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MÚSICA

Novo álbum de Moacir Lacerda conta a saga do português Aleixo Garcia para enaltecer MS

Contar a saga do português Aleixo Garcia para enaltecer Mato Grosso do Sul como rota estratégica e "berço da América Latina" nos cinco séculos de história do Estado, é essa a ambição do novo álbum de Moacir Lacerda

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Um álbum musical de 29 faixas para contar a saga do explorador português Aleixo Garcia e cravar Mato Grosso do Sul como “berço da América Latina”, ponto estratégico de rotas que abriram caminho para a descoberta de novos destinos e a criação de futuros países, legando um caldo multicultural vigoroso e complexo, de implicação angular na identidade local, no ano em que se comemoram os cinco séculos de história do Estado.

É essa a ambição de Moacir Lacerda com “Aleixo Garcia – A Jornada Épica”, seu mais novo projeto, com o qual vem batendo à porta do poder público e de outros possíveis parceiros. As gravações seguem a pleno vapor, no estúdio do músico Gilson Espíndola, e todas as faixas devem estar finalizadas nas próximas duas semanas. Já o lançamento do álbum está previsto para o fim de março, ainda sem data definida.

Dá gosto ver Lacerda falar sobre o projeto, cuja ideia nasceu durante a produção de outro disco, que completa uma década em 2025. “Esse trabalho começa em 2015, quando eu realizo ‘A Chama da Paz da América do Sul’, uma antologia musical literária que nós lançamos com 285 canções e 85 participações de poetas, escritores e historiadores. Sempre moldei a minha carreira musical como compositor em cima de fatos históricos”, remonta o Alma Pantaneira, como o integrante do Grupo Acaba costuma ser chamado.

“Isso aconteceu com a música ‘As Monções’, que nós compusemos lá nos anos 1970, e a partir dessa história surgiram as Rotas Monçoeiras, um traçado turístico e de desenvolvimento histórico também. Aí comecei o trabalho do Cabeza de Vaca. Ele tinha visitado o Pantanal em 1544 e foi ele que deu o nome à região como Laguna de los Xarayes. Da experiência que eu fiz com o Cabeza de Vaca, lançando um álbum contando a história dele musicalmente, surgiu o personagem Aleixo Garcia”, detalha.

Falecido em 1525, o navegador lusitano tem data de nascimento desconhecida. Mas é farta a documentação que comprova sua presença e seus feitos em território brasileiro e sul-mato-grossense. 

“Ele era um marujo, um genérico dentro de uma expedição espanhola de Juan Díaz Solís (1470-1516), em 1516. A expedição saiu da Espanha para descobrir uma passagem para o Oceano Pacífico, uma caminho para as Índias”, prossegue Moacir Lacerda.

O SOBREVIVENTE

“Ele [Solís] foi costeando Santa Catarina e o Rio Grande do Sul e se deparou com aquela que hoje é a Bacia do Prata, pensando que aquela seria a passagem. Ele entra ali e chama de Mar Dulce. Nesse descobrimento, ele faz o contato com os índios charruas e é assassinado. Ele e uma parte da tripulação. Então, as naus voltaram para a Espanha para levar o fracasso para o rei. 

Uma das caravelas afunda em Santa Catarina, na região de Meiembipe, e entre os sobreviventes estava Aleixo Garcia. Então é onde a história começa”, apresenta o músico.

“Aleixo Garcia aparece aí. Até então ele era um genérico. É socorrido pelos índios guaranis carijós e seduzido pelos adornos de prata e de ouro que esses índios tinham. Alguns amuletos. Os índios informaram que vieram da Cidade de Pedra. Ele fica oito anos convivendo com os índios, casa, tem filhos e descobre que tinha o caminho de Peabiru. Os índios sabiam esse caminho”, revela.

“Era uma ramificação de caminhos que saíam de São Paulo, de Santa Catarina e do Paraná e que iam até praticamente o Oceano Pacífico, passando pelo Império Inca. Com essa convivência, ele passa a ser o líder, junta cerca de 2.000 índios e sai em caminhada de Santa Catarina, passando pelo Paraná e por Mato Grosso do Sul, na região de Corumbá, em Albuquerque”, conta o Alma Pantaneira.

