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MÚSICA

Novo álbum de Moacir Lacerda conta a saga do português Aleixo Garcia para enaltecer MS

Contar a saga do português Aleixo Garcia para enaltecer Mato Grosso do Sul como rota estratégica e "berço da América Latina" nos cinco séculos de história do Estado, é essa a ambição do novo álbum de Moacir Lacerda

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Um álbum musical de 29 faixas para contar a saga do explorador português Aleixo Garcia e cravar Mato Grosso do Sul como “berço da América Latina”, ponto estratégico de rotas que abriram caminho para a descoberta de novos destinos e a criação de futuros países, legando um caldo multicultural vigoroso e complexo, de implicação angular na identidade local, no ano em que se comemoram os cinco séculos de história do Estado.

É essa a ambição de Moacir Lacerda com “Aleixo Garcia – A Jornada Épica”, seu mais novo projeto, com o qual vem batendo à porta do poder público e de outros possíveis parceiros. As gravações seguem a pleno vapor, no estúdio do músico Gilson Espíndola, e todas as faixas devem estar finalizadas nas próximas duas semanas. Já o lançamento do álbum está previsto para o fim de março, ainda sem data definida.

Dá gosto ver Lacerda falar sobre o projeto, cuja ideia nasceu durante a produção de outro disco, que completa uma década em 2025. “Esse trabalho começa em 2015, quando eu realizo ‘A Chama da Paz da América do Sul’, uma antologia musical literária que nós lançamos com 285 canções e 85 participações de poetas, escritores e historiadores. Sempre moldei a minha carreira musical como compositor em cima de fatos históricos”, remonta o Alma Pantaneira, como o integrante do Grupo Acaba costuma ser chamado.

“Isso aconteceu com a música ‘As Monções’, que nós compusemos lá nos anos 1970, e a partir dessa história surgiram as Rotas Monçoeiras, um traçado turístico e de desenvolvimento histórico também. Aí comecei o trabalho do Cabeza de Vaca. Ele tinha visitado o Pantanal em 1544 e foi ele que deu o nome à região como Laguna de los Xarayes. Da experiência que eu fiz com o Cabeza de Vaca, lançando um álbum contando a história dele musicalmente, surgiu o personagem Aleixo Garcia”, detalha.

Falecido em 1525, o navegador lusitano tem data de nascimento desconhecida. Mas é farta a documentação que comprova sua presença e seus feitos em território brasileiro e sul-mato-grossense. 

“Ele era um marujo, um genérico dentro de uma expedição espanhola de Juan Díaz Solís (1470-1516), em 1516. A expedição saiu da Espanha para descobrir uma passagem para o Oceano Pacífico, uma caminho para as Índias”, prossegue Moacir Lacerda.

O SOBREVIVENTE

“Ele [Solís] foi costeando Santa Catarina e o Rio Grande do Sul e se deparou com aquela que hoje é a Bacia do Prata, pensando que aquela seria a passagem. Ele entra ali e chama de Mar Dulce. Nesse descobrimento, ele faz o contato com os índios charruas e é assassinado. Ele e uma parte da tripulação. Então, as naus voltaram para a Espanha para levar o fracasso para o rei. 

Uma das caravelas afunda em Santa Catarina, na região de Meiembipe, e entre os sobreviventes estava Aleixo Garcia. Então é onde a história começa”, apresenta o músico.

“Aleixo Garcia aparece aí. Até então ele era um genérico. É socorrido pelos índios guaranis carijós e seduzido pelos adornos de prata e de ouro que esses índios tinham. Alguns amuletos. Os índios informaram que vieram da Cidade de Pedra. Ele fica oito anos convivendo com os índios, casa, tem filhos e descobre que tinha o caminho de Peabiru. Os índios sabiam esse caminho”, revela.

“Era uma ramificação de caminhos que saíam de São Paulo, de Santa Catarina e do Paraná e que iam até praticamente o Oceano Pacífico, passando pelo Império Inca. Com essa convivência, ele passa a ser o líder, junta cerca de 2.000 índios e sai em caminhada de Santa Catarina, passando pelo Paraná e por Mato Grosso do Sul, na região de Corumbá, em Albuquerque”, conta o Alma Pantaneira.

“Ele vai pelo Rio Miranda, chega ao Rio Paraguai e para ali. Desce e descobre o Paraguai, entra no Rio Pilcomayo, descobre a Bolívia e vai até perto de Potossí, lá no Império Inca. Essa saga dele foi feita em 1524. Ele retorna do Império Inca com ouro e prata e é assassinado na volta pelos índios paiaguás, canoeiros, lá no Rio Paraguai. É uma história fantástica. Por isso que chamo de ‘Jornada Épica’”, afirma, com empolgação.

“A motivação veio dessa história, que é pouco conhecida, e mais importante é a data, 1524. Com essa consistência histórica do Brasil, do Paraguai e de Portugal, caiu uma luz: 2024, Mato Grosso do Sul 500 anos. MS 500 anos. Esse é o grande lance dessa descoberta”, diz.

