Com orçamento de R$ 2,2 milhões, obras começam no dia 13 de janeiro e também envolvem a requalificação do entorno; tombada como patrimônio histórico municipal e estadual, construção de 1919 será reconhecida como patrimônio cultural brasileiro
Em uma reunião realizada no fim de tarde de terça-feira, a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) apresentou à Comunidade Quilombola Tia Eva o projeto de restauro da Igreja de São Benedito e de requalificação do entorno. O evento contou com a presença de representantes da comunidade e do poder público municipal e estadual.
A obra será executada pela empresa Marco Arquitetura, Engenharia, Construções e Comércio Ltda., vencedora da Concorrência Eletrônica nº 030/2025-DLO, homologada em 14 de outubro de 2025.
O contrato está estimado em R$ 2.213.000,00, e o prazo de execução é de 540 dias, a partir da ordem de início dos serviços, ou seja, o começo das obras ficou estabelecido para o dia 13 de janeiro de 2026.
Adanilto Faustino de Souza Júnior, gerente de projetos e orçamento da Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul), afirma que a intenção é de que a empresa executora priorize as intervenções na igreja para que até o período das festividades da Tia Eva, em novembro de 2026, o restauro tenha avançado e posso ocorrer “até uma possível inauguração” somente da igreja. “O restante segue o prazo de um ano e meio previsto”, afirma Adanilto.
O projeto foi contratado pela Prefeitura de Campo de Grande e, após uma pesquisa realizada junto à comunidade, foi doado ao governo para a execução. Adanilto explica que o foco principal é o restauro da Igreja de São Benedito, que se localiza no coração da Comunidade Tia Eva.
“Vai ser feito o restauro das portas, janelas, estruturas de madeira, que ainda são originais, um reforço do telhado, porque hoje ele e a estrutura estão cedendo, vai ser feito o reforço estrutural de toda a fachada, que está colapsando – ela tem uma fissura centralizada –, e o reparo, a pintura e a requalificação de todo o ambiente. Pisos, pinturas. Os altares vão ser feitos. Tem a parte de mobiliário e tem a parte de restauro de imagens”, especifica o gerente da Agesul.
ENTORNO
Também vai ser requalificado todo o entorno da igreja. “No entorno direto, vai ser feita a demolição de todas as construções existentes, são construções posteriores à igreja, então, não são considerados itens que devem ser restaurados, e vai ser construída uma praça no entorno imediato, com a recolocação do busto da Tia Eva, que hoje fica na frente da igreja. Vai ter o restauro do busto e a recolocação num local de mais destaque. O cruzeiro vai ser restaurado e colocado num ponto principal da praça”, prossegue Adanilto.
“Será feito um projeto urbanístico para a requalificação da área. Para que a comunidade venha mais para o entorno da igreja. Vai ser construída uma área para visitantes, turistas e educacional, onde hoje é a churrasqueira, que vai ser demolida. E o salão também vai sofrer uma grande intervenção. Vai ser reformado para ter capacidade, melhoria de banheiros, de palco. Vai ser construída uma cozinha, melhoria no bar e uma adaptação para atender acessibilidade e questões de incêndio e pânico, para que fique dentro das normas vigentes”, diz.
SÍMBOLO MÁXIMO
O presidente da Associação dos Descendentes de Tia Eva, Ronaldo Jefferson da Silva, afirmou que a igreja é um símbolo máximo da comunidade, “então, com o restauro da igreja e seu entorno, você traz novamente a memória de Tia Eva. Porque você tem a igreja hoje como símbolo da comunidade, e aí, é uma igreja que foi construída por Tia Eva, que deixou seu legado, sua história, e nós descendentes temos que manter viva essa memória de Tia Eva”.
PATRIMÔNIO BRASILEIRO
João Henrique dos Santos, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Mato Grosso do Sul, informa que logo a igreja vai ser um patrimônio reconhecido também pelo Iphan, como patrimônio cultural brasileiro.
“É um momento realmente ímpar e acho que é um momento de festa e de consagração da Comunidade Tia Eva”, diz João Henrique, um dos autores do projeto de restauro. A igreja já é tombada como patrimônio histórico municipal (1996) e estadual (1998/2022).
“Acho que a Comunidade Tia Eva merece o reconhecimento por meio de um projeto arquitetônico de restauração da igreja, da restauração desse patrimônio cultural nosso, de Campo Grande, de Mato Grosso do Sul, e que, em pouquíssimo tempo, a gente vai ter esse patrimônio reconhecido também pelo Iphan, enquanto um patrimônio cultural brasileiro. Então, eu acho que esse lançamento dessa obra é um coroamento de um trabalho árduo, tanto do Município quanto do governo de MS e também agora com a presença do Iphan”, diz.
“Ganha a comunidade, ganha a história de Campo Grande, ganha a nossa memória, nossa identidade, ganha a cidade, ganha Mato Grosso do Sul. Porque, para além desse espaço ser devolvido para a população, o entorno também vai poder curtir esse espaço, a gente vai ter aqui praça, vai estar reformado e apto para receber os eventos da comunidade, a festa de São Benedito [maio]. Vai ter um lugar para falar que ‘pronto, agora eu tenho um lugar equipado, um lugar adequado para essa festividade’. Acho que o patrimônio cultural brasileiro hoje sai mais forte com esse lançamento da obra”, celebra o superintendente.
Para o secretário de Turismo, Esporte e Cultura de Mato Grosso do Sul, Marcelo Miranda, a reunião representou um momento muito importante de apresentar, em uma prestação de contas, e ouvir a comunidade sobre o projeto que foi feito para o restauro desse prédio, “que é muito importante para a história de Campo Grande, para a história de Mato Grosso do Sul e, principalmente, para essa comunidade”.
“Tia Eva tem uma importância histórica, um símbolo de resistência, um símbolo de apoio às comunidades quilombolas, e é uma das fundadoras de Campo Grande, uma das primeiras moradoras. Eu acho que isso aqui é emblemático para Mato Grosso do Sul, para Campo Grande, é muito importante a gente apresentar para a comunidade, cumprindo uma etapa importante de preservação desse patrimônio histórico”, reforça o secretário.
Assine o Correio do Estado