“Ele vai pelo Rio Miranda, chega ao Rio Paraguai e para ali. Desce e descobre o Paraguai, entra no Rio Pilcomayo, descobre a Bolívia e vai até perto de Potossí, lá no Império Inca. Essa saga dele foi feita em 1524. Ele retorna do Império Inca com ouro e prata e é assassinado na volta pelos índios paiaguás, canoeiros, lá no Rio Paraguai. É uma história fantástica. Por isso que chamo de ‘Jornada Épica’”, afirma, com empolgação.

“A motivação veio dessa história, que é pouco conhecida, e mais importante é a data, 1524. Com essa consistência histórica do Brasil, do Paraguai e de Portugal, caiu uma luz: 2024, Mato Grosso do Sul 500 anos. MS 500 anos. Esse é o grande lance dessa descoberta”, diz.

“Mato Grosso do Sul está entre os estados do Brasil mais antigos. Você pega a Bahia, 1500, Santa Catarina, 1516, São Paulo, 1530, com Martim Afonso de Souza [1500-1564]. Então, Mato Grosso do Sul, junto com o Paraná, ficou entre os estados mais antigos do Brasil”, completa o Alma Pantaneira.

LIVRO E PALESTRAS

Lacerda prossegue com o seu inventário histórico para cravar MS como o berço de “todas” as descobertas latino-americanas. “Daqui saíam todas as expedições para fundar Paraguai, Bolívia, Chile, Peru. Todas elas passaram por aqui, inclusive para descobrir, em 1750, Cuiabá. Então, Mato Grosso veio 250 anos depois. Essa magnífica histórica me motivou ainda mais a contar isso de maneira musical”, garante.

“Como eu fiz o trabalho do Cabeza de Vaca, e com essa repercussão dos 500 anos de MS, resolvemos fazer um projeto para apresentar para o governo do Estado. Não é somente a questão da música. Tem um ciclo de palestras para debater esse tema com a sociedade, com nomes como o professor Gilson Martins, autor de dezenas de livros, o Rodrigo Teixeira, escritor, o Carlos Vera, o Gilson Espíndola. Tem também um livro infantil ilustrado para contar essa história para as gerações que precisam mudar essa mentalidade”, anuncia Lacerda.

REPERTÓRIO

“A partir dessa abertura, dessa descoberta feita pelo Aleixo Garcia, praticamente todas as expedições de exploração e de fundação da maioria dos países sul-americanos passam por Mato Grosso do Sul, na região ali de Albuquerque. A partir daí, aqui é o berço da América Latina”, reforça.

“Porque, de lá dessa região, você poderia ir para o norte, para a Amazônia e para o Atlântico. Poderia ir para o sul, para o Paraguai, a Argentina e o Uruguai. Poderia ir para o leste, a Bolívia, o Chile, o Atlântico e Pacífico. E poderia ir para o oeste e encontraria Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro”, mapeia Lacerda.
“É um ponto central essa região da Laguna de los Xarayes, onde conviviam várias nações indígenas. Os paiaguás, os guaicurus, os guató, os porrudos e os xarayes. Porque na região tinha abundância de peixe e de caça. Viviam ali as nações indígena e as nações incaicas“, diz o músico. 

“Então, elas tinham contato, e disso aí era o berço da América Latina. E daí vem uma coisa que, infelizmente, eu vou ter que cantar, que é a dizimação dos povos originários, que começou a partir dessas entradas”, lamenta. 

“O repertório tem aspectos históricos, aspectos sociais, questões etimológicas, as etnias indígenas e o seu extermínio e sofrimento. E a degradação que houve, não somente na América do Sul, mas também na América Central e na América do Norte”, afirma.

“Esse álbum canta essa espoliação, essa dizimação dos povos originários. Por isso, na capa, está o Aleixo Garcia, tem a figura de um inca e tem figuras indígenas ali. Ele não é o descobridor. Ele foi o primeiro europeu que chegou nessas terras. Aqui já habitavam nações indígenas por mais de 10.000 anos, segundo estudos antropológicos”.