“Mato Grosso do Sul está entre os estados do Brasil mais antigos. Você pega a Bahia, 1500, Santa Catarina, 1516, São Paulo, 1530, com Martim Afonso de Souza [1500-1564]. Então, Mato Grosso do Sul, junto com o Paraná, ficou entre os estados mais antigos do Brasil”, completa o Alma Pantaneira.

LIVRO E PALESTRAS

Lacerda prossegue com o seu inventário histórico para cravar MS como o berço de “todas” as descobertas latino-americanas. “Daqui saíam todas as expedições para fundar Paraguai, Bolívia, Chile, Peru. Todas elas passaram por aqui, inclusive para descobrir, em 1750, Cuiabá. Então, Mato Grosso veio 250 anos depois. Essa magnífica histórica me motivou ainda mais a contar isso de maneira musical”, garante.

“Como eu fiz o trabalho do Cabeza de Vaca, e com essa repercussão dos 500 anos de MS, resolvemos fazer um projeto para apresentar para o governo do Estado. Não é somente a questão da música. Tem um ciclo de palestras para debater esse tema com a sociedade, com nomes como o professor Gilson Martins, autor de dezenas de livros, o Rodrigo Teixeira, escritor, o Carlos Vera, o Gilson Espíndola. Tem também um livro infantil ilustrado para contar essa história para as gerações que precisam mudar essa mentalidade”, anuncia Lacerda.

REPERTÓRIO

“A partir dessa abertura, dessa descoberta feita pelo Aleixo Garcia, praticamente todas as expedições de exploração e de fundação da maioria dos países sul-americanos passam por Mato Grosso do Sul, na região ali de Albuquerque. A partir daí, aqui é o berço da América Latina”, reforça.

“Porque, de lá dessa região, você poderia ir para o norte, para a Amazônia e para o Atlântico. Poderia ir para o sul, para o Paraguai, a Argentina e o Uruguai. Poderia ir para o leste, a Bolívia, o Chile, o Atlântico e Pacífico. E poderia ir para o oeste e encontraria Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro”, mapeia Lacerda.
“É um ponto central essa região da Laguna de los Xarayes, onde conviviam várias nações indígenas. Os paiaguás, os guaicurus, os guató, os porrudos e os xarayes. Porque na região tinha abundância de peixe e de caça. Viviam ali as nações indígena e as nações incaicas“, diz o músico. 

“Então, elas tinham contato, e disso aí era o berço da América Latina. E daí vem uma coisa que, infelizmente, eu vou ter que cantar, que é a dizimação dos povos originários, que começou a partir dessas entradas”, lamenta. 

“O repertório tem aspectos históricos, aspectos sociais, questões etimológicas, as etnias indígenas e o seu extermínio e sofrimento. E a degradação que houve, não somente na América do Sul, mas também na América Central e na América do Norte”, afirma.

“Esse álbum canta essa espoliação, essa dizimação dos povos originários. Por isso, na capa, está o Aleixo Garcia, tem a figura de um inca e tem figuras indígenas ali. Ele não é o descobridor. Ele foi o primeiro europeu que chegou nessas terras. Aqui já habitavam nações indígenas por mais de 10.000 anos, segundo estudos antropológicos”.

ESTILOS

“Em termos de gêneros e de estilos, as músicas têm influências espanholas, sons indígenas, têm lamentos, réquiens, música latina, chamamé, rasqueado. Você pega a cultura saindo lá de 1500 e vai trazendo para cá, para os nossos dias. Tem uma presença um pouco erudita, aparece ali com um canto meio de reminiscências ibéricas. E tem uma linguagem também contemporânea. São diversos gêneros, porque esse trabalho não foi feito somente pelo Moacir. Tem alguns integrantes do Grupo Acaba, convidados, mais de 40 pessoas envolvidas”, detalha.

MS 500

“Os 500 anos é uma grande oportunidade para se divulgar, e a previsão de lançamento é fim de março. Assim como o Caminho de Peabiru era um traçado que unia o Atlântico ao Pacífico, a Rota Bioceânica também é a mesma jornada, e todas elas passam por MS. Isso é que é importante. Faremos um trabalho que vai contribuir para que as novas gerações possam ter, no Estado, uma outra consciência. Não precisar mais falar Mato Grosso do SUL! Rapaz, Mato Grosso do Sul é antes de tudo. É 1524”, defende Moacir Lacerda.
“O que precisa é ser veiculada essa história. Essa falta de sintonia entre as pessoas com referência ao Estado vai desaparecendo. Para isso, precisa de uma ação do próprio governo do Estado, de apoio a um projeto dessa natureza”, reivindica o músico.

saiba

Convidados: Grupo Acaba – Canta-Dores do Pantanal, etnias indígenas charrua, kaiowá e terena, Camerata Madeiras Dedilhadas, Alvani Calheiros, Alzira E, Ana Lúcia Gaborim, Antônio Luiz Porfírio, Aurélio Miranda, Carlos Batera, Carlos Vera, Douglas Santos, Edvaldo Jacinto, Emmanuel Marinho, Fábio Kaida, Felipe Lacerda, Gabriel Andrade, Geraldo Espíndola, Gilson Espíndola, Humberto Espíndola, Itamar Assumpção, Jerry Espíndola, José Bittencourt, Luciana Fisher, Luiz Sayd, Marcelo Fernandes, Marcos Assunção, Marcelo Loureiro, Odon Nacasato, Pedro Ortale, Raquel Naveira, Rodrigo Teixeira, Rubenio Marcelo, Sandro Moreno, Tetê Espíndola, Tião César, Vandir Barreto, Vera Gasparotto e Zezé Mauro. In memoriam: Chico Lacerda, Eduardo Lincoln e José Charbel Filho.

ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

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ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

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MÚSICA

Entre onças e tuiuiús, o jazz

Em parceria com o trombonista Ryan Keberle, com nove composições inspiradas na exuberância do Pantanal, URBEM lança segundo álbum; 2º Campo Grande Jazz Festival celebra o gênero na Capital, com apresentações gratuitas

15/12/2025 10h00

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Divulgação / Alexis Prappas

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Sem dar muitos detalhes, o baterista Sandro Moreno, quando conversou comigo, em junho, sobre o álbum que a Urbem gravaria com Ryan Keberle, adiantou que o projeto seria “algo muito especial”.

Após o show – memorável, diga-se – que fizeram juntos no Teatro do Mundo, o quarteto campo-grandense – além de Sandro, Bianca Bacha (vocais), Ana Ferreira (piano), Gabriel Basso (contrabaixo) – e o trombonista norte-americano foram para a zona rural de Miranda e se instalaram na Fazenda Caiman.

Foi lá que a magia aconteceu. Na estrada desde 2013 e com apenas um álbum lançado até então, “Living Room” (2016), a banda disponibilizou “Pantanal Jam” no Spotify no dia 29 de outubro, três dias antes do show que realizaria em Nova York, em um evento na Detour Gallery que uniu arte, gastronomia e turismo para promover o Pantanal.

São nove faixas criadas e gravadas com extremo apuro e sensibilidade, que alcançam os músicos da Urbem e Ryan num ponto bem elevado de suas capacidades.

Os temas soam como se os cinco artistas tivessem se deixado abraçar pela contagiante pregnância da natureza de Miranda, e Bianca Bacha confirma isso em entrevista exclusiva.

Melodias, pulsações e andamentos foram se definindo conforme eles mergulhavam em tudo que viam, ouviam e sentiam por ali: ventos, o canto das aves, “o esturro da onça”, como Bianca relata. Ouvindo os sons naturais, captados previamente por Sandro, que assina a produção musical do projeto, cada um estabeleceu sua conversa criativa com o Pantanal.

O registro dos sons naturais – de aves, por exemplo — introduz, se mescla ou faz a ponte para uma execução instrumental (voz inclusa) coesa e deveras inspirada, que não força a barra para sorver e devolver, em forma de música, a fartura que o habitat de Miranda oferece.

“Suspiro da Terra”, doce e pulsante, e “Paisagem Invertida”, essa mais selvagem e misteriosa, são uma prova disso.

Ryan pontua, preenche ou arremata sempre com uma precisão e desprendimento envolventes. Ana, como se ouve em “Espiral”, migra da base para os solos numa transparência que comove. Gabriel – em “Canção do Ninho”, por exemplo, que começa e segue na cama dos gomos que vai colhendo ao longo do tema – parece deter a justa medida para o desempenho de seu baixo.

"Foi uma grande honra participar da criação do ‘Pantanal Jam’. Os sons da Pantanal, do modo como Sandro captou, tiveram um papel direto no processo de composição das duas músicas que fiz para o álbum.

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoRyan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

O tom e os ritmos dos sons naturais do Pantanal, inspirados por ideias musicais e paisagens sonoras próprias, criaram um clima que eu tentei capturar nas minhas composições. Quando nós gravamos, literalmente no meio de um dos lugares mais selvagens e remotos do mundo, a beleza e a energia natural nos inspirou a ouvir a natureza e um ao outro mais profundamente, o que resultou numa performance musical que demonstra uma profunda comunicação musical.

Adoro os músicos e a música da Urbem. E, desde que tocamos juntos em diversas ocasiões anteriores, eu compus as minhas músicas especificamente com o talento e a habilidade musical especial deles em mente” - Ryan Keberle, trombonista.

Sandro é um laboratório inquieto, dos pedais aos pratos de condução. E Bianca conduz os vocais numa têmpera e numa fruição que se articula como síntese do conjunto.

Comparações e referências são uma tentação no mundo do jazz. Mas a qualquer palpite sobre “Pantanal Jam”, é melhor calar e ouvir. É um álbum estimulante para esse silêncio de dentro, que nos faculta as melhores emoções da escuta e da experiência musical.

Brazilian jazz? Jazz? Ouça. Música apenas. E quanta música! Embrenhada e revelada nos refúgios de um lugar mágico, onde a natureza se recobra e o espírito se fortalece.

A Urbem lança “Pantanal Jam” hoje, às 18h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Apareça.

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