Francisco Anysio de Oliveira Paula Neto, o Nizo Neto, 58 anos, todos já sabem que é um verdadeiro artista, e claro, cumpre com todo o seu talento o legado de seu pai, o saudoso Chico Anysio, que assim como Nizo tinha um talento nato para fazer as pessoas rirem através da interpretação de personagens que fizeram história na TV brasileira.
Ator-comediante ou comediante-ator, Nizo Neto também é dublador, escritor, redator, ilusionista e radialista. O artista fez a sua primeira aparição na TV aos 8 anos de idade, mas foi só depois de muito tempo depois, por volta da década de 80, que o eterno Ptolomeu da “Escolinha do Professor Raimundo” surgiu na televisão, revelando para si o seu dom para o humor.
“Depois da ‘Escolinha’, eu fui começando a ver que as pessoas riam muito das coisas que eu falava e realmente resolvi sair do armário como comediante. Talvez eu tenha relutado um pouco, porque a pressão é grande, né, fazer humor sendo filho do Chico Anysio, não é fácil... Mas não me arrependo de forma nenhuma e sigo aí hoje com uma ótima carreira como ator e comediante”, relembra Nizo.
O artista, irmão dos também humoristas Bruno Mazzeo e Lug de Paula, foi o filho que mais acompanhou a carreira de Chico Anysio de perto e parece carregar consigo o que viveu com o seu pai adiante: no teatro, ele viveu a experiência de contracenar com a filha, Sofia.
Nizo Neto é a Capa do Correio B+ desta semana - Foto: Mike Bomfim - Diagramação Denis Felipe“Ver ela se entregar e atuar, assim, diante da plateia, é um ato de muita coragem. E eu fiquei muito, muito feliz com essa experiência”, conta. A menina, de 11 anos, interpretou a Talia Total na peça “Escolinhazinha do Professor Raimundo”, vivida pela atriz Claudia Rodrigues na TV.
Fora das telinhas, Nizo Neto se dedica a viver uma vida tranquila ao lado de quem mais ama: a sua família. “Gosto de ficar com as minhas filhas e a minha mulher. A gente se diverte e rimos bastante junto. (...) Tento, na medida do possível, ser um bom pai e um bom marido”, disse o ator, em entrevista exclusiva ao Correio B+.
Além das filhas, Nizo Neto também é pai de Rian, falecido em 2016. Nesta sexta-feira (3), se completam 7 anos desde a morte do seu filho. “Sem dúvida nenhuma, é o que eu tenho mais saudade na vida”, conta.
O ator Nizo Neto conversou com o B+ desta semana e aproveitou para destacar momentos marcantes da sua trajetória dentro e fora da TV. No bate-papo, ele falou abertamente sobre a carreira, família e sobre o legado do pai, Chico Anysio.
Veja como foi a entrevista exclusiva de Nizo Neto para o Correio B+:
CE: Qual foi o momento da sua vida que você se reconheceu como um artista e um humorista?
NN: “Eu comecei na TV muito cedo, com o meu pai, eu tinha 8 anos de idade. A TV era em preto e branco ainda. Eu demorei um pouquinho, não levava muito a sério aqui, ainda era muito criança, não sabia direito o que eu ia fazer, mas posso dizer que me reconheci mesmo como artista em 1980, quando eu fiz a minha primeira peça profissional. Como humorista, ainda demorou mais, porque eu queria ser galã de novela, não me achava engraçado. Depois da ‘Escolinha’, eu fui começando a ver que as pessoas riam muito das coisas que eu falava e realmente resolvi sair do armário como comediante. Talvez eu tenha relutado um pouco, porque a pressão é grande, né, fazer humor sendo filho do Chico Anysio, não é fácil... Mas não me arrependo de forma nenhuma e sigo aí hoje com uma ótima carreira como ator e comediante.”
CE: Qual é o sentimento em fazer parte de um legado tão importante deixado por seu pai?
NN: “Olha, a única herança que o meu pai deixou foi o legado. E, realmente, ser filho desse cara foi a coisa mais incrível que aconteceu na minha vida. Ele era um dos grandes, senão um dos maiores nomes da nossa cultura popular. O que ele fez como comediante, eu falo isso, sem modéstia e sem banca, o que ele fez, no mundo, ninguém fez. Eu estudo o humor, acompanho e ninguém fez o que ele fez. É motivo de muito orgulho, ser filho do Chico Anysio.”
Nizo se inspirou em seu pai - DivulgaçãoCE: Se inspirou e se inspira nele?
NN: “Com toda a certeza. Ele foi a minha grande referência, né. A minha grande inspiração, não há dúvida. Tudo o que uma pessoa pode passar para a outra, foi ele que me ensinou, e realmente, foi uma referência enorme, muito grande. Eu acompanhei de perto a carreira dele. Posso dizer que fui o filho que mais acompanhou ele de perto. E, com certeza, ele foi uma grande inspiração.”
CE: É muita expectativa e comparação por ser filho dele?
NN: “Olha, eu já sofri mais com isso, mas eu já desencanei disso porque ser comparado com o Chico Anysio é uma coisa tão absurda, tão de uma certa forma covarde, que, se fosse eu filho dele ou não, realmente, não dá, entende? Não dá para as pessoas compararem, porque ele é um cara muito fora do comum. E há uma frase clássica, até: ‘Ah, para aparecer outro Chico Anysio, é daqui 100 anos só’. E se aparecer, porque ele realmente era um cara de uma capacidade, de uma genialidade muito fora do comum.”
CE: Sobre interpretar o Ptolomeu, o que mais marcou você nessa época?