ESTILOS

“Em termos de gêneros e de estilos, as músicas têm influências espanholas, sons indígenas, têm lamentos, réquiens, música latina, chamamé, rasqueado. Você pega a cultura saindo lá de 1500 e vai trazendo para cá, para os nossos dias. Tem uma presença um pouco erudita, aparece ali com um canto meio de reminiscências ibéricas. E tem uma linguagem também contemporânea. São diversos gêneros, porque esse trabalho não foi feito somente pelo Moacir. Tem alguns integrantes do Grupo Acaba, convidados, mais de 40 pessoas envolvidas”, detalha.

MS 500

“Os 500 anos é uma grande oportunidade para se divulgar, e a previsão de lançamento é fim de março. Assim como o Caminho de Peabiru era um traçado que unia o Atlântico ao Pacífico, a Rota Bioceânica também é a mesma jornada, e todas elas passam por MS. Isso é que é importante. Faremos um trabalho que vai contribuir para que as novas gerações possam ter, no Estado, uma outra consciência. Não precisar mais falar Mato Grosso do SUL! Rapaz, Mato Grosso do Sul é antes de tudo. É 1524”, defende Moacir Lacerda.
“O que precisa é ser veiculada essa história. Essa falta de sintonia entre as pessoas com referência ao Estado vai desaparecendo. Para isso, precisa de uma ação do próprio governo do Estado, de apoio a um projeto dessa natureza”, reivindica o músico.

saiba

Convidados: Grupo Acaba – Canta-Dores do Pantanal, etnias indígenas charrua, kaiowá e terena, Camerata Madeiras Dedilhadas, Alvani Calheiros, Alzira E, Ana Lúcia Gaborim, Antônio Luiz Porfírio, Aurélio Miranda, Carlos Batera, Carlos Vera, Douglas Santos, Edvaldo Jacinto, Emmanuel Marinho, Fábio Kaida, Felipe Lacerda, Gabriel Andrade, Geraldo Espíndola, Gilson Espíndola, Humberto Espíndola, Itamar Assumpção, Jerry Espíndola, José Bittencourt, Luciana Fisher, Luiz Sayd, Marcelo Fernandes, Marcos Assunção, Marcelo Loureiro, Odon Nacasato, Pedro Ortale, Raquel Naveira, Rodrigo Teixeira, Rubenio Marcelo, Sandro Moreno, Tetê Espíndola, Tião César, Vandir Barreto, Vera Gasparotto e Zezé Mauro. In memoriam: Chico Lacerda, Eduardo Lincoln e José Charbel Filho.

Diálogo

Tremenda de uma "cascata" a informação apregoada pelo governo de Lula que... Leia na coluna de hoje

Leia a coluna desta terça-feira (23)

23/12/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

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Cecília Meireles - escritora brasileira

Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”

Felpuda

Tremenda de uma “cascata” a informação apregoada pelo governo de Lula que ele ressarciu os aposentados, vítimas da roubalheira de esquema que envolve pessoas ligadas ao INSS, empresas privadas, ONGs, laranjas e políticos. Na realidade, essa conta sobrou para o cidadão, inclusive os próprios aposentados que pagam Imposto de Renda. Nenhum dos bandidos até agora restituiu aos cofres públicos o dinheiro que roubou. Aliás, a maioria está sendo blindada de forma vergonhosa. Há quem diga até que buscam “freio” para que a CPMI do INSS comece a patinar e não avance. Lamentável!

Pra cabeça

Quem entrará em 2026 com problemas no Conselho de Ética da Câmara é a deputada federal Camila Jara, do PT. O Partido Novo protocolou representação contra ela.

Mais

A acusação é de violação do decoro, ao se envolver na confusão originada quando da retirada à força de Glauber Braga, do Psol, e de ofensa ao secretário-geral da Mesa Diretora.

