“Tô aqui, embaixo do mesmo pé de ipê, te esperando. Reclama o teu amor”. Este é o convite que o menino-ator-poeta e estudante de Artes Cênicas faz aos amigos virtuais pelo Facebook. Febraro esteve, pela sexta vez, na rua, debaixo do mesmo pé de ipê, sentado no banco da Praça Ary Coelho esperando para ouvir histórias de quem passa. Com a placa “reclama o seu amor aqui”, ele exercita a escutação para elaborar o próximo espetáculo que leva o mesmo nome do projeto.
As histórias estavam sendo ouvidas para a construção de um monólogo, mas o material que veio das ruas e do coração das pessoas que se abrem para reclamar o amor já garantiu ao poeta palavras suficientes para um livro.
“A peça será em cima do relato das pessoas que estão me contando. No monólogo, sou só eu em cena, embora sejam cinco personagens”, explica Febraro de Oliveira, 20 anos. No palco, em breve, ele reproduzirá as histórias de “Martinha”, uma mulher que foi presa na ditadura cujo relato emocionou o ouvinte. A outra personagem é “Gabrielly”, uma prostituta, e, por fim, um casal de meninos que se sentou por acaso no mesmo banco do ator durante o primeiro encontro deles. “Eles começaram a conversar, viram a placa, me olharam e aí falaram, falaram, falaram...” descreve.
Os ouvidos e o coração do ator estão abertos desde março. Depois da fase de escutação, existem ainda outras duas performances previstas: “Para não nos esquecermos, que será eu numa mesinha com café e bolo. Eu converso com a pessoa e também conto a história da Martinha. Conversamos até o bolo acabar e o café esfriar”, explica Febraro. A última etapa é o microfone aberto para quem quiser falar.
“Este projeto veio de uma necessidade que eu encontrei de ouvir o outro. Eu notei que tinha uma peça escrita, mas que falava muito de mim e, eu precisava conversar com as pessoas, ouvir histórias. Tenho tido alguns socos na cara, tem dias que volto exausto para casa. Mas a gente anda falando muito e é preciso ouvir”, reflete.
O encontro do ator com os palcos tem cinco anos, desde que ele começou a fazer teatro no Grupo Casa, companhia da qual fez parte durante todo este tempo e só deixou para ingressar no curso de Artes Cênicas na UEMS, agora em 2019. “Eu já dei aula para crianças, para adultos. Lá, a gente vai pensando sempre muito no humano, no que liga eu e você? Nosso abismo, nosso silêncio”, poetiza.
Nas ruas, além de conteúdo para o trabalho, o ator tem aprendido muito, principalmente a valorizar o silêncio. Teve vez de sentar uma só pessoa no banco e outro dia de passar mais de 20 ali. “Teve uma pessoa que sentou, não falou nada. Ficou em silêncio o tempo todo e depois disse: muito obrigada. Às vezes, ali ela falou tudo o que queria dizer mesmo”, enxerga. Mesmo não pedindo dinheiro algum, tem ocasiões em que os reclamadores de amor até pagam o ator com paçoca, ou tirando tudo o que tem da carteira, R$ 2,00, ou recompensando com um bolo.
O projeto “Reclama o teu amor” ouvirá histórias até este mês. Depois da Praça Ary Coelho e também do teatro fechado Aracy Balabanian, Febraro ainda quer passar por outros pontos da cidade.

Estener Ananias de Carvalho e Renata dos Santos Araújo de Carvalho
Anderson Varejão, Luiz Fruet e Aylton Tesch