NN: “Poder trabalhar com aquele pessoal, que para um cara da minha geração é um privilégio absurdo, a lista de comediantes que participou ali da ‘Escolinha’ é uma coisa muito impressionante... Então, isso aí foi uma coisa que marcou muito. E outra coisa foi que a ‘Escolinha’ me fez famoso. Então, tem uma linha aí de história da minha carreira, e até hoje as pessoas comentam muito sobre a ‘Escolinha’”.
Na época da Escolinha do professor Raimundo - DivulgaçãoCE: Do que mais sente falta da época da “Escolinha do Professor Raimundo”?
NN: “Não tem jeito, o ser humano é muito saudosista. A gente sempre sente muita falta do passado, e passa muito rápido… É uma coisa, assim, que parece que foi ontem. Eu estou sentindo aqui o cheiro do estúdio que a gente gravava a ‘Escolinha’, e sinto muita falta do meu pai vivo, tantos outros colegas também vivos… E na época eu era mais jovem também, não que eu não seja feliz hoje não, muito pelo contrário, mas, é saudade, a famosa saudade do passado.”
CE: Como foi contracenar com a sua filha Sofia no teatro?
NN: “Foi uma experiência fantástica. Ela tem um talento inacreditável. Tem muita coisa ainda para ela trabalhar, para ela aprender, mas ela já tem o talento que ajuda muito. Não é o suficiente, mas ajuda demais. Foi muito gratificante eu poder fazer o Professor, e ela fazer a Talia Total, personagem da Claudinha Rodrigues. Ver ela se entregar e atuar, assim, diante da plateia, é um ato de muita coragem. E eu fiquei muito, muito feliz com essa experiência.”
CE: Consegue descrever um momento marcante na sua carreira?
NN: “Vou destacar dois. Em 1974, por exemplo, o ‘Chico City’ foi o primeiro grande sucesso do meu pai.. Eu fazia o Negritim, que era o companheiro do Véio Zuza, personagem muito famoso dele, e, como já falei, teve ainda em preto e branco. Foi um momento muito marcante. A própria ‘Escolinha’ também, é claro. A primeira novela que eu fiz, ‘Sinhá Moça’, na versão de 1986, me marcou por ser a minha primeira novela. E eu acho que eu posso dizer também que o filme que eu dublei junto com o meu pai, o ‘Up Em Altas Aventuras’. Um belíssimo filme da Pixar, foi também uma coisa bastante marcante.”
Nizo Neto - DivulgaçãoCE: Há algum sonho profissional que ainda gostaria de realizar?
NN: “Uma coisa fascinante desse trabalho é que a gente não para. São muitos desafios, muitas coisas diferentes, muita diversidade… Bom, eu gostaria de fazer um vilão, assim, bem mal, tipo um serial killer, bem sanguinário, bem psicopata (risos). Um grande musical também, é uma coisa que eu gostaria muito de fazer. Ah, muita coisa, muita coisa a se fazer nesse ramo!”
CE: O que o Nizo Neto mais gosta de fazer no tempo livre?
NN: “Eu sou um cara muito caseiro, levo uma vida, assim, posso dizer, ‘pacata’. Gosto de ficar com as minhas filhas e a minha mulher. A gente se diverte e rir bastante junto. Nós somos bem-humorados. E eu acompanho corrida de cavalo também, que é um esporte, assim, estranho… Eu nunca me liguei em futebol, mas assisto corrida de cavalo e não aposto nem um tustão. Gosto mesmo para ver, pelo hobbie. E gosto muito de dançar também, então sempre que a gente pode, eu vou com a Tati para festas. De uma forma geral, eu levo uma vida muito simples.”
CE: O que mais sente saudade?
NN: “Sem dúvida, o que eu sinto mais saudade é do Rian, o meu filho, que se foi. Vai fazer 7 anos agora. E de forma muito repentina, né... É uma dor muito grande com certeza, e, sem dúvida nenhuma, é o que eu tenho mais saudade na vida.”
Nizo e a esposa Tatiana Presser - DivulgaçãoCE: Como é o Nizo em família?
NN: “A gente é bem próximo, e eu tento, na medida do possível, ser um bom pai e um bom marido. A gente sabe que a perfeição é impossível, mas acho que a nossa obrigação é pelo menos tentar chegar perto dela. E a gente é muito feliz. E como a minha família é muito grande, um bando de maluco (risos) e só tem artista na família, nós nos damos muito bem, todos. Embora até a gente possa ficar alguns meses sem se falar mas, não por nada, sei lá, é o jeito da gente mesmo. Somos todos muito próximos e quando a gente se encontra é sempre muito, muito divertido.”
CE: Há algum projeto profissional novo a caminho? Se sim, pode adiantar algo para a gente?
NN: “Eu tenho duas coisas aí tramitando para o audiovisual, mas, infelizmente eu não posso falar ainda. Mas o que eu posso falar, é sobre projetos recentes agora que que acabaram de ser lançados, como por exemplo, que eu estou viajando com uma peça chamada ‘Nunca Desista dos Seus Sonhos’, adaptada do livro do Augusto Cury. Em maio, a gente vai fazer uma temporada no Teatro Itália Bandeirantes, em São Paulo (SP. Na televisão, eu acabei de fazer o ‘Rota 66’, um personagem maravilhoso nessa série, baseada do livro do Caco Barcellos, que está na Globoplay. E fiz também o ‘Rei da TV’, que é a biografia do Silvio Santos, que está no Star+”.
Com as filhas Isabela e Sofia e a esposa Tatiana - Foto - Fabrizia Granatieri