Diálogo

O vorí-vorí, tradicional prato paraguaio, foi eleito o melhor do mundo na lista anual do Taste Atlas, plataforma internacional que reúne avaliações gastronômicas de todas as partes do planeta. A iguaria recebeu nota 4,64 de 5, com base em votos de usuários reais que experimentaram o prato. Conhecido também como borí-borí, o vorí-vorí é descrito pelo portal como “a icônica sopa de galinha paraguaia com bolinhos de fubá recheados com queijo”. Rico em sabor, textura e história, o prato ocupa um lugar especial na mesa das famílias paraguaias e agora também no cenário global da gastronomia. Nos últimos anos, o vorí-vorí já havia figurado entre as melhores sopas do mundo em rankings do mesmo portal, reforçando sua reputação. A lista do Taste Atlas se tornou referência global por utilizar um sistema que identifica e descarta avaliações nacionalistas ou feitas por robôs, garantindo legitimidade às escolhas.

DiálogoChayene Marques Georges Amaral e Luiz Renê Gonçalves Amaral

 

DiálogoCamila Fremder

Prova de fogo

O atual time que forma o entorno do governador Eduardo Riedel terá, no próximo ano, prova de fogo, porque a missão deverá ser reeleger o “chefe” para o segundo mandato. Será o momento de a tchurminha provar quem é quem na estrutura. Quando foi eleito em 2022, Riedel nunca havia disputado uma eleição, porém, tinha um grupo político forte que sabia “o caminho das pedras”, o que foi fundamental para sua vitória. Em 2026, ele não poderá contar com esse pessoal.

Nem tanto

O PT em Mato Grosso do Sul já não estaria demonstrando, digamos, tanto amor pela candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Senado pelo Estado, achando ser melhor por São Paulo. Lideranças petistas cá dessas bandas dizem que a ministra poderá ser um dos nomes para suceder a Lula. Ela figura entre algumas opções para ocupar o trono petista. A lista tem Alckmin, do PSB, e Haddad, o único do PT. Tudo indica que não se faz mais petista raiz como antigamente...

Entrave

Nos bastidores, o que se fala é que a ministra Simone Tebet, até então considerada excelente opção para disputar o Senado por MS, seria fonte de problemas. Algumas das alas do PT teriam torcido o nariz com a possibilidade de ela disputar pelo partido, até porque esse time lembra de que, quando candidata à Presidência, ela desferiu ataques a Lula. Além disso, há dúvidas se no Estado teria potencial eleitoral para o embate com outros candidatos, em sua maioria da direita, tendo em vista que o governo do qual faz parte, dizem, “está caindo pelas tabelas”

