maria Agripina, João da Mata, Elena Vendroscolo, Maria Sonea Domingos;
Trilha sonora original: Gian Markes;
> Edição de imagem e cor: Rafael Viriato;
Microfonista: 4real.wav;
Assistente de produção executiva: Lucas Moura e Guinha Serrou;
Assistente de produção e captação: Robertson Vieira;
Assistente de produção: Carlos Soares;
Assistente de arte: Angela Gabrieli;
2º assistente de direção: Eduardo Henrique;
2ª assistente de fotografia: Lavinia Ribeiro;
Assessoria de imprensa: Lucas Arruda e Aline Lira.

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).