ANIVERSARIANTES

Beatriz Rahe Pereira, 
Dr. Gevair Ferreira Lima Júnior,
Julianne Stranieri Metello, 
Stephan Duailibi Younes, 
Maria Fatima Bueno,
Adhemar Mombrum de Carvalho Neto,
Augusto Costa Canhete,
Rosangela Neves,
Edgar Basmage,
Gileno Almeida Costa Nonato,
Sérgio Aguni,
Rinaldo da Silva Cruz,
Edna Maria Potsch Magalhães,
Dr. Márcio Molinari,
Ivo Batista Benites,
Ronaldo Fernandes Donizeti de Jesus,
Fabiano Borges da Silva,
Maria Aparecida Menezes,
Rafael Medina Araujo,
Rosilene Gois Paes,
Antonio Angelo Garcia dos Santos,
Maria Elisa Hindo Dittmar,  
Beatriz de Almeida,
Dr. Amaury Bittencourt Gonçalves, 
Izabella de Matos Lopes,
Cláudia Regina Di Felice,
Neide machado da Silva Gimenes,
Domingos Puckes,
Silvio Luiz de Moura Leite,
Helder Kohagura,
Maria Clementina Aparício Fernandes,  
Aurino Rodrigues Brasil,
Tânia Ignez Pinheiro,
Marilda Flores Haidar,
Samara Carvalho Gomes Binn,
Josselen Resstel Escórcio,
Valdo Maciel Monteiro,
Luiz Eduardo Yukio Egami,
Rafael Ferreira Ribeiro Lima,
Leila Maria de Albuquerque,
Maria Aparecida de Moura Leite, 
Datis Alves de Souza,
Aurea Leite de Camargo,
Maria de Fátima Vendas Muzzi, 
Thiago Ferraz de Oliveira,
Ruth Lopes Abreu,
Sandra Rodrigues Pereira,
Paulo da Costa Oliveira,  
Paulo César Reis Mendonça,
Fernanda Marques Ferreira,
Terezinha Alves Araújo,
Lucilaine Aparecida Tenorio de Medeiros,
Maria Helena Alves Lima,
Rosana Paes de Matos,
Laura Holsback Alvarenga,
Renato de Freitas Martins,
Miriam Fontoura Prata,
Nelson Maia de Melo,
Cleonice Gomes de Oliveira,
Rodolfo de Morais Dias,
Jussara Leite Barbosa,
Hugo Sabatel Neto,
Carolina Saves,
Solange Xavier Vargas,
Augusto Coelho Freire,
Soraia Kesrouani,  
Rubens Mendes Pereira,
Lilian Gabriela Heideriche Garcia,
Ana Maria Coimbra Santos,
Nelly Vasconcelos Coelho,
Valmir de Andrade Ferreira,
Eliana Miyuki Aratani Kaiya, 
Flávia Ribeiro Ramirez,
Laurinda Paiva Peixoto,
Patrícia de Souza Queiroz,
José Antônio Braga,
Elaine Viana Nunes,
Washington Justino Gonzaga,
Maria Stella Maia Pepino,
Vânia de Toledo Neder,
Osvaldo de Moraes Barros Neto,
Raquel Barbosa Franco,
Suely Ferreira Leal,
João Rafael Sanches Florindo,
Antonio Fernando Cavalcante,
Lúcia Torres Marchine,
Marcos Henrique Boza,
Adriana de Oliveira Rocha,
Suely Luiza Comerlato,  
Benedito Celso Dias,
Alirio Leitun,
Débora Queiroz de Oliveira,
Edson Pulchério Alves,
João Borges da Silva Filho,
Mário Zan Moreira,
Marcelo Luiz Ferreira Correa,
Valdecir Jorge,
Sérgio Carlos Borges,
Dr. Ruy Alberto Bueno,  
Marta Maria Vicente,
Guilherme Nucci dos Reis,
Marcelo Flores Acosta,
Noêmia Ramos de Oliveira,
Luiz Carlos de Carvalho,
Cláudia Garcia de Souza Trefilo,
Leonardo Marques Mourão,
Maria Delfina Louveira Trindade,
Camyla Queiroz de Faria Gonzales. 

*Colaborou Tatyane Gameiro

CINEMA

Curta-metragem "Carne Amarela" transforma a Terra do Pé de Cedro em set de filmagens

Com produção de Marcus Teles e direção de Gleycielli Nonato Guató, curta-metragem "Carne Amarela" tem equipe local e conta história que entrelaça memórias da infância em meio aos pequizeiros e banhos de rio

22/12/2025 10h30

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab),

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da natureza Divulgação: Marcus Teles

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Nostalgia e engajamento são os motores para evocar os sabores da infância que fizeram Coxim voltar a ser cenário de cinema. Conhecida como Terra do Pé de Cedro, a cidade localizada a 245 quilômetros de Campo Grande, no norte do Estado, é uma das protagonistas de “Carne Amarela”, curta-metragem de ficção dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles.

Os dois nasceram na cidade, que também é conhecida como Portal do Pantanal, e são profundamente conectados ao Cerrado e ao Pantanal.

As filmagens se encerraram ontem e foram realizadas integralmente por lá, contando com elenco local, que envolveu moradores atuando pela primeira vez na frente de uma câmera e também uma equipe de produção majoritariamente formada por coxinenses. Ou seja, uma combinação de saberes tradicionais, talento regional e formação técnica.

A produção nasce do desejo de fazer Coxim se ver na tela grande, “suas cores, sua luz, seus frutos, suas infâncias”, como afirma a diretora. E nasce, segundo Gleycielli, também da necessidade urgente de lembrar o que esses mesmos elementos significam para a identidade do município.

“Eu estou completamente em êxtase. Planejei muito trazer esse filme para cá. É emocionante gravar na cidade onde cresci, com o povo daqui, com artistas da terra. Noventa por cento do elenco é coxinense, a equipe tem muita gente da cidade, e isso me deixa profundamente feliz”, compartilha Gleycielli Nonato Guató, que, além de dirigir a produção, também assina o roteiro baseado em seus próprios textos literários.

DOIS TEXTOS

“Carne Amarela” nasce de dois textos de Gleycielli – o poema “Carne Amarela” e o conto “É Tempo de Ouro no Cerrado” – que guardam lembranças de uma Coxim que pulsava mata, rio e fruta. A diretora explica que o filme busca reencontrar essa paisagem quase perdida.

“Eu quero trazer a infância que vivi. A gente saía para caçar pequi, pegava ingá, comia goiaba no pé, trazia caju para fazer doce. Coxim era meu ‘Sítio do Picapau Amarelo’. Hoje, muitos lugares onde eu brincava viraram bairros. O filme é um lembrete do que ainda existe e do que não pode desaparecer”, afirma.

A obra convida as crianças e os adultos a olhar novamente para o Cerrado como pertencimento. O pequi, fruto central da narrativa, é apresentado como força, resistência e alimento da memória coxinense.

“O pequi já sustentou muitas famílias. Trouxe renda, trouxe mistura, trouxe nutrição. Ele resiste ao fogo, resiste ao tempo, mas não resiste ao machado. O filme quer acender esse sentimento de pertencimento e preservação, para que as próximas gerações vejam valor no que tantas vezes sustentou Coxim”, ressalta Gleycielli.

ZORAIDE

A protagonista adulta, Zoraide, teve como referências mulheres de alusão familiar e ancestral para Gleycielli: sua mãe, tias, avó e bisavó. A diretora revela que a personagem carrega traços de todas elas. E quem interpreta Zoraide é justamente Maria Agripina, mãe da diretora, pioneira do teatro coxinense.

“É muito emocionante ver minha mãe interpretando a Zoraide, que leva o nome da minha tia que faleceu na pandemia. Este filme é pioneiro em muitas coisas dentro de mim”, revela. Além disso, todos os cargos de direção são ocupados por mulheres, fortalecendo a presença feminina no audiovisual sul-mato-grossense.

“Trabalhar com essa equipe é um prazer imenso. Estamos construindo juntas. É uma energia muito poderosa”, afirma. A equipe ainda é formada majoritariamente por profissionais de Coxim, como Robertson Isan Vieira, artesão ceramista premiado, e José Carlos Soares, cabeleireiro e designer de imagem.

Com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), "Carne Amarela" mobiliza comunidade de Coxim a partir de um enredo que une nostalgia da infância a uma mensagem de pertencimento territorial e de defesa da naturezaEquipe do curta-metragem posa em um boteco da cidade com a diretora Gleycielli Nonato Guató (em pé, à esquerda, de blusa preta) - Foto: Divulgação/Marcus Teles

ENCONTRO

Para o produtor executivo e corroteirista Marcus Teles, filmar em Coxim não foi uma escolha estética, mas ética e afetiva. “Coxim faz parte da nossa formação pessoal e artística. Os textos que deram origem ao filme nasceram daqui.

A luz, a paisagem, o modo de vida, o jeito como o pequi aparece na cidade, tudo isso faz parte da essência da história. Filmar em Coxim é garantir autenticidade”, afirma Marcus.

O produtor explica que mapear as locações foi um processo guiado pela afetividade. “Coxim é uma cidade onde o urbano e o rural se encontram o tempo todo. Não procuramos cenários: reconhecemos neles o que a história já trazia em essência”.

Marcus destaca ainda que oito moradores da cidade trabalharam pela primeira vez no audiovisual, acompanhados de profissionais experientes. “Queremos abrir portas. Que jovens de Coxim encontrem no set um caminho possível, uma nova profissão, um futuro”, destaca o produtor.

101 FILMES

O elenco também conta com a participação especial do ator Breno Moroni, que marcou gerações como o Mascarado na novela “A Viagem” (Globo, 1994), além de ter participado de diversas outras produções no cinema e na televisão.

Com uma carreira extensa que inclui desde aberturas de telenovelas e mais de 100 filmes, Breno esteve em Coxim para integrar o elenco de “Carne Amarela” como seu 101º trabalho audiovisual.

“Trazer o Breno foi como aproximar duas forças que se completam. Ele chega com experiência, mas com humildade. Ele senta na varanda e deixa a conversa fluir. É uma presença que soma sem apagar a simplicidade regional, que é a alma do filme”, reconhece Marcus.

“Ele é fantástico. Consegue ir do drama à palhaçaria. Traz o duo que a personagem dele pede: o velho ranzinza e o homem capaz de se transformar”, completa Gleycielli.

O CERRADO

O filme aborda temas urgentes como queimadas, perda de territórios e desmatamento, mas com a delicadeza necessária para o público infantil, segmento prioritário na meta de audiência da produção.

“O tema duro vem com sutileza. As crianças vão entender o sentimento de perder e o de pertencer. E, quando algo pertence a você, você quer cuidar”, explica Gleycielli. Ao fim, o curta reforça que a preservação é um aprendizado coletivo e que cuidar da terra só é possível quando ela é reconhecida como parte de nós.

Na semana passada, a equipe teve uma atividade formativa com Alexandre Lopes, que é doutor em Ciências Sociais e professor de Sociologia do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), no campus de Coxim.

A interação rendeu contribuições fundamentais para reflexão sobre como pensar e construir um audiovisual mais inclusivo.

AUTOESTIMA

A expectativa da equipe é de que o filme leve Coxim para o Brasil e para o mundo por meio de festivais, mas, principalmente, que devolva à cidade a consciência de seu próprio valor.

“Esperamos que Coxim se veja com carinho. Que perceba que suas histórias merecem estar no cinema. ‘Carne Amarela’ é uma celebração da cidade, das suas raízes e da força do Cerrado”, diz Marcus.

Para Gleycielli, a gravação na cidade é também um gesto de retorno. “Eu sou uma Guató de Coxim. Este filme diz muito sobre de onde eu vim e quem sou eu”.

Como uma “semente que rompe a casca”, reforça a diretora, “Carne Amarela” nasce para devolver à cidade o brilho do seu fruto mais resistente.

Aquele que atravessa gerações, que muda o PIB, que alimenta famílias, que resiste ao fogo e que ensina a permanecer. E Coxim, agora, se prepara para ver sua história ganhar corpo, cor, movimento e tela.

O projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (Pnab), do governo federal, por meio do Ministério da Cultura, operacionalizado pelo governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS).

"Carne Amarela"

> Direção e roteiro: Gleycielli Nonato Guató;
Direção de produção: Gabriela Lima Ferlin;
> Direção de arte: Maíra Espíndola;
Direção de fotografia: Dafne Alana;
Som direto e edição de mixagem: Laura Cristina;
Produção executiva, assistência de direção e roteiro: Marcus Teles;
Operador de câmera: Gabriel Ribeiro;
Produção de set: Jefley M. Cano;
Elenco: Breno Moroni, Maria Agripina, João da Mata, Elena Vendroscolo, Maria Sonea Domingos;
Trilha sonora original: Gian Markes;
> Edição de imagem e cor: Rafael Viriato;
Microfonista: 4real.wav;
Assistente de produção executiva: Lucas Moura e Guinha Serrou;
Assistente de produção e captação: Robertson Vieira;
Assistente de produção: Carlos Soares;
Assistente de arte: Angela Gabrieli;
2º assistente de direção: Eduardo Henrique;
2ª assistente de fotografia: Lavinia Ribeiro;
Assessoria de imprensa: Lucas Arruda e Aline Lira.

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